O Jogo dos Espíritos escrita por Lady May
Notas iniciais do capítulo
Para quem leu "Were you a just a dream", queria deixar bem claro que não criei mais uma Winchester girl, mesmo porque sou fã de carteirinha de Julie Litman (Série Os caçadores, por Marcia Litman) e não quero competição. Eu só queria deixar minha marca na história. E só pra constar, Sam Winchester não faz o meu tipo =P.
Capítulo II – O inesperado
Dirigindo pelas ruas, tentava se lembrar quando fora a última vez que estivera em Cashmere. Talvez durante algumas de suas férias escolares ou em algum natal? Bom, há aquela altura, as recordações não importavam mais, pois o que a trazia de volta à fria e chuvosa cidade não era a saudade, mas uma emergência familiar.
Viu passar pela janela do Mustang vários lugares conhecidos, mas não parou o carro até chegar à calçada de uma casa azul com jardins enfeitados por anões de gesso. Cruzou a entrada rapidamente, para fugir dos grossos pingos que caiam, e bateu na porta ricamente desenhada.
Assustou-se quando o proprietário apareceu. Seus olhos estavam vermelhos e havia profundas marcas em seu rosto, conseqüência de várias noites mal dormidas.
- O que faz aqui? – surpreendeu-se o homem.
- Oi, tio Peter. – cumprimentou delicadamente – Não vim aos enterros, mas queria prestar minha solidariedade mesmo assim. – os dois se abraçaram longamente.
- Obrigado, querida. É muito gentil da sua parte. – Ela abriu a passagem e lhe indicou o interior da casa – Por favor...
Entrou silenciosamente e deixou o sobretudo preto no porta-chapéus enquanto observava a casa que fora cenário na sua infância. Continuava tudo como se lembrava: as fotografias sobre a lareira acesa, o piano velho, os pratos que decoravam as paredes.
- Vou fazer um café. – anunciou o anfitrião.
- Não precisa, tio. Não quero incomodar.
- O que é uma visita sem café? - disse num sorriso forçado.
- Eu ajudo, então. – ela riu – Não sou um ás na cozinha, mas a mamãe diz que meu café é bom.
* * *
- Então, o FBI vai investigar o que aconteceu aqui? – perguntou Peter pegando a sobrinha de surpresa.
- FBI?
- Seu pai contou que não veio aos funerais porque estava no Tennessee investigando um caso. – contou enquanto a servia – Quando foi que virou detetive? Nem sabia que estava na polícia...
- Entendo. – ela bebericou o café.
- Então? – insistiu.
- Na verdade, vim visitá-lo porque faz parte da minha família. O senhor sabe que eu sempre adorei a tia Mia, que nos dávamos muito bem, apesar das circunstâncias. E a Sarah, era minha priminha... eu gostava dela, mesmo a conhecendo tão pouco. – Ela apertou a mão do tio dando-lhe apoio – E também vim investigar. Sou nova na polícia, mas meus superiores abriram uma exceção quando descobriram que a minha família estava envolvida.
- Fico mais aliviado por alguém de confiança estar envolvido nisso – o homem secou as lágrimas com a manga da blusa – Primeiro Amélia, agora Sarah... Ela era uma boa menina, não acredito que tenha se suicidado.
- Tio, sei que é difícil, mas precisa me contar o que aconteceu desde a morte da tia. – os cafés foram esquecidos.
______ * * * ______
- O que posso fazer por vocês, agentes? – indagou o xerife da cidade, ainda sentado na sua cadeira, quando os Winchester entraram na sala passando-se por agentes do FBI.
- Estamos investigando a morte de Joseph Heder e Sarah Garwin. – disse Dean – O que sabe sobre isso?
- Eram bons garotos. Arrogantes como todo adolescente popular na escola, mas bons garotos.
- Pode nos dizer como eles morreram? – pediu Sam.
- Não leram isso nos relatórios.
- Você sabe, – Dean sorriu de canto – nunca escrevem essas coisas direito.
- Fui eu quem escreveu. – o xerife ficou sério.
- Quer dizer... – ficou sem graça – Pode ser que tenhamos perdido alguma coisa.
- Xerife? – incentivou Sam lançando um olhar de censura ao irmão.
- Nós recebemos uma chamada, por volta das seis da tarde, da casa de Joseph Heder. A mãe dele disse que estava na cozinha com a namorada do filho preparando um lanche... Eles estavam fazendo um trabalho de escola... quando ouviram um barulho no quarto. Subiram as escadas e viram sangue escorrendo por debaixo da porta.
“A senhora Heder mandou a menina ligar para a emergência e entrou no cômodo. Encontrou um estilete no chão, o filho com a garganta cortada e Edward Franklin com uma tesoura do peito.”
