The Ascent escrita por Thaina Fernandes


Capítulo 35
Capítulo 34


Notas iniciais do capítulo

Ops, demorou mas chegou.



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Desta vez o portal não me causou tanto mal estar. Apenas pareceu que eu havia levantado muito rápido, minha visão ficando turva por um momento.



Eu senti o cheiro do mar antes de vê-lo.

 

 A capital de Andolovina era cercado pelo oceano. sendo construída em uma ilha murada, A sala onde havíamos sido transportados tinha uma parede inteira feita de vidros, que estavam abertos agora, deixando a brisa do mar entrar e me permitindo ver a cidade construída em volta do castelo.

 

—Alteza, vejo que trouxe o seu novo prêmio. — Uma voz pegajosa feminina disse, me fazendo focar em quem estava na sala agora.



Uma vampira morena, alta e esbelta estava parada parecendo ao mesmo tempo entediada e irritada, seus olhos pretos parecendo vazios. Seu vestido deixava pouco pra imaginação, seu decote descendo até abaixo do umbigo, mostrando tatuagens espirais no seu abdômen e braços.

 

Instantaneamente eu não gostei dela. Ninguém com o nariz tão empinado era digno da minha simpatia.

 

—Caterina. —Caspian praticamente rosnou para ela, daquele jeito que usava quando tinha que ser sua persona de sem coração. Príncipe da escuridão, como Azriel gostava de chamar. — Cuidado, minha Sophia morde.

 

Ignorei o termo possessivo, apenas dando um pequeno sorriso para ela.

 

A mulher me varreu com seu olhar então, e como Caspian havia pedido, deixei meu poder se mostrar, não segurando a impressão que ele causava nas pessoas. A olhei entediada.

 

Caspian também havia me dito que todos esperavam que eu ainda fosse como a humana que eu era antes da ascensão. E era isso que eu demonstraria. Não iria mostrar a extensão real do meu poder, apenas se fosse necessário. Apenas daria pequenas provas assim, os deixaria se perguntando.



—Peço desculpas. —Ela disse, não parecendo nem um pouco arrependida. — Rei Ragnor nos aguarda. Preparamos um banquete em homenagem a princesa.

 

Me colei ao lado de Caspian, seguindo meu papel. Minha mão estava  na sua, mas mesmo assim me coloquei mais perto dele ainda. Ele sorriu para mim, quase se desculpando. Não reclamei quando seu braço se enrolou em minha cintura de maneira mais agressiva do que estávamos acostumados.

 

Aqui na cidade, não poderiam pensar que eu era mais poderosa que o rei. Ele não iria gostar disso, e quando Ragnor não gostava de algo….

 

Então eu seria a vampira novata que estava praticamente enfeitiçada com Caspian, cega de amor. Apenas mais uma adição as conquistas do rei. Ninguém, afinal de contas, sabia que o casamento fora aceito por nós dois. Caspian disse que o palpite de todo mundo aqui era apenas que ele havia me seduzido para conseguir meu reino, e que provavelmente achariam que ele havia utilizado seu poder em mim para ter o acordo. 

 

Ragnor também tinha algo que precisaríamos. Um livro, escondido em algum lugar, que pertencia a um bruxo do mesmo coven do que o Dracul nos havia mostrado, e que provavelmente nos ajudaria a achar um jeito de contra atacar o fato de Noah conseguir estar quebrando os feitiços de proteção . Eu e Caspian tínhamos que distrair a todos para que Rhys conseguisse verificar se esse livro ainda estava no castelo, usando as sombras a seu favor.



Rhys e Isabella andavam um passo atrás de nós, cabeças erguidas. Olhares cruéis em seus rostos, desafiando qualquer um a nos incomodar.

 

Haviam outros vampiros nos corredores largos.  Não pude deixar de notar como alguns deles nos mostraram suas presas, sussurrando entre eles sobre mim. Sobre como Caspian havia me conquistado.

 

Ergui meu queixo, sorrindo do mesmo jeito que Cas fazia para alguns deles. Deixando-os imaginarem o que o príncipe deles havia feito para me conquistar. 

 

Ao invés de prestar atenção nos olhares inóspitos dos conterrâneos de meus amigos, foquei-me em como o castelo era diferente do meu . Realmente parecia que aqui foi construído como uma fortaleza, com toda parede sendo de pedra, com as muralhas em torno da cidade. Apenas nisso eu notei a diferença em nossas culturas. Nosso castelo. eu sabia, havia sido construído sem pensar em ataques diretos assim.

 

Paramos em frente a uma porta pesada de madeira. Caspian apertou sua mão na minha, se abaixando para sussurrar em minha orelha:

 

—Me avise se eu cruzar algum limite.

 

O salão estava cheio. As mesas postas estavam Vazias, os vampiros de pé, colunas retas. Nós olhando. Analisando. Alguns deles nem se deram ao trabalho de olhar em nossa direção. 

 

Haviam, eu percebi, alguns humanos aqui. Os voluntários, humanos que de alguma forma souberam sobre nós e se ofereceram para doar seu sangue. Em meu reino eles era mantidos separados, protegidos. 

 

Aqui, pelo que parecia, eles eram parte do banquete.

 

Um homem deu um passo a frente, as medalhas de ouro em sua roupa reluzindo com a luz.

 

Não precisei olhar a coroa em sua cabeça para saber que se tratava do pai de Caspian e Isabella. Seus olhos prateados eram frios, cortantes como o metal da espada que descansava em sua cintura, enquanto ele mesmo nos encarava. Sua mandíbula era angulosa, suas maçãs do rosto afiadas como as de Caspian. Mas o jeito que ele sorria…



Era igual a James. Triunfante em seu poder.

 

Seu cabelo bem arrumado era branco. assim como sua barba. Ele estava vestido com o que parecia ser suas roupas oficiais, vermelhas na cor do brasão deles. A coroa descansando em sua cabeça era feita de jóias diferentes, suas cores quase um arcoiris.

