The Ascent escrita por Thaina Fernandes


Capítulo 33
Capítulo 32


Notas iniciais do capítulo

Eu disse que ia postar rápido desse vez, né?

Olha o tamanho desse bebê, é pra me redimir depois de tanto tempo sem dar sinal de vida.



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(Sophia)

 

Me agachei na frente do ser nojento que tinha suas presas expostas para mim. Eu sacudi lentamente a garrafa de sangue fresco em sua frente, ainda quente. Tomei um longo gole, seus olhos depravados me observando atentamente.

 

—Como sabiam onde eu estava?

 

Ele sibilou para mim, saliva escorrendo de sua boca. Fiz uma careta de nojo. As correntes de ferro encantado tilintavam enquanto ele tentava se soltar, se debatendo na cadeira soldada no chão.

 

Eu podia sentir o olhar de Azriel, Rhys e James em mim, prontos para interceder no menor sinal de perigo.

 

Nada de Caspian ainda. Ele não estava no café da manhã, e quando notou que meus olhos estavam procurando seu irmão, Isabella sorriu em forma de desculpa. Ele tinha pendências para tratar hoje, ela havia me dito.

 

Como se eu não soubesse que ele estava me evitando.

 

Evitando ou não, o colar em meu peito vibrava como sempre, me mostrando que ao menos ele não havia retirado o colar dele.

 

—Irá pagar por isso, sua escória de vampiro. Noah irá te pegar, e quando terminar de te usar irá nos deixar banquetear em você. Aposto que seu sangue ainda é tão saboroso quando antes da sua ascensão-

 

Rhys o calou, sua adaga se fincando no ombro do Dracul. O sangue dele escorreu, negro por sua camisa maltrapilha. Torci o nariz com o cheiro.

 

Estávamos tentando interrogá-lo a horas, mas tudo que saiam da boca dele eram palavras histéricas sobre Noah. E como ele iria me matar.

 

Suspirando, sacudi a cabeça para Rhys. Não valeria a pena matá-lo agora.

 

—Quem sabe mais alguns dias sem sangue o fará abrir o bico. — Rhys disse, pegando a garrafa da minha mão e a sacudindo debaixo do nariz dele. — Ao menos veremos em quando tempo um de vocês morre sem sangue.

 

A criatura soltou o que sem dúvidas eram palavrões em romeno.

 

Saindo do calabouço, me escorei na parede gelada de pedra. Havia dormido mal a noite toda, e estava começando a sentir os efeitos.

 

—Ameaças são melhores do que nada. — Rhys tentou me consolar. — Dê lhe mais alguns dias, se ele ainda não falar nada trataremos dele.

 

Assenti, olhando para James. —Tudo certo para sua viagem?

 

Ele sacudiu a cabeça positivamente, seus olhos pratas firmes. — Partirei esta tarde.

 

Rhys nos observou atentamente demais para o meu gosto.

 

—Vá se aprontar, não precisaremos de você aqui por enquanto. — Azriel se intrometeu, uma de suas mãos indo até meu ombro. Meu primo, que nem havia me visto desolada, também não tinha muita simpatia por meu antigo guardião. — Você tem uma reunião com o conselho em uma hora, Soph.

 

Fui em direção as escadas. Duvidava que alguém do conselho quisesse me ver fedendo a Dracul. James seguiu pelo outro lado, depois de dar uma olhada em Rhys, que entrou de volta na cela para tentar extrair algo do Dracul

 

O sangue que havia bebido me fez bem, estava um pouco mais desperta do que quando havia descido aqui pela primeira vez, mesmo sendo engarrafado, Eu, afinal de contas, ainda não me sentia bem bebendo de um dos "voluntários". Azriel me acompanhava ao meu lado, me olhando de esguelha. Como um cão de guarda.

 

—O que, Az? — finalmente me irritei. —Caspian te contou da nossa briga?

 

Ele pelo menos teve o bom senso de parecer envergonhado. —Não precisou. O humor dele falou por si próprio. Quase arrancou minha cabeça em nossa treinamento diário hoje. Não quero me intrometer….



Bufei uma risada para o meu primo. —Você adora se intrometer. Apenas faça sua pergunta.

 

—Não é uma pergunta. Sei que Isabella provavelmente já lhe disse isso, mas Caspian mudou desde que te conheceu. Está mais leve. Não deixe que uma briguinha boba afete a amizade dos dois.

 

Suspirei. —Seu príncipe, Az, é um cabeça quente que nem ao menos deixou eu me explicar. Mandei várias mensagens em seu celular, ele não me respondeu. Não irei ficar correndo atrás dele, não foi só culpa minha.

 

O loiro claramente estava segurando a língua para não falar algo. Não me incomodei em tentar saber o que era.

 

Não quando uma Isabella vinha em nossa direção, Carolinne unida a ela pelos braços entrelaçados. Estreitei os olhos para as duas, se separadas já eram um ímã para problemas, não queria nem saber o que haviam aprontado hoje.

 

—Ai está ela. Tive o pressentimento que precisaria de nossa ajuda hoje. — A morena sorriu em minha direção, entrelaçando meu braço com o seu livre. Ela olhou para Az, seu nariz delicado se contorcendo.— Vá checar suas tropas, Az. Caspian está indo em direção a eles e sabe-se lá o que fará se provocado.

 

Azriel bateu continência daquele seu jeito brincalhão, seguindo em direção as montanhas onde suas tropas estavam.

 

Seguimos até o final do corredor, minha porta logo ficando visível.

 

Tentei não pensar que eu era a razão de Caspian estar bravo. Eu havia o machucado, não tinha problemas nenhum em confessar isso. Mas ele também jogou o que eu mais temia em minha própria cara.

 

Nenhum briga que tive com qualquer um me fez me sentir assim, como se tivesse uma pedra alojada no fundo do meu estômago. Eu queria me desculpar com ele, explicar.

 

Mas parte de mim ainda estava brava. Como ele ousava achar que eu iria cair na lábia de James novamente. Eu havia aprendido minha lição. Não entendia o motivo dele ter reagido tão fortemente.

 

Carolinne estava falando sobre uma nova fofoca do castelo, sua risada junto a de Bella ecoando pelos corredores. A loira se jogou em minha cama, se esticando como se fosse dona do lugar. Isabella tomou a poltrona, se sentando delicadamente, novamente me lembrando um gato. Ela me olhava atentamente, seus olhos prateados me estudando enquanto eu pegava meu celular para checar se Caspian havia se dignado a responder.

 

Nada.

