Como Irritar Um Capitão Pirata escrita por Mrs Jones


Capítulo 19
Capítulo 15 - A Terra do Nunca


Notas iniciais do capítulo

Oi meninas, eu queria ter postado antes, mas essa semana foi muito cansativa pra mim, final de ano vocês sabem como é, estive meio ocupada. Espero que o próximo capítulo saia em pelo menos três dias, não quero que fiquem esperando muito tempo.
Gente, Once vai ficar de hiato por duas semanas, não irei sobreviver. O último episódio foi foda, nunca tinha imaginado que o Peter Pan era pai do Rumple (ops, spoilers). Só eu que acho o Peter gatinho? rsrs Eu acho ele sexy com aquele jeito dele, mas às vezes dá raiva desse garoto. Continuo não gostando de OUAT in Wonderland, não gosto muito daqueles atores, parece que atuam de um jeito forçado. Só assisto porque o Cyrus é um gato kkkk
Fiz um trailer pra fic e postei no YT. Não ficou grande coisa, mas dá para o gasto rsrs Vou deixar o link aqui: http://www.youtube.com/watch?v=DcAOpsWwLkA
Bom, acho que não tenho mais o que falar. Quem quiser me adicionar no Google+ fique à vontade.
Aproveitem a leitura, espero que gostem



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Capítulo 15 – A Terra do Nunca

– Quer dizer que existem vários portais? – Ruby perguntou quando eles chegaram à boca da caverna que ela vira antes.

– Parece que sim – respondeu Ariel, já habituada à voz – Mas só conhecemos dois.

– Será que vocês podem andar mais depressa? – o Capitão estava impaciente, uma vez que as três moças ficaram para trás, conversando e rindo como se fossem amigas de longa data– Para onde vamos, afinal?

– Você é sempre rabugento assim? – Mabel falou tomando a frente do grupo e entrando na caverna. Ao invés de responder, Killian perguntou:

– Mas aonde é que está indo?

– Venham logo – ela apenas disse e Killian e Ruby se entreolharam sem entender. Ariel também entrou na caverna e Ruby não teve certeza de que poderia fazer o mesmo.

– Ahn, gente... eu não sei nadar... – ela disse e Ariel e Mabel se viraram para olhá-la.

– Oh... nesse caso, acho que podemos dar uma ajudinha – Ariel veio até onde Ruby estava e estendeu a mão para ela – Vem, não se preocupe, não vou deixar você se afogar.

– Não acho que seja uma boa ideia, mas...

– Querem nos dizer aonde estamos indo? – o Capitão estava cada vez mais impaciente, já que as duas sereias não estavam dizendo a eles qual era o plano.

Killian estava acostumado a estar sempre à frente de tudo, mas dessa vez não estava conseguindo lidar com o fato de que as mulheres estavam o guiando.

– Você já vai saber – Mabel respondeu no mesmo tom impaciente que o Capitão usara – Será que dá pra virem logo ou está difícil?

– Certo, certo. Só me digam que Ruby vai estar em segurança...

– Ela vai, não se preocupe.

Ruby já entrava na água, um pouco amedrontada, já que quase se afogara há pouco. Ariel a segurou pelo braço esquerdo e Mabel segurou do outro lado. Juntas elas ajudaram a princesa a nadar para dentro da caverna sombria. O Capitão veio atrás e não parecia muito feliz.

– Ótimo, agora vão nos dizer que o portal fica dentro dessa caverna e demos a vocês o que queriam praticamente de graça...

– Não seja burro – Mabel retrucou – Isto aqui é só o começo. Não acha que o pior ainda está por vir? Primeiro temos de nadar por baixo da caverna, para chegar ao outro lado.

– E o que tem do outro lado? – Ruby perguntou mais para esquecer o quanto estava amedrontada do que por outra coisa.

– Vocês vão ver.

Eles nadaram em linha reta e a profundidade aumentava à medida que chegavam ao fim da caverna. A água já batia no pescoço deles e Ruby sabia que de um jeito ou de outro, teriam de mergulhar pra atravessar para o outro lado. Era meio escuro e frio e ela tremia, sem saber se era de medo ou de frio. Por fim chegaram ao que parecia ser o fim da caverna, o imenso paredão que se erguia sobre eles não dava sinal de que fosse se abrir de algum modo para permitir que passassem para outro lado.

