Imperfeitos escrita por Felipe Perdigão


Capítulo 19
XVII — Sangue e Cogumelos.




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Tudo no colégio em que os bruxos Imperfeitos estudavam estava normal naquela manhã de segunda. Os mesmos alunos vestibulandos andavam pelos corredores rindo da cara de todos como se tivessem em algum filme adolescente americano, os mesmos professores discutiam nas salas sobre o uso do celular nas escolas, as mesmas freiras apreendiam os casais que ficavam em um clima quente até de mais entre os intervalos de cada período.

Assim que o intervalo começara, Oliver e seus amigos se direcionaram para um banco sobre uma figueira aonde eles acostumavam se encontrar todos os dias.

Desde o último acontecimento no bosque, o rapaz e seus amigos não haviam se falado. Todos estavam analisando o último acontecimento ainda com muito receio.

Alice, que estava com saudades dos amigos, trouxera um cupcake para cada um em uma caixinha azul decoradas com prédios de New York City.

— Ah, não precisava Alice. Você deve que teve muito trabalho pra fazer. — Matt estava grato pela boa ação da amiga.

— Alice é uma boa menina. — Ethan mandara um beijo pra namorada.

— As meninas boas vão para o céu. — A menina disse mudando a feição para algo mais inocente.

— E as más vão aonde querem. — Oliver desdenhara os amigos e começara a comer o presente.

— Pra cadeia ou para o cemitério, você quis dizer. — disse Alice.

— Pra estes lugares vão às burras. — Oliver deu de ombros e continuou comendo seu cupcake.

— Podem parar — uma quinta voz se juntara ao grupo.

Era Antony. Nas ultimas semanas ele havia passado todo tempo ao lado de Michele, Jeffrey, Norton e seus novos amigos. Os quais Oliver e Alice não gostavam nenhum pouco.

Oliver estava surpreso pela presença do tal ali. Ele não entendia o porquê e então seu orgulho falara mais alto.

— As novas peças do seu tabuleiro estragaram?

— Hã? Que peças? — Antony parecia confuso.

— Oliver, não começa. — disse Alice querendo rir. — Não vale a pena.

— Nada. — Oliver riu dando de ombros e voltou-se para o presente da amiga.

— Enfim.

Os cinco escutaram umas vozes. Eram os colegas de Ethan o chamando. Ele dera um beijo em sua namorada e correra em direção dos amigos.

Antony sentara no lugar de Ethan e voltara-se o olhar pra Oliver. O rapaz sempre tinha o semblante de estar distante, com vários pensamentos a torturar a mente, mas agora, mais do que nunca ele parecia pior. Como se uma gravação com os piores momentos da sua vida passasse em sua mente

— O que foi Oliver? — Antony encarava Oliver que mantinha o olhar sob a mesa.

— Nada. — O garoto riu. — Está tudo ótimo.

— Sério?

— Por favor, você não veio até nós para saber como estou. — Oliver tirou o celular do bolso do moletom e conferiu as horas rogando para que o fim do intervalo estivesse perto para que ele pudesse ir embora logo.

— Credo Azeitona. Não precisa agir assim. — Disse Matt que não suportava o clima entre os dois amigos que outrora foram tão unidos.

— Ele está certo. — o orgulho de Antony o fez se reerguer e ele foi direito ao ponto. — Precisamos falar do que aconteceu há duas noites.

— Falar o que? Uma deusa apareceu pra gente e disse que aquele ritual ridículo que estávamos fazendo não funcionava pra nada e que precisamos acreditar em nós mesmos para que nossos poderes surjam. — Oliver pausou com desanimo soltando suspiros. — Caso não saibam, sou desanimado de mais pra acreditar em mim mesmo.

— Vá à merda Oliver. — gritou Antony.

— Tony! — Matt estava apreensivo.

— Ai, não vem resolver os problemas sexuais de vocês enquanto nosso coven está reunido.

— Qual é? Todo mundo sabe que o Oliver é quem mais tem capacidade de conquistar The Wonders.— bufou Antoy.