 

Trincando os dentes, escrevi novamente. " Age assim quando qualquer um de seus amigos o desagrada?Se essa é sua punição por uma.discussão,  Az deve ficar sem ouvir de você por meses sem fim."



—Sabe, Soph. — Isabella disse enquanto eu comecei a pentear meu cabelo assim que sai do banho, me arrumando. Lizbete estava de folga hoje, indo para seu vilarejo ajudar sua familia. —Meu irmão tem o pavio curto. Vocês dois têm isso em comum.

 

Virei em direção a ela, lhe dando uma olhada feia. —Com licença? Isso é um esteriótipo de ruivas, fique sabendo que isso não se aplica a mim. Eu sou calma e tranquila, como o oceano.

 

Carolinne gargalhou da minha cama. —Passou um ano odiando Jordan quando ele ficou com aquela garota na festa.

 

Joguei a escova na direção dela. Infelizmente ela desviou.

 

—Foi bem na minha cama, eu tenho direitos Carolinne! E isso não vem ao caso. Caspian provavelmente irá me ignorar por um mês.

 

Isabella fez um barulho de discordância. Ela se levantou, seu longo cabelo esvoaçando com o vento enquanto ela abria as janelas que davam para a minha varanda, seu braço indicando algo que estava acontecendo lá fora. —Dúvido. Não com o Calanmai sendo depois de amanhã e com todos nós viajando até nossa Corte para vocês assinarem a Aliança.

 

Larguei a roupa que tinha acabado de separar, indo olhar o que ela estava vendo.

 

Nas colinas ao redor do castelo, onde ainda não tinham árvores e sim campos de grama, pessoas estavam construindo fogueiras enormes, as madeiras prontas para serem queimadas na celebração.

 

E é claro que eu me esqueceria disso. A celebração que marcava a chegada do clima quente, e da fartura das colheitas era a única coisa antes do casamento. Eu sabia que Caspian, por sua vez, não devia ter esquecido disso. Foi ele afinal quem havia sugerido adiantar a cerimônia, para me ajudar.

 

Sempre para me ajudar.

 

Me impedi de fazer uma careta. Dias antes do casamento, ele me pegando saindo do meu quarto com James, provavelmente  a pessoa que ele menos gostava no mundo…

 

Eu devia mesmo desculpas para ele. Não importava que ele havia sido igualmente cruel comigo, eu o havia provocado. Logo ele, não a única, mas definitivamente a pessoa que mais me ajudou em meus momentos difíceis.

 

Engoli o nó em minha garganta, voltando para o closet e colocando minhas roupas. Vesti a calça preta de montaria, enfiando a camisa de mangas bufantes branca dentro de seu cós alto, a blusa detalhada com renda  era romântica o suficiente para não acharem que estava com uma roupa casual. Depois do ataque, eu percebi que vestidos não eram tão práticos. A não ser que tivesse algo oficial, não iria vestir um. Eu havia aprendido que nunca se sabe quando uma luta surgirá.

 

—Eu me esqueci. — disse, me jogando na cama ao lado de minha melhor amiga. — O casamento será depois, eu devia estar planejando algo?

 

Isabella veio até mim, um sorriso delicado em seu rosto. —Deixe comigo. O casamento acontecerá depois que encontrarmos meu pai, nessa condição de guerra não vejo o porquê ter uma cerimônia grande. Será algo pessoal.

 

Assenti, mordendo meu lábio. Eu não havia pensado no casamento em algum tempo. Era fácil me esquecer, achar que Caspian era do meu amigo, não que ele havia concordado com o casamento a mandato de seu pai.

 

Mais uma coisa para me preocupar.

 

Carolinne olhou seu celular, se despedindo de nós logo em seguida com uma desculpa esfarrapada. Mesmo estando na cara que ela ia se encontrar com Klaus, não tirei sarro da cara dela. Ela devia aproveitar esse tempo com ele.

 

Agora, finalmente sozinha com Isabella, ela pode me virar para ela enquanto terminava de colocar as  minhas jóias. Eu sabia que ela queria me perguntar algo desde o momento que botou os olhos em mim no corredor.

 

—Como está? — Ela colocou as duas mãos em meus ombros, seus olhos pratas inquisidores. —Sei que não deve ter sido fácil ver James depois de tudo. Meu irmão agindo como um idiota não deve ter ajudado.

 

Me senti grata por ela. Mesmo comigo tendo sido horrível com seu irmão, ela ainda estava preocupada.

 

—Foi… iluminador, para falar a verdade. — vendo suas sobrancelhas levantadas, continuei rapidamente. —Não me entenda errado, olhar para ele me faz sentir dor, raiva. Tudo. Mas eu estou… estou melhor. Acho que consegui fazer paz com tudo que aconteceu. E sentir essa coisas é melhor do que não sentir nada.

 

Ela apertou suas mãos nas minhas, parecendo compreender. —Fico feliz. Caspian tem estado estressado ultimamente. Nosso pai… bem, acho que deve saber como ele é. Com a sua visita a  ele, Cas está em seu limite. Ele é muito protetor com aqueles com quem se importa. Depois de tudo que aconteceu comigo, ele não deixava ninguém chegar perto de mim, nem mesmo Az e Rhys no começo. Não sei o que ele lhe disse, mas não leve tão a sério.

 

—Eu disse coisas piores. —Admiti, envergonhada. —Só espero que ele me perdoe.

 

—É de Caspian que estamos falando. Não acho que ele consegue ficar bravo com você por muito tempo.

 

Depois de me despedir dela, andei até a reunião, o castelo mais barulhento que o normal com todos os nobres se escondendo aqui e também com novos convidados chegando para as celebrações.

 

Eu estava tão cansada. Precisava tirar uma longa soneca. Abrindo a porta pesada do Conselho, meus olhos encontraram os violáceos imediatamente.

 

Caspian estava sentado em seu lugar de sempre. Ele parecia…

 

Ele parecia cansado. Sua barba estava pedindo para ser feita, e as olheiras debaixo de seus olhos me diziam que ele precisava descansar tanto quanto eu.

 

Desviou seus olhos de mim, voltando para as folhas em sua frente.  Respirei profundamente, indo me sentar ao seu lado.

 

A reunião toda foi estranha. Eu respondi sobre o ataque pela milésima vez, recontando tudo novamente. Nicholas parecia não estar acreditando que eu havia conseguido a aliança. E muito menos do que meu poder foi capaz.