– Prenda a respiração, vamos mergulhar – Ariel disse a Ruby e ela assentiu amedrontada. Ela prendeu a respiração e foi puxada para baixo, pelas duas sereias. Havia luz suficiente para que pudessem enxergar um buraco na base da parede da caverna. O buraco era largo o bastante pra que as três passassem juntas. Quando elas saíram do outro lado e subiram para a superfície, Ruby respirou aliviada. O Capitão veio atrás.

– Boa jogada. Eu nunca teria imaginado que haveria uma passagem ali – ele comentou, mexendo no cabelo, numa tentativa de se livrar da água que se acumulara ali. Ruby sorriu levemente ao pensar no quanto o Capitão ficava charmoso quando estava todo molhado daquele jeito.

Haviam saído numa outra galeria, um pouco mais escura do que caverna em si. As sereias nadaram até o canto mais escuro da caverna, levando Ruby junto.

– Certo, e agora o que faremos? – o único homem do grupo perguntou quando eles se aproximaram da parede da caverna. Ruby reparou que havia outra abertura ali, na parede da caverna, um pouco acima do nível da água.

– Vai ser um pouco difícil agora – disse Mabel, e ela se soltou de Ruby, e se ergueu para o buraco acima deles. – Cuidado com a cabeça – advertiu ao passar pela entrada do buraco e sumir lá dentro.

Killian segurou Ruby para que Ariel pudesse subir, e a princesa pareceu apreensiva. O Capitão a tranqüilizou sorrindo ternamente e Ariel estendeu a mão para Ruby, ajudando-a a subir. O Capitão subiu logo depois. Viram que se tratava de um túnel escavado na rocha. Ali era escuro, íngreme e bem estreito. Eles tiveram de rastejar e a todo momento alguém se arranhava nas protuberâncias da rocha. Parecia que estavam subindo, e o Capitão ficou imaginando que lugar era esse para o qual estavam indo.

– Como sabem para onde estão indo? – ele perguntou e a voz de Mabel veio abafada. - Já estivemos aqui antes, obviamente. Vocês não são os primeiros a vir parar nessa ilha e procurar pelo portal.

– Hum, certo, mas como vieram até aqui com aquelas...

– Caldas? – Mabel riu – Bem, nós não fomos até o portal, para falar a verdade. Trouxemos os viajantes até a boca do túnel e eles seguiram sozinhos.

– Quer dizer que vocês não sabem o que está por vir?

– Só sabemos o que nos disseram, e, se estou certa, o portal está bem perto.

O Capitão balançou a cabeça, preocupado, mas não disse nada. Sereias não eram nada confiáveis, e se por um acaso estivessem sendo enganados, ele não ia querer estar na pele delas quando as dissecasse usando seu gancho. Ele balançou a cabeça mais uma vez, como que para afastar aqueles pensamentos, e continuou a se concentrar no caminho.

Levou pelos menos dez minutos até que conseguissem atravessar todo o túnel. Ruby já estava entrando em pânico, quase sufocada pela falta de ar. Havia uns poucos pontos em que sentiam frias correntes de ar entrando por buracos na rocha e a princesa já estava achando aquilo estranho. Para onde estavam indo afinal?

Finalmente puderam ver uma luz no fim do túnel e começaram a rastejar mais rápido, loucos para chegar ao ar fresco. O túnel começou a ficar mais largo, e quando chegaram ao final dele, saíram bem no alto de um penhasco.

– Mas o que...? – o Capitão exclamou surpreso. O túnel terminava quase na beira do penhasco, havia uma árvore perto da saída do buraco, e, lá embaixo, o mar se agitava furiosamente. Ao que parecia, eles estavam bem no alto de uma montanha.

– Hum, então é verdade – Mabel falou esticando os braços e se afastando da beira do penhasco.

– E o portal? – Ruby perguntou.

– Está aí – Mabel apontou na direção da árvore e Ruby estreitou os olhos, como que tentando enxergar algo que não estivesse visível.

– O quê? Oh, você quer dizer... a árvore?

Ariel assentiu e Killian ergueu as sobrancelhas.

– Uma árvore vai nos levar à Terra do Nunca?

– E o que você esperava? – Mabel debochou – Um arco luminoso enfeitado por bandeirinhas? Não é obvio? Um portal tem que ser discreto e quase invisível a olhos desatentos.

Killian não disse nada. Não estava gostando nada daquela sereiazinha. Ruby disfarçou um sorriso, percebendo que Mabel estava indo bem na tarefa de deixar o Capitão irritado.