Até parece. — resmungou Oliver.

— Ah, vai se catar. Todo mundo dessa cidade sabe do tamanho do seu ego. Quando você quer, consegue tudo que quer.

— É mesmo. — Matt e Alice disseram juntos.

Um vento úmido fazia com que a figueira que os quatros amigos estavam sobre balançasse deixando pequenos galhos e folhas caírem e trazia consigo um gostoso aroma.

O silêncio havia tomado conta do ambiente e então Antony tirara um livro negro da mochila.

— Eu achei esse livro na casa do meu avô ontem. — Antony tinha um sorriso maldoso no rosto. — É um grimório.

— Pensei que seu avô fosse evangélico e achasse que bruxaria fosse algo do vulgo, demônio.

— E ele é, porém, esqueceu que os grimórios são passados de geração em geração? Talvez seja do pai dele, ou do avô, dou do avô do pai dele... — Antony sorriu. — Não importa. O que importa é que agora temos três grimórios.

— Nosso Coven poderá ficar mais forte com todos esses feitiços. Vamos poder acabar com Unknown. — Matt olhava pro livro das sombras que o amigo achara. Ele não sabia se se tanta informação era algo bom.

— Acho que temos quatro livros. — Alice disse baixo franzindo o cenho como se tentasse lembrar-se de algo. — Eu havia sonhado com algo parecido com esse livro, mas ele não estava nessa cidade.

— E estava aonde? — Oliver estava interessado naquilo.

— Vou tentar lembrar. — A menina sorriu desapontada.

E então o sinal tocara avisando que o intervalo acabara.

As freiras vinham com os sinos fiscalizando que nenhum aluno matasse aula pelo enorme campo da escola.

— Lá vêm as vacas holandesas com os sinos no pescoço. — Matt disse se preparando pra levantar.

— Que pecado, Matt. — Alice riu da blasfêmia que o amigo cometera.

Antes que os quatro se levantassem para ir em direção de suas salas, eles escutaram melodias conhecidas, mas que tocadas ao mesmo tempo se tornavam difíceis de decifra-las.

Os amigos se arrepiaram.

Oliver fora o primeiro a perceber o que era, e então enfiou a mão no bolso sentindo o celular vibrar.

— Ai meu deus. — Matt corou.

O garoto fizera o mesmo e assim que vira o alerta de nova mensagem olhara pros amigos.

Alice tirara o celular do bolso do seu casaco e Antony retirara o seu de sua mochila. Assim que estavam apostos para ler a mensagem, trocaram mais uma vez um olhar apreensivo e começaram a ler.

“Se mentir fosse crime, todos vocês estariam na cadeia. Tenham cuidado otários. Temporada de caça a bruxos mentirosos! E eu estou caçando... – Unknown”.

Naquela mesma tarde, Oliver, ainda inquieto pela última mensagem que recebera de Unknown, ficou na piscina. Estar sobre a água era uma válvula de escape para o menino.

Depois de botar a cabeça no lugar, o rapaz subira para o quarto.

Os pais do garoto estavam de folga naquele dia, e como o seu sobrinho, Julian, estava passando alguns dias em sua casa por causa da Universidade, a tia do rapaz resolvera preparar um jantar mais incrementado para agradar os filhos e ao sobrinho.

Oliver tinha que respirar fundo para não se irritar pelo tamanho barulho que sua mãe fazia na cozinha. O garoto era tão chato que tudo o irritava, desde barulho de pessoas comendo até uma simples conversa em um tom mais elevado.

Ele estava vendo um curta metragem na internet com sua gata deitada sob seu colo quando sua atenção fora tomada por outra coisa.

O menino se levantou e fora em direção a sua estante e rapidamente olhou para porta para conferir se não tinha ninguém por perto e então sussurrou algo.

— Gramaire.

E então o Grimório, que estava sobre um encantamento para ficar invisível para que a empregada que sempre arruma a estante do quarto do garoto ou até mesmo Unknown não pudesse acha-lo.