 

— O que devemos focar, —Caspian incluiu depois que terminei, seu olhar focado em Nicholas, —É o fato de Noah saber onde ela estaria. Ninguém além do conselho sabia onde Sophia foi, a viagem foi de último momento.

 

Nicholas o encarou, praticamente tremendo com raiva. —Esta acusando alguém aqui de traição, Príncipe Caspian?

 

Ele riu baixo, ameaçadoramente. —Não, mas estou avisando que se algo mais acontecer com ela, eu mesmo verei para que o culpado seja punido. E eu, ao contrato da nossa amada Princesa, não tenho um bom coração como todos sabem.

 

Nicholas o encarou por alguns momentos, seus olhos semicerrados em um desafio silencioso.

 

— Vamos terminar a reunião de hoje, todos temos muito a fazer antes das celebrações.

 

Me levantei, saindo da sala para que todos pudessem ir embora.

 

Cas estava atrás de mim, me seguindo. Hesitante, o olhei. Sua mandíbula estava cerrada, e eu sabia que ele estava desconfortável. 

 

—Cas. — O chamei baixo, quando estávamos fora do alcance de todo mundo. —Podemos conversar?

 

A luz dos candelabros refletiram em seu colar de rubi, o fazendo brilhar por um segundo entre a gola meio aberta de sua camisa preta bordada com fios pratas. Caspian. Como sempre, estava mais arrumado do que todos. Me peguei deslumbrada novamente por como ele era irritantemente bonito, seu rosto anguloso parecendo mais marcante ainda pelas sombras em volta dele.

 

Seus olhos violáceos se desviaram rapidamente de mim. —Preciso ir ver as tropas. Uma outra hora.

 

Frustrada, fui para o acampamento dos lobos. Jordan não me questionou quando entrei em sua tenda, me jogando nas almofadas no chão.

 

Contei a ele tudo que estava acontecendo, enquanto ele comia, seu apetite de lobo o fazendo ter fome constantemente. Contei sobre James ter ido em meu quarto, sobre a briga com Caspian e sobre meus medos de finalmente me casar.

 

Ele mastigava um pão enquanto eu despejava tudo nele, um dos meus amigos mais antigos. Parecia tolo agora para mim, que eu achava que estava apaixonada por ela quando ainda era humana.

 

—E agora ele está me ignorando. O que diabos eu devo fazer? Não sou a única culpada.

 

Ele gargalhou, me olhando como se eu fosse idiota. —Sophia, seu noivo está com ciúmes.

 

Pestanejei. Ciúmes?

 

—Não somos desse jeito. Não temos envolvimento romântico.— Eu reclamei, o chutando ainda deitada. Grande ajuda ele era.

 

Ele deu de ombros. —Nem ao menos pensou na possibilidade de poder ter algo romântico entre vocês? Não agora, mas vocês irão se casar, afinal de contas. Não seria a primeira vez a acontecer isso em um casamento arranjado. E eu já vi os dois flertando com meus próprios olhos.

 

Rolei, encarando minhas mãos.

 

Não podia dizer que nunca havia pensado. Mas seria irreal. Eu era sortuda de Caspian gostar de mim como pessoa, um fato que eu podia ter estragado ontem a noite. E claro, nos entendemos muito bem, eu sentia que podia confiar nele com tudo. E eu sabia que ele achava o mesmo, ele havia me contado tantas coisas, coisas que eu sabia que nem mesmo suas irmãs tinham ciência.

 

E ele era, bem… a pessoa mais atraente que eu já vi em minha vida toda. Eu não era idiota o suficiente para negar esse fato.  E sim, de vez em quando, quando ele me olhava fixamente, eu me pegava pensando em ambas as vezes em que havíamos nos beijado. Mesmo com meu laço de sangue com James impedindo as sensações, a descarga de poder entre nós foi enorme. Não havia como negar que havia atração.

 

Mas seria pedir muito. Eu não sabia o que ele havia largado para poder fazer essa aliança comigo. Não sabia se ele tinha alguém que teve que deixar ou não, ele nunca falava do assunto. Da última vez que eu havia perguntado sobre se ele tinha uma Sodalis, sua resposta foi não, mas…

 

Eu senti algo errado no jeito que ele respondeu. Como se estivesse escondendo algo. Não que fosse direito meu perguntar, já que ele nunca bisbilhotava a minha vida, minhas decisões.

 

E além do mais, eu não achava que podia, que tinha o direito de tentar me apaixonar por mais ninguém. Das últimas duas vezes que tentei, havia dado errado. A primeira resultou na morte dos meus tios, e a última em James traindo minha confiança. Talvez eu não servisse para isso. Eu podia estar bem em ter conversas sobre a guerra com James, mas não significava que ainda não doía pensar no que havia acontecido conosco.

 

—Não sei. — Disse por fim, mas Jordan sabia no que eu estava pensando.

 

Ele havia crescido comigo, afinal de contas. Sabia ler minhas expressões, as indicações de que eu não estava revelando tudo.

 

—Sophia, não conheço Caspian muito bem. Sabe disso. Não posso te aconselhar sobre o que é melhor para sua vida amorosa, mas posso te dizer isso como uma pessoa que te conhece bem. — Ele colocou uma mão em.minha cabeça, me obrigando a olhar para ele. Me encarou com aqueles olhos dourados familiares. —Você merece a felicidade, não importa como. Já passou por muita coisa, e eu não a culpo por tentar achá-la com James. Você precisava do conforto de alguém. Mas agora consegue se confortar sozinha. Não fique se culpando pelo que estava fora do alcance de qualquer um. Não é porque não deu certo com James, que nunca mais dará.

 

Meus olhos se encheram de lágrimas. O abracei, me aconchegando no conforto familiar de Jordan. Eu precisava ouvir isso, eu sabia. Novamente me senti grata por todos ao meu redor, sempre me apoiando.

 

—Quando é que você ficou tão maduro, hein? — Resmunguei, me levantando, tirando a poeira da minha calça. — Tenho que ir para o jantar, há mais emissários de reinos vizinhos vindo para as celebrações.

 

Ele me deu um adeus distraído, seu olhar em seu celular sem dúvidas jogando algo. Jordan havia conseguido me fazer sentir melhor em pouco tempo.

 

Rhys estava me esperando do lado de fora do acampamento, sorrindo para mim. Levantei uma sobrancelha para ele, não pausando para ele me acompanhar.

 

—Parece que todo canto que me viro, ou você ou Az estão me esperando. Eu contratei os dois como guardiões e não fui avisada?