– E agora? – ele perguntou observando a árvore. Parecia esperar ser sugado por alguma espécie de buraco de luz e sair na Terra do Nunca, mas parecia que não ia ser bem assim.

– Não me pergunte. Eu fui paga para trazê-los até aqui, não para explicar como o portal funciona...

– Ora, mas... – Killian suspirou impaciente e Ruby se aproximou da árvore, tentando descobrir como ativar o portal.

– Querem ficar quietos? Estou tentando me concentrar aqui – ela disse ao mesmo tempo em que alisava o tronco da árvore, esperando que o portal se revelasse.

– Ótimo! – o Capitão começou a ficar bravos – Fizemos acordos para nada. Desista, Chapeuzinho, não tem portal nenhum aí...

– Tem que ter alguma coisa – nem bem Ruby terminou de falar e árvore começou a se mexer. Os galhos começaram a estralar, como se estivessem prestes a se quebrar, e então a árvore começou a se partir no meio. – Eu não disse?

O que aconteceu a seguir foi muito rápido: Ruby se virou para olhar o Capitão, sorrindo vitoriosa por ter conseguido fazer o portal funcionar, e então, quando se virou de novo para olhar a árvore, havia um grande buraco no meio dela e Ruby foi sugada por ele.

Ela só teve tempo de gritar e então não viu mais nada. Ela sentiu um vento frio percorrendo seu corpo e não viu nada além de escuridão. Não durou mais do que cinco segundos. Logo depois ela se viu caindo no mar, depois de uma queda de mais de cinco metros. Ruby se apavorou ao ver que estava ali sozinha, no meio do oceano, e sem saber nadar. Ela agitou os braços desesperadamente, e já começava a afundar quando alguma coisa grande caiu ali perto. Uns segundos depois ela sentiu duas mãos – na verdade uma mãe e um gancho – a puxando para cima.

– Você está sempre se afogando – o Capitão falou sem fôlego e Ruby se agarrou a ele, com medo de se afogar.

– Eu não tenho culpa – ela disse meio engasgada pela água.

– Veja, lá está – o Capitão apontou para o norte e Ruby viu a ilha, não muito longe dali – A Terra do Nunca.

– Vamos ter que nadar tudo isso?

– Ora, não seja preguiçosa. Vamos, é o melhor jeito de você aprender a nadar.

– Mas...

– Vamos, assim, bata os braços e as pernas. Não é tão difícil assim.

O Capitão ensinou Ruby a nadar e ela foi perdendo o medo aos poucos, até se lembrar de que devia haver dezenas de tubarões ali. E é claro, um crocodilo.

– Vamos depressa. Eu não quero ser comida pelos tubarões e crocodilos. – ela guinchou e começou a nadar mais rápido. O Capitão riu ao ver que ela nem percebera que ele a tinha soltado. Ela nadou metade do caminho sozinha, até perceber que Killian estava bem atrás dela – O que está fazendo? Não me solte, vou me afogar... – ela começou a se desesperar e o Capitão apenas riu.

– Você nadou até aqui praticamente sozinha. Não faça tanto drama.

– Eu... nadei?

– É claro. Está tão preocupada com o crocodilo que nem reparou nisso.

– Então vamos mais depressa, não quero virar comida de crocodilo – ela voltou a nadar e o Capitão riu, mas advertiu.

– Não vá tão rápido ou vai acabar com câimbras.

Nem bem ele falou isso e Ruby parou, queixando-se de dor nos braços.

– Vamos parar um pouco – ele disse. Agora deviam estar há uns vinte metros da praia e já escurecia. – Mas o que é aquilo? – o Capitão fingiu estar preocupado enquanto olhava para frente.

– O quê? O que foi? – Ruby olhou na mesma direção que ele, tentando encontrar algo de errado.

– Acho que vi alguma coisa. Uma... calda de crocodilo – ele sussurrou e Ruby veio para mais perto dele.

– T-tem certeza? Pode ter sido só o r-reflexo do sol na água...

– Shhh. Ele está por aí... – o Capitão sussurrou e Ruby se encolheu toda, amedrontada. – Ouviu isso?

– O quê?

– Está se aproximando...

Ruby foi para mais perto do Capitão e ele a assustou fazendo-a gritar desesperada e se agarrar a ele. Killian gargalhou alto e a moça fez cara feia.