 

Uma jóia para cada reino que conquistou.

 

Não havia nenhuma pedra esmeralda, notei com orgulho.

 

—Princesa, bem vinda a Andolovina. —Disse, sua voz grave soando antiga. Esse era o homem que não tinha medo de conquistar quase todo território fora de Munin, não tinha medo das consequências.

 

—É um prazer, Majestade. —Eu disse, dando meu melhor sorriso e fazendo uma reverência, a mão de Caspian ainda na minha me mantendo firme.

 

Seus olhos pousaram no anel em minha mão, sua expressão se suavizando por um momento.

 

Mas logo se endureceu ao mirar Caspian.— Vejo que deu tudo certo, conseguiu a aliança. E uma noiva. acima de tudo.

 

—Sim, pai.— Caspian respondeu, aquele sorriso felino em seus lábios. Me puxou para perto dele. — Sophia foi uma surpresa agradável, não poderia deixa-la para trás.

 

Isabella deu um passo a frente, olhando ao redor para os seres a nossa volta . Bateu as mãos, praticamente rosnando para os espectadores. —Se ocupem com outra coisa, seus abutres. 

 

Rei Ragnor olhou sua filha, parecendo entretido. Estalou a língua em desgosto. —Bella, esqueci que havia ido até Munin. 

 

Ela não olhou seu pai para responder. —Algo me diz que não esqueceu, pai. 

 

Ele lhe deu uma olhada fria, a ignorando. Se virou, indicando que eu e Caspian devíamos segui-lo.

 

Nos levou até o centro do salão, onde tinha uma mesa, com duas canetas de pena e um rolo de papel.

 

Ele iria, como Caspian havia previsto, fazer isso na frente de todos. Sem rodeios, iria direto ao ponto da nossa visita aqui

 

—Hoje é um dia histórico. —Sua voz ressoou na sala, fazendo todos os olharem. —Pela primeira vez, trataremos uma aliança com Munin e dentro de algum dias os reinos se unirão com o casamento de meu filho Caspian e da princesa Sophia, a última Dragomir. Por anos lutamos, mas agora nossos povos serão um. Hoje, deixamos de ser rivais, e nos tornamos aliados. 



Sorri para todos, mostrando minhas presas, com minha cabeça erguida. Eu era mais letal que qualquer pessoa aqui, não me importava que metade deles estavam me olhando como se eu fosse fraca por precisar da ajuda deles, e a outra metade como se eu fosse um pedaço de carne.

 

Ragnor abriu o papel. Pegou uma adaga fina na mesa, com um movimento rápido de seu pulso cortando a pele de seu antebraço, deixando o sangue escorrer até o pote vazio de tinta, Mergulhou a ponta da caneta no sangue, e com mais floreio que necessário, assinando na base do contrato

 

Um dos vampiros que deviam trabalhar no castelo deu um passo à frente, oferecendo um pano para limpar o sangue causado pelo corte.

 

Sorri docemente, esticando minha mão.—Permita-me, Sua Majestade.

 

Sem esperar resposta, coloquei minha palma na pele gelada do rei, direcionando meu poder e curando o corte profundo que ele havia feito.

 

A sala inteira fica em silêncio por alguns segundos, como se eles estivessem atônitos com o poder de cura que eu havia exercido. Ragnor encarou o lugar em que o corte havia sumido, um olhar calculista em seu rosto.



Então os sussurros começaram. Eu podia ouvir algumas coisas que eles falavam, Nada muito favorável. Mas eu identificava uma palavra sendo usada. Necromante.



Foi a vez de Caspian, seguindo sem muito floreio os gestos de seu pai, escreveu seu nome em tinta no papel. Me coloquei ao seu lado, tão perto que podia sentir o perfume dele. Assim como fiz com Rei Ragnor, curei o corte  em seu braço. Ignorei o quanto o cheiro de seu sangue parecia bom.

 

Peguei uma outro adaga, fazendo uma pequena incisão no meu pulso. Tentei não fazer uma careta com a sensação de dor.

 

Eu podia sentir meu sangue se ligando a cada palavra no papel, me prendendo ao documento, o sangue me atendo a aliança para que não traísse Andolovina e nem para que eles traissem meu reino.

 

Enquanto terminava de escrever meu nome completo, Caspian se inclinou, beijando a base de meu pescoço, fazendo um arrepio percorrer meu corpo com o quão íntimo aquele ato parecia. E eu sabia como essa imagem havia ficado para todos.

 

Eu, a última Dragomir, futura rainha de um reino maior que o deles, fazendo um juramento a Andolovina. O beijo de Caspian me.fazia parecer vulnerável a ele.  Mesmo com meu vestido eu parecia pura demais aqui, onde todos pareciam ser feito de sombras, nem um sorriso amigável a vista. 

 

Sua boca roçou em minha orelha quando ele se endireitou. Enrolando um braço em minha cintura, me puxando para perto, ele sussurrou:

 

—Planta. Fim da sala.

 

Sutilmente, direcionei meu poder até ela, absorvendo a energia em volta dela e curando o corte que latejava em meu pulso.

 

A maioria das pessoas falavam italiano ao nosso redor, eu conseguia entender apenas algumas palavras, mas eu entendia os olhares confusos. Suspeitos.

 

Como Caspian havia previsto, ninguém esperava nossa proximidade. Nem que eu soubesse usar meu poder. Eles estavam confusos sobre o braço de Caspian ao meu redor,  sua falsa possessividade me trazendo para perto dele. Eles conheciam Cas como o sem sentimentos, o que nunca havia a demonstrado nada por ninguém além de crueldade. Nós dois, de fato, éramos uma ótima distração.

 

O rei bateu palmas, uma mini orquestra começando a tocar do canto da sala. Eu me sentia tensa aqui, pela primeira vez em meses longe de meu reino, de meu povo.

