Imperfeitos escrita por Felipe Perdigão


Capítulo 24
XXII — Mar Morto.




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/327868/chapter/24

Em passos largos os três andavam floresta adentro. Nenhum minuto poderia ser desperdiçado, pois a maldição de Tommy crescia vigorosamente dentro de Anthony.

Carregando o fragmento de amazonita em um cordão ao pescoço Oliver se deixou levar pelo mineral que tinha o interessante e peculiar poder de rastrear água. Alice aflita ajudara os amigos com uma pendulo de ametista utilizando-se da radiestesia, uma técnica antiga, porém que se mostrara eficaz nos relatos que a garota encontrou no livro das sombras de sua família.

Jane e Julian ficaram no hospital acompanhando Anthony juntos dos pais do garoto na sala de espera. Os médicos não conseguiam determinar o quadro patológico do garoto, e até o presente momento ele estava sedado por conta dos ataques epilépticos e convulsões. Segundos os médicos, aparentemente o que acontecera com o rapaz se encaixa em um quadro psiquiátrico, não obstante Julian sabia que não se tratava de enfermidades físicas e sim espirituais. A energia de Tony fora roubada e estava sendo manipulada por Unknown. Marcos, saudoso amigo de Julian estudava ervas mágicas o tempo inteiro. Era capaz de dizer o que era capaz de curar instantaneamente e o que tinha a capacidade de lhe matar mais rápido que um piscar. Por conta disso, Julian sabia que o ferimento feito com uma lâmina no braço do jovem bruxo tinha uma grande chance de estar envenenada. Só não conseguia deduzir com o que.

A amazonita guiou os amigos á um penhasco onde tinha uma corda rustica e ossos amarrados numa espécie de escada. Esculturas na borda do despenhadeiro aparentavam ser muito mais antigas que a cidade. Runas de uma língua desconhecida cintilavam com o reflexo do sol poente. Oliver esticou o pescoço para ver o fundo do abismo e teve uma leve vertigem, apesar de estar com pouca luz solar o fundo não era visível, Matt se aproximou pegando um fragmento de rocha do chão e arremessou no vazio esperando por algum ruído. Fora em vão.

O pingente encontrado na caverna agora flutuava puxando Oliver para frente. Ele deveria descer e encontrar o que quer que fosse lá embaixo.

Tremulo ele agarrou a corda e começou a descer, o rangido dava impressão que o cabo iria se romper a qualquer instante. Ao descer ele pegou o celular e ligou a lanterna para indicar aos amigos acima que estava tudo bem e que eles poderiam descer tranquilamente.

Ao fim do abismo se encontrava um lago enorme e profundo. A amazonita puxava o garoto para dentro da agua, até que ele se lembrou do momento em que pegou o mineral, como ele ficou indefeso sem poderes, prestes a morrer. Ele teve medo e foi nesta hora que Matt tocou lhe o ombro e pediu o cordão no pescoço do rapaz. Segurando firme o jovem filho do ar tocou o pingente na beira do lago e algo estupefato aconteceu.

Uma luz azul emanava do lago, uma pia batismal surgiu e dentro dela estavam escritos fragmentos rúnicos e ilustrações extremamente antigas.

Os três se aproximaram e notaram o que aquilo significava: Ao troco da essência magica de cada um a entrar no portal deveriam depositar gotas do próprio sangue na pia e esta bloquearia qualquer encantamento ou energia mística tornando os magos vulneráveis, porém a travessia seria segura. Havia também um aviso, dizendo que no fundo do lago encontravam-se inúmeras relíquias, oferendas para os deuses do panteão aquático. Itens que jamais deverão ser retirados do lago, caso contrario a consequência será a morte do ladrão.

Os três soluçaram parecia uma proeza muito arriscada, mas não tinham saída a não ser aceitar.

Matt percebeu que a amazonita transmutara sua forma para um punhal verde-azul brilhante e com ele deveriam obter o sangue.