– Idiota! Eu sabia que era invenção sua – ele se soltou do Capitão e começou a nadar até a praia. Killian ainda ria e minutos depois eles chegaram à praia e desabaram na areia. – E então, isso aqui é a Terra do Nunca?

– Sim, por quê?

– É que eu esperava mais. Quero dizer, você disse que Peter Pan é um demônio e todos dizem que esse lugar é perigoso, mas... eu simplesmente não vi nada demais. É uma ilha como outra qualquer.

– Aí é que você se engana, minha cara. Espere só até ver.

Ruby suspirou cansada:

– E agora o que faremos?

– Hum, já vai anoitecer, acho que devíamos passar a noite por aqui. Estaremos seguros aqui na praia.

Eles fizeram uma fogueira e Gancho não encontrou algo melhor que eles pudessem comer, no fim apanhou uns cocos e os furou usando seu gancho.

– Hum, essa coisa até que é útil – Ruby comentou indicando o gancho e Killian riu.

– Não acha que eu ia usar um gancho no lugar da mão se não fosse aproveitar suas funções, acha?

– Não sei. Você é meio estranho...

Killian fingiu estar indignado, mas logo estava sorrindo. Porém, logo se lembrou das palavras da bruxa e ficou preocupado. A Terra do Nunca ia ser palco de intrigas e revelações, ela dissera, e ele sabia que a verdade estava cada vez mais próxima. Como Ruby reagiria a isso? Talvez ela fosse mesmo fraca. Não fisicamente, mas emocionalmente. Ele ficou a olhando por uns minutos, ela ficava tão fofa usando aquela capa vermelha que ele se recusava a tirar os olhos dela. Ruby se deitou na areia branca da praia e ficou admirando o céu. Killian fez o mesmo, estirando-se ao lado dela.

– Gosta das estrelas? – ele perguntou.

– Gosto. Eu costumava estudar astronomia quando ainda era uma princesa. Meus pais queriam que eu fosse uma moça culta. – ela disse e suspirou. Estava claro que ela sentia falta de sua antiga vida, embora a vida de pirata também fosse boa.

– Sente falta deles, não sente?

– É claro. Mas ao mesmo tempo, gosto de ser independente. Quando eu morava com meus pais eles me sufocavam o tempo todo.

– Sei bem como é. – o Capitão ficou calado e pensativo por longos minutos. Ruby percebeu:

– O que foi?

– É que... eu estou com medo...

Medo? Capitão Killian Jones, o pirata mais insensível e sem coração que ela já conhecera, estava com medo? Talvez não tivesse sido apenas ela quem perdera a coragem.

– Medo do quê? Peter Pan?

– Não, não tenho medo dele, só ódio. Na verdade... – ele suspirou – na verdade acho que fiz tudo errado. Agora tenho um acordo com uma bruxa e não sei como vou lidar com isso. Como posso entregar um dos meus homens assim? Não é certo...

Pensando bem, ele não era tão sem coração assim, e já provara isso.

– É normal ter medo. Mas vai dar tudo certo. Pelo menos vamos voltar vivos. – ela disse tentando fazer com que ele se sentisse melhor.

– É, mas quando voltarmos vamos estar... diferentes. E você vai embora...

– Você realmente não quer que eu vá, não é? – ela se virou para olhá-lo. Killian não respondeu logo, mas suspirou depois de uns segundos e também se virou para olhá-la:

– Não.

Ficaram se olhando por uns segundos, até que Ruby indagou:

– E por que não?

– Porque... bom, porque você tem sido legal... quero dizer... você é uma boa menina – ele começou meio confuso, sem saber bem o que dizer. Ruby sorriu – E todos gostam de você... tem sido de grande ajuda desde que chegou ao meu navio... e eu... querendo ou não, acabei me afeiçoando a você. Sabe, você me lembra um pouco a minha mãe.

– Verdade?

Ele assentiu sorrindo e lembrando-se do quanto sua mãe era bondosa e compreensiva.

– Bom, eu sinto falta da minha família, você sabe – Ruby falou sem quebrar o contato visual com o Capitão.

– Eu sei.

– Talvez seja hora de eu voltar pra casa – ela continuou e Gancho a olhou de um jeito que demonstrava o quanto estava triste por isso – Mas eu posso te visitar de vez em quando. – ela sorriu e ele também sorriu, pensando no quanto isso seria bom – É claro, meu pai não pode saber, ou ele vai querer te matar.