 

Ele fez um gesto para irmos andando. Estava escurecendo, e eu sabia que o Jantar começaria em pouco tempo. Não que estivesse muito animada para isso.

 

—Desde o último ataque, achamos que seria melhor algum de nós te acompanhar. É apenas precaução, não me olhe desse jeito.

 

Bufei. — Achei que depois da última vez eu já havia provado que sei me defender. Isabella não precisa de você junto com ela? Ou Caspian?

 

Rhysand fez uma cara estranha com a menção de seu príncipe.

 

—Caspian está…. ocupado. E Isabella estava se aprontando, me expulsou de seu quarto.

 

Huh, me questionei por um segundo o que o mestre espião queria dizer com aquilo. Não perguntei mais, apenas andando em silêncio ao lado dele. Rhys era uma figura calma, sempre me fazia sentir confortável.

 

O caminho até o palácio estava iluminado por lanternas de papel, de todas as cores.  Parei, encarando maravilhada a decoração sendo colocada para o Calanmai. Quase pude jurar que Rhys sorriu para uma com uma careta assustada desenhada nela.

 

—Bonito. — Sussurrei. Sacudi a cabeça, me lembrando da conversa com Jordan. Me virei para ele. —Rhys, você sabe os segredos de todos, não é?

 

Ele pareceu alarmado. —Pode-se dizer que sim.

 

Mordi meu lábio, deliberando se devia fazer a pergunta que queria fazer. — Eu… Caspian não me fala sobre sua vida amorosa. E bem, todos sabemos como a minha correu até agora. Com o casamento chegando, eu só queria uma confirmação.

 

Ele ficou quieto por alguns momentos, parecendo dividido. —Princesa, devo lembrá-la que meu juramento é com Caspian. Não irei revelar nada que ele não queira revelado. Se for algo que ele deveria te contar...

 

Quase sorri com a lealdade dele. —Eu perguntaria a ele, mas não está falando comigo. Apenas quero saber se ele deixou alguém importante para ele em Andolovina. Com o casamento chegando, eu não quero causar dor a ninguém.

 

Seu olhar se suavizou. —Não, Caspian não deixou ninguém para trás. Todos com quem ele se importa estão aqui, para falar a verdade, salvo pela irmã dele Chiara.

 

Levantei minhas sobrancelhas, surpresa. — Eu esperaria que tivesse deixado. Caspian é um ótimo partido, imaginaria que tivesse alguém o aguardando.

 

O guerreiro deu de ombros.

 

—Ele sempre teve seus casos, não me entenda errado. Mas ninguém importante o suficiente para ele a apresentar a nós.

 

Fiz um barulho de compreensão, começando a andar novamente. Era um peso a menos em minhas costas. Rhys me deixou na porta da sala, mas não sem antes me parar com uma mão em meu ombro.

 

—Az e eu estamos te guardando por vontade própria. É parte de nós agora, Sophia. E cuidamos um dos outros. Só diga a palavra e eu posso dar um soco em Caspian para fazer ele parar de ser um tolo.

 

Ele se foi antes que pudesse responder que eu de fato, queria sim.

 

Respirei fundo. O que estava acontecendo hoje, que todos estavam quase me fazendo chorar? Coloquei minha máscara de realeza, me lembrando que haveriam pessoas que nunca me viram antes, de outros reinos do outro lado da porta.

 

O salão de jantar estava finamente decorado, a longa mesa posta com comida o suficiente para um exército. Mas ao contrário do que pensei, não estavam todos sentados. Haviam vampiros de pé, conversando, como se já estivessem em uma celebração.

 

Klaus acenou da mesa, sentado ao lado de Caroline. Fui em direção a eles, notando que do outro lado deles estava ninguém menos que Caspian, sorrindo com todo seu charme para uma vampira morena, que não podia ser muito mais velha que eu. Ela contava algo a ele, sua mão no antebraço dele o apertando. Lutei contra a vontade de arrancar aquela mão dali.

 

Ele podia fazer o que bem entendesse, lembrei a mim mesma. Não era da minha conta, e ele não me devia nada.

 

—Onde você estava? —Caroline perguntou, me puxando ao seu lado. — Todos estavam perguntando sobre você.

 

—Com Jordan. — A respondi, me servindo do vinho. — Estava checando os lobos, temos que-

 

Me distraí com a gargalhada da mulher ao lado de Cas. Estreitei meus olhos. Eu sabia que ele não era tão engraçado assim. Isabella deslizou ao meu lado, saída sabe-se lá de onde. Seu cabelo negro  estava ondulado, seu vestido prateado descendo até o chão, combinando com seus olhos que estavam estreitados para seu irmão mais novo.

 

—Caspian, quem é sua amiga? —Ela perguntou, seu tom afiado. Sem dúvidas ela também estava percebendo que os dois estavam perto demais.

 

Ele finalmente olhou para cima. —Elena, duquesa do reino Teridia. Sem dúvidas já se conhecem.

 

A vampira tinha olhos verdes, mais escuros que os meus. Sorriu para Isabella, exibindo duas fileiras de dentes perfeitos por trás dos lábios escarlates.

 

—Já nos vimos, Princesa Isabella. Mas faz algum tempo, então lhe perdoarei por não lembrar de mim.

 

Isabella lhe deu um sorriso falso. —Conheço tantas pessoas, costumo me lembrar apenas das que fizeram alguma diferença.

 

Mordi meu lábio para evitar rir. A morena me olhou então, seus olhos me varrendo de cima baixo. A pele morena dela estava quase brilhando, exposta por um vestido justo preto. Jogou seu cabelo marrom cacheado para trás. Me senti desarrumada, mas mesmo assim não quebrei o olhar.

 

Não era uma competição, mas eu sabia como eu era. Eu havia notado as cabeças se virando no momento que entrei.

 

—Vossa alteza. — ela disse, me dando um sorriso pegajoso. — É um prazer conhecer a pessoa que finalmente conseguiu amarrar nosso Caspian. Como vai?

 

Lhe dei uma olhada que já havia dado para várias pessoas antes, a fazendo paralisar. Meu poder, eu sabia, estava praticamente vazando de mim, eu o deixei tocar sua pele, a lembrando de onde estava. A vi engolir em.seco.

 

—O prazer é meu. Espero que esteja achando sua chegada em Munin aconchegante. — respondi, me virando para Carolinne em um óbvio não sinal de descaso com ela. Senti uma sensação em minha mente, como se alguém estivesse deslizando um dedo por ela. Olhei Caspian, que me encarava com aqueles olhos violáceos. Ele estava pedindo permissão para usar seu poder em mim, da mesma forma que usava as vezes quando precisava me comunicar algo no conselho.