No mesmo instante, Oliver desligara seu computador, pegara sua mochila tiracolo que estava jogada em um canto do quarto, verificou se seu celular estava em seu bolso e à calada fora para a praia pra verificar se sua imaginação ainda lhe servia pra algo.

Assim que o rapaz chegou a praia ele sentiu certo desconforto mesmo com a maravilhosa imagem que sensibilizava sua retina. A lua cheia estava quase em seu auge, seu reflexo sob as águas era indescritível.

O lugar estava cheio de fogueiras rodeadas pessoas com várias garrafas de bebidas diferentes, várias músicas eram cantadas e em algumas fogueiras, alguns tiveram a ideia de aproveitar a chama e fazer um churrasco.

Envergonhado por estar de tênis, jeans e casaco, Oliver andava com o passo apertado pela orla procurando um lugar afastado, aonde poderia fazer o que pretendia sem ser incomodado.

Depois de alguns minutos andando, quase no fim da orla, onde a areia e a grama que levava pra uma trilha de um penhasco onde as pessoas tinham o costume de praticar salto se confundiam, ele achara o lugar perfeito.

As pessoas estavam longe o suficiente pra não conseguir ver o garoto, uma fogueira ainda acesa estava abandonada e o barulho do quebrar das ondas transmitia um local perfeito para um ritual.

Oliver iria tentar realizar um feitiço. Só não tinha certeza se isso era possível. Aliás, desde que ele descobrira que era versado de magia, muitas das vezes duvidava do que era ou não possível. Mas o que ele pudera fazer? Afina, a imaginação vale muito mais a que o conhecimento.

Sem muita esperança sobre aquele feitiço, pensamentos alheios vinham à cabeça do garoto.

A falta de confiança não iria ajudar o rapaz naquela situação. Para realizar aquele feitiço ele teria que acreditar em seus poderes, e, acima de tudo em seus sentimentos.

O rapaz caminhou até o leste e colocou a vela amarela que trouxera na areia e seguira para o sul, fizera o mesmo com uma vela azul e caminhara até o oeste da fogueira preparando-se para colocar a vermelha e assim que o fez fora para o norte e colocou a vela verde.

Ar, Água, Fogo e Terra.

Era uma noite clara.

A lua, de longe iluminava o mar que estava calmo.

Oliver invocara sua guardiã, uma Ondina e com a mão direita levantada sobre a fogueira ele a movimentou do Norte, para o Oeste, seguindo para o Sul, passando pelo Leste e chegando mais uma vez ao Norte.

Assim que o movimento das mãos fechou um circulo, alguma coisa aconteceu: Dois fios d’água surgiram vela azul, um pela direita e outra pela esquerda, e foram em direção à vela verde ao norte, até que chegaram à vela azul novamente filtrando na areia e tornado a aparecer como runas mágica.

Oliver, surpreso com o que acabara de acontecer, certificou-se de que ninguém estava prestando atenção no que estava fazendo e foi para o Sul, onde está representado seu elemento no círculo mágico.

Com o grimório sob a mão direita, ele ergueu a direita e mentalizara o feitiço que procurava e então aquele livro velho começara a se folhear sozinho até chegar em uma página com alguns Gnomos orelhudos e sorridentes.

No lugar do título, havia três olhos desenhados a mão.

Antes de começar a ler as instruções do feitiço, ele se lembrara de acender as velas. Como não tinha afinidade com o fogo, precisou se concentrar nos quatro pavios e conjurou um feitiço com a voz ríspida.

Incendio.

E então as quatro velas e acenderam vibrando em harmonia com as chamas da fogueira.

As ruas desenhadas na areia começaram a ganhar as cores das velas enquanto um vento quente se agitava trazendo um forte cheiro do oceano misturado com terra molhada e grama recém-cortada. — Acredite, esse cheiro era terrivelmente bom. —

O garoto se concentrou mais uma vez no grimório em sua mão e se preparou pra começar a ler verso por verso.