Os três amigos fizeram um pequeno corte no dedo e deixaram pingar algumas gotas de sangue. A pia absorveu o liquido vital e um grande ruído como o de grandes engrenagens girando e se contorcendo tomou conta do ambiente. O nível da agua subiu rapidamente. Eles notaram ao redor de cada um uma película vermelha formada com o próprio sangue. Mesmo com a água subindo os amigos permaneciam secos e seguros. Em menos de dois minutos a água estava no pescoço do trio. Uma ponte de rochas verdes surgiu e era por onde os jovens deveriam seguir até chegar ao reino desconhecido.

Alice estava em pânico e agarrou forte o braço de Oliver, ela não conseguia se mover. A ponte tinha uma corda na altura dos ombros para os transeuntes guiarem se diante da neblina espectral.

Os três deram as mãos e atravessaram andando de lado. No chão verde eram notáveis pontos dourados e prateados reluzentes, eram moedas e anéis, os tesouros mencionados nas runas. Agora que a visibilidade estava limpa o fundo do lago parecia poluído de tantos objetos, grandes e pequenas esculturas de divindades em madeira, mármore, ouro e prata.

Um objeto daqueles e Matt jamais precisaria furtar nada.

Oliver percebeu o amigo hipnotizado e alertou ele sobre o risco de perder a vida e ele respondeu com um muxoxo.

Continuaram andando, porém o caminho era longo. A temperatura caíra bruscamente e o cheiro de maresia tomou o ambiente.

Os jovens já não estavam no lago. Acabaram de adentrar no fundo do oceano. O lar de Oliver.

A respiração do garoto ficara ofegante e seus pelos se eriçaram. A água se comportava curiosamente com ele. Era como se ele andasse sobre redemoinhos. O final do caminho era visível de longe.

Eis que surge o primeiro obstáculo.

O caminho passava por dentro de um enorme palácio. Nos jardins, estátuas enfeitadas com colares e joias guardavam inúmeras rosas e flores. Um letreiro estava escrito em ioruba "Odoya Odoya Iemanja".

Os amigos logo perceberam que era a morada da Deusa Africana dos Mares. Rainha dos Mares, Iemanjá.

Em sinal de respeito eles retiraram os calçados e adentraram na residência da deusa. A sala era toda coberta de madrepérolas. Lustres com pérolas do tamanho de melancias pendiam do teto. Os móveis eram cobertos de areia prateada e ali flutuavam inúmeros peixes dos mais derivados tons e tamanhos.

Deslumbrados, os três seguiram o caminho verde e chegaram a uma sala cheia de objetos ritualísticos. Entre eles o véu de escamas de dragão marinho e uma bola de cristal de quartzo. Entre tantos objetos, um baralho de tarot inteiramente feito de coral azul e prata e o abebé da própria Iemanjá.

Matt cometeu a infelicidade de não conter suas mãos e tocou nas cartas sob a mesa.

As mesmas levitaram no ar e cercaram o garoto.

— O que você fez? — Gritou Alice desesperada.

— E-Eu apenas toquei! Não estamos mais no lago... pensei que eu... — O garoto estava aflito.

Um clarão invadiu a sala.

Antes que pudessem tomar qualquer atitude, uma mulher com o mais belo tom de pele negro, trajando um vestido claro em tons de azul, colares e correntes prateadas surgiu no ambiente. No rosto trazia uma renda de miçangas prateadas cobrindo os olhos e o nariz. A mesma empunhava uma espada de prata. Em um movimento sútil, encostou a arma no pescoço de Matt e pediu uma explicação.

Os garotos pediram clemência à deusa e explicaram tudo.

Ela reconhecera Oliver como filho das águas e como seu próprio filho. Por tais afinidades, a grande Iemanjá compadeceu da aflição dos jovens e para ajudá-los lhes deu um presente. Um tarot criado pelo próprio oráculo Ifá. Oliver recebeu o item singular e agradecera a deusa. Iemanjá, como sempre materna os benzeu e levou lhes montados em hipocampos até seu destino. Em questão de minutos os três bruxos estavam na frente de um portal até então impossível de existir. Lia-se: Atlântida, a Pérola do Mar.

