O Jogo dos Espíritos escrita por Lady May


Capítulo 5
Capítulo V - The Number of the Beast (parte II)


Notas iniciais do capítulo

N/A 1: Desculpem-me pelo sumiço, gente, mas tantas páginas a estudar e reações a serem decoradas, me impediram de sentar e dedicar todo o tempo que essa fic merece.

N/A 2: Finalmente consegui encontrar um lugarzinho na cronologia original da série. O Jogo dos Espíritos se passa logo após o Ep. 3x07, Fresh Blood.



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Capítulo V: The number of the beast (parte II)

 

O que viu fez Sam recuar com o coração batendo forte. A mão livre, levada imediatamente ao nariz, tentava privá-lo do odor característico da morte: no chão, perto do carro, havia dois corpos, um homem e uma mulher, com sérias marcas de queimaduras. Em seus rostos, era possível enxergar a agonia de seus últimos minutos.

Aqueles deviam ser os pais de Shelby que, a julgar pelo carro cheio de malas, pretendiam fugir. A cada instante, o caçador se convencia de que aquela era uma batalha perdida, não havendo mais nada a ser salvo.

No entanto, não teve muito tempo para montar teorias, pois um barulho, algo como vidro quebrando, indicava que a casa não estava tão fazia quanto imaginava. Seu sangue encheu-se de adrenalina e sua atenção foi levada imediatamente para o andar de cima. Voltou à sala e, saltando vários degraus, subiu as escadas.

Cauteloso, Sam andou pelo corredor carpetado agradecendo por ter seus passos convenientemente abafados. Passou por várias portas abertas, motivo pelo qual decidira ignorar os cômodos, aparando apenas em frente à única que permanecia fechada. Esperou alguns segundos atento a qualquer ruído. Como não ouviu nada, respirou fundo e, com sua arma pronta para atirar, girou a maçaneta.

O quarto, ao contrário do resto da casa, estava relativamente arrumado, era bem iluminado e possuía uma atmosfera menos sombria. A mobília era composta por uma cama com ferro antigo de dossel rosa, um enorme guarda-roupa de marfim e uma escrivaninha cheia de coisas cujas funções só são claras para uma adolescente. Era, sem dúvida, o quarto de Shelby.

À procura de respostas, o Winchester cruzou a soleira da porta e, por descuido, acabou pisando em alguns cacos de um espelho quebrado. Sam fechou os olhos amaldiçoando sua falta de tato.

Como se respondesse ao som, Shelby saiu do banheiro. Sam reagiu rapidamente, mas não o suficiente para evitar ser arremessado contra o guarda-roupa, o que deixou sua visão turva. Não queria ou podia desmaiar, mas sentiu que a dor amolecia seus músculos, que se entregavam à paz que a inconsciência proporcionava.

 

Não sabia quanto tempo ficara desacordado, não queria pensar nisso, pois o que o incomodava realmente eram as pontadas incrivelmente intensas que o trouxeram de volta e o impediram de abrir os olhos de imediato. Sam gemeu baixo e tentou levar a mão à fonte da dor, porém, impedido, percebeu estar fortemente amarrado.

- Não tem a cabeça tão dura quanto me disseram, Winchester.

A voz irritante da garota penetrou-lhe os ouvidos como alfinetes e o hálito quente em seu pescoço deixou-o alarmado. Então graças à nova descarga de hormônios, o caçador conseguiu focar sua visão. Ele estava deitado na cama com as mãos e pés presos por lenços coloridos e a adolescente, com os olhos negros cheios de luxúria, montada sobre seu corpo.

- Você é bem mais bonito também.

Ela, ainda inclinada sobre seu corpo, sussurrava em seu ouvido enquanto acariciava seu tórax. Sam se debatia tentando se livrar das amarras.

- Um demônio. – As respostas pareciam muito óbvias agora.

- Não qualquer demônio. – respondeu uma voz masculina levemente familiar.

Sam virou a cabeça em direção à porta. Mais uma vez sua feição tornou-se puro espanto.

- Você é... – gaguejou sem poder acreditar.

- Sou. – Confirmou com ironia – Mas não sou, se é que me entende. – Seus olhos ficaram totalmente pretos.

