Assim que entrei no Peregrino dei um jeito de ir pro gabinete, nem olhando para trás para saber se Caspian estava ou não atrás de mim. Ciúmes. Ciúmes. Ai eu vou acabar com a raça daquela estrela. Que mulher atirada. Fechei a porta do gabinete e me joguei na cama, encostando o travesseiro em meu rosto.

Minha vontade era de gritar, gritar e dar um tapa na cara daquela loira atrevida.

- Susana, eu não quero mais você. A Lilliandil é doce, gentil e eu sei que ela nunca vai me abandonar.

- Exatamente Susana, eu nunca vou abandoná-lo, como você o abandonou.

- Não. – gritei sem ao menos perceber. Tinha sido um sonho. Eu apenas tinha dormido.

Tentei controlar meus batimentos e minha respiração acelerada. Olhei em volta do quarto, já deveria ser muito tarde. Tínhamos ido para a ilha no começo da tarde e voltamos quase no fim. Deve estar amanhecendo.

Levantei da cama e sai do quarto, precisava de um pouco de ar puro. Depois daquele sonho, do Caspian falando aqui, da Lilliandil estando nele foi pior ainda. Fui até o fim do navio, onde Caspian havia me levado. Fiquei olhando o oceano enorme, lindo e ao mesmo tempo feroz.

- Esta frio aqui fora. – fechei os olhos, não queria Caspian ali comigo, não naquele momento. – Su, aconteceu algo? – ele tinha chegado perto de mim, apenas por seu cheiro eu já saberia. – Vamos, fale comigo. – ele pediu, colocou suas mãos em meu rosto e me fez abrir os olhos e encontrar os olhos negros me olhando.

- Quando iremos para Hermes? – perguntei ainda contemplando o imenso oceano.

- Acho que quando amanhecer. Drinian e Lilliandil estão neste momento estudando o mapa.

- Como? – perguntei rapidamente. – Lilliandil esta aqui?

- Drinian nunca tinha ouvido falar de Hermes, enquanto dormia. Ele e alguns homens voltaram para a Ilha de Ramandu e pediram a ajuda de Lilliandil. – ele respondeu.

- Ajudar, sei. – eu disse com ironia, mas em sussurro para que Caspian não ouvisse.

- O que você tem? – ele perguntou.

- Caspian, não tive uma boa noite. Pode me deixar um pouco sozinha? Por favor. – pedi.

- Claro. – percebi o tom triste em sua voz.

Novamente eu estava sozinha ali. Por que era tão difícil eu ficar com a minha família? Por que quando estamos reunidos, algo acontece e ficamos separados? O que eu preciso fazer para ter minha filha de volta?

- Deveria ir embora.  – será que não se pode ficar sozinha nesse navio?

- O que você quer? – perguntei, me virando para encarar Lilliandil.

- Quero que vá embora de volta para o seu mundo. – respondeu.

- E por que eu faria isso?

- Você irá embora, queira ou não. Então vou avisando, não é bom você ficar iludindo o Caspian com esse negocio de filha. Ele sofrerá muito depois. – Lilliandil tinha um sorriso cruel no rosto.

- Então por isso esta aqui. Quer me afastar do Caspian? – perguntei, cruzando os braços.

- Caspian merece alguém que o faça feliz. – ela respondeu. – E não alguém que vai apenas iludi-lo.

Fiquei quieta. Por uma mera verdade que ela me disse. Eu realmente iria embora depois de um tempo. Eu realmente estava iludindo Caspian?