Ao passarem pelo enorme portal de prata, os jovens bruxos tiveram a visão de algo jamais presenciado por nenhum ser humano vivo na terra.

No leito do oceano, havia um novo mar em um perfeito formato circular de dimensões incalculáveis. Este mar havia vários nomes, cada ser mitológico que tinha acesso a essa cidade o chamava de acordo com o rei ou rainha dos mares de sua cultura. A cidade tinha uma arquitetura incrível. Além da ilha central, onde localizava o grande templo, havia dois anéis de terra, separados por três grandes canais aquáticos. Na ilha central, o prédio em destaque era um enorme templo dedicado a todas as deidades aquáticas. Com vários metros de altura e largura, este prédio era totalmente folheado a prata com detalhes em ouro. Em sua volta, uma muralha perolada impedia a entrada de estranhos. Ainda na ilha central, prédios habitados pelos seres que comandavam aquela civilização, além de lugares públicos e prédios militares faziam daquele lugar um ótimo exemplo de arquitetura. No limite da cidade, a vários quilômetros de distancia da ilha central, uma gigantesca muralha com propriedades mágicas protegia aquele reino dos humanos. A mesma muralha não deixava as águas da cidade perdida se misturarem com as águas dos oceanos que a cada dia está cada vez mais poluído.

Ao contrário dos humanos, a civilização de Atlântida é extremamente disciplinada, formal, militarista e guerreira. Apesar de não entrarem em guerra desde que habitavam a superfície, todos na cidade ainda mantinham os hábitos ancestrais de se preparar para guerras. No mais novo prédio da cidade, o Estádio, os cidadãos promoviam lutas dos mais derivados estilos para lembrar à população a força que os atlantes possuem desde que os deuses e humanos viviam juntos na terra.

— Senhora? — Oliver disse ainda incrédulo.

— Sim? — Mesmo com a voz forte, a deusa conseguia parecer serena.

— Por que a profecia nos trouxe até aqui?

— Se acreditarem em destino, acreditará que isso faz parte de seus destinos, meu filho. Não obstante, cabem a vocês a acreditar que suas escolhas lhe guiaram até aqui. Se retornarem pra casa, é porque conseguiram... — A deusa estendeu o braço indicando o caminho até um barco.

Assim que todos estavam acomodados, o mesmo seguiu seu caminho sem comando de ninguém.

No caminho, uma enorme tartaruga passou embaixo do barco. As águas daquele mar eram tão cristalinas que o único motivo de não conseguirem visualizar o seu fundo, era a profundidade do mesmo.

— Iemanjá? — Assim que chamou a deusa, Alice mordeu os lábios com medo de como aquela deidade reagiria.

— Pois não Alice? — A deusa que estava sentada com bastante postura, jogara os ombros pra frente e abrira um enorme sorriso.

— Estou deslumbrada com tantos animais marinhos que vivem aqui... são lindos! Porém não consigo acreditar que eles são os únicos seres que vivem nesse lugar incrível. — A menina se explicou.

— Logo você terá o prazer de conhecer os habitantes desse lugar divino. — A deusa retomou a sua postura e colocara sua concentração no caminho.

Enquanto o barco passava pelos anéis em volta da ilha central, os três não conseguiam acreditar no que viam. Estavam tão admirados que não conseguiam comentar sobre o que viam.

Ao chegarem à ilha central, a deusa olhou para cima e franziu o cenho.

— Vamos! Não temos muito tempo. — A deidade estava extremamente séria.

Oliver e os amigos não entenderam o que aquilo significava, mas seguiram atentos a deusa que plainava cada vez mais rápido em direção ao templo.

Enquanto corria, Oliver olhava assustado para os cidadãos. Todos haviam parado de fazer suas obrigações para observarem a deidade junto de três jovens versados de magia passarem iminentes.

Distraído com todos aqueles seres humanoides, Oliver esbarrou em algo, desequilibrara e caíra no chão.