Com dificuldade para interpretar, Oliver tentou o nome da deusa correspondente à poesia. — Desde que se descobriu bruxo, Oliver passara algum tempo pesquisando sobre relatos de bruxarias e sobre os panteões, desde o celta ao hindu. Ele e seus amigos estavam sozinhos nisso. Eram apenas quatro adolescentes Imprudentes versados de poderes e que ainda não haviam entendido o porquê daquilo. A única certeza que tinham era de quanto mais ignorassem isso, mais perigoso seria, pois Unknown, aquele (a) que havia vindo tentando mata-los há algum tempo também tinha poderes e ficava mais perigoso a cada dia. — Ele esforçou a mente mais um pouco ligando um deus no outro até que surgiu o nome da deusa. Era Brígida. Em sussurro, ele realizara uma prece para a deusa lhe auxiliar.

Oh, calorosa Brígida, deusa da Tríplice Chama. Rogo a ti para que possa incendiar minha mente, como à senhora incendeia a mente dos seus filhos poetas, para que eu possa ter sucesso na interpretação deste feitiço”.

As chamas da fogueira aumentaram no volume fazendo Oliver interpretar como um sinal da deusa dizendo que atenderia a sua humilde suplica. O garoto a priori não estava crendo no que estava acontecendo, mas um sussurrar bem abafado disse gentilmente que aquela era uma forma de distração para testar a fé do bruxo, a voz feminina aveludada incentivou o garoto a crer mais em si e em seus dons excepcionais de magia. No fundo a deusa podia sentir o proposito daquele ritual e disse ao garoto: Pense naquilo que mais te atraí na garota. Então o garoto, sem entender muito bem aquilo, se concentrou no calor da fogueira e o perfume de Jane, misturado ao aroma dos Capuccinos e outros cafés que ela servia veio a sua mente. Seus cabelos ruivos era outra coisa que o garoto não pudera deixar de imaginar. Assim que Oliver se lembrou do sorriso de Jane ele se sentiu pronto para realizar aquele ritual.

Depois da iluminação da deusa o rapaz finalmente entendeu o ritual e deu seguimento, puxou de dentro de sua mochila um saco de tecido e de dentro dele retirou um pequeno punhal cerimonial, Oliver com o fio afiado do punhal abriu alguns cortes formando uma pequena runa na palma da mão. Os cortes eram pequenos, mas a quantidade de sangue que saia era assustadora.

O garoto estendeu a mão acima das chamas e deixou o sangue gotejar no fogo, a fogueira começou a estalar e as labaredas subiram, assim passaram a envolver a mão do garoto. Os cortes se fecharam e uma densa fumaça vermelha começou a emanar, uma fumaça com exatos aromas de café, do shampoo e do perfume de Jane. A cada vez mais fumaça emergia da fogueira serpeando pelo chão como uma enorme cobra rubra indo em direção contrária do litoral.

Apenas o jovem bruxo podia ver a nevoa. Pelo menos é o que parecia.

Sem saber o que fazer, ele pensou em apagar a fogueira, mas tinha medo da fumaça fluir. Então Oliver decidira seguir o rastro daquela fumaça.

Com o corpo tremulo, o rapaz juntou suas coisas e procurou na mochila seu celular. O qual tinha medo do que encontraria no fim da rota pela qual a fumaça o levava, mas mesmo assim decidiu seguir aquela rota.

Assim que encontrou seu celular ele resolveu ligar para Matt, que quase sempre estava desocupado, não obstante dessa vez seu amigo não atendera seu telefone.

O rapaz estava disposto a tentar mais uma vez, porém percebera que seu celular estava com 1%. Ele não fazia ideia do que fazer. Como um sinal, o vento se agitara balançando as folhas e galhos das velhas árvores da cidade fazendo com que ele se lembrasse de Alice.

Oliver rogou aos céus que sua amiga o atendesse e apertou no discar. Enquanto chamava, o rapaz corria cada vez mais rápido tentando não perder de vista a cobra que estava voando na altura dos postes, mas mais uma vez não obteve êxito.