 

Eu entendi então o porquê Cas sempre me dizia o quanto Munin era diferente. Meu povo era caloroso, gentil. Aqui eles não haviam trocado um olhar que não fosse de escárnio até agora.

 

Sorri para o meu novo aliado que me estendeu sua mão, indicando que queria a minha companhia. A mão de Caspian demorou um segundo a mais para se desgrudar de mim, e eu sabia o motivo, a apreensão dele era quase palpável. Beijou minha bochecha antes de finalmente me soltar.

 

O olhei, tentando passar tranquilidade para ele. Senti novamente seu toque em minha mente, pedindo permissão.

 

"Cuidado, meu pai é traiçoeiro."



—Principe Caspian, estamos contentes com seu retorno. — Uma mulher, vampira, com uma cabelo loiro tão claro que me perguntei se era natural disse, tocando seu braço.—Senti sua falta aqui no castelo.

 

Caspian apenas lhe deu um de seus sorrisos falsos, inclinando a cabeça cordialmente. —Lisandra, há quanto tempo.



Isabella, do outro lado deles e conversando com outras pessoas, estreitou os olhos para a moça, trocando um olhar significante com Rhys. 

 

—Espero que o castelo esteja do seu agrado, princesa. —Ragnor disse ao meu lado, me puxando de volta para realidade.

 

Sorri para ele, aceitando o braço que ele havia me oferecido momentos antes. Pela sua aura eu podia dizer que o pai de Caspian e Bella era velho, talvez até mais velho que Nicholas.



—A paisagem de Andolovina é linda. Já faz muito tempo que não visitava o mar, e com tudo acontecendo achei que não o veria tão cedo.



Ele fez um barulho de compreensão, dando batidinhas em minha mão, me guiando até a varanda no fim da sala, todos saindo de nosso caminho e se curvando quando passávamos. Me ocorreu então que, diferente de mim que visitava a cidade ao redor do castelo para conversar com meus súditos, Ragnor nem sequer olhava no rosto de seus convidados 

 

Paramos do lado de fora. Era mais quieto aqui, apenas com o som das ondas batendo nas pedras abaixo do castelo. Olhei para o céu, agora carregado de nuvens que indicavam que iria chover a qualquer ponto.

 

—Seu pai me pediu uma aliança uma vez, sabia? Ofereceu a mão de seu irmão pelade minha filha mais nova. —Sua voz era mais grossa que a de qualquer vampiro que eu havia conhecido, uma voz que te obrigava a prestar atenção. — Ainda bem que não aceitei, vendo como seu irmão se mostrou.

 

Tentei não demonstrar qualquer expressão em meu rosto, apesar de querer franzir o cenho.  Mantive minha máscara de indiferença. Isabella e Cas haviam me dito, me alertado, que ele tentaria achar alguma fraqueza em mim, e que quando tentasse me atacar com meu irmão eu deveria responder com prepotência.



— Fico feliz que não aceitou na época, gosto de pensar que serei uma monarca melhor que Noah jamais seria. —Respondi, erguendo meu queixo e me encostando no muro de pedra. — Sou mais poderosa que ele, afinal. 

 

Ele me estudou, semicerrando seus olhos pratas, procurando algo. —Ouvi o que fez no ataque as terras de Lord Crisan. Impressionante, ainda mais sem treinamento.

 

—Caspian me treinou. —Interrompi, tirando uma mecha que um vento forte havia jogado em meu rosto. Parecia que ia chover a qualquer momento. —Devo muito a ele.

 

—Você e meu filho parecem próximos. Mais do que eu esperava.

 

Me desencostei do muro, vendo Isabella surgir na porta, gesticulando para eu ir me juntar a ela.

 

—Eu confiaria minha vida nas mãos do seu filho, Majestade. Assim como meu reino. Caspian é a pessoa mais nobre que já conheci.

 

Ele deu um passo para perto de mim. —Palavras ousadas, Alteza. Ainda mais sobre meu filho. Sabe a reputação dele, certo? Ele já traiu pessoas por menos que um reino.

 

Tentei segurar a ira de minha voz. 

 

—Se reputações valessem para algo, eu mesma não teria conseguido alianças com as fadas e os lobos. Agora, se me der licença, Bella está me chamando.

 

Ele assentiu, seu olhar calculista ainda fixo em mim enquanto eu fazia uma cortesia, lembrando das aulas de etiqueta.



Isabella estava com um vestido azul colado, parecendo modesto na frente, mas no momento que ela virava podíamos ver que as costas eram inexistentes. 

 

Uma gota fina caiu em meu ombro nu, me fazendo acelerar meu passo para dentro novamente.

 

—Essa festa está mais insuportável que o normal. —Resmungou, entrelaçando seu braço com o meu, olhando por cima do seu ombro para o seu pai. —O anel combina com você, aliás. Caspian estava debatendo o melhor momento para te dar a semanas.

 

Estendi minha mão, o admirando novamente junto a ela, nossas cabeças coladas. Segurei meu colar com a minha outra mão, me sentindo um pouco deslocada aqui, procurando conforto. Mesmo sendo boa atriz, ainda era estranho estar nessa corte.

 

—É lindo, mesmo.— Finalmente respondi, minha voz soando distante até para meus ouvidos.

 

Ela apertou meu braço, em conforto. 

 

—Agora, vai me dizer onde diabos os dois foram quando sumiram depois do Calanmai? Não pense que não reparamos.

 

Continuei andando com ela em meu encalço. Avistei Rhys próximo a parede, seu rosto com um olhar de sofrimento por ter que estar ali. Segui para lá sabendo que ele era minha melhor opção se eu quisesse calar Bella.

 

—Para a cabana dele. —Disse, tão suavemente que ela não teve tempo de questionar. Vendo a cara dela, logo emendei. —Conversamos. Só isso, sua garota estranha. Esqueceu que estamos falando do seu irmão? 



