As Histórias De Thalia escrita por GiGihh


Capítulo 47
O fogo da saudade


Notas iniciais do capítulo

Oiee, demorei, não?
Bom... A pedidos, este cap ficou bem maior e meu deu trabalho escreve-lo, já que não conseguia me expressar em palavras, mas enfim...
Boa leitura!



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O vasto reino de Morfeu brincava comigo. Nos sonhos, realidades e fantasias, conquistas e desejos, passados e futuros, verdade e mentira, quente e frio, amor e ódio... Tudo se mistura de tal forma que já não conseguimos interpretar direito.

... Mas semideuses interpretam essas confusões e sabem diferenciar o que vêem... Mas será que realmente somos capazes de deixar os sentimentos de lado para não interpretar nossos sonhos errado?

LUKE

Eu estava lá... Em um sonho, mas estava...

Exausto do treino voltei para a minha cabine onde uma nova prostituta, esta encostada à janela. Expulsei-a com um simples gesto e fui ao banheiro, tomei uma ducha e me joguei na cama apenas de cueca Box.

Tudo estava ótimo; apenas a escuridão e o silencio... Mas a luz veio aos poucos como um nascer do sol. Um pinheiro alto, banhado de rosa e dourado do sol, se encontrava no topo de uma colina. Duas meninas também estavam lá: uma loira vagamente conhecida, mas desfocada se encontrava agachada no chão olhando para outro corpo feminino.

A imagem pareceu voltar ao foco, mas apenas no corpo caído no chão fazia realmente sentido. Tive noção de pessoas se aproximando e, em meu peito, meu coração já havia entendido tudo antes da minha mente...

Eu a vi voltar a abrir os olhos. Vi Annabeth chorar e a multidão se espalhar ao redor de uma mocinha linda e frágil... Era quase uma mulher feita... Meus olhos estavam marejados e eu não soube bem o que fazer. Escondido no meio da multidão ninguém chegou a me notar... Fiquei realmente grato a Percy... Foi o único que a ajudou.

Enquanto Percy falava, por um mero instante, nossos olhos pareceram se encontrar, mas não passou de uma ilusão.

Acordei suando e arfando com o peito ainda disparando e com a maravilhosa certeza de que a minha Thalia voltaria, mas será que entenderia todo o mundo agora? Precisaria fazê-la entender... Ver meu lado da história... Eu só...

Agora eu só precisava de uma maneira de poder falar com ela...

THALIA

Percy havia me deixado com Annie e as meninas desconhecidas para mim. Sequei as lagrimas da loira e lhe dei um frágil sorriso. Annabeth me puxou pela mão e me apresentou as meninas. A grande maioria eram filhas de Afrodite: cabelo impecavelmente liso, maquiagem básica, roupas descoladas e acessórios brilhantes. Meninas de Apolo e Demeter, Atena e Hermes também se faziam presentes.

Adentramos o grande chalé n° 1 e não se parecia nada com um chalé de acampamento comum! Não havia vários beliches... Bom, não havia nenhum. Uma enorme cama de casal estava em um canto à direita na parede, um grande e espaçoso guarda-roupa ocupava o outro lado do quarto. Fiquei pensando que não tinha nem mesmo uma camiseta para guardar ali, quem dirá roupas suficientes para enchê-lo.

Uma suíte ao fundo, as cortinas nos tons diversificados das nuvens (desde o branco mais puro ao cinza chumbo forte e presente nas tempestades), o teto revestido de imagens brilhantes; pequenas estrelas, raios, um sol e uma lua; uma penteadeira com diversos cremes, maquiagem e escovas de cabelo... Parecia muito mais um quarto de algum hotel cinco estrelas!

Uma filha de Afrodite (que descobri se chamar Silena) abriu o guarda-roupa... Meu rosto era uma mascara, mas a surpresa era muita dentro de mim. Diversas roupas lotavam o armário; diversas, varias, muitas. Calças, shorts, algumas saias, camisetas, camisas, alguns vestidos... Tudo no meu estilo!

