As Histórias De Thalia escrita por GiGihh


Capítulo 57
Traídos e Machucados


Notas iniciais do capítulo

Eu disse que tentava chegar antes do ano novo!!!!!
Serei bem breve: o titulo diz muito sobre o cap, ok?
Boa leitura:



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THALIA

Levante a mão aquele que adora fazer provas? Alguém levantou? Não? Bom, eu não levantei. Mas digam, vocês sabem o quanto é horrível estudar tendo a famosa dislexia? Alguém? Tentar me concentrar naquelas letras dançantes era algo parecido a ver um filme legendado: ou você vê as imagens ou você lê as legendas... Você sempre acaba perdendo uma palavra ou um gesto, ou, no meu caso, eu perdia letras e mais e mais e mais letras. Fechei aquele livro com força e o lancei ao outro lado do quarto; uma Celine assustada desviou do meu novo bumerangue.

–Eu desisto disso! – exclamei revoltada, fechando meus olhos com força; minha cabeça ainda rodava freneticamente. – Estudar não é pra mim!

–Somos duas! – ouvi o guincho de Celine e a voz cansada de Pam; a louca com certeza tinha arremessado seu livro também. Annabeth forçava seus olhos como se assim fosse entender as palavras desconexas dos livros. Com exceção da ruivinha, todas estavam deitadas de formas estranhas e preguiçosas; as provas iriam chegar em uma semana e antes desse tormento iríamos a praia. Já era outono e os dias quentes estavam realmente passando depressa. Cada resquício de sol poderia ser valioso. Mas eu nunca me incomodei tanto com o frio ou com a dor.

Depois dessas provas e da nossa passagem pela praia, ainda teríamos aquele ballet clássico da boneca Coppélia. Meu tormento seria achar um vestido que se enquadrasse em meu corpo e estilo... Falando em achar, eu preciso de tênis e outros sapatos baixos, porque se depender de Afrodite eu morro sem.

–Eu preciso de ar puro e um bom tempo longe desses livros! – voltei a reclamar de olhos fechados pensando em como eu queria de volta aquele liberdade que senti durante a chuva. Uma idéia maravilhosamente divertida passou pela minha cabeça – Hein Pam, eles deixariam a gente sair para dar uma volta?

–Agora? – ela riu com ironia, mas revolta – Só nos deixam sair nos fins de semana, mas ainda sim é raro. Depois que você fugiu naquela tempestade eu duvido que te liberem.

–Eu não fugi! – disse com a voz mais fina indicando minha indignação. – Mas era essa a resposta que eu queria.

–Como? – Pam ficou confusa.

–Eu vou dar uma fugidinha não agüento mais essas paredes. Me sinto sufocada! – assim que disse isso percebi que eu realmente não aguentava muito tempo em um mesmo lugar, principalmente um lugar fechado. Hum...

–Thalia, é proibido! – Celine guinchou assustada.

–O que só torna isso mais gostoso. – sorri amenizando minhas palavras duras – Line, você não tem que ter medo do proibido. Se quiser ficar, vai me fazer falta, mas não vou te puxar a força!

–Lia, o que você quer fazer? – Annabeth levantou os olhos do livro desistindo, finalmente, de entender aquelas palavras sem sentido. O que era impressionante era que ninguém havia descoberto sobre o nosso probleminha chamado dislexia.

[...]

Em meia hora todas tínhamos tomado banhos rápidos e Felipe ligava para os seus outros amigos. Em resumo: íamos todos “matar aula” nesse inicio de tarde. Na realidade nossas aulas já haviam acabado e agora seria o momento de estudarmos de forma independente. Ai, ingênuos! Mas nós iríamos sair dos terrenos da escola.

Vesti um short jeans descolorido, uma camisa xadrez vermelha, meias ¾, uns coturnos emprestados por Pâmela e um gorro. As outras vestiam shorts e camisetas confortáveis ou coisa do gênero; nenhuma colocou acessório algum e maquiagem era a mínima possível.

Saímos do quarto despreocupadas e caminhávamos sem medo... Bom, Pam e eu. Annabeth e Celine eram a favor de ficar, mas Annie não queria me deixar “só”. Deu trabalho convencê-las, mas nem elas agüentavam mais estudos forçados e adiantados... E a loira ainda era uma filha de Atena! Meu argumento foi que ela tinha que deixar as idéias circularem um pouquinho antes de estudar mais... E funcionou.