— Vossa Majestade, me perdoe. Eu... Eu não queria... Não era minha intensão! Tenha clemência!

— Deveria tomar mais cuidado por onde nada. — Disse Iemanjá se referindo ao tritão que estava cabisbaixo e com a mão no peito em sinal de respeito à deusa.

Aquele incrível ser aquático de costas largas, abdome definido, cabelo negro como a noite e olhos castanhos com a exuberante calda em tons vermelhos dobrada para trás como se estivesse ajoelhado encarava Oliver com expressão de angustia.

Iemanjá olhou mais uma vez para a superfície e sua expressão voltara a mudar.

— Não tenho mais tempo. Preciso ir! Renato ajude-os a chegar ao templo. Se forem capazes de passar pelo teste, os levem de volta pra casa.

— Com muita honra! — O tritão se recompôs. — Vamos! — Renato agarrou Oliver pelo braço e começara a nadar em direção ao templo.

Com um clarão, Iemanjá desaparecera deixando um monte de bolhas que subiam em direção à superfície.

Enquanto corriam, os amigos reparavam nos cidadãos. Alguns possuíam no lugar dos braços nadadeiras de tartaruga, outros garras de lagostas ao invés de mãos, outros ao invés de pernas possuíam tentáculos de lula e polvos. Tantos outros possuíam cabeça de tubarão. Os cidadãos eram tão diferentes um dos outros que os bruxos não conseguiam ficar com o olho fixado em um só, pois logo encontravam alguma criatura mais interessante.

Quando chegaram as portas da muralha que guardava o grande templo de Atlântida, os amigos ficaram ainda mais surpreendidos: dois casais de ciclopes trajados com uma espécie de armadura feita de algas e espadas feitas de ossos de algum monstro marinho protegiam a entrada daquele lugar sagrado.

Matt e Oliver tentaram acenar para os ciclopes com mais de 3 metros de altura, mas fora em vão. Foram completamente ignorados.

— Agora sabemos a inspiração dos Guardas Reais Britânicos. — Disse Alice dando de ombros apesar de estar aflita.

— Perdão? — Perguntou Renato sem entender nada.

— Nada! Nem queira entender — Matt riu.

— Como vamos conseguir entrar no templo com esses... — Oliver teve um pouco de dificuldade pra lembrar o nome daquelas criaturas — ... ciclopes na entrada.

— Podemos nadar até uma altura boa o suficiente para adentrar os muros. — Disse Oliver.

— Seria em vão. Essas muralhas são mágicas. Faz qualquer coisa que tente passar por ele se afastar com uma corrente de água. — Explicou Renato — Porém vamos conseguir entrar, os ciclopes os ignoraram porque só são capazes de entender idiomas antigos.

Alice e os amigos ficaram sem entender, mas Renato silabara algo e os quatro guardiões deram passagem ao tritão e os bruxos.

Dentro do templo haviam várias pessoas depositando sua fé. Ao verem humanos dentro de seu lugar sagrado balançaram a cabeça com sinal de negatividade e fecharam a cara, porém seguiram seu caminho e continuaram com seus atos.

Renato nadava cada vez mais rápido enquanto era seguido pelos adolescentes.

Ao chegarem em uma porta feita de amazonita com detalhes feitos em pérola, o tritão a abriu e anunciara que apenas Oliver seria capaz de entrar.

— Não! — Matt se impôs. — Nós vamos juntos.

— Só aumentará a dificuldade do teste. — Alertou o tritão.

— Juntos faremos um trabalho melhor. — Disse Alice.

— A escolha de vocês. — O tritão dera passagem para os bruxos passarem.

Matt foi o primeiro a entrar. Alice fora logo em seguida e assim que Oliver começou a andar Renato fora em sua direção e o abraçara. Ao sentir o calor do corpo do tritão, Oliver sentiu sua respiração ofegar. Assustado com aquela sensação, ele tentara se soltar do abraço, mas Renato o beijara. Sem saber o que fazer, o rapaz retribuiu. O gosto era extremamente salgado, mas proporcionara a Oliver uma sensação jamais sentida.

