Adentrei a escola, sabe aquela sensação de que você voltou ao passado, e que sente que precisa sair dali o mais rápido possível, é um desespero que se apoderara de meu corpo desde que eu adentrei o prédio, cheio do que se chama nostalgia. A maioria já conhece minha fama de garota “você vai morrer” , mas eu não vim aqui para ser humilhada, nem mesmo para ser rebaixada, ou até mesmo ignorada, minha companhia não influencia a morte das pessoas, eu apenas sei...Oque não queria saber.

Muitos olhares tortos eram direcionados a mim, isto já estava sendo incomodo... Por que o ser-humano é tão hipócrita, mal conhecem, ouvem apenas boatos e já saem falando e falando, falam aquilo que não sabem ou não tem certeza. Desprezível...

Como eu já previa, que em exatos 3 segundos minhas fãs numero 1 apareceriam para me dar “boas vindas”, tão previsíveis e infantis...

–Ah então quer dizer que nossa querida Anne voltou do hospício? – disse a loira azeda, como tanta amargura cabe em uma pessoa só?

–Oque foi, não vai responder, ficou muda? Qual é o seu problema?- perguntou me intimidando, eu não recuei um passo, tudo será diferente, depois da conversa com meu irmão eu finalmente abri os olhos, eu acho que sou do tipo de pessoa que tem que levar na cara para aprender, oque é ruim, por que pelo que aparenta, eu infelizmente preciso errar, e aprender da maneira mais difícil.

–Sabe de uma coisa Ambre, era melhor a companhia daqueles loucos do que viver perto de você, bom tenho mais oque fazer.- disse simplesmente e sai de cabeça erguida, nada mais do que aquela loira me diz irá me afetar. Ela e suas amiguinhas apenas me olharam com desgosto e antes delas falarem qualquer coisa sai dali.

Eu realmente tenho pena da Ambre, tão amargurada, rancorosa, falsa.... Um dia ela irá cair, e sua queda será tão grande que eu não sei se irá superar, já que ela se colocou no topo de um pedestal....

Eu adentrei o pátio, havia vários novatos, e eu não vi boa parte dos meus antigos colegas...Oque é bom, não quero ter de revê-los, principalmente ele, simplesmente depois de ter me dito tantas coisas lindas, aquela flor não era para ser minha, eu sempre pensei, que as flores nos ajudassem a encontrar nosso amor, eu fiz de tudo para ele perceber que era eu, mas se a nossa flor se despedaçou, e morreu, foi por que não a cuidamos direito....Chega de remoer essas lembranças, eu já superei. Cabeça erguida Anne, vamos você consegue, já superou tanta coisa... Siga em frente.

–Acho que caminhei de mais.....- pensei em voz alta, tinham apenas um ou dois alunos a minha vista, as aulas já devem ter começado. Droga, primeiro dia e já chego atrasada, preciso pegar meus horários com Nathaniel será que ele ainda é o representante? Provavelmente sim... Sempre tão organizado, arrumadinho com aquela gravata, eu o conheci na época em que ainda era um menino, cheio de energia e muito tirânico, vivia pregando peças em todos, era de certa forma perturbador ter visto sua mudança súbita de personalidade e caráter, mas eu tenho certeza que aquele seu lado ainda existe... Como ele irá reagir ao me ver? Depois daquele dia antes de ele descobrir meu dom... Idiota... Mas quando penso nisso eu só consigo rir, mas é aquela risada amarga e acusadora, ele é um grande hipócrita.

Virei os calcanhares e fui em direção a sala dos representantes, com certeza ele estaria lá organizando suas intermináveis papeladas.

Ele me viu e seus olhos se arregalaram e ele ficou estático por um momento.

–A-Anne? Você voltou....

Pressionei os lábios um ao outro, e arqueei as sobrancelhas.

–Pois é... Bem eu só vim aqui pegar o meu horário nada mais. - disse franzindo o cenho, sério por que você tem que ficar me olhando hein? Qual é o problema? Eu tenho algo no nariz? Provavelmente...

–Ah claro seu horário... -disse e pegou uma pasta que estava dentro de uma gaveta e procurou uma ficha na qual pegou uma folha e me entregou, ele ainda me olhava com um olhar estranho e indecifrável, parecia que travava um conflito interno. Estava na cara que ele estava perturbado com a minha volta...Sorri era difícil conter o sorriso ao ver o quanto eu o deixava perturbado...

–Obrigada. - disse saindo e ele disse baixinho: “não por isso” e continuou me olhando com aquela expressão confusa.

Ao sair da sala olhei minha primeira aula,Biologia, ótimo, primeira aula e é uma das piores, mas fazer oque, já estou atrasada... De repente eu bato com tudo de frente com outra pessoa.

–Aiaiaiai desculpa, desculpa você esta bem?- disse a garota me ajudando a levantar.

–Sim tudo bem. - disse com a mão na testa.

