As Histórias De Thalia escrita por GiGihh


Capítulo 72
Uma nova terrível promessa


Notas iniciais do capítulo

Amores!!! Quanto tempo, não?
A partir deste cap, vamos começar a ver um lado mais difícil da infância da Thalia, com um pouco mais de detalhes. Quero muito ver como vocês vão reagir a minha visão do passado dela... Então até os coments:



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THALIA

Meu primeiro pensamento coerente foi sacar a faca, mas o demônio foi mais rápido: agarrou-me e me lançou a distância da árvore; senti a água fria do rio nos dedos e a terra úmida grudava em minhas roupas.

–Sabe, eu não sei o que Luke vê em você - ora um demônio, ora uma adolescente. De qualquer forma, uma psicótica. Meu coração parecia pulsar na garganta com uma intensidade assustadora.

–Acredite, eu também não sei - não era mentira. Nunca me considerei bonita e tenho certeza de estar longe dos padrões femininos. Nunca entendi por que aquele menino se apaixonou por mim... Se é que isso havia sido verdade... Eu nunca entendi o que era amor ou paixão; nunca tive um exemplo disso.

–Não acredito! - peguei uma flecha caída ao meu lado e a lancei na direção do monstro. A flecha virou cinzas pelo movimento repentino de seus cabelos (chamas). Levantei já com outra flecha em mãos; lancei-a e vi a sombra do demônio desviar. No segundo seguinte sua mão tentava agarrar meu pescoço, mas, a minha, segurava firmemente seu pulso. Nós duas forçávamos uma a outra a recuar ou ceder, mas não sediamos. Caímos nós duas no chão úmido e lamacento; levantei aturdida com uma faca em mãos. A empousa tinha suas unhas como arma, mas não era algo de pouca importância ou desconsiderável. Eu esquivava e ela ataca; ela esquivava e eu atacava... Não tinha completa consciência dos meus golpes, mas sabia que aquilo não era uma simples briga entre garotas ou mesmo uma luta entre semideusa e demônio. Havia muita coisa por trás de toda aquela nossa agressividade.

–Diziam que você era pior do que demônios em uma luta - ela disse em meio a um golpe baixo que me desequilibrou - Acho um completo exagero! É só uma garotinha medrosa! - Ainda de pé, senti suas unhas rasgarem a pele do meu antebraço, bem próximo ao pulso. Não deixei isso impune: arranquei-lhe a mão em um movimento rápido com a faca. Os arquejos da empousa eram tão incômodos e dolorosos que tive o impulso de tampar os ouvidos.

–Quem é você?O que quer de mim? - era óbvio que não havia me encontrado por acaso e que não queria apenas me ver morrer de forma "natural".

– Isso não importa! - o rosnado era animalesco e áspero; era o ódio saindo do fundo de sua garganta - Apenas saiba que a cada menina puritana que a Caçada abriga não terá descanso - o sorriso psicótico voltara; os olhos cintilavam em loucura e os cabelos viraram chamas altas incendiando as folhas da árvore mais próxima - A cada nova integrante, a cada antiga virgenzinha, a cada uma de vocês não haverá misericórdia. As torturas que você conhece não são nada. Farei com que conheçam o Tártaro sem ter de ir para lá... Acemira, Clara, Baheera, Sophia... - não pensei mais por mim; dominada pela fúria, encontrei minha lança e joguei-a no ar em direção ao demônio... A nuvem de fumaça veio acompanhada do riso da empousa... E da sua última fala – Eu prometo...

Inquieta, caí sentada na terra, ausente de espírito, eu procurava qualquer detalhe que indicasse que aquilo era um sonho besta e infantil de uma menina ingênua... Mas não era. Me arrastei até a margem e lavei o rosto tentando recobrar meu bom senso. Pedi a uma Naíde que descia pelo rio ajuda para apagar o fogo e mesmo quando tudo parecia calmo e sereno de novo, eu sabia que a noite ainda não havia acabado para mim.

[...]

–Me solta! Eu não quero... Por favor! Não!

Os gemidos eram altos e lamentosos. A voz era naturalmente baixa, mas o desespero na voz da menina era muito.

Estávamos perto de uma cidade, em um parque reflorestado. Ártemis estava inquieta com a voz feminina e não demorou em outro timbre se fazer ouvir.