Como aquilo era possível? Há quanto tempo tinham o perigo embaixo de seus narizes e o ignoraram?

- Vocês mataram aqueles garotos!

- Não a culpe, Samuel. – o homem replicou mansamente.

Ele se aproximou da cama, ajudou a garota a descer, por fim, retirou uma bonita adaga, presa ao cós da calça.

- Aquelas crianças não deveriam brincar com o que não entendem... – balançou a cabeça repreendendo o vazio.

- Eles morreriam cedo ou tarde... Só precisei adiantar as coisas. – riu falsamente.

- Funcionária modelo, não acha?

- Eles foram sacrifícios? – Sam debatia-se furiosamente.

- Apenas Sarah e Joseph. – Replicou Shelby – Edward morreu porque sabia demais. – deu de ombros.

- E pra quê? – rebateu o caçador.

- Nem todos fizeram parte da caravana que saiu pelo Portão no Wyoming. Além do mais...

Sem aviso prévio, o antebraço do Winchester foi apunhalado, fazendo-o protestar de dor.

- ...alguns de nós têm alguns requisitos a cumprir antes de por os pés na Terra.

- O que vocês querem? – perguntou, tentando ignorar a ardência do ferimento.

- O que todos querem. – Fez um gesto displicente com as mãos – Espalhar o caos, a destruição, o sofrimento... coisas do gênero.

Sam pretendia responder, mas foi impedido pela garota, que, olhando pela janela, avisou-os:

- Eles chegaram.

O homem nem precisou se aproximar para saber de quem se tratava. Sam empalideceu ao vê-lo sorrir malignamente enquanto segurava o punho da adaga. Finalmente retirou a arma do braço do caçador, causando nova onda de dor. O sangue fluía tingindo de vermelho os lençóis.

Andou até a escrivaninha e jogou algumas gotas de sangue nas páginas amareladas de um livro velho, até então ignorado.

 

* * *

 

- Pra que um carro desses se você não sabe o que o acelerador? – reclamou Dean enquanto saia do carro e batia a porta com força – Se eu viesse correndo, chegaria mais rápido!

- Por que não veio, então? Não me lembro de ter implorado pra vir comigo. – rebateu sem alterar o tom da voz. – Você viu como estava a estrada... O que queria? Bater na droga de uma árvore?

Dean bufou derrotado. Ela estava certa... Vieram o mais rápido possível, até correndo riscos, já que a forte chuva diminuía a visibilidade na estrada cheia de curvas.

Conformado, seguiu-a até o porta-malas.

- O que tem aí, ruiva?

- O que quiser. Sal, água benta, prata, vodoo, goetia. – apontava – A gosto do freguês.

- Vodoo?

- Tem muitas coisas sobre mim que você não sabe, Winchester. – riu – Às vezes sou adepta de métodos não muito ortodoxos.

- Quem pode culpá-la?

Deu de ombros ao lembrar que tanto ele quanto Sam nem sempre seguiam as regras. Ele iria para o inferno justamente por apelar a métodos nada comuns.

- E então, vai querer alguma coisa? – perguntou Melanie colocando o pente em uma Browning HP 35[1].

- O quê? – Dean nem ao menos percebeu que se perdera em pensamentos nostálgicos.

- Estou falando das armas, munição...

- Não, estou bem. – afastou a jaqueta e mostrou o Colt M1911[2].

A garota ensaiou fechar o porta-malas, porém foi impedida pelo caçador

- Espera! Aquele Remingtom pode ajudar. – pegou o rifle e passou a alça pelo ombro.

 

- Nossos personagens entram em cena. – comentou o homem ao ver Dean e Melanie.

Cuidadoso, como se tocasse uma relíquia, pegou o livro e começou a ler.

- “Perceptio corporis tu, domine lesu christe...”

 

Devidamente armados, os caçadores entraram pela garagem, aproveitando a passagem livre.

“...quod ego indignus... sumere praesumo, non mihi proveniant...”

- Ai! – a ruiva, que estava na frente, recuou ao ver os corpos no chão. – São os pais da Shelby.

- O que você estava dizendo sobre ela não ser a causa? – provocou.

- Ainda não temos certeza de nada...

Dean replicaria, mas foi interrompido.

- E dizer que você estava certo não nos leva a lugar nenhum.

