As Histórias De Thalia escrita por GiGihh


Capítulo 98
O significado da profecia


Notas iniciais do capítulo

OI !!!
sabe, vou deixar vocês lerem em paz, até lá embaixo
='D



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–Você me tirou do gelo ou foi só um sonho meu? –

Antes deitados lado a lado, agora Thalia se virava com agilidade e rapidez, se colocando acima de Luke. Nenhum dos dois percebeu o que realmente ocorreu: o camafeu prateado soltou-se do pescoço da menina e se prendeu no pescoço do homem.

–Não desista... Não desista assim.

Para todos os deuses ali presentes aquilo era a visão mais bela e dolorosa a qual eles se lembravam de ver. A Guerra de Tróia a qual aquela batalha havia sido comparada, o amor de Paris e Helena não chegava aos pés desse.

Hermes estava terrivelmente abalado; acreditava que Thalia havia desistido de seu filho mesmo ainda nutrindo sentimentos fortes pelo rapaz. Afrodite estava abalada; os cristais em formato de lágrimas que lhe escapavam o rosto se alojavam sobre a armadura enferrujada de seu marido estático e surpreso com o abraço de Afrodite. Hera, a deusa que mais tinha motivos para odiar a menina quase morta no chão, estava admirada; seu coração se partia vendo o amor daqueles dois, aquela paixão inacabável que os consumia... E que faltava a ela e ao marido. Apolo puxou sua gêmea para um abraço ele sabia que aquela cena doía nela; Ártemis sempre se apegava as suas meninas, em sua grande maioria, se não todas, as moças que se juntavam a ela iam por um coração partido; a deusa da lua nunca confessaria em voz alta, mas admirava aquela raridade que era o amor deles. Era épico. Único. E doía na deusa saber que sua tenente sofria por um amor tremendamente forte, mas ao qual o mundo teimava em separar.

Zeus olhava os dois com profundo pesar. Nas poucas vezes em que tivera a companhia da filha acabavam discutindo fortemente, cada um vendo a situação por um ângulo diferente. Para o deus, foi difícil ouvir algumas das palavras da filha, ainda mais triste era vê-la chorar. Zeus nunca havia sido pai de uma garota e desconhecia todos os sentimentos que o inundavam quando pensava em sua pequena Thalia. Com clareza ele sabia que não desejava para ela um futuro como esse. Doía mais nele do que nos outros ali presentes ver os dois apaixonados e destruídos pelo mundo.

Todos sabiam que teriam de separá-los, mas parecia um crime terrível. Não se sabe ao certo quanto tempo ficaram ali apenas olhando-os com admiração. Apolo foi o primeiro a tomar uma atitude: agachado ao lado dos dois conferia o pulso no pescoço dos dois. Luke estava morto e Thalia...

–Zeus – chamou o deus do sol com os olhos faiscando – Ela está viva.

THALIA

Minha audição registrava diversos sons e vozes, mas todos abafados e distorcidos. Tentei respirar fundo sem conseguir. Meus pulmões ardiam pela falta de oxigênio e minha caixa torácica não admitia qualquer movimento. Entreabri os lábios tentando respirar pela boca quando senti uma mão em minha testa. Era quente e fez grande parte das minhas dores sumir. Os olhos continuavam tremendamente pesados.

–Lia. Consegue me ouvir?

–Consigo – murmurei. A voz melodiosa de Apolo era baixa e quase pesarosa. Foi só então que lembrei o que havia acontecido: Luke deveria estar morto. Senti lágrimas escaparem dos meus olhos fechados e mancharem minhas bochechas. Um soluço me escapou provocando outra onda de dor, dessa vez mais fraca.

–Hey. Thalia, abra os olhos. Vamos, abra os olhos.

–Não consigo.

–Consegue. – sua mão me acariciou os cabelos e senti uma onda forte de energia me passar pelo corpo. Fui aos poucos, mas era complicado. Parecia que meus cílios eram feitos de chumbo e que eu não tinha qualquer condição de enxergar novamente.

–Isso. Sabia que conseguiria – ele sorria, um sorriso tristonho – Como se sente?

–Morta.

–Não está, mas chegou bem perto.

–Eu sei.

–Sabe? Aquela estátua esmagou a maioria dos seus ossos. Uma costela perfurou superficialmente seu pulmão. Deu sorte de não tê-lo perfurado.