–Sou Leisha, e você?- disse.

–Anne.- Leisha era alta, e tinha uma pele morena e bronzeada, tinha cabelos longos e cacheados, tinha um belo corpo e vestia um vestido branco que ia até os joelhos, mas da metade da coxa até os joelhos a cor escurecia gradativamente até ficar marrom, e usava um cardigã vermelho, um par de sandálias vermelhas, as unhas dos pés e mãos bem feitas.

–Hmm...Você poderia me mostrar a escola eu estou completamente perdida...- disse olhando confusa para as portas. Já estou atrasada não vou perder meu tempo...

– Estou atrasada para aula.- disse me virando para sair, mas ela me segurou no braço e já saiu me arrastando.

–Que droga, você me ouviu direito?- disse perdendo a paciência.

–Sabe, eu sou do tipo de pessoa que ao olhar nos olhos de outra sabe exatamente que tipo de pessoa é.- disse ela ainda me arrastando.

–Eu não te perguntei droga nenhuma.

Ela deu uma risadinha e depois parou de caminhar mas não me soltou.

–É que, eu sei quem você é, sei que passou por muita coisa... De certa forma entendo...  A maioria das pessoas que passa pelo que você esta passando constrói uma muralha em volta e eu ajudo essas pessoas a quebrarem esta muralha.

–Eu não te pedi ajuda.

– Você não,mas seus olhos sim.

–Você fumou alguma coisa?- disse olhando-a com incredulidade, oque essa garota tem na cabeça? Minhocas?

–Não, mas eu sou adoro psicologia, estética e sorvete.- disse enquanto voltávamos a andar.

–Ata.- disse rindo, essa garota é retardada só pode, mas sabe... Gostei dela.

–Oque sabe de mim?- disse iniciando uma conversa.

–Oque todos falam... Louca, uma aberração, garota “você vai morrer”...

–E você acredita nisso?

– 100% não, mas em meio a esses boatos há um pouco de verdade certo?

–Correto, digamos que eu tenho um certo dom de prever com as pessoas vão morrer, mas as pessoas acham que eu influencio a morte delas.- disse abrindo o jogo, talvez assim ela me deixe em paz.

–Interessante, muito interessante.- Oque interessante? Isso é ilógico!

– Gostei de você Anne.

–Eu não posso dizer o mesmo.- disse nervosa.

–Você tem múltiplas personalidades certo? 

–Quem sabe. Agora se me de licença tenho uma aula para assistir.- já estávamos no ginásio perto das arquibancadas, onde estava Castiel. Grande novidade...

–Quem é aquele?- disse Leisha se referindo a Castiel. Ele estava ouvindo musica em seus fones, de olhos fechados.

–Castiel.

–Huum... Bonito, muito bonito. – disse o olhando com malicia.

–Tá que bom pra você, até nunca mais.- disse virando as costas, mas pude vê-la ir se sentar ao lado dele. Boba... Desde que aquela vadia enganou ele, ele nunca mais sorriu ou falou com ninguém a não ser o Lysandre...Mas isso não é do meu interesse.

Voltei para a frente da sala esperando, até o sinal bater e eu puder entrar na segunda aula que seria... História, até que gosto de história, não será tédio total.

Sentei-me no chão, e coloquei os fones de ouvido, e coloquei a musica Once Upon a December, mas instrumental com acompanhamento do violino, a musica é daquele desenho, Anastacia, muito fofo, desenho que eu olhava sem parar. Quando se trata de musica eu sou do tipo mais clássica, mas gosto um pouco do estilo Metal, sendo que prefiro Rock-Clássico... mas enfim, fiquei um bom tempo distraída em pensamentos sobre estilos musicais, e sobre o por que de antigamente as mulheres não usavam calças... e nem percebi quando o sinal tocou, corri para a sala b-12 onde seriam as aulas a partir de agora

Eu não havia chego atrasada, o professor ainda não havia chego. Mas ao botar meus olhos em para dentro da sala.

Não ele não, por favor, poderia ter qualquer pessoa naquela sala, mas ele não. Um desespero apoderou-se de mim, oque eu faria, ele estava olhando para mim, não havia mais ninguém naquela sala, as conversas eram abafadas, eu só enxergava ele, ali parado olhando para mim. Logo que eu pensara que havia superado, eu percebi, que apenas havia jogado essas lembranças para longe, mas acontece que a simples troca de olhares, foi o suficiente para trazer as lembranças que me traziam desespero e total vulnerabilidade.

Ah sim, ele era capaz de destruir a muralha ao me redor, com um simples olhar, aqueles olhos....

Por favor alguém me tire dessas cordas presas ao passado, que me ligam diretamente a ele?

"Como somos vulneráveis, vulneraveis aos nossos próprios argumentos, nossos próprios recentimentos e sentimentos. Será tão dificil ficar mais de um dia sem chorar?"