Sabendo que a bateria estava prestes a acabar, ele mandara uma mensagem de texto com S.O.S. para a amiga e guardara o celular.

Com passos largos, ele tentava correr cada vez mais pra acompanhar a serpente feita de fumaça que voava pelas ruas vazias da cidade.

Ofegante, Oliver corria concentrado no rasto.

Diminuindo a cada vez mais a velocidade, a fumaça projetada por conta do feitiço tornara a dobrar mais uma vez. O rapaz não havia percebido que um carro vinha em sua direção e atravessara a rua já ofegante na esperança de estar chegando onde Jane estava escondida. O que o fez perceber não adiantara muito, era o barulho dos pneus sob o asfalto ao serem freados. Não dera tempo de desviar. Seu corpo fora arremessado alguns metrôs de distancia.

O motorista do carro não tivera a decência de prestar socorro. Assim que percebera o que acabara de fazer colocara o pé no acelerador e tomara seu caminho.

As ruas daquele bairro estavam desertas.

Duas ou três pessoas chegaram desesperadas com seus olhares curiosos até o corpo do rapaz.

Para a sorte do garoto, a única coisa que havia acontecido era alguns arranhões, uma pulsação nas coxas por causa do choque que tivera com o carro e o trauma.

Por um momento ele pensara que quem fizera aquilo era Unknown, porém, Tommy era novo de mais pra ter uma habilitação para dirigir.

Com as pernas ainda bambas por causa do susto, ele conseguira se levantar sozinho.

— Está tudo bem? Já vou ligar pra ambulância. — Disse uma senhora com um olhar preocupado e bondoso.

— Está! Estou ótimo, não está vendo? — disse o garoto irritado enquanto catava sua mochila.

— Meu pai amado! A educação o senhor deixou em casa, não é meu filho?

Sem graça e sem saber como lidar com aquela situação, Oliver olhou para o céu tentando localizar a cobra e percebeu que havia perdido o rastro do feitiço.

Oliver tentou se desculpar, mas não sabe se dissera as palavras certas.

Ele se situara pra ver em que parte da cidade estava e então percebeu que em algumas quadras estava a rua onde Alice e Antony moravam.

Se sentindo sozinho e com frio, o garoto invocara mais uma vez sua Ondina e sem pensar duas vezes começara a correr em direção à rua que residia seus amigos.

Assim que chegara a rua, o rapaz fora à casa de Alice que estava em seu quarto, que a cada dia que passava estava com flores que exalavam um perfume exótico, e contara tudo que havia acontecido.

Enquanto ouvia, uma explosão de sentimentos apertava o peito da garota. Ela estava angustiada pelo o que havia acontecido com seu amigo, não obstante estava com um pouco de ciúmes e se sentindo excluída. Desde que Jane aparecera na vida de Oliver ela se sentia menos presente no cotidiano do melhor amigo. Alice não fazia por mal, era de sua personalidade e ela havia tentando controlar isso desde que mudara de cidade. A menina não queria perder mais pessoas por causa de seu ciúme possesivo.

Quando Oliver acabara de contar pelo que passara, ela não fazia ideia do que dizer, e então ela puxara o amigo e o fizera deitar em seu colo e ficou passando sua mão gelada pelo rosto do amigo.

Eles ficaram ali em silêncio por alguns minutos até que a amiga tivera uma ideia.

— Azeitona, vamos reunir o Coven. Podemos fazer esse feitiço juntos, sei lá.

— Não. Não quero envolver vocês nisso. Não é um assunto do nosso círculo mágico.

— É sim. Unknown está com Jane, bem, temos quase certeza disso.

— Não... Não iria adiantar de nada, fora que sabe só Deus sabe onde Matt se enfiou e não havia nenhuma luz acesa na casa do Tony. — Oliver tossiu — Antony.

— Ai. Vamos ter que fazer alguma coisa. Ficar aqui no quarto não vai fazer sua namorada aparecer aqui.

— Namorada? — Oliver riu.