–Só isso? – meus olhos pesavam; fechei-os por meio segundo e falei coma voz fraca. Sabia que não era só aquilo, se bem que aquilo não era pouca coisa. Apolo apoiou minhas costas e me deu uma dose generosa de néctar.

–Não. Você deve ter forçado o tornozelo, não? Ele foi fraturado. Você pode andar, mas vai mancar um pouquinho. Daqui a algumas horas ele estará novinho.

Joguei um braço sobre os olhos que voltaram a derramar lágrimas. Mancar? Ele achava mesmo que eu estava preocupada com o fato de meu corpo quase ter cedido? Eu não sabia o que Luke faria. Com toda a certeza deveria estar no Elísio e... Outro soluço me sacudiu o peito.

–Tem mais uma coisa. – quase pulei de susto; Apolo provavelmente não notou – Você sabe que abdicou a Caçada, não sabe?

–Sei. – disse olhando em seus olhos meio azuis meio dourados. Era muito fácil se perder ali, naqueles olhos, naquela voz...

–Você deveria sentir dor.

–Quem disse que eu não sinto?

–Digo, uma dor forte e aguda no peito. Um vazio que demoraria em ser preenchido. Você com toda a certeza sente isso, mas não é em relação a Caçada.

–Ótimo. E o que eu faço agora? – parei antes que ele respondesse – E Annabeth? – eu sabia que ela estava em péssimas condições.

–Está bem.

Não sei quando ele foi embora ou quando fiquei sozinha. Sabia que todos os deuses estavam se reunindo na sala dos tronos e que os filhos em condições de estarem presentes estavam se dirigindo para lá. Eu não queria ficar deitada me fazendo de vítima mesmo sendo uma. Levantei e manquei até encontrar Charles, o meu amigo filho de Apolo. Ele sorriu para mim e passou meu braço sobre seu ombro, me ajudando a andar.

O grande salão estava uma bagunça: transbordando de semideuses e ciclopes. Alguns deuses circulavam por entre os filhos e outros já se encontravam prontos para começar a reunião. Os três grandes irmãos estavam lado a lado discutindo ou conversando, não sei dizer. Nico e Percy estavam cada um em um canto. Sorri para os dois, não um sorriso triste, mas um sorriso que os convidava para chegar mais perto. Eles correram até mim enquanto eu me livrava do apoio de Charles e seguia andando até me perder no abraço dos dois primos. Um abraço forte e protetor de todos os lados, de mim para os dois, de Nico para Percy e eu, de Percy para Nico e eu...

–Nem acredito que sobrevivemos – Nico nos apertou mais. Ele tinha poucas feridas visíveis e em sua maioria eram arranhões.

–Eu não acredito que você veio – retruquei sorrindo – Você espantando os monstros foi incrível! Parecia coisa de filme.

Rimos.

–Foi um convite de Percy. – olhei para ele erguendo a sobrancelha e ele assentiu um tanto corado. Olhando para o lado vi Deméter e algumas de suas filhas.

–Falando em convite, e a Gabriela?

Nico ficou escarlate. E eu ri; gargalhei, aliás.

–Quem? – Percy olhava de mim para o filho de Hades; os olhos verdes brilhando empolgados com o rumo da conversa.

–É uma das filhas de Deméter. Ela é adorável, Percy, e... Nico você está roxo! – nós gargalhamos. Mas ele decidiu revidar, afinal ele podia:

–Está rindo do que, Jackson? Você está apaixonado e nem mesmo percebeu ainda!

Eu simplesmente não sabia de quem ria mais. Era muito fofo rir daqueles dois rostos vermelhos. Nossos pais, os adoráveis três grandes, nos observavam com interesse e surpresa, aparentemente seus filhos não se davam bem como os irmãos não se davam.

–E como você está, Lia?

–Meu tornozelo está formigando e dormente, mas acho que é um efeito do néctar. Mas sua pergunta atingia outros níveis, não? – Ele assentiu. – Não sei, Percy. Realmente não sei como me sinto. Quando eu souber vou te falar.

Os dois meninos me levaram para um canto, me tirando do meio do salão e de todo aquele tumulto. Estava sentada no chão com as costas apoiadas na parede quando Annabeth chegou e me abraçou. Parecia bem melhor do que antes.

–Ah Lia – ela suspirou – Como eu sou burra! Nunca notei vocês dois... Mas eu já tinha visto os olhares, as mãos dadas e...

–Você era uma criança, Annie. E não é burra.