Fomos até os fundos do colégio e, em um muro esquecido e sem qualquer “proteção”, tinha um pequeno portão enferrujado. Annabeth e eu abrimos com facilidade e a liberdade se encontrava do outro lado. Caminhamos de forma leve como se todo o tempo do mundo fosse nosso. As ruas de NY estavam cheias, como sempre, e isso só me deixou mais animada.

Não foi difícil localizar o Central Park e nem a pista de skate. Felipe e sua galera estavam lá, assim como meu primo. Percy cumprimentou a mim e a Annabeth com um abraço singelo, depois Fê nos apresentou seus amigos; Pam conhecia a maioria. A tarde foi realmente proveitosa: eu não sabia andar de skate, mas agora andava bem. Annabeth conseguiu se equilibrar, mas não gostou tanto quanto eu. A pista ficou lotada por nós; fazíamos provocações e brincadeiras enquanto íamos e vínhamos nas rampas. A liberdade voltou no mesmo instante; meu coração estava disparado e o vento brincava com meus cabelos. Era disso que eu sentia falta... Da liberdade. Não era apenas liberdade física, era como se minha alma estivesse presa a algo, presa a um destino que eu não pudesse mudar sem muita dor...

Foi assim durante toda a semana: nós quatro fugíamos dos terrenos sufocantes do internato e íamos dar nossas voltas pela cidade. Praças vazias, pistas de skate, pequenos bares. Íamos apenas fugir daquele mesmo teto, daquele mesmo sufoco. A semana tinha passado tão rápido que tudo parecia ter ocorrido no mesmo dia. Os amigos de Felipe se enturmaram facilmente e logo nem Celine era mais tão tímida; Annabeth se divertia junto de nós e Percy também.

Agora todas nós estávamos nos vestindo para irmos à praia. Íamos ficar apenas até o cair da noite e cada pedaço de liberdade era realmente precioso para mim, mesmo que isso me custasse ficar perto de um deus perigoso e que me odeia. Shorts jeans, camisetas soltinhas e rasteirinhas era o que todas vestíamos. Era visível nossa ansiedade de cair fora daquele lugar.

–Hein gatas! – era Miguel, um dos amigos de Felipe. Todo o pessoal já se encontrava lá, inclusive Percy. Nossas roupas despojadas e nosso grupo sorridente chamavam atenção das meninas que ficavam para trás junto com aqueles portões de ferro. Andamos até um canto na calçada onde estavam estacionados dois conversíveis. Felipe dirigia um e levava Percy, Annabeth e Pam. Eu e Celine iríamos com Miguel e os outros.

Assim que o carro atingiu uma velocidade mais alta, o vento que roçava minha pele trazia uma energia nova, uma sensação nova, uma certeza. Eu nunca precisei de ninguém ao meu lado para me sentir livre. Naquele instante, Luke não era nada alem de um borrão escuro e sem importância, minha mãe e padrasto eram as folhas mais feias do outono e que o vento já tinha levado pra mim. Miguel ligou uma musica qualquer e não demorou a todos cantarem alegremente “I Love It” da Icona Pop; não era exatamente nosso estilo, mas o som era legal. Ignorando o resto do mundo e os protestos de Celine, fiquei em pé sobre o banco. Risadas ecoaram ao meu redor e se perdiam no vento junto com as minhas...

[...]

As ondas se agitavam ao longe. Já tinha se passado metade da tarde e eu não me atrevia a chegar perto do mar. Sentada sobre o capo do carro de Felipe eu observava nos tons de azul do céu limpo e nos tons de verde do mar a minha frente à diferença entre os irmãos, mas como juntos poderiam ser bem mais.

–Pensando no que, Lia? – Fê chegou se sentando ao meu lado e me oferecendo um canudinho; peguei o pedaço de plástico e coloquei no furo no coco que estávamos dividindo.

–Que o céu e o mar não se misturam. – ele riu e apontou para a linha do horizonte.

–Eles se juntam ali no fundo, você vê?

–É ilusão. Você sabe que eles não se misturam de verdade. – disse e logo em seguida, suguei aquele liquido revigorante da fruta. – Alem do mais, eles vivem em guerra.