–Cale-se! Menina imprestável... - pedi permissão com os olhos e minha irmã assentiu; lancei a faca na direção da voz grossa e masculina. Juntas, saímos de trás das folhas e nos tornamos visíveis para os dois: uma menina de origem japonesa de, aproximadamente, 13 anos estava sentada e encolhida no chão de terra apenas usando peças intimas. Suas roupas se encontravam rasgadas e espalhadas pelo local. Já o homem (também japonês) estava preso a árvore pela minha faca lançada. Estava surpreso... E raivoso.

–Estais bem, criança? - Ártemis se aproximou da menina cobrindo-a com um manto prateado. Quando estávamos apenas nós duas, a deusa deixava de ter sua forma de menina de 12 anos e se transformava em uma donzela de 16. Desse jeito era bem mais fácil para mim.

A garota olhou de mim para a deusa e da deusa para o homem... Ela não se mexeu.

Peguei outra faca e comecei a lançá-la para cima e a pegar. O olhar vidrado no homem que tentava soltar a camisa da faca que o prendia.

–Quem vocês pensam que são? - o rosnado saiu no mesmo instante que minha faca: seus dois braços estavam presos ao tronco, mas nenhuma gota de sangue foi derramada. O terror estampado naquele rosto era impagável de se assistir.

–Deveria transformar-te em um animal indigno de atenção! - a deusa se manifestou enquanto colocava a menina de pé.

–Não. - os três pares de olhos se voltaram chocados para mim - Deixe a menina se vingar, Ártemis. Vai ser divertido... - lancei mais diversas facas prendendo o homem completamente a árvore - Qual o seu nome?

–Kaye - uma lágrima escorreu por seu rosto.

–Ele é seu pai? - perguntei já tendo noção da resposta.

–Sim... - a resposta veio em forma de soluço.

–Venha aqui - ela se aproximou de mim e eu lhe entreguei o arco e uma flecha - Atire.

Indecisa, Kaye pegou a arma, mas seu corpo trêmulo fez o manto cair. O desejo que vi nos olhos daquele "pai" foi tão imundo quanto horrível.

–Sou sua única família, garota... - outra lágrima escapou.

–Tem a nós, querida. - a voz da deusa foi doce e calorosa no que a outra apenas foi fria. Ao seu lado orientei a mocinha com a arma.

–Puxe... - ela puxou a corda - Solte.

Kaye se juntou a Caçada naquele mesmo dia depois de chorar a morte do único pai que conheceu. Ela foi bem recebida pelas meninas e logo mostrou suas habilidades razoáveis no arco. Ártemis me elogiou pelos meus atos enquanto eu apenas sorria. Não conseguia deixar de pensar na voz da empousa ameaçando cada uma dessas meninas. A ameaça havia vindo de quase duas semanas atrás, mas ainda soava em meus ouvidos.

Três dias depois da chegada de Kaye fomos para a Europa ter certeza de que a guerra ainda não havia chegado por lá. Passamos por cidades lindas e em cada uma delas convenci meninas a se juntarem a nós. A cada dia o número de caçadoras crescia e a cada nova parada, treinávamos. Minha força e resistência haviam aumentado bastante. Minha irmã ainda treinava meus limites me expondo a alturas assustadoras para mim; eu superava meu medo um pouco mais a cada hora, mas isso não era o bastante. Me ocorria que meu medo fosse talvez um grande empecilho para a Caçada e uma grande vantagem para o exercito de Cronos.

Agora, estávamos na Rússia, na zona central, com florestas mistas de grandes carvalhos e bétulas. Havia bastante claridade mesmo durante a noite e, mesmo não nos incomodando tanto, o clima era bem mais frio. Era comum nos separamos para caminhar; assim sendo, estava sozinha perdida em pensamentos agradáveis e no cheiro frio no local. Subi no tronco grosso de um carvalho coberto por musgo verde e macio. Deitei ali mesmo aproveitando as condições favoráveis da árvore e adormeci.

A boneca de panos estava em minhas mãos pequenas, mas eu nem parecia notar. Trancada no quarto eu observava pela janela fechado um mundo cinzento e longe do meu toque. Observei o vidro com mais atenção e notei meu reflexo: uma menininha de nove anos de idade com olhos vazios de expressão, um corpo quase sem sentimentos. Os gritos da minha mãe e padrasto eram tão repetitivos que eu já fingia não escutar.