–E depois? Como eu nunca notei esse ressentimento entre vocês? Eu percebia toda a sua raiva e sua aversão ao nome dele e eu podia, não sei, eu podia... – ele começou a chorar em meu ombro – Eu sinto muito, muito mesmo.

Não respondi. Não sabia o que responder, então a abracei o mais apertado que pude. Ela soluçava, mas já havia controlado as lágrimas. Reparei nos olhares que eu recebia de todos os deuses e no sumiço de Hermes. As Parcas não estavam longe também, amedrontando a maioria dos presentes.

E então Hermes apareceu e os deuses começaram a distribuir elogios e presentes. Normalmente eu teria sido a primeira dos semideuses a ser chamada já que eu era tipo a filha do chefe e a tenente de Ártemis... Não era mais a última. Eu evitava olhar para tudo e todos, mesmo mantendo os olhos abertos. Só de fato prestei atenção ao pedido de Perseu. Foi impossível não sorrir para ele. Ele simplesmente não precisava do dom de Atena para fazer o certo. Comecei a me perguntar se ainda tinha aquele dom...

–THALIA – meu nome foi chamado, mesmo eu esperando que não fosse. Precisei receber ajuda para me colocar de frente para meu pai. Ele me olhava profundamente do mesmo modo que eu a ele e por um tempo eu pensei que nenhum de nós falaria nada – Acho que gostará de saber que as Caçadoras que a Caçada perdeu serão repostas e que as almas de suas companheiras descansam nos Campos Elíseos. – assenti incapaz de falar; era reconfortante saber: eu sabia de poucas mortes a que mais me doeu foi a de Elohine – Como você abdicou a Caçada, Ártemis lhe deu o direito de escolher a nova tenente.

Sorri porque já sabia quem deveria ficar na liderança. Ela sabia bem mais do às outras, já passara por bem mais do que as outras e tinha uma grande experiência por andar sempre ao meu lado. Olhei de um amontoado de prata que eram as caçadoras e depois para a deusa que me sorria como se também soubesse da resposta e a aprovasse.

–Baheera será uma tenente tão boa quanto eu.

–Eu concordo – Ártemis sorria e as meninas faziam fila para abraçarem uma Baheera emocionada... Onde estava Sophia...?

–Como presente por não desistir de lutar e como um consolo a sua perda – Zeus falava com calma e me analisava a cada palavra dita – darei a ti, minha filha, seu camafeu, o colar que você perdeu.

Arregalei os olhos. Como... Onde ele achara...? Meu pai apontou para trás de mim e seu sussurro me chegou pela brisa que brincou com meus cabelos: “Vire-se”. Mas eu não virei. De algum modo eu sabia o que estava atrás de mim, nas portas abertas do grande salão. As exclamações de surpresa abafaram meu ofego. Fechei os olhos sentindo apenas o cheiro que impregnava meu ar. “Vire-se”. Abri os olhos e virei devagar.

Impossível!

–Eu me perdi. Perdi você. E cometi erros que não deveriam ser perdoados. – meus olhos estavam úmidos e eu quase não consegui respirar vendo-o dar passos pequenos e cautelosos até mim; eu sabia que cada semideus ali prendia o fôlego e prestava atenção em cada palavra por ele pronunciada tentando entender o que aquilo significava – Arrisquei minha vida e o mundo inteiro por você – muitos conteram um “oh!” – Não que isso justifique alguma coisa. Os titãs pegaram minha maior fraqueza e a usaram contra mim, mas esqueceram que minha maior fraqueza era meu único motivo para lutar contra eles; era minha maior força – uma lágrima caiu deslizando por minha bochecha com lentidão; eu não conseguia piscar, ou fazer o menor dos movimentos; estava simplesmente parada vendo-o se aproximar mais. A mais ou menos um metro de distância de mim, enxerguei a corrente prateada, meu camafeu reluzindo em seu peito – Você se lembra daquele tempo em que eu tinha estrelas nos olhos e um jeito de herói? – ele esboçou um meio sorriso; exatamente essas palavras que eu lhe dissera enquanto ele estava dormindo em meu colo, na cabana de uma senhora idosa no meio do gelo – Preciso aprender a ser aquele garoto de novo, porque ele sabia aonde ir, sabia que o lugar dele era ao seu lado... – pode parecer ridículo, mas eu não via ou ouvia nada que não fosse ele. Sua mão tocou a minha tão de leve que eu poderia não tê-la sentido – Prometi segui-la, protegê-la, amá-la – ele estava terrivelmente perto; os olhos brilhando tanto quanto os meus – Não importa o que aconteça – sua mão foi para a minha cintura e delicadamente ele grudou meu corpo ao seu para dizer quase em meus lábios – Eu sempre irei te amar.