— Boa sorte. — Disse Renato.

— É óbvio que terei sucesso — Oliver honrou a raça leonina e adentrou a sala dando de ombros para seus melhores amigos que o encaravam surpresa.

Em uma sala pequena, uma mesa feita de corais estava no centro da sala. Cinco frascos do mesmo flutuavam há alguns centímetros de distancia da mesa.

Os am2igos perceberam alguns objetos sobre a mesa e foram correndo em sua direção. Logo reconheceram os objetos: oráculos.

Uma bola de cristal de quartzo, um espelho feito de obsidiana, um saco de pano com alguns minerais, pêndulos de ametista, runas e búzios compunham os objetos sobre a mesa.

Oliver viu no final da sala uma enorme concha e quando pensara em caminhar até ela uma voz surgira no ambiente. Nenhum dos três fora capaz de dizer seu gênero.

Em breve, quatro destes fracos serão preenchidos com um veneno letal e um único com sangue de leviatã. Vocês têm três mil e seiscentos segundos para conseguirem descobri qual deles é o sangue que será capaz de livrar vosso amigo da maldição da Banshee.

Oliver tentou questionar, mas fora em vão. A voz não se importou com o que o rapaz queria dizer.

Se não horarem os deuses e tomar em mãos mais de um frasco, a película que os protege irá se desfazer e a pressão do oceano os esmagará.

Assim que a voz sumiu um jarro de cristal aparecerá em cima da concha. A areia que saía do jarro em direção da concha estava marcando o tempo.

Alice, acostumada a trabalhar com as energias envolvidas na arte da radiestesia pegou o pendulo, esticara o braço em direção aos frascos que agora possuíam um líquido verde escuro e tentara obter respostas. Matt por sua vez não tinha muita prática com oráculos, mas sua intuição o fizera pegar o espelho de obsidiana. Ele se concentrou pra tentar ter alguma visão, mas a priori tudo estava embaçado. Sem saber o que fazer ele continuara tentando ter alguma resposta.

Oliver estava aflito. Não conseguia pensar. Ele olhava para os objetos na mesa, mas não fazia a mínima ideia de como manusear. Ao tocar a bola de cristal ele sentiu um arrepio, mas nada mais que isso. Tentou jogar os búzios, mas não sabia como obter informações. O que sobrara eram as runas, mas ele não conseguia interpretaras.

Por alguns instantes ele ficou esperando os amigos achar a resposta.

— O tempo está quase acabando. — Alertou Matt.

— Eu não consigo entender as repostas que o pendulo me trás. Tem muita energia distinta neste ambiente. — Disse Alice desapontada.

— Não vou ficar aqui parado. Antony é um merda, mas não merece morrer. — Oliver estava determinado.

O rapaz levantou e foi em direção aos frascos. Colocou as mãos sobre os cinco frascos e sentiu a energia de todos.

Alice e Oliver discutiram sobre as energias que sentiram e chegaram a conclusão que o sangue daquela criatura de extremo poder estava no primeiro frasco da esquerda.

— É ele! Vamos pegá-lo antes o tempo acabe. — Disse Alice.

— E se não for? — Perguntou Oliver.

— Tem que ser! Não tem outra forma de sabermos qual é o frasco certo, vocês já sentiram a energia de todos.

— Tem! Tem sim! — Oliver estava ofegante.

O rapaz encarou o jarro que estava cada vez mais vazio e foi para frente da mesa. Tirou de seu bolso esquerdo o tarot recém ganhado da deidade que reina nos mares e começou a embaralhar. Enquanto embaralhava, Oliver, ainda aflito, rogava a água, seu elemento de afinidade que o purificasse e o desse clareza ao tirar as cartas.