Aporta rangeu ao se abrir. Aquilo não era incomum. Sempre que Hugo não conseguia atenção da minha mãe vinha me atormentar. O quarto estava escuro então só consegui ver um vislumbre de seu corpo, mas à medida que se aproximava de mim e da janela eu via seus cabelos ruivos... E o brilho enlouquecido em seus olhos.

Com mais força do que o necessário, fechou as cortinas e me jogou deitada sobre a cama. O impacto com o colchão duro foi forte, mas não acabou ali. As mãos grandes e ásperas do meu padrasto me subiram pelas pernas com rapidez e violência e me arrancaram o short de tecido leve. Tentei recuar de algum modo e antes que mudasse dizer algo sua mão veio para a minha boca.

–Se fizer qualquer barulhinho de mato bem devagar. Vou te dar uma pequena amostra do inferno, princesa... - sua mão subiu por dentro da minha blusa e me beliscou o seio pequeno com força. Sua boca mordia meu pescoço como se eu fosse um pedaço de comida a um homem faminto. Mordi os lábios para não deixar escapar um gemido de dor. Eu o queria longe de mim! Fechei os olhos com força... E vislumbrei um raio.

–Vadia! - ela saiu de cima de mim tremendo e com os botões da camisa abertos - Vai se arrepender disso, aberração!

Ela saiu do quarto batendo a porta com violência. Meu corpo tremia em nojo e repugnância. Me sentia suja... Corri para o banheiro tropeçando na boneca no caminho...

–Thalia? O que está fazendo ai? - abri os olhos e encontrei Acemira no chão olhando para cima com curiosidade. Surpresa cai no chão tremendo pela lembrança imprópria e fui forçada a rir para disfarçar. Logo a indiazinha ria comigo.

–Nossa! O que aconteceu? Você está bem?

–Adormeci. Foi só isso - ela me estendeu a mão e me ergueu.

–Venha. Logo vai anoitecer e nem começamos a caçada ainda. Lady Ártemis vai nos levar em uma caçada especial. Só faltava você.

–O que estamos esperando? Vamos.

[...]

A deusa nos fez vestir roupas quentes e idênticas: calças e blusas prateadas e botas de caça. Eu me diferenciava pela jaqueta de couro e o arquinho cheio de "estrelas". Seguíamos para o norte, uma região cada vez mais fria com indivíduos mais frios. Elohine veio ao meu lado e Sophia do outro. As caçadoras pediam apenas com os olhos que perguntasse a deusa algo que todas queríamos saber.

–Ártemis. - a deusa voltou seus olhos para mim - O que estamos caçando?

–Criaturas frias; amantes do gelo exterior e interior. Devem tomar cuidado, minhas meninas. O gelo é uma das armas mais perigosas existentes desde sempre. E os amantes do frio também.

–Nós estamos prontas para isso? - Sophia se manifestou; podia ser pequena no tamanho e na idade, mas era tão madura quanto Annabeth fora nessa idade; pequena e muito veloz.

–Estão. Já enfrentaram os lobos antes, então estão preparadas para o que viemos encontrar. Não podemos permitir que esses monstros tomem o lado errado.

Agora minhas irmãs estavam mais confiantes, mas eu não. Querendo ou não admitir eu era uma amante do gelo e das inúmeras maneiras de se ferir com algo tão natural. Além disso, eu escutava a voz de Cronos e da empousa se fundindo em uma só em meus ouvidos "Vou fazê-las sofrer de diversas maneiras; por dentro e por fora...". Hugo não me incomodava havia anos e não era agora que eu deixaria que ele me atingisse. Olhei para os lados e notei os rostos de algumas meninas: diversas cores e formas formavam a caçada, mas a expressão dos olhos eram quase idênticas; a maioria perdida em lembranças tristes ou repulsivas de um passado longe da Caçada. Kaye enxugou uma lágrima. Estava pronta para dizer à deusa que não estávamos prontas psicologicamente para enfrentar seja lá o que for e começava a cogitar a idéia de contar sobre o encontro com o demônio...

Um monte de neve se moveu de forma bruta e repentina... E se ergueu. O brilho da lua o transpassou tornando-o brilhante como um prisma vivo e gigante. Eu poderia ter morrido contemplando tão magnífica criatura. Mas ele era uma monstruosidade! Feito de gelo e neve era tão perigoso quanto lindo. O gelo, o frio é capaz tanto de queimar quanto cortar... Mas era frágil como vidro.

