The Ascent escrita por Thaina Fernandes


Capítulo 5
Capítulo 4.




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Eu capotei, sem nem ao menos me lembrar de quando eu dormi. Acordei quando senti uma mão acariciando meu rosto, e um sussurro que parecia com uma canção em Francês.

Assustada, mantive meus olhos fechados. Ele parou de cantarolar, e sua mão ficou imóvel. Abri meus olhos, e o encontrei me encarando. Seus olhos claros, tão claros, pareciam mais escuros na pouca luz do meu quarto.

—Oi. — eu disse, corando. Eu não esperava esse tipo de recepção.

—Quando você dorme — ele começou, sem nem ao menos se incomodar em me dizer oi de volta. — você para de respirar algumas vezes, e então murmura, em pânico. Sempre que sua respiração parava, eu me assustava, — ele retirou sua mão do meu rosto, estava sentado ao meu lado na cama, com um livro na mão. Sentei—me, tendo uma visão melhor dele. — Quando eu comecei a cantar, sua respiração ficou normal o tempo todo. Você se aquietou, e dormiu mais tranquilamente.

Esfreguei meus olhos, e me espreguicei. Ele cantou para mim. Mas acho que se eu morresse durante meu sono, ele ia ser demitido, então ele meio que foi obrigado a cantar... Certo?

—Há quanto tempo você tá aqui?

Ele olhava para o teto, suas mãos entrelaçadas atrás de sua cabeça. Ele estava à vontade demais, o que me irritou. Ele não olhou para mim quando respondeu.

— Faz algum tempo.

Ele sempre era tão vago. Algum dia eu ia acabar socando—o por isso.

Isso é, se eu sobrevivesse à Ascensão. Senti que começava a entrar em pânico de novo.

Respirei fundo, e o olhei, procurando respostas. Ele deve ter percebido que havia algo errado comigo, já que ele começou a falar com uma voz calma.

—Você vai sobreviver, não se preocupe. É uma Dragomir, filha do dragão. Seu sangue é forte.

—James, mas e se... — parei, havia tantos “e se” nessa historia. — Como isso funciona?

Ele pareceu entretido com um pingüim que estava ao meu lado, demorou alguns minutos para responder.

—No dia do seu aniversario, você vai sentir que está sendo queimada viva. Sua garganta ficará seca, e nenhuma água no mundo irá saciar sua sede. Essa irá ser sua primeira sede. Você vai ter que esperar até a meia noite, sem nenhum sangue, sem nenhuma pessoa ferida. Essa é a parte difícil. As maiorias dos vampiros que são criados saem e matam a primeira pessoa que acham. Esse é o erro. Um vampiro tem que beber pela primeira vez do vampiro que o criou, e eles compartilharão um... Vínculo. Um vínculo que irá durar pela eternidade—

—Mas eu não tenho um “criador”, — o interrompi. — o que irá acontecer comigo? De quem beberei?

Ele me olhou por um momento. Então desviou o olhar.

—De mim. Beberá meu sangue, e compartilhará do meu poder, assim como eu irei compartilhar do seu. Ficaremos ligados pela eternidade, pois assim foi com os primeiros vampiros. Se você morrer, morrerei. E vice—versa.

Eu já estava roendo minha unha. Essa era a parte que mais me preocupava, ter que matar uma pessoa inocente. Eu senti que um peso havia saído de minhas costas.

—Isso é bom, — respondi, e ganhei uma sobrancelha levantada. — quero dizer, que eu não vou matar alguém inocente. Eu prefiro que seja com você do que com um estranho.

—Fico feliz em ouvir isso, princesa. — soquei o joelho dele, o que me machucou mais do que ele.

Eu senti o medo se dissipando. Ele iria me ajudar, eu tinha certeza.

—E depois? Terei que abandonar tudo, não é?

Agora ele estava me olhando mesmo. Desviei os olhos, observando as luzinhas apagaram e acenderem em volta da cama, lançando sombras pelos ursinhos e livros espalhados. Quando voltei a olhar para ele, ele ainda estava me encarando.

—Sim. — a voz dele era suave, apologética. — Sinto muito Sophia, mas é a coisa mais segura para você. Iremos morar na Corte, em Munin. Lá você terá proteção 24/7, e depois de um ano ou dois poderemos sair de lá, então viver onde você quiser. Mas não poderá mais morar aqui.

Minha cabeça começou a latejar novamente. Isso era muita coisa para processar.