– Ou talvez ele goste de mim – o Capitão voltou a olhar as estrelas e Ruby não soube o que dizer. O que ele queria dizer? E se, por um acaso, Killian estivesse planejando algo como pedir a mão de Ruby em casamento? O que seu pai faria? Gancho era esperto, pensando bem, e é claro que ele poderia se passar por um príncipe rico. A moça se arrepiou diante do pensamento. Ela gostava dele, não podia negar, mas pensar em ter um pirata como marido... seria uma boa ideia?

Logo Ruby adormeceu e o pirata montou guarda, como que esperando que algo de ruim acontecesse. Ninguém poderia atrapalhar o sono da sua Ruby... Sua? Desde quando ele se sentia no direito de achar que ela era sua propriedade? Um barulho de galhos se partindo despertou o Capitão de seus devaneios e um segundo depois, um garoto alto e de expressão arrogante, apareceu na praia caminhando despreocupadamente.

– Ora, ora, ora... o que temos aqui? Olá, Killian.

– Pan...

***

– O que faz por aqui? – o garoto perguntou daquele jeito despreocupado que Killian odiava.

– Ah, estou acampando, não está vendo? – o pirata respondeu tranquilamente e Pan riu. Ruby despertou com o som da risada de Peter, e vendo o garoto desconhecido, se encolheu atrás de Killian.

– Não tenha medo, princesinha. Seu Capitão está aqui para protegê-la – Pan disse com intenção de parecer inofensivo, mas Ruby não gostou do jeito dele.

– Você é Peter Pan? – ela perguntou mesmo já sabendo a resposta.

– Vejo que já ouviu falar de mim.

– É claro, você é bem famoso...

– Diga logo o que você quer – o Capitão interrompeu a conversa dos dois.

– Não quero nada, só estou caminhando. Bela noite, não acham? – ele enfiou as mãos no bolso, como um adolescente despreocupado. Aparentava ter a idade de um garoto de dezesseis anos, mas ele tinha mais do que isso, Ruby já ouvira falar. Há séculos ele estava naquela ilha onde o tempo não corria.

– Ah, então vá pra casa, Pan – o Capitão se recostou a Ruby que olhava o garoto com curiosidade – Vá cuidar dos seus garotos. Devem estar sentindo sua falta...

Peter riu:

– É claro. Na verdade eu só passei para dizer “oi” – ele fez seu caminho em direção a floresta, mas então se voltou para olhar Gancho - A propósito, como foi que perdeu sua mão?

– Longa história... – o Capitão sorriu tranquilamente e Pan sorriu maliciosamente:

– Vou adorar ouvir depois. Boa noite! – e dizendo isso ele sumiu na floresta.

– E então? O que achou? – o Capitão olhou para Ruby.

– Não gostei do jeito dele. Ele parece... parece um garoto maligno.

– Ele é. Mas não se preocupe. Não vai acontecer nada a você. Durma, eu vou passar a noite em guarda.

Ruby ia protestar dizendo que Killian também precisava descansar e que ela iria assumir o segundo turno da guarda, mas ele fez ela se calar, dizendo que podia muito bem passar a noite em claro. Cansada como estava, a moça não quis discutir, e acabou dormindo.

Na manhã seguinte, Ruby acordou e viu que o Capitão não tinha agüentado: acabou dormindo com a cabeça recostada a uma palmeira ali perto de onde estavam. A princesa se levantou, pronta para procurar pelo café da manhã, quando avistou um garoto, não muito longe dali, observando ela e Killian. Era um garoto alto e loiro, que usava um capuz que lhe cobria quase todo o rosto. Ela ficou assustada, mas imaginou que aquele devia ser um dos garotos de Pan, um dos Meninos Perdidos, como eram chamados. O garoto logo sumiu na floresta e ela respirou aliviada.

Ruby pensava em Peter Pan como um simples garoto que não queria crescer. Nas lendas que ela ouvira, Pan era sempre descrito como um garoto bondoso, que gostava da natureza e dos animais. Ela não imaginava que a história, na verdade, era bem diferente. Agora que estivera cara a cara com ele, descobriu que o Capitão estava certo, ele não era só um garoto comum, era um garoto poderoso.