–Se você pertencesse a apenas um dos dois, a qual pertenceria? Céu ou mar? – ele perguntou de forma ingênua e descontraída. Eu sorri porque eu tinha uma resposta concreta.

–Aos céus. – ele riu.

–Bem, pensei que fosse isso mesmo; você nem chegou perto da água.

–Digamos apenas que o mar é proibido pra mim.

Um silencio gostoso ficou entre nós; era tão bom estar com o Lipe que meus problemas, que o mundo dos semideuses e monstros ficava tão longe.

–Thalia... Você – ele respirou fundo – Você acha que dois amigos podem... Sei lá, tipo... Virarem algo mais?

Olhei para frente e vi mesmo a distancia cachinhos dourados sendo jogada no mar por um menino de cabelos pretos.

–Sim.

–Mas como? – ele bagunçou os cabelos, visivelmente nervoso.

–Isso é com o tempo. – olhei para ele de forma até profunda – O que é seu, mais cedo ou mais tarde vai ser seu. – ele olhou para frente e eu segui seus olhos. Uma menina de cabelos tingidos de roxo jogava bola com Celine e Pam. – É a Ágata? – perguntei me referindo à menina de pele clara e cabelos roxos.

Ele corou. Eu ri.

–Não sei quando começou...

–E isso importa? – eu ainda sorria. Fê sorriu docemente; ele trouxe os pés para cima do capo e abraçou os joelhos.

–Eu a chamei pra sair... – olhei para ele em expectativa – Ela aceitou. – eu sorri para meu Best. – Mas e se nós formos como o céu e o mar? - ele olhou para mim de forma até infeliz – Se não nos encaixarmos? Eu não quero perder uma amizade de anos. Não quero viver em guerra com ela!

Olhei mais uma vez para a linha do horizonte onde os dois deuses pareciam se encontrar de forma passiva.

–Vou te contar um segredo, Fê. – eu senti seus olhos sobre mim, mas ainda olhava para frente - Não importa por quantas vezes os dois entrem em guerra ou que discordem. Sempre vai haver uma linha no horizonte; sempre vai existir um momento em que eles se encontram como irmãos. – olhei para Lipe – Nenhum namoro é feito só de beijos e caricias; qual é a graça da vida sem uma boa briga? – ele riu.

–Brigada, Lia. – ele me abraçou de lado, mas ainda parecia inseguro.

–O que foi? – ele não reagiu – Por que está tão tenso?

–É que... Eu não... Ah, esquece!

–Fala! Vai Felipe; me conta! – pressionei.

–Eu não sei como beijá-la. – ele disse tão rápido que eu levei um minuto para descobrir o significado daquilo.

–Espera! Você nunca beijou? – eu estava abismada.

–Já beijei, mas... Ela me deixa nervoso e eu nem sei o que fazer.

–Primeiro aquele beijo da Branca de Neve.

–O que? – ele olhou para mim como se eu fosse doida e eu ri.

–Um beijo calmo como o da princesa. Você não pode dar o primeiro beijo nela desesperado.

–Eu não vou conseguir.

–Tente. – ele me olhou ainda com duvidas. Seu rosto se aproximou do meu lentamente. Felipe encaixou sua mão no meu pescoço... E selou seus lábios nos meus. Calmo e sem presa, Felipe me pediu passagem para sua língua e eu cedi. Não tinha aquele sentimento, aquele fogo, mas era algo gostoso e carinhoso. Seus lábios soltaram os meus.

–E depois da Branca de Neve? – ele perguntou em tom risonho.

–Vem o intenso. – respondi no mesmo tom. Sua mão escorregou do meu pescoço até a minha cintura e me puxou para quase junto de seu colo. Seus lábios grudaram nos meus, de forma mais rápida e intensa sua língua dançava com a minha. Meus dedos entrelaçaram em seus cabelos cor de mel e o puxei para mim. Fazia quanto tempo que eu não era tocada assim? Sentia falta desse calor, mesmo que fraco, percorrendo meu corpo.

Nos afastamos quase bruscamente.

–Eu te adoro, Tha. – ele me abraçou fortemente. –Brigado.

–Eu também te adoro, Fê. – correspondi ao abraço.

[...]

No fim, acabou que Percy me jogou no mar; quando ele fez isso pareceu que as ondas se agitaram e um trovão soou nos céus. Meu primo veio até mim e meu deu seu apoio o tempo todo. Sai do mar quase no mesmo instante. Depois comemos algo em um quiosque e voltamos para os carros.

