Just For Today escrita por House


Capítulo 1
Capítulo 1




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A TARDIS aterrissou chacoalhando como sempre. O Doctor parou em frente a porta fechada, ajeitou a gravata borboleta e suspirou. Deveria estar em Manyetha, agora. Um dos lugares mais calmos do universo. Suas cascatas de águas cristalinas despencavam a centenas de metros de altura de montanhas feitas de vidro e suas pedras eram de cristal colorido. Também o planeta mais frágil que já existiu, pena que quase ninguém o visitava.

Abriu a porta e olhou ao redor, confuso. Ali não era Manyetha. Era britânico demais para ser tranquilo e pacífico. Não era possível, ele continuava no mesmo lugar. Coçou a cabeça, saiu encarando a TARDIS e depois voltou para dentro da nave.

- O que foi que você fez? – ele murmurou.

Era Londres, mas ao mesmo tempo não era. Talvez nem fosse a mesma rua de antes. Apenas um beco qualquer, onde uma figura de braços cruzados o observava. O Doctor caminhou até ela, que assim que percebeu a aproximação virou-se para a avenida. Estavam mais próximos do Tâmisa, dava para ver a ponte de onde estavam.

- Eu sabia que você viria – era uma voz de mulher, um sotaque escocês acentuado. O Doctor estava parado atrás dela. – Ninguém acreditou que fosse possível, mas nada é impossível para o Doctor. – ele sentiu o sorriso em sua voz. Sua mão foi automaticamente para a chave de fenda no bolso. – Guarde isso. Nenhum de nós gosta de violência.

- Como você... – seus olhos estavam apertados, concentrados. – Que tal um chá? Você ainda gosta de chá, certo?

Ela virou para ele. Tinha um sorriso misterioso e louco. Olhos da cor do céu, profundos e divertidos ao mesmo tempo. Cachos negros caíam sobre seus ombros na camisa vermelha com o colete preto. Uma cordinha de relógio dourada pendia ali. Carregava consigo uma sobrecasaca.

- Quem seria você? – ele perguntou?

- Vou conversar e dar explicações enquanto bebo chá, Doctor – ela o pegou pelo braço e, por algum motivo, ele simplesmente foi.

Doctor não fazia ideia de quem era aquela mulher, nem de onde estava. Sabia que ela emanava segurança e conforto, como quando chegar em casa após uma forte tempestade. E ele estava aceitando um pouco de paz depois de tudo.

- Você estava mais velho quando nos vimos pela última vez. – ela o observava, em uma avaliação – Gostei assim, combina com seu espírito – ela bebericou seu chá de hortelã enquanto o Doctor esperava pacientemente recostado na cadeira, tamborilando os dedos na mesa. – Você não sabe quem eu sou nem que lugar é esse?

- Não. Mas humana você não é.

- Tem razão – ela disse em um sorriso. – Você está no mundo paralelo. Hoje é 17 de janeiro, Doctor.

- Impossível – a mulher riu totalmente relaxada e divertida com a incredulidade dele. – Mundo paralelo?

- O Mundo de Pete. – concordou e ficaram em silêncio por alguns instantes. – Você parece aflito.

- É claro que estou aflito! – Doctor disse exasperado. – A TARDIS vem parar no último lugar que eu deveria ou poderia estar, uma completa estranha me sequestra, praticamente, e você quer que eu fique calmo?

Ele levantou, pronto para voltar para o conforto de sua nave e arranjar um jeito de sair dali o mais rápido possível.

- Doctor – ele olhou automaticamente. A simpatia em seu rosto havia sumido. Sua expressão era velha e cansada, a voz fria e cortante, seus olhos brilhavam. – Sente-se.

O homem engoliu em seco e fez o que lhe foi pedido. Aos poucos a expressão dela foi suavizando.

- Você tem razão. Eu não sou humana – ela disse e ele rolou os olhos. Nada de novo no front. – Quando te conheci, ainda éramos jovens, não tínhamos nem 100 anos – ela sorriu. – Nós já aprontamos muito juntos.

Ele balançou a cabeça, descrente.

- Isso é mentira.

- Por que eu mentiria?

- Porque sim, Se isso for verdade, você é uma Time Lady, o que não é possível. Eu vi Gallifrey queimar. Eu o fiz queimar. Estão todos mortos agora.