Ela procurou por algo comestível, mas não havia nada além de peixes e cocos por ali, e se quisesse algo diferente teria de entrar na floresta, algo que ela não faria sem Killian por perto. Faminta, ela acabou indo acordar o Capitão. Ele devia estar sonhando com uma coisa muito boa, pois sorria feito bobo e suspirava de vez em quando. Ela reparou que a camisa dele estava aberta, deixando à mostra seu peitoral peludo e definido. Ruby não conseguiu conter um suspiro, e logo depois começou a chamá-lo.

– Capitão! Acorde! Acorde! Killian!

Ele começou a despertar aos poucos e então abriu os olhos e a encarou frustrado.

– Você me acordou na melhor parte do sonho – disse fazendo biquinho. Ela revirou os olhos.

– Pensei que ia passar a noite toda acordado. Vamos, temos que procurar comida.

– Ah, está bem sua esfomeada. – ele tirou o casaco de couro que tanto adorava e o pendurou por cima do ombro. Ele era charmoso, não se podia negar, mas Ruby fingia que não admirava esse seu jeito sexy.

Eles pararam perto da floresta e o Capitão percebeu que ela estava apreensiva.

– É que... tinha alguém nos observando – ela disse quando o Capitão perguntou o que ela tinha – Um garoto...

– Pan já colocou os cúmplices dele na nossa cola – Killian resmungou irritado. Depois disse que ela não devia se preocupar e então entraram na floresta. Era um lugar até agradável, embora eles soubessem o mal que corria por ali.

Eles comeram frutas, que encontraram aos montes, e então o Capitão começou a pensar em seu plano de encontrar as fadas. Ele passara muito tempo, noites em claro até, pensando em como chegaria até elas e como as convenceria a ajudá-lo. O pior de tudo era passar por Pan, já que ele tinha olhos em todo lugar.

– Então, qual é o plano? – Ruby perguntou ao Capitão e ele parou no meio do caminho para olhar pra ela.

– Não sei, talvez... na verdade eu não sei bem o que fazer. Mas você que é tão inteligente, poderia encontrar uma solução.

– Temos que encontrar as fadas, certo?

– Certo.

– Você conhece esse lugar muito bem, não é?

– Como a palma da minha mão, eu diria. Exceto que nunca consegui encontrar as fadas, então, não posso dizer que conheço essa ilha completamente.

– Ainda assim você conhece um pouco. Sabe, a gente precisava de um mapa...

– Quer um mapa melhor que minha cabeça? – Killian falou e Ruby riu.

O Capitão, então, desenhou no chão todos os lugares importantes da Terra do Nunca, incluindo a praia de onde eles tinham vindo. Ruby pensou e pensou, mas não conseguia pensar em como poderiam encontrar as fadas.

– Se você quisesse esconder criaturas tão incríveis, onde as esconderia? – o Capitão estava instigando-a a pensar. Ele mesmo não se achava muito inteligente, a não ser quando se tratava de navios, lutas e tesouros. Nada melhor do que uma princesa inteligente e estudada para ajudá-lo a pensar.

– Bom, eu esconderia num lugar bem seguro. Mas sabe, às vezes o melhor esconderijo está bem na nossa cara... elas costumam viver no meio das flores, não é?

O rosto do Capitão se iluminou com um sorriso.

– Como eu não pensei nisso antes. Que imbecil, estava bem na minha cara. – ele bateu na testa com a mão e então disse a Ruby que sabia onde elas provavelmente se escondiam – Há muitas flores por aqui. Na verdade elas não ficam o tempo todo perto das flores, mas sei onde é que elas podem estar.

O Capitão a guiou por entre as árvores e arbustos, puxando-a pela mão, subitamente tomado pela emoção de encontrar as pequenas criaturinhas mágicas. Talvez estivesse fácil demais, ele pensou, mas tudo ficava mais fácil quando duas pessoas pensavam numa mesma coisa. Eles estavam confiantes, porém, depois de cinco minutos de caminhada pela floresta, eles foram surpreendidos pelos Meninos Perdidos.

– Indo a algum lugar, Capitão? – era o garoto loiro e alto que Ruby vira antes. Ele tinha uma voz meio rouca que chegava a assustar. Os outros que estavam com ele, eram todos adolescentes, Ruby reparou. Era estranho o modo como se portavam, pareciam mais soldados prontos para a guerra do que garotos.

Killian não respondeu, apenas puxou sua espada e ficou na frente de Ruby para protegê-la de qualquer coisa que viesse a acontecer. Ele e os garotos trocavam olhares ameaçadores.