Ela bufou. — Todos nós vimos os dois se beijando, Soph. Apenas somos educados demais para falar algo. Já estava na hora, aliás, com o jeito que os dois se olham…



Me virei para ela, parando no caminho até o mestre espião. Franzi meu cenho, ela já havia dito isso antes para mim.



—Como é que nós olhamos? — eu exigi, com um pouco mais de vigor do que esperava. —Somos amigos, Bella. Sabe como seu irmão me ajudou em tudo.



Ela rolou os olhos, claramente irritada. Estar em sua terra natal claramente a havia deixado tensa, e pela encarada que ela estava me dando, isso seria descarregado em mim.

 

—Ele te olha como se você fosse o sol e ele tivesse vivido em uma caverna escura por anos, e você o olha como se ele tivesse pessoalmente pendurado todas as estrelas no céu. Achei que tivesse passado do ponto de ficar fazendo essa cena de ignorância em relação a isso.

 

Pisquei, surpresa com o tom acusatório dela. Eu não esperava isso. Podia ser apenas negação, mas eu não queria admitir nada assim. E mesmo que fosse, era um casamento arranjado. Vendo Caspian interagir com Elena em Munin, flertando e agora….

 

Meus olhos o encontraram do outro lado da sala. Com aquela Lisandra ainda na cola dele, claramente tentando tirar alguma reação dele. E ele respondendo de volta com o mesmo tom que ela usava. Os dois estavam sentados em uma mesa com mais pessoas que logo assumi serem nobres.

 

—Seu irmão apenas aceitou o destino que lhe jogaram, Bella. E depois de como fui idiota da última vez, não pretendo me apaixonar tão cedo. Não sei o que acha que viu, mas sugiro não repetir isso a ele. —Eu soei mais amarga do que gostaria, mas o dia estava chegando até mim. Eu estava estressada, assim como ela também estava.—Rhys, vá agora. Vou lembrar nosso querido Príncipe que não é educado flertar com outras pessoas quando eu estou na sala. Essa é sua chance, farei todos prestarem atenção.



Antes que qualquer um dos dois pudesse me impedir, e ignorando o olhar de arrependimento de Bella, eu segui para onde o vampiro em questão estava, rindo de algo que a mulher loira havia dito.

 

Fui até eles, sentindo mais de um olhar carregado em minha direção. Eu sabia que eu estava linda nesse vestido, completamente diferente da Sophia doce que todos do meu reino viam. 

 

Sem dizer nada, circulei a cadeira dele, me colocando em seu colo suavemente, um de meus braços ao redor de seu pescoço enquanto o outro foi até a mesa, pegando um dos morangos. Minhas pernas pendiam sobre os braços da cadeira. Silenciosamente agradeci por sua cadeira ser grande. Estava ao lado do que eu sabia ser o trono do rei,  essa cadeira apenas um pouco menor que trono do pai de Caspian, que ficava de maneira imponente no centro da mesa mesmo sem seu dono estando sentado nela.

 

Nem eu sabia de onde isso havia surgido. Eu havia feito sem pensar. 

 

Eu devia agradecer aos céus pela loira não ter nenhum poder, pois pela olhada que ela me deu eu sabia que ela teria explodido minha cabeça.

 

Sorri, mordendo a fruta, lambendo meus lábios para me livrar de qualquer suco que havia escorrido.

 

Caspian de recuperou logo, sua mão se enrolando em minha cintura enquanto a outra ia até a fenda em minha perna, seus dedos tracejando desenhos invisíveis na pele nua. Não me dei ao trabalho de esconder o quanto eu estava gostando daquilo. 

 

É claro que a olhada de desgosto da vampira - Lisandra? - foi um bônus.

 

Eu não gostava do sentimento de ciúmes que eu tinha quando via Caspian interagindo com outras mulheres. Ele nunca havia me demonstrado nada assim, e eu não seria hipócrita de fazer o mesmo.

 

Eu sabia que ele se sentia atraído por mim, mas isso no fim do dia não era sinal de que ele me pertencia. Se ele realmente quisesse, não o impediria de ir com a loira.

 

Mas Rhys precisava que todos estivessem nos olhando.

 

—Cas, —Resmunguei, enfiando meu nariz em seu pescoço, o deslizando pela sua pele. Novamente o cheiro dele me acertou em cheio, tão mais atraente agora por algum motivo. Mar, tabaco, cravos e âmbar. —Estou entediada.

 

Ele praticamente virou a taça de vinho em sua frente. Eu podia sentir o batimento cardíaco dele através da camisa. Brinquei com o botão no topo dela, meus dedos deslizando pela seda negra em um movimento suave.

 

—Mas já? —Perguntou, mão subindo mais na minha perna. —Não está sendo divertido o suficiente para você?



Eu estava ciente de cada lugar que estávamos nos encostando. Me ajeitei em seu colo, virando-me de frente para todos, agora minhas costas em seu peito. 

 

—Sabe como eu sou. —Respondi com um sorriso, angulando minha cabeça para poder olhá-lo — Difícil de ser agradada.

 

—Não parece o tipo, Alteza. — a vampira disse, estreitando seus olhos para mim. —Diria que parece exatamente o contrário. 

 

A mão de Caspian se apertou em minha cintura em aviso. Eu podia sentir olhos nos encarando, todos vendo como a situação iria se desenrolar.

 

—Bem, certamente acabou de comprovar que precisa avaliar seu julgamento sobre as pessoas. — Sorri docemente para ela, me esticando e pegando um copo que um dos garçons havia acabado de colocar em sua frente. —É Lizandra, certo? 

 

O olho dela tremeu por um momento enquanto algumas pessoas deram risadas com minha provocação a ela.

 

—Sim, Alteza. Lady Lizandra — Ela inclinou sua cabeça, seus olhos percebendo as mãos de Caspian em mim. O olhar dela se focou no anel que agora adornava meu dedo.— Todos ficamos surpresos com a notícia do noivado. Um Dragomir não coloca os pés em nossas terras a um bom tempo.