 

Mas ele havia me treinado para isso também, e eu sabia que minha barreira mental era forte. Me senti irritada. Agora ele queria conversar, quando estava com uma vampira praticamente se esfregando nele? Mandei outra barreira, como se fosse uma porta se fechando na cara dele. Praticamente virei minha taça de vinho depois disso, o ignorando.

 

Ele me olhou feio, suas narinas se inflando em um sinal de irritação.

 

Ótimo.

 

Klaus, que os deuses o abençoe,  sem saber de todo drama que estava acontecendo encheu meu copo de bebida novamente. Bebi metade em um longo gole, olhando ao redor.

 

Caroline me deu um cutucão por debaixo da mesa, sem dúvidas me mandando me controlar.

 

Ela deu um sorriso para seu namorado como resposta ao olhar confuso dele, me puxando junto de si para um canto da sala onde tinham sobremesas em uma mesa. 

 

—Está com ciúmes?— Sussurrou. Dei-lhe uma olhada feia, logo em seguida checando quem havia escutado ela me perguntar isso. —Eu não sou idiota, tenho um feitiço agora. Só nós podemos ouvir o que falamos.

 

Cruzei meus braços. —Não estou com ciúmes. Caspian é livre para fazer o que quiser.

 

Ela me levantou uma sobrancelha bem feita, olhando ele na mesa. Segui seu olhar. Ele estava rindo de algo que Elena havia dito, sua covinha aparecendo, um sorriso largo em seu rosto fazendo seus olhos se formarem em crescentes. Se inclinou para ela, sussurrando algo em seu ouvido, claramente flertando com ela.

 

Senti uma pontada no fundo do meu estômago. Me convenci que era apenas por beber sem ter comido nada antes.

 

Caspian escolheu esse instante para me olhar também. Nossos olhos se travaram um no outro por um momento, mesmo de longe eu conseguia ver que ele estava bravo, ainda. E eu não o culpava. Era assim que ele se sentia quando via James e eu juntos? Desviei meu olhar.

 

Mesmo eu não tendo ido com a cara daquela vampira, eu não tinha direito nenhum de dizer a ele o que fazer. Não quando a minha companhia ultimamente era menos que agradável.

 

Engoli em seco, sorrindo para minha amiga. —Acho melhor eu ir dormir, Linne. Tenho que descansar.

 

Antes que pudesse falar qualquer coisa, eu saí da sala, dando meu adeus aos nobres que eu conhecia no caminho.

 

Me permiti sentir saudade da minha vida humana por um momento antes de dormir, agora de pijama e sozinha em minha cama.Abracei um travesseiro, me sentindo um tanto quanto vazia. O sono me consumiu rapidamente, tamanha a minha exaustão.

 

***

 

No outro dia, ainda nada de Caspian para tentarmos conversar. Toda vez que eu o via, estava com aquela vampira ao seu lado, com ela sorrindo para ele.

 

E sempre me fazia me sentir mal. Seria mais fácil para ele, ficar com alguém sem preocupações desse jeito. Eu não tinha direito de ficar com ciúmes, Caspian podia flertar comigo mas no fim do dia ele ainda era tecnicamente livre. E eu sabia que quando o fazia, era só para me distrair dos meus próprios problemas, apenas uma distração.

 

Me foquei em meu treinamento pelos restante do dia, Az e Rhys estavam sempre trocando turnos em me treinar. Meu primo tinha que checar algo em seu batalhão, me garantindo que iria me ver mais tarde antes de me deixar.

 

Hoje era véspera do Calanmai, e o responsável por me treinar era Rhys. Eu o havia pego observando Isabella conversando com um nobre, perto demais dele que eu sabia que ela tinha algo em mente para os dois fazerem mais tarde. Rhys parecia acostumado, a olhando com um olhar que eu não pude definir, quase como anseio.

 

Eu já havia notado o jeito que ele a olhava antes, como alguém que havia perdido algo sem.nem tê-lo. Mas Rhys, eu sabia, nunca faria nada sobre isso. Isabella flertava descaradamente com ele, mas ele nunca agiria sobre isso, se era por respeito a Cas - mesmo que soubesse que Caspian não teria objeção alguma - por respeito a tudo que ela passou ou se pela sua posição na corte eu não sabia.

 

— Foco, princesa.— Ele me avisou, pele bronzeada sem um pingo de suor enquanto eu estava praticamente encharcada.

 

Tentei o acertar, mas ele foi mais rápido. A espada de madeira se chocou contra a minha perna, me derrubando.

 

Fiz uma cara de dor, me jogando no chão e segurando o local atingido. Ele soltou um palavrão em italiano, vindo em minha direção.

 

Rápida como uma cobra, passei meu pé pelos seus tornozelos, trazendo-o para baixo também, a adaga de treinamento escondida em minha mão indo em direção a sua jugular. Ele me olhou como se eu o tivesse traído.

 

Ele sorriu para mim então, orgulhoso. —Boa jogada, Sophia. Vamos descansar por 15 minutos, e aí continuaremos seu treinamento mão a mão.

 

Assenti, me direcionando até o sofá velho. Estávamos na parte antiga inutilizada do castelo, no mesmo lugar que Caspian havia me treinado fisicamente pela primeira vez. Com todos nós vindo aqui o tempo todo, não estava tão empoeirado. O piso de madeira escura até brilhava. assim como as cortinas de veludo balançavam com a brisa passando pelas grandes janelas espalhadas pelo quarto.

 

—Isabelle vai se juntar a nós para irmos a Andolovina? —Perguntei, dando um longo gole na água que ele me ofereceu. —Ela parecia ocupada hoje.

 

Ele me deu uma olhada de quem sabia exatamente o que eu estava fazendo. —Sim, iremos no dia após o Calanmai. Rei Ragnor já está preparando os documentos.

 

Suspirei. —Tem sorte de não estar se casando Rhys. O processo é massacrante.

 

Ele riu um pouco amargamente. —Muita sorte.

 

Franzi meu cenho, me virando para ele. Cogitei o que eu estava prestes a dizer por um momento, se eu iria o ofender ou não. Decidi seguir em frente de qualquer jeito.

 

—Não tem nenhum interesse romântico em sua vida? Sei que não é só disso que vive um homem, mas você é um ótimo partido, Rhys. Eu acharia que as mulheres ficariam doidas para te amarrar.