Ele ergueu um porrete também de gelo e grunhiu. Atacando com o porrete em uma trajetória curva, nos abaixamos e evitamos ser atingidas, mas sentimos o vento frio nos cortar as poucas partes do corpo expostas ao frio. As meninas se espalharam se escondendo atrás das árvores; todas notamos que flechas seriam inúteis, pois apenas ricocheteariam na criatura.As facas não seriam de grande ajuda por serem lâminas curtas...

O porrete voltou a movimento. A arma derrubou diversos pinheiros e outras árvores, entre as quais eu e outras meninas estávamos escondidas. Escorregamos para a neve evitando sermos levadas com o gelo. A deusa saiu do seu esconderijo atraindo a atenção do gigante para que pudéssemos voltar a nos esconder, nisso notei o morro atrás do gigante onde dois "lobisomens" olhavam friamente para as meninas... E saltaram.

Baheera comandava um ataque ao primeiro lobo junto com Elohine. Sophia estava com Acemira e lutavam bravamente com o animal; os dois já deixavam escapar o sangue azul. Moombean veio para o meu lado esperando uma ordem; os olhos vermelhos faiscavam pedindo por uma ordem de ataque. Assenti e deixei que fosse ajudar as meninas. Levantei-me correndo seguindo para o alto do morro escorregadio. Ártemis ainda distraia a criatura de gelo. O pontinho ruivo corria de um lado para o outro em uma velocidade chocante. Tentei não pensar em como estava alto, na altura dos ombros do gigante.

Uma linda luz azul me cegou os olhos por alguns instantes. Uma ave tão bela que quase não a reconheci. Era uma Fênix azul ela irradiava frio assim como as outras criaturas, mas seus olhos eram calorosos e vivos. Inconsciente, eu sorria e a ave sorria com os olhos para mim...

... Uma flecha cortou o céu vindo para a Fênix...

–NÃO! - gritei mesmo sabendo que minha voz sumiria no vento. O próprio animal congelou a flecha e a partiu em pedaços. Outra fecha veio, mas eu disparei outra impedindo que chegasse a Criatura... A Fênix levantou vôo e foi para junto das caçadoras. Abrindo as asas um vento gelado empurrou os lobos para longe delas. Ao mesmo tempo, olhei para a figura da deusa ainda correndo. Minha lança apareceu em minhas mãos...

Eu tinha que controlar meu coração. Meu medo não podia me atrapalhar agora...

Saltei para o ombro escorregadio do gigante. Segurei-me em sua orelha e o ouvi gruir mais uma vez. As mãos se ergueram no ar tentando me afastar. Escorreguei, mas me segurei firme... "Não olhe para baixo. Não olhe para baixo." Voltei a ficar de pé e a segurar adequadamente a lança. Eu não fazia à menor idéia do que poderia acontecer com um raio e um pedaço de gelo, mas tinha que servir... Cravei a ponta da lança onde, em um ser humano, seria a veia jugular e empurrei a lança até onde o cabo se atrevia a chegar. O gigante parou de se mexer, travado no lugar. Nesse instante, raios percorreram nós dois... Caí no chão de neve sendo atingida por milhares de pedaços gigantes, medianos e pequenos de gelo que caíram no chão.

O frio me entorpecia o corpo de um modo que eu quase não senti um filete de sangue escorrer ou os músculos doloridos. O peso sobre mim era bastante incomodo, mas não era insuportável. Mãos me puxaram para longe dos destroços gelados enquanto patinhas cavavam a neve.

–Estou tão orgulhosa, minha tenente! - a voz de Ártemis veio de muito perto. Me sentei e vi o reflexo azulado da Fênix sumindo na noite.

–Temos alguma menina ferida? - olhei em volta procurando por qualquer sinal de um desastre.

–Gravemente, não. - a deusa me olhou de forma inquiridora - Tem algo que queira me contar, Thalia?

Um demônio me encontrou a algumas semanas atrás e ameaçou a segurança da Caçada por motivos que eu não compreendi totalmente. Fora isso, comecei a ter pesadelos impróprios com meu padrasto e acho que as meninas estão sofrendo também...

–Não, não tenho, nada.


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Notas finais do capítulo

E então? Esse foi só o começo dos problemas com a Kelli. Acreditem, ela ainda vai aprontar mais...
Bjss =)