- E Sarah Garwin? – questionou Sam.
- Pendurada no ventilador de teto. – o xerife tirou algumas fotos da gaveta e mostrou aos dois – Enforcada.
- Podemos ficar com isso? – apontou Dean.
- À vontade. – o homem inclinou-se em sua cadeira barulhenta.
- Obrigado. – o mais novo agradeceu – Informamos qualquer novidade na investigação.
- Não me parece suicídio coletivo. – comentou o loiro entrando no Impala. Chovia forte.
- O que faremos agora? – Sam ainda olhava as fotos.
- Voltamos ao hotel até dar a hora do horário de visitas do hospital, depois falamos com o tal Edward. Se tem alguém que sabe o que aconteceu naquele quarto, é ele.
* * *
- Nunca para de chover nessa cidade? – reclamava Dean fechando a janela do quarto.
- Chove bastante em Washington nessa época do ano. – debochou o irmão sem tirar os olhos do notebook.
- Sério. – ironizou deitando-se na cama.
- Deixando a chuva de lado, escuta só isso: de acordo com os jornais locais, o suposto suicídio dos garotos aconteceu depois que a mãe de Sarah Garwin morreu.
- Acha que foi o espírito?
- Pode ser. – Sam deu de ombros – Mas se foi, por que matou a filha, um amigo dela e mandou o outro pro hospital?
- Isso é o que vamos descobrir, Sammy. – olhou no relógio, arrumou a gravata e saiu, sendo prontamente seguido.
Agora com mais detalhes, os caçadores foram até o hospital tentar falar com o Edward, esperando que o garoto esclarecesse o que houve e se era possível fantasmas estarem envolvidos.
Ainda com os ternos pretos, foram à recepção.
- Bom dia. – cumprimentou Sam – Sou o agente Cromwell e este é meu parceiro, agente Shawn. – os dois mostraram os distintivos – Pode nos dizer onde é o quarto de Edward Franklin?
- Mais gente do FBI? – a recepcionista suspirou, mas não explicou seu comentário – Quarto andar, número 41.
- O que ela quis dizer com “mais gente”? – desconfiou Dean já no elevador. Sam permaneceu calado.
Andaram silenciosamente até o corredor do quarto 41, onde, na porta, estavam conversando um médico e uma moça vestida toda de preto, exceto pelo cachecol vinho por cima do sobretudo. Enquanto se aproximavam, puderam notar que ela tinha a pele branca queimada pelo vento frio e que seus cabelos repicados, de um ruivo brilhante, estavam molhados devido à chuva.
- Com licença, doutor, senhora. – Dean, ao olhar para a moça, reparou nos amarelados olhos cor de mel, que imediatamente despertaram memórias esquecidas.
- Gostaríamos de falar com Edward Franklin, por favor. – Sam assumiu a conversa.
- Lamento. – desculpou-se o médico – Era exatamente o que eu falava à detetive...
- Detetive? – repetiu o loiro.
- Desculpem... que falta de educação a minha. – ela virou-se para o médico – Doutor, poderia nos dar licença por alguns instantes?
- Claro. Se precisarem de mim, estarei na minha sala.
- Obrigada. – ela esperou o homem sumir de vista – Sou a detetive Melanie Hunt. – mostrou seu distintivo enquanto apertava amigavelmente a mão dos rapazes – E vocês, quem são?
- Agente Shawn e meu parceiro, agente Cromwell.
- Não nos informaram que estaria aqui, detetive. – encenou Sam.
- Digo o mesmo. – estranhou – De onde vocês são?
- Central. – responderam em uníssono.
- Aqui está o nosso cartão se quiser confirmar. –o mais novo entregou-lhe o telefone da casa de Bobby.
- Faço isso mais tarde. – ela sorriu e guardou o cartão no bolso da calça jeans – Então, vocês vieram falar com Edward Franklin?
Os irmãos trocaram olhares desconfiados devido à atitude da garota, já que aquele não era o protocolo para aquele tipo de situação. Mas, se Melanie Hunt queria facilitar as coisas, por que não aproveitar?
- Falou com ele? – indagou Dean.
- Não. O médico disse que ele ainda está em choque... E, aparentemente, falar conosco pode piorar as coisas. – o trio seguia para a saída.
- O médico deu algum detalhe, algo que o garoto disse? – insistiu Sam.
A ruiva ponderou. Para ela, a resposta àquela pergunta fez toda a diferença, mas para possíveis agentes do FBI não teria importância nenhuma. Tentando pensar numa maneira de contar a verdade sem ser tachada de louca, suspirou.
- Pode ser por causa do estresse, mas Edward disse que viu um fantasma no cemitério. – e completou – Com certeza estava sob o efeito de alguma droga, se quer minha opinião. Se eu ganhasse um dólar toda vez que escuto essas histórias...