E Luke Castellan, o meu beija-flor saído dos mortos, me beijou. Passei meu braço ao redor de seu pescoço porque precisava desesperadamente de apoio. Suas mãos me amparavam o corpo e seus lábios deslizavam pelos meus com delicadeza e suavidade. Separei meus lábios dos dele, mas não o corpo: ainda abraçada a ele voltei meus olhos para o deus dos céus.

–Isso é obra sua? – minha voz quase não saiu.

–Sim e não. – ele olhou para os lados, para sua família olimpiana e sorriu para todos e para mim – Todos concordaram.

–Todos? – fui olhando de deus em deus: Hades assentiu, Hefesto e Ares também, Apolo sorria, Afrodite chorava, Atena esboçou um sorriso delicado, Ártemis tinha os olhos perolados brilhantes e que aprendi a desvendar suas emoções, ela concordara, talvez mais do que os outros, Hermes parecia tentar conter sua felicidade, Poseidon ergueu uma sobrancelha como se perguntasse “duvida de mim?” e Hera... – Você também? – a deusa assentiu incapaz de me olhar. Voltei a olhar nos olhos do meu pai, para aquele infinito azul. Ele me sorria, eu sabia que mais duas lágrimas haviam caído e que não conseguiria responder com palavras. Senti Luke afastar meus cabelos e devolver meu colar.

[...]

Grande parte dos meio-sangues havia saído para ver o caos da cidade ou do próprio acampamento. Os deuses pediram que alguns específicos ficassem: os filhos dos três grandes e meu beija-flor. Luke cumprimentou os outros que ficaram, mas em instante algum me soltou.

Os deuses perguntaram a Percy, Nico e a mim sobre a profecia já cumprida. Revezamo-nos para explicá-la, mas concordávamos com tudo e isso sem precisarmos nos falar antes:

Um meio-sangue dos deuses antigos filho

Chegará aos dezesseis apesar de empecilhos

Embora fosse aniversário de Perseu e ele tivesse completado os 16 anos exatos que diziam na profecia, o número não se referia à idade de vida. Era a maturidade que um semideus era obrigado a atingir cedo demais. O modo como Nico crescera depois da morte da irmã, todo o conhecimento que Annabeth adquiriu quanto chegou ao Acampamento, o meu próprio desenvolvimento ao fugir de casa e ao entrar na Caçada. E o passar dos anos de Perseu, que se desenvolveu no tempo da profecia.

Num sono sem fim o mundo estará

E a alma do herói a lâmina maldita ceifará

O feitiço de Morfeu se fazia óbvio nessa parte, mas o ponto significativo era a lâmina maldita: não era necessariamente a faca. Era a própria promessa. A faca apenas a representava. Annabeth cobrar o que lhe era seu por direito atingiu a alma de Luke e não o corpo.

Uma escolha seus dias vai encerrar

O Olimpo preservar ou arrasar

Nunca se tratou de uma escolha só. Isso era uma lição que todos estávamos aprendendo. Nada é por acaso. Felipe me dissera uma vez que nenhum de nós estava imune a profecia e estava certo. As escolhas vinham de muito antes de nascermos e seguia por toda a nossa linha de vida. Dos exemplos mais recentes podemos citar a coragem de Nico em enfrentar o pai; foi uma escolha difícil para o menino e uma escolha para o deus subir pela guerra ou ficar de fora. Perseu havia escolhido confiar novamente como Annabeth; e seu pai que abandonara o próprio palácio. E a mim, que abandonara a Caçada.

Os deuses se surpreenderam com nossa explicação. Porque ao mesmo tempo em que a profecia era literal, naquele significado que vocês bem presumiram, ela não era. Era ampla e não atingia apenas um limitado número de semideuses. Deuses e mortais também podiam e estavam envolvidos.

Não demorou a Nico sumir nas sombras e Perseu correr de volta para o Acampamento – já que sua amiguinha ruiva partira para lá, mesmo correndo perigo – E sobrando apenas Luke, eu e os deuses, eles nos perguntaram se sabíamos um dos motivos de Luke estar vivo. Ele não respondeu, apenas me abraçou como se me perder fosse difícil.

