Há cada segundo que passava eu tinha mais certeza de que iria morrer.

Georgia estava agora na minha frente, sua ultima frase foi “Agora só depende de você”.

Tyler estava extremamente receoso e confuso, eu sabia que ele não confiava na menina, e ele havia me pedido para não confiar, mas era Abby, e quando se tratava da garotinha que lentamente e gradativamente foi tomando meu coração eu estava disposta a enfrentar o que fosse preciso.

Levantei de súbito e fui em direção à ruiva, por sorte consegui falar com o olhar, e ela entendeu eu pagaria o preço, mas Tyler precisava estar longe.

Ela confirmou com a cabeça como se dissesse “Até breve” e então desapareceu a minha única ação depois dessa foi olhar para Tyler que ainda continuava atônito.

-Como assim?- ele disse lentamente, como se estivesse doendo pra falar, seus olhos estavam fixos em mim e ele quase não piscava – Como assim depende de você? Abby salva? Kayla o que esta acontecendo?

-Tyler, você confia em mim?- perguntei o encarando com a mesma intensidade

-Sim, mas...

-Então é só isso que você precisa saber

-Kayla, e a nossa promessa aonde entra?

Senti-me a pior pessoa do mundo depois que ele me disse aquilo

-Não confunda as coisas Ty, não estou escondendo nada- menti.

-Não?

-Não- deixei o assunto morrer ali.

Eu acho que por ele estar tão confuso ele se deixou levar com um apenas “não”.

-Vamos visitar a Abby hoje? – perguntei tentando soar o mais calmo possível

Tyler respirou fundo e balançou a cabeça como se estivesse espantando algum tipo de pensamento desagradável, depois em um resmungo ele disse:

-Duvido muito que Abby esteja liberada para visitas

-Mesmo assim, eu vou – falei baixo, porém num tom que ele conseguisse ouvir.

-Nós vamos! Yla você esta estranha- ele levantou da cama

-Só- suspirei- ,só estrou confusa Tyler, o que esta acontecendo com Abby é demais pra mim.

-Eu estou com você- ele me puxou pra um abraço- eu sempre vou estar do seu lado.

Nosso sempre pode durar até Georgia aparecer- acrescentei mentalmente

                                               ____

-Certo, sim, não tem problema, é sério Tyler, eu estou bem, ok, posso sim, até, também te amo, Ty, se eu não aparecer lá... Algo aconteceu, eu  te amo Tyler.

Desliguei o telefone, Tyler tinha ido pra casa, pois a mãe dele teve certos problemas com Loren, eu falei que ficaria bem e que nós nos encontrávamos no hospital, o problema era que provavelmente eu não estaria viva até lá.

Sentei-me na cama e fitei a parede, estava esperando ela chegar, mas cada minuto era agoniante.

Coloquei as musicas do meu celular e continuei fazendo o que eu estava fazendo: nada.

Até que por fim, ela apareceu com um sorriso espantado no rosto.

-Eles vão te ligar- anunciou

Eu não sabia como reagir, deixei a musica soando, pois estava incapaz de mover-me.

-Eles quem?- disse alguma coisa

Ela balançou a cabeça

-Ah desculpe, eu não expliquei, eles os médicos, vão falar que Abby esta bem e que parece um milagre, mas a leucemia foi totalmente curada.

Lagrimas beiravam meus olhos.

-Foi você não foi?

-Não-  ela sorriu e se “sentou” na cama junto a mim- Foi você Kayla, você esta fazendo isso por Abby

Engoli a seco e fui direto ao ponto

-Na verdade, o que eu estou fazendo? Qual o preço.

Ela me dirigiu um olhar penetrante, como se estivesse olhando para além dos meus olhos, tive que desviar o olhar.

-Então Kayla, eu vou explicar com calma, certo? Já que você não me deixou explicar antes...

-Foi um momento de delírio- continuava sem olha-la, mas pude perceber que ela assentiu.