 

Agora ele gargalhou, me olhando com afeição. —Eu tenho minhas distrações, princesa. Mas são poucas as pessoas que querem se unir a um bastardo de Illiria.

 

Eu sabia que Andolovina era uma corte cruel, mas não sabia que tinha casta social desse jeito. Olhei para meu novo amigo, me estiquei e apertei seu braço.

 

—A perda é dessas pessoas. Tenho certeza que você é fácil de amar Rhys, quando encontrar alguém essa pessoa será muito sortuda.

 

Ele abriu a boca para me dizer algo, mas foi interrompido pelas portas duplas se abrindo dramaticamente.

 

Caspian entrou na sala, Az a seu encalço. Seu rosto anguloso estava sério, seus olhos se estreitando para nós dois por um segundo. Az fez uma careta de desconforto atrás de seu príncipe, seu olhar me implorando por um motivo para ele se livrar de meu noivo. O ignorei.

 

—Rhys, precisamos de você. —Cas disse, seu tom firme indicando que era uma ordem.

 

O mestre-espião me deu um sorriso calmo, me entregando a espada, fazendo uma reverencia em seguida.

 

—Obrigada, princesa. Continue treinando, precisa melhorar seu gancho.

 

Caspian nem ao menos me olhou novamente antes de sair. Eu queria tacar alguma coisa nele, parecia que estávamos na primeira série,  com ele me ignorando desse jeito.

 

Descontei minhas frustrações no saco de pancadas. Queria tirar uma soneca, mas sabia que a qualquer momento James me daria respostas sobre se o plano de minha mãe havia dado certo ou não. Ou bem, a primeira fase.

 

Mais tarde, voltando ao meu quarto para me medirem uma última vez para o vestido que usaria amanhã, e também no meu casamento, não pude deixar de sentir falta de Caspian.

 

Se não tivéssemos discutido, eu o teria chamado para ficar perto de mim por um tempo logo após ter chegado do território de Lord Crisan, iria recontar os eventos da noite do ataque para ele, pediria conselhos. Conversaria sobre como ele estava se sentindo, com o casamento tão perto. Buscaria seu conforto.

 

Levantei meus braços, deixando o alfaiate tirar a medida do meu busto. Ele era um senhor com um rosto gentil, que havia ficado feliz que eu havia conseguido recuperar o peso que perdi em minha depressão pós James.

 

Suprimi a vontade de me bater, pensando em como fui fraca. Eu sabia que precisava passar pelo processo, mas por semanas me deixei definhar por conta dele. E Caspian achava que eu era capaz de passar por isso novamente.

 

Eu, de uma vez por todas, podia dizer que não sentia mais nada por James, não ativamente. Havia sim um sentimento sobre ele, eu definitivamente não gostaria de vê-lo morrendo, por exemplo. Era como Jordan havia me dito, James era o que eu precisava quando cheguei aqui e não sabia quem eu era e nem quem eu tinha que ser.

 

Mas eu não era mais essas pessoa, e não tinha lugar para James deste modo em minha vida novamente.



Se apenas Caspian me ouvisse.

 

Me deixaram em paz logo, e eu pude descansar, lendo os relatórios do dia. Não houve mais nenhum ataque, o que somente me preocupava. Noah devia estar tramando algo.

 

Suspirando, tentei pensar em como botaria tudo que precisava fazer em ação.

 

Como se invocado, meu celular apitou com uma mensagem. Infelizmente não era de Caspian, as sim de James. Um simples "tudo certo" brilhou para mim da tela.

 

Quase sorri, satisfeita. Já era alguma coisa.


****

O ar estava diferente. Mais vivo. Com Isabella e Carolinne em meu encalço, tivemos o que qualquer um chamaria de um dia de princesa. Fomos paparicadas, hidratadas, e arrumadas até o entardecer.

 

Lizbete, já arrumada com um vestido simples de um amarelo claro, havia cacheado meu cabelo perfeitamente, prendendo o topo com grampos do que só poderiam ser diamantes. Meu cabelo cascateava um palmo abaixo de minha cintura, escondendo o decote profundo em minhas costas, o revelando apenas quando eu andava.

 

Eu não ligava tanto para roupas, mas me peguei admirando novamente a peça.

 

Era de um tom de verde lindo, que dependendo da luz cintilava quase dourado, seu tecido leve descendo até o chão em um movimento suave, quase como se alguém o tivesse despejado em mim. Em lugar de mangas, tinha alças finas, descendo até o decote profundo que destacava o busto. Eu não ligava para as cicatrizes que apareciam em meu ombro e minha cintura. Eu estava deslumbrante.

 

O diadema no topo da minha cabeça apenas comprova o que todos podiam ver. Que eu era a Princesa, responsável em manter o reino seguro. Senti meus lábios pintados de escarlate se abrirem em um sorriso para Lizbete. A abracei com força.

 

—Obrigada, de verdade. Pode ir se divertir, minha amiga. Você merece.

 

Ela pareceu um pouco emocionada, me abraçando de volta e indo para o começo da festa.

 

Isabella surgiu atrás de mim, seu vestido justo vermelho - a cor de Andolovina - agarrando cada curva do seu corpo.

 

—Você está deslumbrante, minha querida. Não sabia que escondia esse corpo por trás dos seus vestidos esvoaçantes.

 

Carolinne veio do meu outro lado, sorrindo amplamente. Ele estava com seu cabelo preso em um coque romântico, seu vestido rosa a fazendo parecer quase angelical.

 

—É bom te ver sorrindo, Soph.

 

E eu sabia do que ela estava falando. Eu também me sentia bem de estar sorrindo novamente. de querer sorrir novamente.

 

—Eu sei. — Apertei sua mão. —Agora vamos, essa é minha última noite sem tantas preocupações. Amanhã teremos uma longa viagem a nossa frente. Mas hoje, vamos nos divertir.

 

Ela soltaram gargalhada, me seguindo até a parte de fora do castelo. onde Az estava nos esperando.

 

—Se arrumou por quatro horas, Bella, e está usando as mesmas roupas que usa sempre. — ele caçoou, sacudindo a cabeça. —Um pouco de variedade seria bom.

 

Ele estava com uma camisa preta, suas calças mais confortáveis que suas roupas de batalha. Seu cabelo loiro estava penteado e preso, para variar. Ele quase parecia apresentável o suficiente para ser um príncipe.

 

—Az, não tem mais ninguém para importunar? Onde está Rhys para podermos tirar sarro do fato que hoje foi a primeira vez que lavou esse ninho de rato em meses?