– Devo avisá-lo de que Peter está de olho. Não está pensando em procurar as fadas de novo, está? – o loiro falava e Gancho mais uma vez não respondeu. – É melhor dar meia volta, pirata, não vai querer se machucar – ele ameaçou levantando um porrete e Ruby se assustou. A moça se encolheu mais atrás do Capitão e Killian apenas riu. – O que pensa que está fazendo, Capitão? Vá embora enquanto pode. Não vou avisá-lo de novo...

– Até logo, Félix. – o Capitão finalmente falou, e então deu as costas aos garotos e saiu arrastando Ruby. – Droga! – o Capitão xingou quando estavam longe o bastante para que os garotos não os ouvissem – Nunca vamos chegar até elas assim. Nunca vamos ficar livre deles.

– Talvez haja outro jeito.

– O melhor jeito seria um acordo com Pan, mas ele é maligno demais. Quem sabe o que poderia acontecer? Não quero me arriscar a ficar preso nesta ilha.

Ruby olhou pra ele assustada.

– Como é? Não vamos ficar presos aqui, vamos?

– É claro que não. Mas é isso o que acontece com pessoas que fazem acordo com Pan. Eu ficaria em dívida eterna com ele...

Eles retomaram a caminhada. Não encontraram os Meninos Perdidos, mas em compensação, pareciam estar andando em círculos.

– Já não passamos por aquela árvore? – Ruby perguntou ao perceber que era a quarta vez que passavam pelo mesmo lugar.

– Droga! Isso é obra de Pan. Devemos estar perto... ele deu um jeito de nos confundir, e por isso estamos andando em círculos.

– Que ótimo! Agora nunca vamos encontrá-las.

– É melhor a gente voltar. Eu vou dar um jeito naquele moleque quando o encontrar de novo...

Gancho estava irritado. Nas outras duas vezes que estivera na Terra do Nunca, não conseguira fazer Pan ajudá-lo, o garoto sempre pedia por mais do que o Capitão podia pagar.Eles voltaram por onde tinham vindo e acabaram saindo na praia.

Gancho queria um lugar tranqüilo para pensar e então Ruby foi dar uma volta. Ela se deparou com uma planta espinhosa que crescia por ali e ficou curiosa para descobrir o que era. Gotas negras pingavam dos espinhos, ela logo imaginou que aquilo não devia ser coisa boa, mas aproximou-se para ver melhor.

– Não toque nisso – o Capitão de repente segurou a mão da Princesa, quando ela fez menção de tocar na planta. – É Sonho Sombrio, ia te matar em minutos.

– Eu não ia tocar, só queria ver...

– Você precisa tomar mais cuidado, a Terra do Nunca está cheia de surpresas e perigos.

– Por que não usamos isto em Pan? – ela apontou para a planta. Gancho balançou a cabeça.

– Não faria efeito nele. Pan é super poderoso, quase imortal...

Ouviram um barulho ali perto, parecia um sininho.

– Tinker Bell! – o Capitão olhou em todas as direções, procurando pela fada, mas ela voava rápido demais e tudo que conseguiam ouvir era o barulho de sino que ela fazia.

– Lá! – Ruby apontou para a pequena fada que olhava para eles e acenava.

– Ei, Tink! Tink, vem aqui! – o Capitão gritava correndo atrás dela, mas a fadinha apenas riu, mostrou a língua e saiu voando em alta velocidade

– Droga! Era uma ótima chance de conseguirmos falar com ela.

– Ela deve vir por aqui sempre, não é?

– Suponho que sim. Mas Pan fez terror na cabeça dela, ela pensa que sou um assassino...

– Talvez haja algum modo de falarmos com ela. Bem que eu podia tentar fazer isso – Ruby falou pensativa.

– Faria isso por mim? – Gancho abriu um belo sorriso.

– É claro, já que você não pode, eu posso. – Ruby disse convencida e sorrindo de orelha a orelha.

Ela e Killian então voltaram a adentrar pela floresta, encontraram uma clareira e puseram-se a bolar um plano para atrair Tinker Bell. O Capitão se afastou da princesa, pois precisava fazer suas necessidades, e Ruby ficou sozinha pensando no que poderiam fazer.

Uma movimentação ali perto a assustou. Peter Pan surgiu das sombras e ela recuou um pouco assustada.

– Eu precisava mesmo falar com você – ele disse – Que tal fazermos um acordo?


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