Eles ficaram em silêncio por algum instante. A mãe de Alice aparecera no quarto perguntando se o rapaz aceitava tomar alguma coisa, mas logo se fora.

Oliver pensara melhor na ideia de Alice.

— Ali... — O garoto sussurrou sem saber se estava fazendo a coisa certa.

— Oi?

— Tem certeza que quer fazer isso?

— Sim... Você é meu melhor amigo e mesmo sem eu saber se confio na Jane, ela não merece estar nas mãos de Unknown.

E então o rapaz e a amiga seguiram em direção ao mesmo bosque de sempre. Era o melhor lugar que eles tinham pra praticar a magia.

Assim que chegaram ao bosque, foram até o lago central, a parte mais baixa do bosque, Oliver percebera que nenhum dos dois haviam trazido o grimório.

Na esperança de ainda se lembrar de como efetuar o feitiço ele contara a amiga o que havia feito e então combinaram de tentar realizar algo parecido.

Alice sabia que todos rituais que já haviam realizados começava com a conjuração de um círculo e então ela invocou seu Gnomo. Ele, como sempre agitado, correra pela grama mudando de direção algumas vezes até que a garota fez um barulho estranho com a boca o fazendo vim até sua direção.

A menina tinha uma expressão estranha, como se estivesse prestes a fazer algo que mudaria o destino de sua vida.

Ela levantou as duas mãos e as deixaram imóveis por um instante, até que tomara coragem pra fazer movimentos circulares com as mãos fazendo cogumelos nascerem em imenso círculo.

Oliver olhara espantado. Quando ele percebeu o que estava realmente acontecendo. Várias esferas luminescentes chegavam de todas as direções do bosque e pousavam nos cogumelos assumindo uma sua verdadeira forma. Eram fadas que dançavam saltando de cogumelo a cogumelos.

O rapaz estava espantado com a quantidade de fadas e cogumelos. Eram vinte ao todo, uma diferente da outra. O que Oliver achara mais interessante era na delicadeza de cada ser, marcada pela diferença de suas asas, como uma impressão digital.

Depois de alguns segundos, as fadas param de dançar e sentaram sobre os cogumelos. Apenas uma permaneceu em pé. Todas as outras tinham a atenção voltada a ela, como se fosse a soberana, a rainha. Ela sussurrara algo e em seguida houve um couro, todas as fadas começaram a rezar orações em um idioma antigo que Oliver não conseguia distinguir qual era.

Quando Oliver retomara sua atenção e estava prestes a colocar uma vela de sete dias branca no centro dos cogumelos, algo estranho aconteceu. A primeira, a sexta, a décima primeira e a décima sexta estavam diferentes. A do Leste estava transmitindo uma luz amarela de sua roupa, a do sul estava com seus trajes em um forte tom de vermelho, a do oeste trajava algo em um tom azul anil e a do norte, a rainha, tinha um vestido longo em tom de verde similar de toda relva ao seu redor.

As fadas estavam representando os elementos.

Para o espanto dos dois, uma estrela surgiu no cogumelo, quando nenhum dos dois não podia esperar por mais nada, um fio de luz se iniciou no leste do círculo indo em direção anti-horária indo até o centro do círculo fazendo algumas runas aparecerem no caminho. Em poucos segundos uma chama surgiu do centro da estrela que girava para a direita.

Oliver, quase por impulso tirara o que calçava e sua blusa e pulara dentro do círculo. Alice, sem saber o que fazer, fizera o mesmo.

A Ondina estava a oeste do círculo junto do rapaz e o Gnomo fora para o Norte junto da menina.

Com o punhal cerimonial na mão esquerda, Oliver estendera a mão direita sobre a chama e Alice fizera o mesmo. Quando o rapaz estava prestes a cortar o palmo da mão e da amiga para oferecer o sangue para que aquele ritual fosse realizado, eles escutaram um barulho vindo do outro lado do lago. Quando olharam pra ver o que era, ficaram surpresos.

— Que diabos estão fazendo?