-Eu posso ser banida pra sempre de ser uma alma, é como se fosse um vida após a após vida, as almas têm regras a seguir, e assim como almas matarem as pessoas vivas há punição, impedir que elas morram também tem, mas eu fiz isso do mesmo jeito, porem Yla, quem vai receber punição vai ser você.

Assenti, e a olhei.

-De alguma forma você avançou o impossível, esta ainda mais conectada com as almas agora, a partir de hoje, todas as almas que tentarem te matar ou tentarem te ajudar não vão ser punidas, é como se com você não houvesse regras, agora todos nos podemos te matar ou te ajudar, porem poucos ajudam, poucas almas aparecem apenas pra ajudar sabe, geralmente as que vão aparecer...

-é as que querem me matar, e elas não vão ser punidas se me matarem isso significa que há 90% de chances de eu morrer...

-Acho que até um pouco mais

De alguma maneira aquilo foi uma boa/ruim noticia, eu achava que morreria àquela hora, mas ainda tinha chances de eu lutar, mesmo que meu subiconsiente indicasse que aquilo só prolongaria minha morte, mas não a evitaria.

_Obrigada Georgia, mesmo- pude dar um sorriso esperançoso.

-Me chame de gê – ela sorriu–Tem mais uma coisa

Encarei-a, nada é tão ruim que não possa piorar.

-Tem uma maneira de acabar com essa coisa de ver as almas- ela pronunciou.

Nada é tão ruim que não possa piorar, mas melhorar também pode ser uma saída.

-Sério?!- quase gritei de tanto que foi o entusiasmo

-Sim

-E qual é?

Ela estendeu a mão e me deu um pseudo-toque.

-Você sabe como acabar, só não sabe se é seguro.

E mais uma vez ela desapareceu, bem no fundo eu sabia o que devia fazer, só estava com medo, medo de arriscar, de não dar certo, de morrer...

____

-Já pode me soltar agora – ele disse, eu estava junto com Tyler e tínhamos acabado de chegar ao hospital, logo quando o vi o abracei, e eu fiquei uns dez minutos assim, sem dizer nada. –Sério Yla, ta machucando.

Eu estava sorrido muito, tanto é que Tyler percebeu e voltou com a expressão confusa no rosto, afastei alguns passos.

-Qual o motivo de tanta felicidade?

Acabei sorrindo mais, porém nada disse. Percebi que atrás de nós estava vindo duas pessoas, e argh, maldito escuro, já fiquei muito nervosa por conta disso e segurei a mão de Tyler.

-Kayla!- uma voz feminina ressoou, comprimi os olhos a espera de ver quem me chamava.

-é minha mãe- Tyler riu.

Quando ela chegou perto a abracei.

-Tudo bem?- perguntei

-Um pouco melhor- ela ergueu a manga da blusa mostrando-me uma faixa que rodeava o braço dela, Loren havia ultrapassado os limites... De alguma maneira isso serviu como um aviso pra mim, “eu estou aqui, posso fazer o mesmo, ou até pior, pra você”.

_____

-é impossível, não faz sentido –Tyler disse. Quando chegamos a casa dele fomos dormir, no hospital varias coisas aconteceram.

-Não é impossível, aconteceu – falei a respeito de Abby estar “curada”, as palavras do médico ainda rodeavam minha cabeça “É um milagre praticamente, ela acordou de súbito, parecia renovada, fizemos mais de dez exames e parece que não há resquícios de leucemia... Ela vai ficar sob supervisão mas... realmente é um milagre, espero que ela volte logo para casa”

-Ainda não acredito- ele levou às mãos a cabeça- É como acordar de um pesadelo- estávamos no escuro, mas pude percebê-lo sorrindo.

Porém o pesadelo, para mim, podia estar apenas começando.

Eu sabia o que faria, e iria começar o quanto antes. Teria que achar um jeito de curar a minha doença.

Isso envolveria Adam, mentiras, tramas, seria um jogo de sorte, terei que conhecer almas boas ao menos que estejam dispostas a me ajudar, vou voltar ao passado, me comunicar com quem nunca imaginei, e será um segredo guardado as sete chaves.

Vou virar, de vez, minha vida de cabeça pra baixo.