—Mas as pessoas não iriam apenas aceitar meu desaparecimento, assim, do nada.

Ele colocou o ursinho (pinguinzinho?) debaixo do meu edredom com estampa de galáxia, o arrumando perto do meu colo. Mordi meu lábio com vontade de rir do gesto.

—Não faríamos assim, você não sumiria do nada. Iríamos inventar alguma desculpa, e a memória dos humanos é a coisa mais frágil que existe, podemos facilmente manipulá—las.

Retirei minhas pernas de debaixo da coberta, eu estava com calor. Notei—o olhando para minhas pernas, que estavam cobertas apenas por um short pequeno.

—Como assim, manipulá—las? Como controle mental? Podemos fazer isso? O que mais podemos fazer?

Ele me esperou despejar todas as perguntas. Então mais uma pausa se seguiu. Ele sempre pausava antes de responder algo, eu percebi, como se estivesse pensando na resposta antes de falar.

—Sim, podemos fazer isso, é parte da nossa proteção natural. Se algum humano nos descobrir, ou ouvir algo que não devia, nós podemos apagar a memória deles e implantar outra. E quanto ao que mais podemos fazer vária de vampiro para vampiro, alguns podem levitar, outros ler mentes, cada um tem algum talento especial.

Legal, será que alguém podia se transformar em largatixa, como o Drácula? Isso me leva a outra questão: — Se existem vampiros, existem lobisomens?

Ele pareceu tenso por um momento, mas depois se virou para mim, com seu sorriso de zombaria.

—Sim, são seres burros, na maioria das vezes são mortos em sua primeira lua cheia. Licantropes e vampiros são— como você já deve saber já que têm todo tipo de livro sobre o sobrenatural aqui— inimigos naturais.

Mordi meu lábio, isso estava ficando legal. Imaginei se todos os autores dos meus livros preferidos— Anita Blake, entre outros, sobre seres sobrenaturais— tinham alguma idéia de como chegaram perto da verdade. Imaginei grandes lobos uivando para a lua, fadas dançando em clareiras, fantasmas assombrando as grandes mansões abandonadas, zumbis subindo de suas covas.

—Isso é tão legal. — murmurei, com um sorriso crescendo em meu rosto.

Ele me olhou incrédulo, como seu eu fosse a pessoa mais louca que ele já havia posto os olhos. Sacudiu a cabeça, lentamente.

—Você é única, Tessa. — ele disse, rindo um pouco.

Congelei, ele havia me chamado por um apelido há muito tempo esquecido. Minha mãe— digo tia, me chamava desse jeito.

—Como você sabe meu apelido? — minha voz estava firme, por que, afinal de contas, eu sou uma pessoa controlada.

Sério, às vezes eu acho que deveria virar comediante.

—Eu apenas acho Tereza mais bonito do que Sophia, só isso. Mas eu sou preguiçoso, e Tessa é mais fácil de falar.

Eu sabia na hora que ele estava mentindo. Ele não estava me olhando, e no final ele mexeu nos cabelos, um sinal obvio de nervosismo.

Fingi acreditar, já estava cansada demais para discutir. O ouvi falar de tudo, de como Munin é, sobre significado do nome, de como o palácio é, como as ruas são. Sua voz era suave, baixa, e logo me levou a adormecer novamente. Logo antes de apagar completamente eu ouvi uma risada, e senti algo nos meus lábios.

Provavelmente era só o vento.

Acordei com um Sol — um lindo e quente Sol— batendo em minhas costas. Apenas isso já foi o suficiente para melhorar meu humor. Como eu havia previsto, James havia me ajudado.

Eu logo mudei de idéia sobre meu bom humor quando eu lembrei que ia ter que me separar de Carolinne, que só para constar, era minha fiel companheira ( parece até que ela é um cachorro) desde que estávamos na terceira série, quando havíamos descoberto que todas as meninas eram tontas, já que sempre usavam o mesmo rabo de cavalo sem graça todo o santo dia.

Forcei—me a levantar da cama e colocar um jeans e uma camiseta e sapatilhas. Agarrei um livro e meu celular e desci até a sala de estar.

Me joguei no maior sofá, o que ficava em frente a TV, e me remexi até achar uma posição confortável. Passei a minha mão pelo veludo vermelho, que combinava com as paredes creme, com quadros de fotos da minha família.