 

Dei um longo gole na bebida. Apenas pelo sabor eu sabia que havia sangue misturado ao vinho, o gosto metálico nunca sendo bem mascarado pela doçura da uva.

 

—Caspian foi bem….persuasivo. — Eu me virei para ele, dando-lhe um sorriso especial. Ele estava me olhando atentamente, olhos nebulosos com algo que eu não soube especificar. — Foi difícil dizer não.

 

Caspian tirou meu cabelo do meu ombro com dedos gelados, quase me fazendo desviar com a súbita frieza. Encostou seu nariz em meu pescoço, o deslizando até a curva da minha nuca. mandando arrepios através do meu corpo todo.

 

—Poder chama por poder, Liz. Sabe disso. Quando vi Sophia eu sabia que ela seria a única a se igualar a mim.

 

Eu sabia que essa frase era um aviso a ela. Ela, de alguma forma. devia ter achado um dia que talvez ela ocuparia esse lugar.

 

Senti Caspian novamente pedindo entrada para compartilhar seus pensamentos comigo.

 

"Ela sempre achou que fossemos acabar juntos. Seu pai é o segundo em comando do meu, o que a fez achar ter mais direitos do que realmente tem."

 

"E você iria?" eu questionei quietamente, não conseguindo me impedir. "Casar com ela, quero dizer. Se nada disso tivesse acontecido."

 

"Não. Nunca gostei da ideia de ter que negar ao mundo a chance de me ter. "



Rolei os olhos mentalmente para ele.

 

Fiquei novamente no salão, sentindo meu corpo vibrar com a bebida em minha mão. Com as mãos de Caspian em mim.

 

Apertei uma mão em sua coxa, notando os músculos escondidos por baixo da calça de alfaiataria que eu sabia, como fato, que ele havia demorado um milhão de anos para decidir se gostava ou não.

 

Novamente percebi que Caspian era um guerreiro também. Escondido por trás das roupas elegantes estava um dos vampiros mais poderosos que já haviam existido.

 

—Vamos esperar que nada aconteça antes do casamento, não é? Parece que os Giovannis estão te perseguindo, Princesa.



Novamente soltei a tampa que estava colocando em meu poder, deixando envolvê-la. A energia em volta dela era amarga, deixando um gosto ruim em minha boca. —Sei cuidar de mim mesma, não se preocupe.



Os olhos dela se estreitaram novamente para mim, narinas inflando quando ela percebeu o que eu estava fazendo. A testando. 

 

Sorri docilmente.

 

Então os olhos claros dela se focaram em algo do outro lado da mesa, seu sorriso maldoso novamente no lugar. 

 

—James, vejo que se juntou a nós. 

 

Senti Caspian ficar tenso em minhas costas. Imediatamente, coloquei minha mão na sua que descansava no braço da cadeira, entrelaçando nossos dedos. A aliança de sua mãe refletiu  com o movimento.

 

—Lizandra. — a voz que eu conhecia bem disse. —Vossa alteza. Caspian.

Os olhos pratas de James encararam o jeito que Caspian me segurava em seu colo. Após um momento, ele se curvou a mim, sua mão em seu peito como todos os guardiões faziam em sinal de respeito por mim.

 

Inclinei a cabeça em forma de reconhecimento para ele, tentando ignorar a sensação estranha no meu estômago. Ignorar o sentimento de inadequação.

 

A um mês atrás, quem me tocava era ele. Quem me tinha em seus braços, era James. A um mês atrás eu era praticamente outra pessoa.

 

Engoli em seco. desviando os olhos. Eu o superei, disse a mim mesma. Não preciso me sentir cometendo um crime por seguir em frente.

 

Senti os lábios de Caspian em meu pescoço novamente, me trazendo de volta a ele. Suspirando, me virei para ele, fazendo o mesmo.

 

Sua pele era macia, e não pude evitar me pegar pensando no Calanmai. Em como ele havia me segurado lá. Ele, por algum motivo, sempre tinha esse efeito em mim. Parecia que o que só de meus problemas diminuiam quando estava com ele.

 

Mas…

 

O que mais havia me magoado sobre James era ele ter mentido sobre Anna. E como eu poderia estar aqui, nos braços de outro tão cedo sem parecer hipócrita?

 

A sensação de leveza que eu senti desde que acordei na cabana dele, sozinha em seu quarto depois que voltamos do Calanmai, depois dele novamente atender a um pedido meu, se esvaiu. Me senti amargurada, sabendo que qualquer emoção desse jeito que eu tinha não era adequada. 

 

Caspian, notando a mudança de humor, trouxe minha mão para seus lábios, beijando a pele delicada do meu pulso em forma de conforto.

 

Depois ele beijou logo acima do anel em meu dedo, seus olhos me lembrando da promessa que havia feito na madrugada passada.

 

Rhysand escolheu esse momento para aparecer em nosso campo de visão, como se ele de fato nunca tivesse saído do salão.

 

Isabella o rodeou, sua mão deslizando pela camisa preta dele servindo como a pergunta silenciosa. Ele assentiu uma vez.

 

Ela sorriu, o puxando para si, sussurrando algo em seu ouvido e logo após o puxando para fora da sala.

 

Eu me virei novamente para Caspian, minha mão descansando em seu peito.

 

—Cas, pode me mostrar o caminho até meu quarto? Estou cansada. —Pedi, me erguendo de seu colo, ficando em pé novamente. 

 

Ele assentiu com a cabeça, sabendo que eu queria uma desculpa para podermos ir ver Rhys.

 

Lizandra se levantou também, o que quase me fez bufar. Agora ela não queria parecer mal educada. Ela segurou o braço de Cas, o fazendo pausar. 

 

—Não se esqueça de despedir-se de mim antes de ir, Caspian. —reclamou, praticamente fazendo bico como uma criança mimada. - Da última vez apenas se foi.