- Há muito tempo atrás existiu uma Time Lady. Ela foi uma das únicas pessoas a quebrar a lei de não interferência. Era chamada de The Seer. Sua história foi esquecida com o passar dos séculos enquanto ela apodrecia em um exílio forçado.

O Doctor a analisava, ponderando sua história. Ela estava insinuando ser the Seer. Era, definitivamente, algo novo no front, mas o que ela dissera, qualquer um poderia saber daquilo, certo?

- Por que ela não voltou durante a Time War? – ele perguntou, desencostando da cadeira e inclinando-se para frente, braços sob a mesa.

- Porque eles sentiam tanto rancor que ela foi renegada pelo seu próprio povo até no momento em que eles mais precisavam de ajuda.

- Você ainda não conseguiu me convencer – murmurou. – Você pode ter ouvido isso em qualquer lugar.

- Ela era sua amiga. Uma das mais íntimas e das que você mais foi fiel. Seer foi um dos motivos para a sua rebeldia, Doctor.

A mulher agora evitava os olhos dele, seus próprios passeando ao redor da rua. Ela pegou o relógio do bolso e viu o Time Lord ofegar.

- Você o reconhece? – ela perguntou, balançando-o – Um certo Doctor me deu isso há uns 400 anos. Ele disse que eu só deveria usá-lo quando tivesse perdido as esperanças nele e na nossa raça.

O Doctor tirou o delicado objeto de suas mãos. Não era de prata, era de ouro, bem diferente do que ele usara há alguns anos atrás. Ele a olhou e abriu, a inscrição interna ainda estava lá. Claro que não era nada demais, apenas uma dedicatória, mas continha o nome verdadeiro de ambos, em Gallifreyan.

- Eu nunca usei – havia um certo orgulho em sua voz. – Bom, quase. – ela inclinou e coçou a cabeça. – Mas foi quando descobri sobre Gallifrey. Eles disseram que você estava vivo. Há alguns anos surgiram boatos sobre um tal rapaz que lutou contra os Cybermen. Só podia ser você. – ela suspirou – demorei um bom tempo pra trazer a TARDIS até aqui.

- Então foi você? – ele arqueou as sobrancelhas e ela assentiu, os olhos baixos. – Mas por que agora, por que aqui? Eu não devo vir aqui nunca mais.

O Doctor levantou, com Seer atrás dele. Ela colocou algumas libras na mesa e foram andando em silêncio de volta para a TARDIS. Seer vestiu a sobrecasaca. Desde que Doctor a conhecia, ela tinha aquela sobrecasaca. Havia pego emprestado em uma viagem escondida que fizeram em um planeta bem distante e antiquado.

- Já percebeu que a Terra é a prisão dos Time Lords?

- Eu encontrei o Master – ele parou na frente da cabine de polícia azul. – Ele está morto agora.

- Deixe-me adivinhar, – Seer tirava suas luvas de couro – ele continuava tão cruel quanto eu havia previsto?

- Exato. – o Doctor colocou sua mão na porta, abrindo-a. Era um convite a julgar pelo sorriso que estava brotando em seu rosto.

- Desculpe Doctor, mas eu preciso ir. Eu tenho um companion agora e ele está me esperando em casa, mas você pode vir comigo. Nós fazemos batata frita ou algo assim.

O sorriso dele alargou e ele voltou a trancar a TARDIS.

- Pode ser filé de peixe?

Ela riu.

O que você quiser. Ainda tenho muito pra te contar.

- Geronimo. – ele riu de volta, dando uma leve inclinada com a cabeça. – Então, onde está sua TARDIS?

- Na verdade, é meu carro. Não posso andar por aí com a TARDIS. – ela parecia ressentida. – Honey, você vai adorar isso.

No fim do beco, bem escondido, um Rolls-Royce azul da cor dos olhos dela estava estacionado. Ele tinha uma capota bege e reluzia um pouco.

- Ouvi dizer que você já teve um carro – ela pulou a porta e entrou no lado do motorista.

- É, há muito tempo. Seu nome era Bessie.

- Essa regeneração parece desastrada demais pro meu gosto. Nem experimente chegar perto do Willy – ele franziu a testa. – Quero dizer, pra dirigir.

O Doctor sentou no assento do carona e assim que ele fechou a porta, Seer acelerou, fazendo-o agarrar-se ao banco de couro.

- Esqueci de dizer – ela disse por cima do vento, enquanto corria e colocava seu óculos aviador, o sorriso louco crescendo mais um pouco. – É melhor se segurar.


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