Abri o livro, e comecei a ler. Chloe estava prestes a se entregar de corpo e alma para Joseph quando eu ouvi passos descendo as escadas. Sem se incomodar em falar oi ou algo do gênero, Jordan levantou minhas pernas e as colocou em seu colo. O olhei exasperada enquanto ele ligava a televisão no canal de esportes, e aumentava o volume.

Taquei meu livro na cabeça dele. Ele sempre fazia isso, chegava quando eu estava ocupada e fazia qualquer coisa para me impedir de terminar de fazer o que eu estava fazendo.

—Eu estou tentando ler, seu bastardo irritante. — tentei chutar seu rosto, mas ele segurou meu pé um segundo antes de acertar aquele nariz perfeito.

—Soph, você jogou o livro em mim, então não estava lendo.

Droga, eu devia ter chutado primeiro, depois jogado o livro.

Meia hora depois, eu tinha minha cabeça no colo dele, enquanto ele acariciava meu cabelo, assistindo o jogo de hockey. Essa posição era antiga, de quando éramos mais novos. Ele gostava de mexer no meu cabelo, e eu gostava de cafuné. Era vantajoso para ambos. Eu li a ultima pagina, e fechei o livro, colocando—o em cima do meu estomago.

Jordan continuava seu cafuné, falando com a TV de vez em quando. Eu estava pensando em Bruxas quando eu resolvi que a coisa mais educada a fazer era tentar conversar com ele. Afinal de contas, eu vou ter que conversar com varias pessoas que eu não gosto no futuro, como James já me disse três vezes ontem.

—Jordan?

—Sim?— Ele estava completamente distraído, olhando a TV, enquanto os armários que ele insistia em chamar de jogadores patinavam de um lado para o outro, atrás do disco.

—Você acredita em lobisomens, vampiros, e etc.?

Sua mão parou no meu cabelo, e senti seu corpo ficar tenso. Me apoiei em um cotovelo para poder ver melhor seu rosto.

—De onde surgiu essa pergunta, Sophia? — Seu tom era duro. — Esta tendo aqueles sonhos de novo?

Quando éramos capazes de suportar a presença do outro por mais de uma hora éramos melhores amigos, por isso ele sabia sobre os sonhos que eu tinha.

Eu sonhava com guerras, batalhas. Sangue que corria como água pelas ruas da cidade com que eu sempre sonhava, e era sempre a mesma cidade. Eu via seres voadores atacando outros que não voavam. Eu via criaturas peludas, com dentes gigantes mordendo outros seres pálidos como a lua.

Quando cresci mais, procurei saber dessas criaturas. Descobri que eram de folclores, vampiros, fadas, lobisomens, todo o tipo de seres sobrenaturais. Foi nessa época que comecei a ter ataques de pânico, quando acordava dos sonhos.

E também foi nessa época que me interessei por romances sobrenaturais. Lia qualquer coisa que podia colocar as mãos que falavam de tais seres.

Voltei à realidade, e encontrei os olhos de Jordan. Seus olhos que sempre foram tão pretos quanto piche agora estavam faiscando com pequenos ciscos dourados neles. Mas não um dourado normal. Era um dourado ouro, do tipo mais brilhante e não—natural para uma cor de olho.

—O que aconteceu com seus olhos? — Me levantei completamente e me movi de modo que ficasse com as pernas uma de cada lado das dele, me colocando diretamente na sua frente. Peguei seu rosto com a mão, e o forcei a encontrar meu olhar, — Jordan, não pense em mentir para mim.

Ele fechou os olhos com força, e quando olhou novamente para mim, eles eram novamente tão escuros quanto uma caverna. Soltei seu rosto, assustada. O que estava acontecendo?

—Jordie? — minha voz estava fraca.

—Ele já te contou tudo não é? — a voz dele era cheia de amargura, levantei minha mão novamente, tocando a têmpora dele, ainda chocada pelo que acabou de acontecer. Ele colocou sua mão em cima da minha e quando falou novamente, sua voz estava suave. — Sobre o que você vai virar. Sobre o Submundo.

Senti meus olhos se arregalarem. Ele sabia? Como ele sabia? Ele era um também?

—Como...

Eu estava começando a ficar ofegante.

—Sophia, se acalme. Eu consigo sentir seu cheiro. Ascensão é seu novo perfume. Você cheira a pureza. Isso atrai outros como eu.

—O que você é? — eu me afastei um pouco dele, eu me sentia fraca. Medo borbulhou na minha garganta.