Voltei com Miguel de novo e Celine também. Os dois foram na frente e eu fiquei com dois outros amigos atrás. Como um ser nada folgado, eu deitei minha cabeça no colo de um e apoiei meus pés no colo de outro. Antes que eu me desse conta, estava dormindo embalada pelo carinho singelo em meus cabelos.

Era um lindo navio, mas estava cheio de monstros. Uma menina de cabelos castanhos puxava um rapaz pela mão. Comecei a segui-los sem realmente querer, eu era obrigada. Entrei no quarto em que eles estavam, mas me forçava a não olhar o que eu sabia que aconteceria.

–Eu sei que você se recusa a entrar na caçada por causa daquele menino. Mas ele não é tudo o que você pensa. Ele vai magoá-la e traí-la de alguma forma. - a voz de Zoe soou em algum lugar e isso só tornou tudo pior.

Alguma força maior do que a minha, me obrigou a abrir meus olhos: aqueles cabelos cor de areia dele eram puxados com força pela garota de cabelos castanhos. Eles se beijavam de uma forma faminta e a garota arrancou a própria blusa e depois a dele. Ou vi o gemido abafado pelos beijos...

–Não! Já chega... – eu murmurava ou gritava para mim mesma, já que minha voz não tinha som. –Eu quero acordar agora!

Tentei me beliscar em pleno sonho, tentava me mexer, sair da cabine, mas nada acontecia. Os dois caíram sobre a cama de lençóis brancos... A floresta escura estava a minha volta e eu podia me mexer de novo. Ainda estava em choque...

–Eu disse a vós, Thalia. – a voz veio de trás de mim. Virei e encontrei o vestido prateado cobrindo o corpo da caçadora de cabelos trançados. Era Zoe. – Ele te magoou. Deixou-te por um mundo errado...

–E você precisava esfregar isso, literalmente, na minha cara? – eu rosnei; meus olhos faiscavam com o ódio que eu sentia.

–Ele te decepcionou...

–Luke nunca me decepcionou. Nunca.

–Ele envenenou-te! Estais tão cega por este repugnante homem que não vês... – Não aguentei ouvir mais nada. Soquei aquele rostinho de princesa e vi um filete de sangue escorrer de seus lábios.

–Aprenda a cuidar da sua vida caçadora. Não se meta aonde não foi chamada. E nunca, nunca, mais me force ficar em um sonho que eu não queira sonhar. – rosnei olhando a menina caída no chão e com o sangue escorrendo lentamente pelo canto da boca.

Abri os olhos e encontrei dois pares de olhos sobre mim. Os meninos do carro me olhavam com preocupação. Expliquei que tive um pesadelo e eles culparam o tempo em que fiquei no sol. Nos despedimos do pessoal e entramos no internato. As meninas seguiram direto para o quarto e eu corri em disparada para um lugar naquela escola aonde ninguém nunca ia. Um pedaço de gramado com vista para o céu, longe de câmeras e janelas.

Foi ali, e só ali, que eu permiti que meus olhos se enchessem de lágrimas. Meu peito subia e descia rapidamente tentando administrar o pouco ar que entrava em meu corpo. Nunca pensei que essa semana fosse acabar tão mal. Uma única lágrima escorreu pelo meu rosto; foi ela quem marcou meu rosto com a dor que eu sentia.

Foi naquela noite que passei a realmente odiar as caçadoras, principalmente Zoe. Querer que uma menina se juntasse a caçada não é nada de mais, mas me forçar a ver... Vê-lo daquela forma... Isso não é coisa que se faça.

Mas foi nessa noite que eu finalmente entendi: Luke e eu não tínhamos mais um futuro juntos. Nós não éramos mais os fugitivos que se amavam. Éramos a filha de Zeus e o servo de Cronos. Não podíamos ficar juntos... Não mais.


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Notas finais do capítulo

E então? Ficou bom? Desculpem qualquer erro, ok?
Bom, eu amei fazer essa "briga" de dois segundos (rsrsrsrs) entre a Thalia e a Zoe; não podia ser aquela discussão pequenininha de caps anteriores a gerar aquele ódio que as duas sentem no livro...
Até logo, meus anjos, Bjss =)))