Oliver optou pela tiragem em cruz. Assim o bruxo contaria com um maior número de ângulos para examinar a questão. A primeira carta foi colocada no norte, à segunda no leste, a próxima seguiu para o centro, a penúltima no sul e a última ao oeste. Roda da Fortuna, Diabo, Julgamento, Morte e Sol.

Aflito o rapaz tentava analisar a tiragem daqueles cinco arcanos maiores. A primeira o lembrava as fases da manifestação, o movimento de ascensão e do declínio. A segunda simbolizava ass provas, as tentações e seduções que estavam perante a Oliver. A terceira, na posição que ocupava, relatava a renovação. A quarta fizera Oliver tremer. A carta Morte não fala apenas do fim necessário, ela relata grandes transmutações, renascimentos e até mesmo novas realizações. A última carta fizera Oliver vibrar de emoção. Ela traz a vitalidade e alegria. Mas acima de tudo, o Sol traz a clareza, a intuição.

Agora o rapaz tinha mais do que nunca a resposta.

Sem dizer uma só palavra, ele foi até o terceiro frasco, deu um suspiro e o pegara.

Assim que o mesmo fizera sua escolha, tudo naquela sala se desfizera, deixando o salão completamente vazio.

Renato que esperava os bruxos os chamara e os guiaram até uma praça aos redores do templo.

Os amigos ainda não sabiam se obtiveram sucesso neste teste, com isso, estavam extremamente ansiosos para chegarem ao hospital e fazer Antony ingerir aquele sangue.

Na praça, o tritão avisara aos amigos como chegariam em casa.

— Vocês devem nadar até a superfície. — Renato apontou para cima.

— Como vamos conseguir fazer isso? — Questionou Alice.

— Assim! — Matt dobrou os joelhos e tomou impulso para pular. Começou a bater os braços e começou a subir cada vez mais rápido.

— Exato! — Renato deu um sorriso.

Alice flexionara os joelhos e acenara para o tritão.

— Você é muito sortudo. Eu queria muito ser uma sereia.

— Vou te contar um segredo, existe uma bruxa no mar capaz de transformar seu par de pernas em uma linda calda. Quem sabe um dia você não encontra com ela por aí? — Renato riu. — Só não sei se você está disposta a pagar o preço que ela cobra.

— Credo! Quero nem saber o preço! — A menina tomou impulso e começou a nadar em direção ao bruxo do ar.

— Bem... Eu preciso ir. — Disse Oliver.

— Foi bom te... — O rapaz fora interrompido.

Oliver roubara um beijo de Renato. O tritão teve o rosto corado, não esperava por aquilo.

— Se seu desejo de boa sorte tiver funcionado, volto aqui pra agradecer melhor.

Antes que pudesse ouvir a resposta Oliver começara a nadar em direção dos amigos.

Enquanto emergiam, faziam manobras pela água.

Ao chegarem à superfície, os amigos se assustaram. Eles estavam na parte mais funda do córrego que passava pelo bosque.

Oliver tentara mergulhar novamente, mas não seria capaz de chegar a Atlântida novamente. Ao mergulhar chegara apenas ao leito do córrego.

Assim que saíram do rio e começaram a correr em direção a saída mais próxima do bosque, esbarraram em um adolescente completamente trajado de preto.

O rapaz olhara para trás e ao reconhecer o trio de amigos começara a correr na direção contrária.

— É o desgraçado do Tommy. — Gritou Matt.

— Hoje eu mato esse virgem espinhento. — Oliver cuspiu as palavras.

Os três começaram a seguir Tommy que se adentrava cada vez mais no bosque. Matt enquanto corria e tropeçara, Oliver pensou em parar para ajudar o amigo, mas continuara a correr.

Alice tivera a brilhante ideia de conjurar um feitiço.

A menina parara de correr por um instante e tirara o par de tênis. Agora, descalça, ela era capaz de sentir a conexão com a floresta. Ela estendera as mãos em um movimento bruxo e cipós tentaram chicotear Tommy, mas o mesmo conseguira esquivar. A bruxa reuniu forças para continuar correndo sem perder o folego e tentara mais um feitiço.