Os olhos dele ainda estavam pretos. Mas quando ele me deu um sorriso, eles mudaram completamente. Agora ficando completamente de uma cor estranha, um dourado, quase amarelo fluorescente. Me afastei mais um pouco.

—Licantropo. Fui mordido ano passado, desde então... Bem, aquele imbecil já deve ter te contado como funciona.

—Quem é o imbecil em questão? — eu perguntei, apenas para ter certeza de que ele não estava tirando uma com a minha cara.

—James Koutrick.

—Você o conhece?— minha voz soou três vezes mais alta do que o normal. — Você sabia disso desde quando? Nunca passou pela sua mente que eu ia querer saber da informação de que as pessoas que me criaram eram vampiros? Jordan, você podia ao menos ter me ajudado depois do acidente, me falado que eu não estava louca!

Me levantei, minha respiração ofegante. Ótimo, agora eu ia ter um ataque de raiva. Comecei a caminhar de um lado para o outro, furiosa. As coisas seriam tão mais fáceis se ele tivesse me falado alguma coisa, qualquer coisa. Tivesse falado que acreditava em mim. Tivesse interferido quando sua mãe, que tecnicamente era minha tutora até meus 18 anos, me colocou numa clinica de “descanso”, onde eu era obrigada a falar com psiquiatras todo o santo dia, onde eu ouvi que eu era louca, que era tudo coisa da minha cabeça.

Ele se levantou e me segurou pelos ombros. Eu estava tendo um ataque de fúria. Minha respiração saia rapidamente, e eu tinha a sensação de estar hiperventilando. Ele me abraçou.

—Eu não podia, eu estava proibido! James disse que você não podia saber, disse que era para o seu bem! — ele estava quase gritando. Afastou—me e olhou em meus olhos. — Eu queria, Sophia, por favor, acredite em mim. Nenhum ser do Submundo podia te contar nada, por isso Carolinne e eu—

Afastei—me dele abruptamente. Carolinne? O que Linne tem a ver com isso? Ela é humana!

—Linne? — minha voz estava abalada. — Mas a Linne é humana, Jordan.

Ele estava com os olhos arregalados. Segurou—me com mais firmeza.

—Sophia, Linne não te contou? James não te contou? Linne é uma... Bem, eu não sei ao certo, mas acho que é um tipo de feiticeira, ela tem magia dentro dela.

O encarei por alguns segundos, atônita.

Então eu saí correndo. Sai correndo pela porta da frente, e segui direto em direção ao Parque Jean—Louis. Peguei meu celular — que por um milagre estava em meu bolso. Mandei uma mensagem para James. Eu precisava que ele me explicasse o que estava acontecendo. Precisava que ele me explicasse tudo, assim como uma criança precisa do abajur para espantar os monstros com a sua luz. Com espanto, percebi que eu estava dependendo demais dele. Ele não podia ser meu abajur. Eu precisava ser meu próprio abajur.

Cheguei à entrada do parque completamente ofegante, e só então percebi que estava chorando. Parece que finalmente a percepção de tudo que estava acontecendo caiu sobre mim. Eu nunca mais vou ser a mesma, vou ter que viver uma vida que eu não escolhi, terei que me afastar de tudo e de todos que eu conheço. Todos só mentiram para mim a minha vida toda, até Linne.

James apareceu em meu campo de visão. Ele estava usando calça jeans, e uma camiseta cinza. Seu cabelo estava bagunçado, como se tivesse acabado de sair do banho.

—Tessa, qual é o problema?

Eu contei tudo enquanto seguíamos para a casa dele. Eu confiava nele. Ele nunca havia mentido para mim. Pelo menos não que eu saiba.

— Sinto muito, Tess. — foi tudo que ele disse quando eu terminei com a minha cachoeira de lagrimas. — Sinto muito, eu queria ter deixado—o contar que você não estava louca. Eu queria ter falado com você naquela época, você iria ser mais feliz hoje. Mas os Anciões não permitiram.

—Funguei, e limpei meu nariz com um lencinho de papel que ele havia me entregado. Eu estava com a cabeça no ombro dele, sem nem ao menos perceber. Um de seus braços estava sobre meu ombro, e eu não me lembrava de quando o colocou lá.

—Eu não quero voltar para lá, James. — minha voz estava frágil, pequena. Eu me sentia pequena diante do mundo todo, todos pareciam saber mais do que eu.