 

—Não só o ninho de ratos, provavelmente foi a primeira vez na semana que ele se banhou. —Veio a voz suave do mestre-espião, surgindo de trás do nosso grupo. Isabella sorriu para ele, jogando seu cabelo para trás e expondo o quão colado o vestido era.

 

Foi então que eu vi o mesmo olhar que havia visto em Rhys em meu primo. Eu sabia melhor do que interferir nisso, então me mantive calada.

 

Carolinne se desculpou, Klaus a estava esperando perto de uma das fogueiras.

 

Fugindo da minha nova descoberta, fui até um grupo de vampiros que estavam me chamando, cidadãos da vila ao redor do castelo.

 

Quando sai da conversa, com uma pulseira de flores feita por uma das crianças em meu pulso. olhei em volta. Nenhum sinal de Caspian. Me perguntei se ele estava dançando em outra parte da festa com Elena.



Não tive tempo para pensar nisso. Um dos nobres aliados me chamou para dançar, a banda tocava uma música animada. E eu sabia que eu precisava ser vista dançando pelo menos algumas vezes, não iria deixar ninguém saber que Caspian e eu estávamos brigados.

 

Peguei uma taça de vinho, a bebida parecendo extra doce hoje,  indo me juntar aos meus amigos novamente. Agora já estava escuro, as fogueiras e lanternas iluminavam tudo perfeitamente. Me peguei admirando novamente minha terra, meu reino.

 

Isabella me olhou de canto de olho ao meu lado, enquanto eu observava Linne dançando com Klaus, os dois parecendo contentes em estar nos braços um do outro.

 

—Você e meu irmão ainda estão de birrinha? — ela perguntou suavemente, num tom de quem não queria nada. —É por isso que está fazendo essa carranca para todos que ousam pensar em te pedir para dançar?

 

Beberiquei a taça de vinho em minha mão. Isabella era perceptiva demais.

 

—Não estou fazendo carranca para ninguém. — eu tirei uma mecha de cabelo solta da frente do meu rosto. —E eu dancei com Lord Henrick e com  Azriel, já tive diversão o suficiente.

 

Azriel bufou ao meu outro lado, parando de falar com uma moça bonita para se intrometer. Apontou um dedo acusatório para mim, que eu logo tirei da minha frente com um tapa em sua mão.

 

—Você pisou no meu pê e ficou reclamando sobre Caspian ser o maior bufão do planeta o tempo inteiro. Dificilmente chamaria isso de divertido, Sophia.

 

Eu o olhei irritada. —Da próxima vez o bufão será você, Az. Não se intrometa ou eu colarei chiclete no seu cabelo e vamos só ver se será tão popular assim quando estiver careca.

 

Ele gargalhou, e a garota ao lado dele me olhou, sorrindo um tanto tímida. Ela era uma coisinha doce, loira. Parecia a imagem da inocência. Ao contrario da princesa ao meu lado, que estava estreitando os olhos para ela.

 

—Tenho certeza que ele seria, Vossa Alteza.

 

Az a puxou para o meio do circulo novamente, onde todos ainda dançavam. Sem dúvidas a tirando da mira de Isabella.

 

—Vamos sair de perto dela antes que ela te torne mal humorada que nem ela, meu doce.

 

Fiz um gesto obsceno para o loiro, ganhando outra gargalhada. Isabella me olhou, sua cabeça virada como um gato observando o canário.

 

—Você estava dizendo…?

 

Cruzei meus braços, irritada. Encarei a fogueira queimando no centro do campo, a maior de todas.

 

—Eu pedi desculpas para ele, e ele não me respondeu. Se ele quer continuar assim a culpa é dele, não minha. — Eu puxei Rhys, que estava parado um pouco atrás, observando tudo. —Dance com ela antes que ela desgaste minha beleza, Rhys. Sabemos como isso é possível com a obstinação dela.

 

Ele pareceu meio alarmado com a mudança súbita mas a puxou para o centro, o vestido vermelho dela esvoaçando com o vento noturno. Ela havia ficado tão distraída que nem ao menos protestou a minha mudança de assunto.

 

Os observei se unirem, rodando com a música céltica. Meus amigos pareciam felizes em viver o momento, felizes em aproveitar a paz restante.

 

Me lembrando que o ataque seria em menos de um mês, cruzei os braços, me abraçando. Tudo poderia dar tão errado, em tão pouco tempo.

 

Sai de perto da fogueira principal, não querendo ser abordada por mais ninguém que queria dançar comigo. Caminhei até a última fogueira, indo até o coreto que havia próximo a ela. A música ainda estava alta aqui, mas sem ninguém já que todos estavam perto de onde as bebidas e comidas estavam. Olhei para o céu límpido, observando a lua quase cheia.

 

—Está esperando se transformar em um lobo, encarando a lua desse jeito?

 

Eu pulei com o som da voz dele, me enviando arrepios involuntários. Ele surgiu ao meu lado, vestido em preto como de costume. Sua camisa igual a que usou em seelie estava com os primeiros botões abertos, seu cabelo solto sendo bagunçado pelo vento. Seus olhos violáceos varreram meu vestido, passando pelo decote profundo, a transparência em partes específicas. Cruzei os braços novamente, desviando o olhar até a fogueira.

 

—Decidiu parar de me ignorar? — eu respondi friamente.

 

—Eu estou aqui agora, não estou? — ele disse, daquele falso jeito arrogante dele. — Eu não iria querer que me chamasse de covarde odioso novamente por não aparecer.

 

Eu engoli em seco, a culpa de todas as coisas que eu havia dito pesando. Mas ele também havia falado coisas que me machucaram.

 

Mas eu sabia que assim como eu, ele não falava sério. Era apenas o estresse do momento. A tensão entre nós estourando de vez.

 

—Não vi aquela Elena, se é ela que você está procurando. Até mais.

 

— Está com ciúmes, Sophia?

 

O ignorei, e antes que eu pudesse dar um passo para voltar ao castelo ou ir em direção ao nosso grupo, sua mão segurou meu pulso, me virando para ele. Os choques tão fortes percorrendo meu braço.

 

—Eu não queria te punir não falando com você, Sophia. —ele disse, sem soltar meu pulso. Encarei a grama. —Eu precisava de um tempo para espairecer, apenas. Sinto muito.



—A culpa foi minha. — eu disse quietamente, envergonha. — Eu não acho que você seja um covarde odioso, Cas. O que eu falei para você era mais sobre mim do que sobre você.

