Afasto o teclado da mesa, cruzo os braços sobre ela e me deito ali. O relógio marca 3 horas e 36 minutos, antes de meio dia. Só a máquina a minha frente faz barulho.

Meus olhos pesam e ardem, pedindo por um descanso, uma pausa. E eles não deveriam pedir por menos, afinal faz três dias que trabalho incansavelmente, me sustentando de cafeína, remédios e energéticos. Faz quase uma semana que não como nada que realmente me alimente. E mesmo nesse estado, tudo o que eu faço agora é pensar nele.

"Ah, Shizu-chan... Será que você está dormindo agora?"

"Está sonhando comigo? Um sonho bom ou um sonho ruim?"

Patético, não é?

Meus lábios se entortam em um pequeno sorriso. Já faz dias, não, meses que "descobri" esse sentimento doentio. Que me tira do sério e me faz agir e pensar estupidamente quando estou sozinho com meus pensamentos.

Às vezes, quando menos espero, estou pronto para sair e ir até aquela cidade. Dou por mim parado, de frente para a porta, com o casaco nas mãos e as chaves na outra. Chego até destrancar a porta, mas no ultimo segundo me acovardo. Sem nenhuma razão me sinto fraco e impotente. Largo tudo ali mesmo e volto ao trabalho, para esquecer mais uma das várias tentativas. Há. Minto quanto digo que não tenho nenhuma razão para isso.

Sei que tudo o que vai acontecer quando ele me vir será um repertório do que já aconteceu durante anos. Como uma vitrola quebrada, repetindo a mesma música incansavelmente durante horas e horas. No nosso caso, dias e dias.

Ele não se cansa disso?

Ah, sim. Com certeza.

Pergunto-me nas duas ultimas semanas se ele sequer parou um pouco para pensar como estou, onde estou e com quem estou, como eu venho fazendo em relação à ele.

Quem diria, não é? Orihara Izaya depressivo de um amor doentio pelo seu dito pior inimigo. Quem se importa se ele é outro homem. Esse é o de menos quando se tem anos de inimizade, ódio e desprezo pelos dois lados. Na verdade, só de um.

Não me lembro de dormir, mas tenho certeza de que não foi em uma cama macia e aconchegante que me deitei hoje de madrugada. Ou foi? Minha cabeça dói só de tentar pensar. Minhas roupas também foram trocadas. Abraço um dos muitos travesseiros ao meu redor e respiro fundo algumas vezes. Esse cheiro....familiar? Ah, perdi a linha do pensamento de novo. Meus ouvidos zunem e o cérebro lateja.

Não, alguém me trouxe até aqui, trocou minhas roupas e me pós para dormir confortavelmente em minha própria cama. Não poderia ser Namie, ela não aguentaria me trazer até aqui, subindo as escadas.

Levanto-me em um salto ignorando meu corpo. Desço vários degraus de uma vez. Tem um prato de comida na mesa, coberto por um plástico filme. Ainda está quente. Um molho de chaves está logo ao lado e meu casaco estendido no encosto da cadeira. Encaro a porta. Ainda me perguntando quem teria sido.

Haha... Não, se tivesse sido ele, a porta não estaria no lugar agora... Ou estaria? Por mais que eu queria, isso nunca teria acontecido.

Sento-me para comer, tentando me lembrar das ultimas coisas que fiz na madrugada...

Lembro-me de muito trabalho

Essa comida é gostosa

De me levantar subitamente, várias vezes.

A omelete está no ponto perfeito

Em uma das vezes cheguei até a porta, com tudo nas mãos para ir até Ikebukuro.

O tempero é divino

E também me lembro de até destranc.....

Han??