Ele afagou meus cabelos, e então suspirou: — Fique aqui, será mais fácil quando a Ascensão chegar, de qualquer jeito. Deixe que o imbecil do Krauss lide com a mãe dele, ele e Linne inventarão alguma coisa.

—Obrigada. — eu estava exausta, então ele me levou para a segunda porta do corredor — que era um segundo quarto. Este era todo azul e creme, com uma cama cheia de travesseiros, estante com alguns livros, armário e uma porta, que levava para um banheiro. Ele me emprestou uma camiseta dele — que ia até meus joelhos, quase. Agradeci mais uma vez, e fui tomar banho. Já era noite, eu fiquei a tarde inteira aqui, falando com ele. Perguntei—me se ele se incomodava comigo ficando aqui, se ele realmente se preocupava comigo, se realmente sentia muito. Ou se fazia isso apenas porque era seu trabalho e ele não tinha escolha.

Acho que receber uma garota histérica na casa dele não estava em sua descrição de trabalho, então cheguei à conclusão de que ele não fazia apenas por obrigação. Ele devia pelo menos me suportar, já que ele estava sendo tão legal comigo.

Por algum motivo, lembrei—me do beijo e da sensação. Corei violentamente enquanto saia do chuveiro e colocava a camiseta e as meias que ele havia me emprestado. Sai pela porta do quarto, e fui em direção a sala, a procura dele. Ele não estava lá, nem na cozinha, nem no jardim da frente da cabana. Ele devia estar no outro quarto, então eu tentei lá, achando que ele havia saído para algum lugar. Abri a porta, que não fazia nenhum rangido, e o encontrei sentado na cama com seu celular, ele estava sem camisa, o que me deu uma visão do seu corpo. Corei e fechei a porta rapidamente quando ele me olhou alarmado.

Sentei—me no sofá, com a respiração acelerada. Deus, eu devia ter batido na porta. Por que eu tenho que ser tão tapada? Agora ele ia me achar uma xereta e ia me mandar embora para aquele ninho de cobras mentirosas. Ótima Sophia, você estragou tudo novamente.

Ele apareceu, colocando a camiseta enquanto andava pelo corredor, me dando outra visão de seu tórax definido. Ele enfiou o celular no bolso.

—Jordan disse que sente muito. — ele disse, indo para a cozinha. — Eu liguei para ele para avisar que alguém irá passar lá para pegar suas coisas. Ele disse que iria separar seus livros favoritos, e que Linne ia ajudá—lo com as roupas. Também disse que Linne quer matá—lo, e que ela quer falar com você.

Encolhi—me ao ouvir o nome de Linne. De Jordan eu podia agüentar uma coisa dessas. Eu passei um ano odiando—o pelo incidente dos peitos. Mas Linne... Ela era uma historia completamente diferente. Eu nunca mentiria para ela, não podia acreditar que ela me escondeu uma coisa tão importante.

—Obrigada James, eu sei que isso não faz parte do seu trabalho. Sei que devo estar te atrapalhando agora mesmo.

Ele parou de remexer na geladeira, e me olhou. Então disse, com uma voz de deboche: — Quem disse que não faz parte do meu trabalho? Garantir seu bem estar faz parte do meu trabalho.

Irritei—me completamente agora. Eu estava aqui, achando que ele era um cara legal e não um canalha, então ele estraga tudo. Com o rosto transbordando raiva, eu levantei e me dirigi até a cozinha.

—Pegue essa panela e bata na sua cabeça, isso vai garantir meu bem estar.

Esperei um segundo, e então peguei a panela. E pensar que eu estava pensando nele me beijando segundos atrás, e agora eu estava mirando na cabeça dele! Ele segurou minha mão, e eu soltei a panela, assustada com a intensidade da sensação de choque que ele me causou. Ele também se assustou, mas continuou me segurando.

—Eu estava brincando, sua esquentada. Eu te acho divertida de se ter por perto. — Cerrei meu maxilar, ainda brava, e olhei pra baixo. Ele ainda estava segurando meu braço, e agora sua outra mão tocou meu queixo, me fazendo levantar a cabeça. — Devia parar de levar tudo tão a sério.

Prendi minha respiração, as ondas mais fortes agora. Ele pareceu sentir também, já que ficou completamente imóvel.

—Isso é incrível. — me forcei a falar minha voz ainda tremendo um pouco. Eu precisava preencher aquele silencio que havia se instalado. — Isso já aconteceu com você antes?