— Radix! — A garota gritou com toda força que tinha.

Uma enorme raiz surgira onde Tommy acabara de pisar o deixando imóvel.

— Ignes! — Gritou Tommy tentando incendiar a raiz, mas fora em vão. Ela estava verde de mais para entrar em combustão.

Oliver conseguira chegar até o inimigo e dera um murro em sua face.

— Por que você anda fazendo isso contra nós? — Oliver exigia uma resposta.

Tommy caiu na gargalhada.

— Acha engraçado? — Alice tentava recuperar o fôlego — Não vai ser tão engraçado quando levarmos você até a polícia.

— E o que eles irão fazer? Acusar-me de bruxaria e me levar pra forca? — Debochou Tommy.

— Mostraremos a eles o U que fez em Antony e as mensagens que temos no celular.

— Ah, faça-me o favor. Vocês são mais espertos que isso. Não há como provar que eu sou Unknown.

— Vamos dar um jeito de provar isso. — Matt disse.

Matt continuara a caminhar em direção de Unknown. Quando estava prestes a dar um chute em seu estômago, algo esplendoroso aconteceu.

Um círculo mágico plainava no meio da floresta. Sua cor azul era tão exuberante que os amigos não se deram conta de quem o conjurava.

Um rapaz negro, muito alto e de cabelo platinado, tinha atrás dos óculos quadrado os olhos brancos por completo por conta do feitiço que conjurara. Em sua mão, uma enorme chave feita de uma liga metálica de ouro e prata. Era uma chave mágica que dava ao bruxo poderes angelical. Uma espécie de magia rara e muito antiga. O rapaz guardara a chave que utilizara pra conjurar aquele círculo mágico e seguira o processo pra invocar o anjo que o servia.

Enquanto Oliver e o resto de seus amigos observara o jovem uma sexta pessoa aparecera na floresta. Com os mesmos trajes negros que Tommy ele tentara libertar o amigo da raiz com ar comprimido, mas a raiz se mostrava forte de mais para ser cerrada.

Alice por reflexo tentara capturar o outro bruxo com o mesmo feitiço da raiz, porém o bruxo fora mais esperto e com a ajuda do ar se esquivou dando um enorme mortal para trás e invocou uma magia permitida apenas aos filhos do ar para ficar invisível. O mesmo convocara uma rajada de correntes de ar na raiz conseguindo soltar Tommy e juntos os dois saíram correndo pelo bosque.

Segundos depois, um clarão azul surgiu daquele círculo mágico e um enorme anjo de pele extremamente clara, com cabelos ruivos, com quatro asas brancas, uma lança banhada em bronze celestial e um escudo do mesmo material apareceu no meio do bosque.

— Vocês tão sentindo esse cheiro? — Perguntou Alice.

— Não. — Os amigos responderam.

— Ignorem, deve ser da minha cabeça. — A garota deu de ombros.

O bruxo retomara a consciência.

— Devo ir atrás, mestre? — Perguntou o anjo.

— Não! Vamos ter oportunidade de captura-los ainda. — Disse o rapaz. — Espere mais um pouco antes de voltar para o plano divino. Não sei se precisarei de sua ajuda Benjamim.

O anjo assentiu com a cabeça e tomara uma posição de defesa.

— Deixe me apresentar. Sou Francisco, um bruxo que nem vocês três.

— Mas nós não conseguimos invocar anjos! — Interrompeu Matt.

— Isso é possível, pois eu, Clarice e Cássia, minhas companheiras de coven, fomos escolhidos para proteger a região de bruxos que tentam usar magia proibida, invocar demônios e até mesmo os que de alguma forma tentam expor nossa raça. — Francisco se explicou.

— Vocês são desta cidade? — Oliver estava desconfiado.

— Eu vim do nordeste para a cidade vizinha, onde conheci Clarice e Cássia. Nós três entramos na faculdade no mesmo ano em uma cidade vizinha.

— Incrível! — Disse Alice. — Nós e Unknown não somos os únicos bruxos na cidade.