Os amigos deram um grito.

Alice recolhera a mão e a usara pra tampar seus peitos.

— Por que veio pro Bosque justo hoje? — Oliver tentava normalizar a respiração.

— Onde você estava? Tentamos falar com você antes de vim pra cá.

— Eu estava com meus... — O rapaz pausou — Não importa. O que estão fazendo?

— Tentando achar uma pessoa, aliás, estávamos quase lá.

— E você, o que faz aqui? — A menina estava constrangida.

— Vim... — A expressão do jovem mudara — Vocês ouviram isso?

— Isso o que?

— Não escutei nada.

— Não é possível. Foi muito alto.

E então o garoto começou a correr na direção contrária dos dois amigos.

Alice encarara Oliver e soubera o que fazer. Ela esticou a mão direita e como se puxasse algo fez os cogumelos desaparecessem a cada vez mais que fechava as mãos. A cada cogumelo que afundava no solo, uma fada saia voando desgovernada em direção às árvores.

Os dois amigos vestiram seus trajes e saíram correndo.

— Antony, espera! — a menina gritou.

Assim que o alcançaram tiveram uma cena estranhamente incomum. Jane estava despida deitada sob as raízes de uma árvore em posição fetal. Seu cabelo estava embaraçado com algumas folhas secas, seu rosto estava mais pálido que o normal e a menina não conseguia segurar o choro.

Oliver correra em direção da menina e tocara seu rosto automaticamente. Sua pele estava fria e úmida. Como a morte.

O rapaz conseguia ver a angústia nos olhos da garota.

Os três ajudaram Jane se recompor. Assim que ela havia se acalmado o suficiente para parar de soluçar por conta do choro, Alice pediu para que os meninos virassem de costas. Ela ajudara a menina a ficar de pé e involuntariamente fechara os olhos e levara as mãos em direção de Jane, fazendo um vestido feito de folhas e flores para que seu sexo e seus peitos não ficassem a mostra.

Os quatro precisavam conversar. Havia muitas coisas para ser explicada, então Alice sugeriu que os quatro se reunissem em sua casa.

Alguns minutos depois, os três bruxos aguardavam sentados na cama de Alice à garota sair do banho. Ela ainda estava confusa e Antony sugerira que ela tomasse um banho para se situar.

Oliver estava tão confuso com aquilo tudo que nem chegara a se incomodar com a presença de Antony.

Alice já estava bocejando quando a garota entrou no quarto secando o cabelo com uma toalha azul.

— Bem, nem sei por onde começar. — Jane evitava fazer contato visual com algum dos três.

— Eu sei por onde começar. — Antony se ajeitou na cama. — Por que só eu escutei o seu grito?

Jane se assustou com a pergunta.

A mente de Oliver tentava ligar os fatos.

— Eu sou uma banshee.

— Uma Banoque? — Antony estava confuso.

— Uma Banshee. Uma fada da morte. — Oliver não conseguia crer nos fatos que sua mente confusa ligara

— Isso não responde minha pergunta.

— São seres agourentos. Dizem que quem escuta o grito de uma Banshee... — Oliver foi interrompido.

— Morre em seguida. — Jane completou. — Olha, não fica apavorado. Isso pode ser daqui a décadas.

— Podem? — Alice estava desesperada.

Antes que a garota pudesse responder eles foram interrompidos por um vibrar estranho. Era o celular de Oliver que carregara do outro lado do quarto.

O coração do rapaz gelou. Aquela sensação era comum nos últimos dias. Toda vez que recebia uma mensagem, ele temia que fosse de Unknown.

Ele caminhou até o celular e abrira a mensagem

Só quero uma coisa e pretendo conseguir. Me entregue seu livro das sombras e irei sumir. Me de o que eu quero e ninguém ficará sabendo. Me desobedeça e alguém acabará morrendo.” –Unknown.

Junto da mensagem de texto havia um anexo. Oliver não podia acreditar no que via: uma foto em que Matt e ele estavam aos beijos.


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