- Você não perde, não?

- Não. – sorriu presunçosa. Ela se abaixou perto dos cadáveres.

“...iniudiciun et condamnationen sed pro tua piet ate prosit mihi...”

- O que está acontecendo nessa cidade? – comentou para o vazio.

 

Sam contorcia-se furiosamente tentando afrouxar as amarras. Precisava com urgência fazer alguma coisa para impedir o final do encanto. Se não, com seus conhecimentos em latim, sabia que seus problemas seriam bem maiores.

- “...iniudiciun et condamnationen sed pro tua piet ate prosit mihi...”

Sentiu que sua mão direita estava mais livre, então, aproveitando que shelby prestava atenção na leitura, soltou-se e rapidamente libertou a outra mão. Estava tirando os nós dos pés quando a garota percebeu o que acontecia.

Numa torpe tentativa de impedi-lo, ela se avançou contra ele que, num ágil movimento, lançou-a para o outro lado da cama, contra a parede. Sem tempo para reagir, acabou batendo a cabeça, ficando desnorteada.

Alheio a tudo, o homem ternimava.

- “...ad tutamentum mentis... et corporis... et ad medlam... percipendam.” – fechou o livro e um sádico sorriso de triunfo deformou seu rosto.

 

Dean, ao ouvir o barulho de impacto no andar de cima, lembrou-se de que não tinham muito tempo. Fez sinal para Melanie e cruzou a porta que levava à cozinha.

Conformada, a caçadora se levantou e deu alguns passos, na intenção se seguir o rapaz. Estava quase na soleira quando algo segurou seu ombro direito com força, puxando-a de volta. No braço esquerdo, sentiu duas mãos que a lançaram contra o carro. Bateu perigosamente contra o vidro, que trincou. A pancada, fez com que soltasse a arma.

Apesar da dor incômoda que insistia em deixá-la tonta, a ruiva abriu bem os olhos, podendo, assim, ver seus atacantes: o mesmo casal que, há segundos, estava no chão. Seu rosto perdeu a cor, embora se coração bombeasse sangue a toda velocidade.

Sentia o desespero se aproximando junto com os zumbis que, com seu poder sobre humano apertavam e puxavam-na. Tentando manter a frieza, lutava para conseguir algum espaço. Conseguiu se virar para a esquerda e com a perna, chutou o homem agarrado ao seu braço. O corpo desequilibrou-se e bateu nas prateleiras. Várias ferramentas caíram, deixando-o fora de combate.

Viu sua investida dar certo, mas não teve tempo para se vangloriar, pois a mulher passara a mão por sua cintura, prendendo-a num abraço macabro. Prevendo o que viria a seguir, Melanie, coma  mão esquerda, tentava manter a boca da criatura longe de seu pescoço enquanto ouvia o agourento bater de dentes.

Estava tão absorta em sua complicada situação que não reparou que Dean, estranhando sua demora, voltou à garagem. O Winchester pegou a pistola do chão e, sem aviso prévio, encostou-a na cabeça do zumbi e atirou. A mão da caçadora, assim como parte do seu rosto ficou salpicada com sangue velho. A mulher bateu contra o carro e caiu inerte.

- Tudo bem? – perguntou prestativo.

- Que nojo! – reclamou limpando o rosto com a barra do sobretudo. Ele riu. – Por que demorou tanto? – indagou enquanto recuperava sua arma.

- Um “obrigada” seria bom.

- Quando tudo acabar, eu te pago uma bebida e estaremos quites, ok?! Agora chega de falar besteira e vamos logo.

Os dois passaram pela cozinha, onde pegaram sal, e entraram na sala. Ali, entre a porta principal e a dupla, estava o semi-decomposto rusky latindo e rosnando furiosamente.

- Estou quase em Resident Evil. – a ruiva comentou cínica.

- Encontre o Sam. – sorriu com aquela arrogância charmosa – Eu cuido do resto.

Melanie deu uma última olhada para trás antes de subir as escadas.

- Boa sorte. – desejou.

Rapidamente, chegou ao quarto, encontrando Sam agarrado ao demônio. Ao ver de quem se tratava, foi invadida por uma onda de agonia que a incapacitou de agir. Sentia seu passado voltar, lembrar-lhe de sua inabilidade. Sentia ódio por passar por aquela situação novamente e, ao mesmo tempo, medo de ver a história se repetir.