— Não mesmo. Estamos em todo o planeta. Praticando os mais variados tipos de magia. Em grupos, solitários, escondidos, dando palestras... Estamos na terra desde o inicio da nossa espécie. Nos originamos da natureza, das energias do universo e enquanto toda essa força existir, nosso poder viverá em cada um de nós.

— Adoraria ficar e conversar com você, mas tenho coisas a resolver. — Oliver colocou a mão no bolso pra conferir se a poção ainda estava com ele.

— Anote meu número de celular, assim que estiver disponível reúna todos de seu coven, pois precisamos juntar a força de vocês com nossa magia angelical para derrotar esse círculo inimigo. Não sabemos quem são e nem quantos, mas temos certezas que eles tão utilizando de magias proibidas para aumentarem o poder pessoal para conquistar os objetivos.

Oliver anotou as pressas o número de Francisco e junto dos amigos seguira em direção do hospital.

No caminho os três conversavam sobre tudo que havia acontecido e chegaram a uma conclusão: seja o que for que Unknown estivesse armando, logo teria um fim.

Ao chegar ao hospital, Alice e Matt começaram a relatar tudo que havia acontecido para Julian e Jane. O que Matt aumentava de um lado, Alice exagerava no drama do outro.

Oliver conseguiu a permissão para visitar Antony. Ao chegar no quarto, encontrara a mãe do rapaz em uma poltrona perto da cama onde o filho estava dormindo.

— Oliver! Que bom ver você aqui. Zelo muito pela amizade de vocês dois. Sei o quanto você se importa com meu filho. — A senhora Foureaux abraçara Oliver.

— Ele não merecia isso. — Oliver não sabia se estava falando a verdade.

— Eu só espero que quem fez isso a meu filho pague pelo crime. — A senhora suspirou. — Além de baterem no meu filho, o envenenaram.

— É uma pena, mas tenho certeza que o culpado irá pagar. — Oliver tinha rispidez na voz.

— Deus te ouça! — Ele recuperou a consciência horas atrás, logo caíra no sono. Em instantes ele deve acordar. Vou deixa-los sozinho e ir até a cafeteria do hospital, se precisar de mim estarei lá. — A mãe de Antony sorriu para Oliver e deixou o quarto.

Oliver tirou a poção do bolso e certificara que não havia nenhum funcionário do hospital por perto e com toda força dera um tapa no rosto de Antony. O mesmo acordara na hora.

— Mas que porra é... — Quando vira Oliver ele parara de falar. — Eu sei quem fez isso comigo! Onde está Matt e Ali?

Oliver o ignorou e começou a relatar todo sua trajetória por Atlântida.

— Você pode beber e morrer agora ou ser liberto da maldição da Banshee. — Oliver finalizou.

— Eu não vou beber isso.

— Ah, mas vai sim. Não arrisquei minha vida e dos meus amigos pra ir atrás dessa merda pra você falar que não vai beber. Se tu não morrer agora pode morrer daqui duas semanas ou até mesmo daqui uma hora.

— Obrigado pela força. — Antony estendeu as mãos e Oliver o entregou o frasco com o sangue.

— Faça logo. — Oliver ordenou enquanto segurava o choro.

— Devo me despedir?

— Não. Não iria facilitar as coisas. Faça!

E então, em um único gole Antony engolira o líquido. Sua boca no mesmo instante começara espumar e seus músculos começaram a contrair.

Alice, Jane, Julian e Matt entraram no quarto de Antony.

— PUTA QUE PARIU! DEVO CHAMAR UM EXORCISTA? — Perguntou Matt.

Antony abrira a boca na tentativa de encher os pulmões de ar e de um som abafado uma poeira negra começou a sair e se desfazer no ar.

O celular de Alice, Matt e Oliver tocaram no mesmo instante. Era o alerta de mensagens.

Espero que Antony goste de terra, pois se ele abrir a boca acordara com a boca cheia de minhocas — Unknown


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Imperfeitos" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.