 

Permanecemos em silêncio. Ele se encostou na grade do coreto, me observando atentamente. Apenas seu olhar em mim causou arrepios subirem pelos meus braços.

 

—Um pensamento por um pensamento? — Ofereceu, sorrindo um pouco. Me debrucei no muro. Assenti com a cabeça. —Eu estou pensando que você estava certa, eu escondo mesmo o que passei por medo de me verem diferente por isso. Estou pensando que eu poderia beijar quem fez esse vestido, também.

 

Eu sacudi a cabeça para ele, quase sorrindo. Encarei as pessoas dançando na distância.

 

—Estou pensando que eu sei de todas essas coisas sobre você e não te vejo diferente. Apenas mais claramente. Estou pensando que você estava certo em me dizer tudo aquilo sobre eu me apoiar na minha primeira paixão como se fosse ser a última. — respirei profundamente. — Estou pensando que James era o que eu precisava quando vim para cá, mas parou de ser o que eu preciso agora. Eu não preciso de mais ninguém para me apoiar, finalmente. E que eu devo isso em parte a você.

 

Eu o olhei então, seu olhar intenso focado em mim.

 

—Eu estou pensando sobre como a última vez que dancei com você foi no baile, e que gostaria de ter essa honra novamente.

 

Uma musica apenas no violino havia começado agora, mais lenta. Me virei para ele, assentindo com a cabeça. Suas mãos vieram para minha cintura, seus dedos acariciando minhas costas nuas pelo decote do vestido. Deixei minhas mãos descansarem em seus ombros. Ele começou a me guiar lentamente, sem ligar para passos. Sem pensar, me vi encostando minha cabeça em seu peito.

 

—Eu estou pensando, —continuou, sua voz rouca. — que você é a mulher mais linda aqui hoje. E que eu não quis dizer nada daquilo. Você é forte, Sophia. Mais esperta que o diabo e duas vezes mais linda. Deve ser por isso que não consigo me manter longe de você desde o primeiro dia.

 

Levantei minha cabeça para olha-lo melhor. Seu rosto estava tão aberto. Tão perto. Eu também, percebi, não conseguia me manter longe dele. Não acho que eu tenha conseguido alguma vez, eu sempre acabava o procurando.  Sem pensar, meus dedos começaram a acariciar sua nuca.

 

—Eu estou pensando que você é insuportável, metido, e cabeça dura. E a melhor pessoa que eu conheço, com todos seus defeitos. Estou pensando que senti sua falta, Cas.

 

—É claro que sentiu, a inteligência de Az não se compara a minha.

 

Eu sorri largamente para ele e seu ego. Eu havia sentido falta até disso. Ao ver meu sorriso, ele sugou uma respiração. Percebi então que era a primeira vez desde que tudo com James havia acontecido que eu sorria verdadeiramente para Caspian. Seus dedos calejados tracejaram meus lábios.

 

—Eu estou pensando no dia que saimos, quando você me pediu para beijá-la. Estou pensando que eu não consigo tirar isso da minha memória desde então. Nem aquele dia na cabine. E é por isso que eu demorei tanto para falar com você, eu olho para você esperando que me peça novamente.

Fechei os olhos, meus dedos parando seu caminho por seu cabelo. Eu o olhei nos olhos, sentindo minhas bochechas corarem

 

—Vai me fazer pedir novamente? — ele me deu um sorriso vampiresco. Tracejei a linha de seu maxilar, subindo até sua bochecha. Toca-lo parecia tão certo, tão natural. Sempre foi assim. —Você pode me beijar, Cas.

 

Ele abaixou sua cabeça para a minha então, seu cheiro me envolvendo daquele novo jeito hipnotizante. Seus lábios tocaram levemente os meus, tão mais calmos e firmes do que os daquele dia em Bucareste. Ofeguei com a sensação de eletricidade que me percorreu.

 

Me coloquei nas pontas dos pés, passando meus dois braços ao redor de seu pescoço, o puxando mais para perto. E enquanto ele me beijou demoradamente, senti algo em meu peito se colar. Eu sabia que Jordan estava certo então. Não era apenas porque eu havia amado uma pessoa e não havia dado certo que eu não iria achar a que daria.

 

E me perguntei o que me impedia de tentar com esse homem a minha frente, que nunca demonstrou nada menos que apoio a mim.

 

Caspian, que me ajudou a encontrar meu poder. Que ajudou a ver a verdade. A me descobrir.

 

Caspian, que ficou ao meu lado enquanto eu estava quebrada e vazia, que fez de tudo para me ajudar a me sentir como eu novamente. Caspian, que havia confiado em mim o suficiente para me contar sobre suas feridas, para me mostrar seu poder.

 

Meu amigo em todas as horas. Que sempre me entendeu, quem eu sempre entendi.

 

Meu igual, percebi, lembrando as palavras da rainha Seelie.

 

Ele podia ser a pessoa certa, se tentássemos Já que que eu tinha que me casar com alguém, eu estava feliz que fosse ele.

 

E quando ele se afastou de mim e me olhou novamente nos olhos eu soube que era. Nossos olhos travaram um no outro e eu senti o fôlego ser tirado de mim enquanto algo  que eu não entendia caia no lugar. Nossos colares brilharam levemente.

 

—Cas. — eu disse, me sentindo trêmula — Cas.

 

Ele levantou uma mão novamente para meu rosto, o acariciando. Não disse nada antes de me beijar novamente, seus olhos mais intensos do que eu já havia visto antes.

 

Eu me deixei admitir para mim o que negava antes, a minha atração por Caspian. Desde o primeiro dia, desde o primeiro beijo, eu me sentia ser levada até ele por algum motivo. De um jeito que nunca havia sido antes.

 

E talvez estivesse na hora de parar de ter medo disso. Parar de me achar errada em sentir essas coisas apenas um mês depois de ter meu coração partido por James.

 

Talvez estivesse na hora de ao menos tentar.

 

É claro, se ele quisesse.

 

 

Quebrei o beijo, meus braços ainda em volta de seu pescoço. Tomei uma decisão. —Preciso que me faça um favor, e que não questione.

 

Ele nem ao menos hesitou.

 

—O que quiser.

 

Apenas levantou sua sobrancelhas enquanto eu dizia o que precisávamos fazer, assentindo logo depois, de acordo. Sorri para ele, o beijando novamente, me sentindo finalmente feliz depois do que parecia ser um longo período.

 

 


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Notas finais do capítulo

Esse capítulo me deu dor de cabeça de tantas emoções que jogou na minha cara.


Quem está pronto para um novo arco?



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