Foi difícil colocar as palavras para fora, mas consegui. Contei para os deuses e para meu beija-flor o meu encontro com as três senhoras e contei sobre a linha que era unida no começo e no fim, mas que no meio era separada, aquela linha diferente de todas as outras, aquela linha única que me chamou a atenção quando caí; era fácil ver todos os mínimos fiozinhos que a compunham como uma só. Aquela linha era a linha da minha vida e da vida de Luke. Estávamos ligados desde o principio e de alguma forma ele não podia morrer se eu vivesse ou o contrário. Quando ele morreu no meio do salão eu também morri com ele embora meu coração ainda batesse. O que os deuses decidiram era bem simples: ou matavam a mim ou o traziam de volta. A parte da linha que estava separada era o período de tempo em que ficamos longe um do outro mantendo nossa raiva no lugar do amor.

Óbvio que o que mais queríamos era um tempo juntos, mas eles gostavam de nos complicar: os homens e mulheres se dividiram. Os deuses puxaram Luke para a direita enquanto conversavam no caminho e as deusas me puxavam pela esquerda. Lembro de olhar para trás até vê-lo sumir completamente. Ele pareceu fazer o mesmo.

Inconscientemente levei a mão ao lábio pensando no sabor dos lábios que eu jurava nunca poder sentir de novo. Meu corpo parecia aquecer-se depois de longos anos no gelo. Era bastante difícil respirar e eu podia sentir meu coração bater forte.

–Thalia, escute, pequena apaixonada – Deméter tentou fazer com que as palavras soassem duras, mas eu sorria quase com inocência. Ele voltara... Voltara por mim e para mim!

–Temos coisas a conversar, criança – a voz de Atena era profunda e suave. Ao mesmo tempo em que ela não expressava sentimento algum, ela expressava tudo – Lembra-se do presente que te dei?

–Lembro.

–Não era exatamente um presente, mas uma maldição.

–Sei disso – escolher era complicado.

–E sabe que eu nunca lhe dei nada além de palavras? – ela sorriu a minha muda indagação – São poucos aqueles que têm a alma e o coração puro para escolher o certo. Você fez as escolhas por si mesma com pequenas interferências...

–E mesmo assim fiz o certo.

–O que lhe dei foi à chave para encontrar sempre o certo. Escolha com...

–A cabeça, a alma e o coração.

Andávamos pelo Olimpo passando por paisagens de destruição, mas mesmo assim ainda era um lugar lindo.

–A Caçada sentirá sua falta, minha pequena – Ártemis sorria – Devo dizer que você não foi a única caçadora que nos deixou por desistência.

–Não? Mas quem...?

Sophia apareceu correndo, mas com a expressão chorosa. Ela pulou nos braços de Afrodite que afagava seus cabelinhos lisos.

–Por quê?

–Sinto que meu tempo na Caçada acabou. – ela falou e soluçou; pensei no que Apolo dissera sobre sentir dor, me senti culpada por não sentir aquela dor quando aquela pequena criança sentia – Quero crescer e ser como minhas irmãs e meus irmãos. Quero fazer o que minha mãe faz o que eu fiz indiretamente por poucos minutos.

Eu sabia o que ela queria dizer. Ela havia me ajudado a ver algumas verdades sobre meus sentimentos confusos. Ela só queria ser o que ela sempre fora: uma pequena e sonhadora filha de Afrodite.

–Vai para o acampamento comigo? – sorri para ela. E ela para mim.

–Sim!

Continuamos andando, mas em silencio, algumas deusas mais perto do que outras; tentei imaginar o que os deuses estariam dizendo a Luke e o que ele estaria dizendo a eles. Eu estava andando lado a lado com Hera quando decidi perguntar:

–Por que votou a meu favor? – as deuses prevendo possíveis discussões se afastaram alguns passos, mas se mantiveram alertas.

–Porque não votar, Thalia? Afrodite já lhe disse o quanto o caso de vocês é raro, é único. – ela respirou fundo – Acho que é fácil deduzir que eu queria que meu relacionamento com seu pai fosse metade do que o seu é. Não vou dizer que tenho qualquer outra admiração por você ou por ele, mas... – paramos sobre a grama cheia de toneladas de concreto. No meio um corredor e do outro lado seus cabelos cor de areia voavam; os deuses todos atrás dele como as deusas atrás de mim e eu só enxergava a ele – Seja feliz, Thalia Grace.


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Notas finais do capítulo

Esse final foi lindo até para minha imaginação... Mas não acabei com eles, hahahahaha
Té mais ;D