 

Dei um passo para perto dela, notando com satisfação que eu era mais alta. Dei-lhe um sorriso de aviso, entrelaçando meu braço no de Caspian, que me olhava entretido.

 

—Não se preocupe, Lady Lizandra. Passaremos para dizer adeus antes de partir.



E não era apenas ciúmes, eu disse a mim mesma numa tentativa fútil de me explicar. Mas estávamos em público, e deixar alguém tocá-lo assim… 

 

Eu sabia que os olhos do pai dele, do rei, estavam nos observando. Tentando ver alguma brecha em nossa aliança.

 

E eu não podia parecer fraca.

 

Ele enrolou seu braço em minha cintura, me puxando para perto dele enquanto passávamos pela multidão - que abria caminho à medida que avançávamos- para sair do cômodo.



Assim que chegamos ao corredor agora vazio, Caspian deixou escapar uma gargalhada. Jogando sua cabeça para trás, seus olhos eram luas crescentes enquanto ele ria.

 Novamente me senti irritada com o quanto ele era atraente.

—O que? — Questionei, ajeitando meu vestido, ainda conseguindo sentir as mãos dele em minha pele.

 

—Nada. —Ele disse, tentando conter seu riso. —Apenas nunca vi alguém a colocando em seu lugar assim. Se não soubesse melhor diria que estava com ciúmes, querida.

 

Irritada, bufei, caminhando a frente dele antes de perceber que não sabia o caminho. Sem muita escolha, parei, olhando por cima do meu ombro para ele. O desgraçado ainda estava claramente tentando conter uma risada.

 

Rolei os olhos para  ele.—Não sinto ciúmes, Cas, não faz parte da minha natureza. Apenas não gosto de pessoas pretenciosas.

 

Ele colocou sua mão em minha cintura, me trazendo para perto dele novamente, guiando-me pelo corredor. 

 

—Otimo, pois não devia. — ele sorriu, sua mão apertando meu quadril. Me deu um sorriso cheio de dentes afiados. —É você quem tem o anel, afinal de contas. Não que eu me oponha a você sentando em meu colo para chamar minha atenção, aliás. Boa jogada. 

 

—Nāo preciso disso para chamar sua atenção, — brinquei, parando meus passos. Deslizei minha mão pela lapela do seu casaco, meu punho se fechando no lenço que ele usava ao redor de seu pescoço como gravata, o puxando para baixo, deixando seus lábios a centímetros dos meus. —Esqueceu?

 

O vi engolir em seco, seus olhos travados em meus lábios.

 

—Você é perigosa, Sophie querida. — Ele praticamente ronronou, com dois passos me encurralando na parede, agora me deixando presa entre seus braços. —Tolo é quem pensa que por trás desses seus sorrisos doces não se esconde uma guerreira.

 

Levantei minha cabeça, fechando lentamente a distância entre nós. Eu podia sentir a energia nos cercando no ar, o deixando mais denso 

 

Ele também inclinou sua cabeça, me fazendo fechar os olhos instintivamente, esperando a sensação novamente dos seus lábios-

 

—Ai estão vocês. — a voz de Isabella ressoou a nossa direita. Ela me deu uma olhada acusatória, como se quisesse comprovar seu ponto de antes. — Vamos, Rhys está nos esperando. O Livro praticamente tem um sistema de alarme embutido, precisamos enviá-lo logo a Carolinne.

 

Quase ri com o olhar de frustração no rosto de Caspian. Dei duas batidinhas em sua bochecha com a minha mão, sacudindo a cabeça para ele.

 

—Não queremos deixar Rhys esperando, não é mesmo Cas?

 

Ele me ignorou, segurando minha mão que estava em seu rosto e trazendo para baixo, não a soltando. Deu uma olhada feia para sua irmã —Não pense que me esquecerei disso quando me pedir algo, Bella. Diga adeus a  aquele par de brincos que queria de presente de aniversário.

 

Isabela o encarou daquele jeito dela de quem não o estava levando a sério.

 

Tentei prestar atenção no caminho, decorar caso precisasse voltar aqui novamente! mas sabia que isso seria em vão. Aqui tinham tantas curvas e passagens quase escondidas que eu deveria apenas torcer para algum dos Adolovinos estarem comigo caso algo ocorresse.

 

Não tive que perguntar para saber que o quarto que ela havia nos guisado era o dela. A decoração em tons de vermelho, com quase todo pano sendo de cetim dava na cara. 

 

Rhys estava sentado na cama dela, acariciando o livro, sussurrando algo para ele. Ele nos olhou, levantando uma sobrancelha para a mão de Caspian ainda na minha. Então seus olhos focaram em mim.

 

—O livro quer falar com você. 

 

Senti meus olhos se arregalaram. —O quê? Como?

 

Se levantou, colocando o livro na mesa a nossa direita, nos chamando com um gesto de sua mão.

 

—Ele é quase... autoconsciente seria a palavra certa. Apenas abrirá para quem ele mesmo permitir, foi assim o que Bruxo Truycsor o encantou, para que ninguém com má intenção o usasse erroneamente.



Caspian soltou uma risada ao meu lado. — Pode ter certeza que esse é o motivo do meu pai não tê-lo utilizado ainda.

 

Rhysand assentiu, um leve sorriso em seus lábios. Isabella se pôs ao seu lado, sua mão no cotovelo dele.

 

Seus olhos prateados estavam focados no bloco a nossa frente, a capa de couro parecia quase vibrar na iluminação antiga dos castiçais do quarto

 

—Assim que tentamos abri-lo, exigiu saber quem éramos. Aliás, ele sabia quem éramos. E sabia que estávamos fazendo isso por você. Exigiu falar com a líder dessa... expedição. — Isabella disse, olhando o objeto com suspeita



Engoli em seco. —Você disse que ele tem um sistema de alarme. O que acontecerá se ele disparar?