Ninguém disse mais nada. Para os Winchester, o caso estava resolvido. Sem dúvida, o fantasma os induziu a cometerem suicídio ou até mesmo os matara. Na porta, os três despediram-se formalmente e cada um seguiu seu caminho: os rapazes voltaram ao hotel e Melanie para a casa do tio, onde se hospedara depois de muita insistência.
______ * * * ______
- O que achou? – perguntou Sam deixando o paletó sobre a cama.
- Ela não é detetive coisa nenhuma. – replicou tirando a gravata.
- Não me referia a isso, mas já que puxou o assunto, como chegou a essa conclusão?
- Viu o jeito que ela agiu? Qual é, Sammy, já encontramos federais antes.
- Também desconfiei. – pegou o celular e discou – Vou ligar pro Bobby e pedir pra ele conferir. Melhor prevenir... – minutos depois, Sam já sabia que, no FBI, nunca existira uma detetive chamada Melanie Hunt – É, ela não é federal.
- Eu disse. – Dean limpava sua pistola com cuidado.
- E foi tão convicto que parece que a conhece. – cutucou o irmão.
- Pode ser. Já encontrei tanta gente. – será que a conhecia? – Podemos voltar ao fantasma?
- Devíamos falar com o pai de Sarah Garwin. – sugeriu Sam – Não podemos agir baseados apenas no que a – ele fez sinal de aspas com os dedos – “detetive” nos disse.
- Você ouviu o que o xerife disse e nós concordamos que não tem suicídio ali. Se a ruiva é uma caçadora, ela sabe o que fala. – Dean saía do quarto – Hoje à noite vamos ao cemitério queimar o corpo da mãe. Se for coisa de fantasma, isso resolve.
- Aonde você vai?
- Comer. – fez barulho ao fechar a porta.
- Com essa chuva? – gritou Sam para o vazio.
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Melanie, agora com roupas mais casuais, jantava na companhia do tio enquanto conversavam sobre amenidades. Então, a campainha tocou e foi prontamente atendida por Peter, que se emocionou com a visita.
- Shelby. – ele a abraçou como se tivesse recuperado a filha – Entre. Como você está?
- Bem, Sr. Garwin, na medida do possível. – ela sorriu tímida.
- Tio? – Melanie entrou na sala estranhando a demora.
- Mel, esta é Shelby, foi a melhor amiga da Sarah. – apresentou-as – Shelby, esta é Melanie, minha sobrinha.
- Sinto muito. – apertou a mão da adolescente – Deve estar sendo difícil pra você.
- O namorado dela, Joseph, também morreu. – entristeceu-se o homem.
- Suponho que seja amiga do Edward também?
- Estávamos sempre juntos. – Shelby começou a chorar; a ruiva a acompanhou até o sofá.
- Vou buscar um copo de água. – Peter sumiu pelos corredores que o levariam até a cozinha.
- Quer me contar o que aconteceu? – sugeriu Melanie.
- Depois que a senhora Garwin morreu, – contava a garota aos soluços – Sarah se sentiu culpada porque elas tinham discutido... ela não sorria mais... não era a minha amiga.
- Shelby, – chamou-a com a voz firme – Edward disse que viu um fantasma... Sarah disse se viu alguma coisa também? Qualquer coisa.
A adolescente tapou os ouvidos com as mãos, fechou os olhos num gesto claro de desespero.
- Só me lembro de um grito... foi horrível!
- Tudo bem. – Melanie passou o braço pelas costas da adolescente na tentativa de consolá-la. – Desculpe te deixar nervosa. – Neste momento, Peter voltou com a água e a ruiva mergulhou em pensamentos.
Nos momentos seguintes que Shelby passou na casa dos Garwin, a morte dos garotos não foi mais comentada. Conversaram sobre coisas banais enquanto comiam biscoitos comprados numa loja de conveniência próxima.
Perto das dez e meia da noite, a casa ficou em perfeito silêncio, já que Peter preparava-se para dormir e Melanie, que levara Shelby até sua casa, tinha assuntos pendentes a resolver.
* * *
O cemitério estava escuro e vazio àquela hora da noite, exceto pelos Winchester, suas lanternas e enxadas. A chuva, agora, transformara-se numa garoa incômoda. Não era o ideal, mas não atrapalharia tanto.
- Aqui, Dean. – Depois de quase uma hora procurando, Sam mostrou o nome de Amélia Garwin gravado na lápide.
- Vamos acabar logo com isso. – o mais velho começou a cavar enquanto o irmão segurava a lanterna.
- Desde quando o FBI viola túmulos? – uma voz séria destacou-se da escuridão.
Continua...
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Tenho a impressão que o capítulo ficou um pouco corrido... Bom, vamos ver no que dá.
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