Ele me olhou por mais um momento, antes de responder com sua voz grossa—mas—suave de sempre: — Nunca.

Senti meu cenho franzir. Ele havia dito que acontecia com todo vampiro, certo?

Sua mão deslizou até meu ombro, então até meu pescoço, então o caminho de volta até minha mão.

—Nunca aconteceu assim, tão forte. Quando encontro outros que tem seus Poderes fortes, é apenas um formigar na pele. Mas com você...

—Eu sei, eu sou ligada nos 220. — ele não riu da minha piada, continuou passando sua mão pelo meu braço.

Sua mão foi até minha cintura. E mesmo sobre o tecido da camiseta eu senti o choque. Ele me puxou para mais perto dele.

—Jordan está certo, você emana pureza. — ele disse quando eu corei. — isso atrai os monstros. Monstros adoram corromper uma alma pura.

Cara, ainda bem que ele não lê pensamentos, ou ele ia descobrir como eu era uma alma pura que ficava pensando em como ele devia ser sem roupa nenhuma.

Ele sacudiu a cabeça, de repente, e me soltou. Dei um passo para trás, cruzei meus braços que estavam totalmente arrepiados.

—Enfim, está com fome? —então ele riu. — É claro que está, eu esqueci com quem eu estava falando.

A figura se colocou na frente do carro, uma figura que eu conhecia bem. Charles. Charlotte e Harry estavam no banco da frente, estávamos voltando da praia. Charles era um menino com que eu havia me enrolado lá, o que fez minha surpresa ser maior ainda. Harry — que estava dirigindo— virou o volante do carro com força, tentando não o acertar. Isso fez o carro virar com tudo, capotando diversas vezes. Ouvi meu nome ser gritado por Charlotte. Então a porta de Harry, que estava inconsciente, foi arrancada. Harry foi puxado com força. Em seguida, a porta de Charlotte foi arrancada do carro, e eu gritei. A mão a puxou também, e eu fui atrás. Podia ouvir os gritos dela, ela me mandando correr. A figura de Charles estava debruçada sobre o pescoço dela, e seus gritos se tornavam mais fracos a cada segundo. Lembro de berrar seu nome, chorando.

Então a figura se debruçou sobre mim. Charles deu um sorriso, seu rosto todo ensangüentado. Ele disse algo em outra língua, então pegou meu pulso, e o mordeu fortemente. Ele sugava o sangue que saia do machucado, e eu gritava cada vez mais baixo. Sabia que iria morrer, já havia me conformado com isso. Foi então que uma figura alta, e escura, completamente coberta pela noite surgiu. Ele arrancou Charles de mim. Lembro de vê—lo jogar ele para o outro lado, me olhar rapidamente e correr em direção ao corpo caído de Charles. Eu vi os dois brigando. Vi ele levantar o carro e o jogar em cima do homem que veio me salvar. Vi o homem, meu salvador, pegar Charles, e com um golpe de uma espada que eu não havia visto antes, cortá—lo no meio.

Lembro de berrar mais ainda, com medo, quando o homem de negro vinha em minha direção.

Quando eu acordei, estava nos braços dele. Ele dizia meu nome, sua voz inquieta.

—Graças a Deus. — murmurou, afastando minha franja da minha testa suada. — Você estava berrando como se o demônio estivesse atrás de você.

Eu não conseguia respirar direito. Meu pulmão começou a reclamar da falta de oxigênio.

Ele me segurou com mais força. Começou a cantar a mesma cantiga em Francês de antes. Concentrei—me em sua voz. Minha respiração logo voltou ao normal.

De novo ele estava agindo como meu abajur. De novo ele estava afastando os monstros.

—Me desculpe. — consegui dizer depois, minha garganta doía.

Ele continuava me abraçando. Uma mão acariciando meu cabelo.

—Tessa, qual é o problema? Pesadelo?

Acenei fracamente com a cabeça, e com a voz completamente baixa, fraca, eu disse: — Sonhei com o acidente.

Ele parou de acariciar minha cabeça um pouco, então eu olhei em seus olhos. Eles estavam desfocados, perdidos em pensamentos.

—Eu o mataria novamente se pudesse Sophia, dessa vez mais dolorosamente.

Aconcheguei—me mais em seus braços. Ele voltou a cantarolar, e eu logo adormeci novamente


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