 

—Nosso pai irá saber que agimos por suas costas, que roubamos algo dele. —Caspian respondeu, franzindo o cenho para Rhys. —Rhys e suas sombras são o que estão mantendo-o quieto agora.



Engolindo em seco, dei um passo a frente. Lentamente, coloquei minha mão na capa de couro, o material parecendo errado sob as minhas palmas.Tão logo minha pele estava completamente tocando o objeto, Rhys retirou sua mão.

 

QUEM É VOCÊ?



A voz ecoou pela minha mente, antiga, profunda, como nada desse mundo.

 

—Sophia Teresa Dragomir — eu respondi, apreensiva. — Princesa de Munin.

 

ERRADO

 

Olhei para trás, buscando ajuda de meus amigos. Caspian deu de ombros, claramente não sabendo o que o livro estava me perguntando. Bufei. A ajuda dele seria boa agora.

 

Como estava errado? Essa é quem eu sou, a princesa-

 

—Rainha de Munin. — tentei novamente. 

 

Um olho se abriu no meio da capa, inteiro preto, sem pupila, parecendo me encarar.

 

O QUE QUER COMIGO?

 

—Sua ajuda. 

 

MENTIRA. SE QUISESSE MINHA AJUDA NÃO MANDARIA O ILIRIANO ME ROUBAR. PEDIRIA AO REI RAGNOR

 

—Ele não me concederia essa ajuda sem um custo. —Me expliquei, arrumando meus ombros. Encarei o olho. —E preciso de você para ter uma chance de salvar meu povo. Salvar todos os povos.

 

O livro permaneceu em silêncio por alguns instantes. Eu podia sentir a aura dele rastejando sobre a minha pele, provando da minha essência, descobrindo o que é verdade e o que é mentira.

 

E COMO PLANEJA QUE MINHA AJUDA A AUXILIE?

 

—Noah está destruindo os feitiços de proteção, feitiços que seu mestre criou. Queremos que nossa amiga, Carolinne, tenha sua ajuda para impedir isso de acontecer.



POR QUE DEVERIA TE AJUDAR?

 

Não hesitei dessa vez.

 

—É o certo a se fazer.  —Respondi baixo. —Ou todos nós iremos ser pegos por ele. Noah usará meu poder para ressuscitar o primeiro Giovanni, e ele não ficará contente em acabar apenas com os vampiros. Os próximos serão os bruxos, depois os lobos, até ter todos os seres do submundo sob seu comando. E isso inclui você.

 

CHAME SEU PRÍNCIPE AQUI

 

—Cas? —senti ele se movendo para perto de mim. — Sua vez.

 

Assim como fiz com Rhys, Ele trocou minha mão pela sua. Quando tentei sair de perto daquele objeto intrometido, Cas me segurou, seu braço em minha cintura me mantendo ao seu lado.

—Não mais. — ele respondeu com firmeza. — Tudo. Tudo e o impossível.

 

Houve uma pausa, sua voz agora soando mais quieta, quase um sussurro. Me senti como se estivesse bisbilhotando, mas sua mão não me deixava sair.

 

Devia ser uma coisa estranha para Caspian, ter algo invadindo sua mente assim.

 

—Sim. Logo. —Ele me olhou de canto de olho. —Obrigada.

 

Então o livro sumiu com uma explosão, impulsionando-nos para trás com a força da mágica que ele havia utilizado, nos fazendo cair no chão.

 

Caspian parecia extremamente ofendido, limpando a poeira inexistente de seu blazer ao se levantar.

 

—O que ele queria saber? —Questionei, aceitando sua mão para me erguer. 

 

Ele não me olhou. —Minhas intenções nisso. Aparentemente até o livro sabe da minha reputação.

 

Eu estava morrendo de vontade de o importunar para saber as perguntas exatas, porém sabia que me falaria se estivesse pronto para compartilhar.

 

—Pra onde acha que ele foi? —Isabella perguntou, se sentando delicadamente em sua cama, seus pés balançando impacientemente.

 

—Carolinne. —Rhys apenas disse. Olhando para algo além de nós de um jeito estranho. —Rei Ragnor quer falar comigo, melhor eu ir.

 

Todos nós observamos enquanto ele saia pela porta. Me sentei na poltrona junto ao pé da cama de Bella, cruzando meus braços.

 

Uma coisa a menos na minha lista de coisas a fazer. Agora nos restava Carolinne conseguir achar algo que nos ajudasse no livro.

 

Estremeci com a sensação dele em minha mente, testando minhas palavras.

 

—Acho melhor descansarmos. —Isabella disse, seu olhar direcionado a mim.— Soph, pedi para prepararem o quarto do outro lado do corredor para você. 



Sorri para ela tentativamente. —Obrigado, Bella. 

 

Ela sorriu para mim, mas eu ainda podia ver a tensão em seus ombros retos.

 

Caspian me estendeu sua mão, claramente querendo me acompanhar. Eu o deixei, sua mão na minha mandando ondas de conforto por mim, me fazendo quase relaxar.

 

Ele parou ao lado do batente da porta, apenas alguns outros quartos de distância porta de Isabella. Eu me sentia melhor sabendo que ela estava ao alcance caso eu precisasse de algo.

 

—Preciso ir ver meu pai. Tenho certeza que ele quer me fazer perguntas sobre seu reino. Vai ficar bem sozinha? Precisa que eu chame uma das criadas para te ajudar?

 

Rolei os olhos. —Claro que não, não seja estúpido. Sou perfeitamente capaz de me arrumar sozinha, Cas.

 Seus olhos violáceos brilharam para mim.

—Ou eu mesmo posso te ajudar. Sua companhia seria bem melhor que a do meu pai, e eu sou ótimo em ajudar donzelas a se prepararem para cama. —Ele me deu seu sorriso brincalhão.



O empurrei, rindo de suas graças. Mas assim como Bella, o tom leve dele estava sendo usado para esconder a tensão que o dia havia lhe causado.