O homem, entediado, afastou o Winchester com um soco certeiro no nariz.

- Olá, querida. – sorriu amistoso.

- Deixe o meu tio em paz! – ordenou sem conter a raiva.

- Mas eu sou o seu tio. Pelo menos por uma semana eu fui e você nem reparou.

- DEIXE-O EM PAZ! – gritou fazendo mira em seu peito.

- Ou o quê? Vai atirar em mim como fez ao seu irmão? Sabe que comigo não vai acontecer nada... mas ao seu querido titio..

Melanie ofegava num claro sinal de que não sabia o que fazer. Sam, percebendo isso e aproveitando que o demônio estava distraído, pegou a adaga sobre a escrivaninha e a enterrou nas costas de Peter. Assim que o corpo se curvou, derrubou-o no chão e o imobilizou.

- FAÇA ALGUMA COISA. – cobrou-a.

 

* * *

 

Dean preparava-se para descarregar a arma quando o rusky, como que cansado de esperar, avançou numa corrida desenfreada na direção do caçador.

- Merda!

De costas, para não perder o alvo de vista, começou a correr em direção à cozinha enquanto atirava. Errou diversas vezes e seu fracasso parecia irritar ainda mais o animalzinho.

Tentado ganhar tempo, subiu na bancada e começou a procurar outro pente nos bolsos. Enquanto isso, o cachorro dava saltos tentando pegá-lo. Por fim, Dean sorriu vitorioso.

- Vá pro inferno. – puxou o gatilho, acertando, finalmente o tiro.

Livre do cão, voltou à sala, onde teve mais uma surpresa desagradável.

- Filho da mãe! – praguejou.

Pela janela da sala, Dean viu toda a vizinhança morta. Pensando rápido, abriu o vidro, apoiou o rifle na grade de ferro e começou a atirar em qualquer corpo que cruzasse os hibiscos da entrada.

 

* * *

 

A adaga podia não matar o demônio, mas causava desconforto necessário para mantê-lo vulnerável.

- “Exorcisamuste, omnis immundus spiritus...” – começou Sam.

- NÃO! – gritou Shelby.

Desajeitada, a garota se levantou e ensaiou um movimento com as mãos para deslocar Sam. A passos largos, Melanie colocou-se na frente dela e, decidida a vingar-se pela prima, desferiu um par de socos que,mais uma vez, a deixaram sem rumo. Então, junto com Sam, começou a recitar os versos do exorcismo.

Contudo, antes que pudessem mandá-los de volta ao inferno, as já conhecidas fumaças pretas saíram de Peter e Shelby, indicando o fim da posessão.

 

* * *

 

Dean, no andar de baixo, estava ficando sem balas. Já começava a pensar em como dar um fim àquilo quando a munição acabasse, quando todos os zumbis, de repente, foram ao chão.

Subiu as escadas e correu até o quarto. Viu Melanie sentada na cama visivelmente exausta e Sam ao lado de Peter.

- Vocês estão horríveis.

Como não recebeu resposta, continuou:

- Esse não o seu tio, ruiva?

- É. – confirmou desanimada.

- Ele está...?

- Não. – garantiu Sam – Está vivo, mas precisa de um hospital.

- E a garota?

Melanie balançou a cabeça negativamente.

- Vamos embora. – sugeriu a garota com a mão sobre o ferimento na lateral esquerda da cabeça. – Não quero explicar tudo isso pra polícia.

- É, tem razão. – concordou Sam que, com a ajuda do irmão, carregava Peter.

 

========== * Fim * ==========

 

 



[1] Todas as referências a armas foram retiradas do “Guia de armas”, da editora Daemon, exceto a do Dean, cuja informação eu encontrei no livro “The Hunt Begins”.

[2] Não é a mesma Colt. Aquela construída pelo próprio Samuel Colt que servia de chave para o Portão é outra.


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Notas finais do capítulo

Eu já disse várias vezes, mas não custa repetir: Essa história não tem um betareader e por mais que eu leia, sempre passará alguma coisa, portanto peço encarecidamente que me avisem sobre os possíveis erros.



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