Mordi meu lábio em dúvida do que fazer. Dei um passo a frente, meus dedos alcançando seu rosto, tentando passar a sensação de tranquilidade que ele conseguia me passar.

 

—Nao deixe seu pai te atingir, Cas. Estarei aqui se precisar conversar, é só bater em minha porta. 

 

Ele se inclinou, seus olhos gratos. Me deu um beijo na bochecha antes de partir.

 

Entrei no quarto, me sentindo apreensiva. Mas ao contrário do que pensei, assim que deitei a cabeça no travesseiro depois de me aprontar adormeci quase que instantaneamente graças a poção que Carolinne havia me preparado para trazer.

 

**



Os céus continuavam carregados no outro dia, as nuvens parecendo mais pesadas ainda. Eu havia convencido Bella e Rhys a me acompanharem até a praia, e agora estávamos indo buscar Caspian no quarto dele, que por algum motivo ficavam na ala mais distante do palácio.

 

Me lembrei dele me contando sobre seus pesadelos, e entendi o motivo. Aqui, onde ele não podia ficar sozinho, devia ser mais difícil ainda para ele esconder o efeito que eles causavam nele.

 

Isabella jogou seu cabelo por cima de seu ombro, dando uma olhada perturbadora para um vampiro moreno que passou ao nosso lado. Rhys, um pouco atras de nós, fez um barulho parecido com um ronco com o olhar de pavor que o couro havia dado antes de se apressar para o outro lado do corredor.

 

Eu e Bella havíamos passado a manhã juntas, fazendo as pazes depois da nossa discussão de ontem. Mas eu não a culpava, sabia que ela apenas queria o melhor. Para mim e para seu irmão.

 

—Sabe, esse tipo de roupa te faz parecer mais velha — ela notou, analisando o vestido dourado que eu estava usando.

 

De seda, seu tecido era colado em meu corpo, deslizando pelas minhas curvas de uma forma que mesmo sem decote podia ser considerada reveladora.



Sorri para ela. — Uma coisa boa sobre ter descoberto ser uma vampira é que não vou precisar me preocupar com rugas. Apesar que aposto que Carolinne deve ter algum…

 

Minha frase foi cortada pela visão daquela vampira, Lizandra, saindo de uma porta no corredor.



Ela ainda tinha as mesmas roupas de ontem, e quando passou por mim seu sorriso era venenoso.

 

—Muito Bom dia, Alteza. Caspian está terminando de se arrumar.



(Caspian)

 

Terminando de abotoar minha camisa, não tive nem tempo de abrir a porta quando, após uma curta batida, Isabella invadiu meu quarto. Suas botas de salto alto fizeram uma série de tec tec tecs enquanto ela marchava até mim.

Levantei uma sobrancelha para ela, não gostando de ter meu ambiente invadido.

 

—Você é idiota ou apenas estúpido?—Exigiu saber, suas mãos em sua cintura de uma maneira que eu conhecia muito bem.

 

A contornei, pegando o blazer em minha cama atrás dela. —Bom dia para você também, Bella. Sophia não estava vindo junto com você?



Minha irmã me encarou, me lembrando uma cobra pronta para atacar, seus olhos semicerrados fixados em mim. Ela era boa em encarar, conseguia fazer isso até a outra pessoa ficar tão desconfortável que sua única opção era dar-lhe o que ela queria.

 Mas eu tinha pratica, e agora era quase imune a isso.

—Achei que Lizandra era uma fase da sua adolescência. —Ela praticamente cuspiu, seus olhos pratas cheios de julgamento. —Sophia a viu saindo daqui de dentro, foi com Rhys para ele a treinar, devem estar indo para a praia a este ponto.

 

Pisquei confuso. —Ela veio… ela praticamente se jogou em mim, mas não significa que eu aceitei os avanços. Sophia se chateou por algo assim?



A boca de Isabella era uma linha fina de desapontamento. —Deve saber como é, irmãozinho. Eu lembro como você a olhava quando James e ela estavam juntos. E que motivos ela tem para saber que não aceitou? Você flerta com todo mundo.

 

Sem pensar, passei uma mão pelo meu cabelo, o bagunçando. Era verdade, sempre flertava com todos. Mas Sophia devia saber, depois do Calanmai, que eu não faria isso mais.

 

—Não aconteceu nada. Ela veio me entregar um relatório, a pedido do nosso pai. Você mais do que ninguém deve saber o quanto ela me irrita 

 

Minha irmã se sentou na minha cama, suas longas pernas se cruzando. Ela suspirou.

 

—Depois do Calanmai achei que vocês finalmente se resolveriam. Cas, você não espera que ela não sinta nem um pouco de ciúmes, não é? Nosso querido pai claramente armou isso para ver o quão seguros vocês são um com outro. —Balançou seu pé, se jogando na cama.— Viu o jeito que ele a olhou ontem, como…

 

—Como se ela fosse uma nova peça adicionada ao jogo dele, pronta para ser usada. Eu vi. — Andei até ela, preocupado. — Não acha que ele vai tentar algo, não é? Ele quer Munin há muitos séculos, agora que está quase em suas mãos...

 

Sua expressão se tornou feroz. Isabella, assim como eu, era extremamente protetiva com aqueles que ela se importava.

 

—Tera que passar por cima de todos nós para chegar até ela e Munin, — ela disse, sua voz sombria — e ele não é tão poderoso assim. 



Novamente me senti grato pelo meu círculo, minha família, aceitar Sophia assim. Rhys, Azriel e Bella, todos estavam dispostos a lutar por Sophia assim como eu, o que só me deixava mais certo sobre apoiar ela desde o começo.

 

Entendi minha mão para minha irmã, a convidando a me seguir 

 

—Vamos, tenho que apaziguar o dragão 


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Notas finais do capítulo

Eu juro que vou melhor esse tempo entres postagens kkkkk



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