–Minha mãe encheu seu guarda-roupa enquanto você estava com o Percy. Os acessórios estão todos nas gavetas da penteadeira- Silena apontou enquanto comentava e eu quase não pude acreditar e por segundos não soube o que dizer.

– Esse quarto todo é obra dela?- consegui perguntar.

– Acho que não. Acho que Zeus ordenou que deixasse esse lugar mais confortável para você – a menina deu de ombros – E você precisa de um bom banho relaxante

Ela estava certa. Meu corpo estava dolorido, como se a luta tivesse sido recentes; o cansaço parecia me consumir fazendo com que eu me sentisse como um controle de pilas fracas. O restante das meninas foi embora, ficando apenas Annabeth e Silena.

Entrei na suíte e fiquei surpresa: mais e mais produtos, todos adequados a minha pele e cabelo...

–Eu te aconselho a usar esses aqui hoje em um banho bem quente – Silena mostrou produtos a base de camomila – e eu vou voltar com um bom chá de camomila também – a patricinha saiu e vi Annie se sentando na cama.

– Vou te esperar aqui – nos duas sorrimos e eu fechei a porta. A água quente percorreu meu corpo de maneira relaxante e o cheiro de camomila me cercava. Aos poucos o vapor tomou conta do banheiro; um vapor quente, espesso e com cheiro forte da erva. Isso tudo combinado, embalando meu corpo e meu consciente, o sono e a moleza me atingiram de maneira forte: minha visão ficou cheia de pontos pretos até chegar ao ponto de me sentir cega e bastante tonta. Encostei as costas na parede de azulejo frios. O arrepio causado pelo contraste de temperatura foi imediato; o calor da minha pele recebeu agradavelmente o frio azulejo. Permiti-me escorregar até o chão enquanto a água quente ainda caia.

Passado alguns minutos, minha vista clareou; levantei e fechei o chuveiro. Voltei a me encostar nos azulejos, buscando firmar meu corpo. Tirei o excesso de água do meu cabelo, enrolei a toalha no meu corpo e sai.

Annie segurava um vestido em seu cabide. Ao me ver observando-a e o que tinha em mãos, deu um sorriso de desculpas. Ergui uma sobrancelha em uma clara pergunta muda.

– Sei que não gosta muito de vestidos, mas esse é leve, simples e confortável... E... - Annie não sabia como me convencer a usar o vestido, então completei a frase por ela:

–E parece que Afrodite não conhece a palavra "conforto" – comentei examinando as roupas do armário por cima. Eram todas magníficas! Roupas de marcas famosas e no meu estilo mais rocker, mas até os pijamas tinham detalhes de luxo voltei a olhar o vestido nas mãos da loira...

– O Luke me contou que, antes de me encontrarem, vocês tinham conseguido uma doação de roupas e que você colocou fogo em todos os vestidos só para não usá-los!

Eu ri e Annie também.

Esse episódio tinha ocorrido muito antes de encontrarmos a filha de Atena. Foi a alguns dias depois do nosso encontro na chuva; alguns dias depois de nos conhecer. A rude idosa nos ofereceu roupas velhas de seus netos e tagarelou sobre o quanto éramos magros e sobre eu ter de me vestir melhor. Ela me ofereceu três modelos de vestidos cor de rosa ou floridos e quando se afastou suficiente, não me contive e coloquei fogo naquelas coisas horríveis. Não esperei uma reação de Luke e, ignorando as chamas, pulei a janela do primeiro andar...

Os risos morreram rapidamente apenas com a menção do filho de Hermes. Pelo visto, Luke era um assunto tão delicado para Annabeth quanto era para mim...

Peguei as primeiras peças intimas que vi e as vesti tentando ignorar a tensão presa no ar. Assim que soltei a toalha no chão, senti meus cabelos gelados umedecendo minhas costas. Peguei o vestido das mãos da menina e, com sua ajuda, o vesti.

O tecido fino era solto em quase todo o seu comprimento, sendo um pouco mais justo na região do busto. Não existia qualquer detalhe luxuoso ou se quer chamativo. Com mangas curtas, o vestido preto me cobria as coxas, mas eu quase não o sentia.

Soltei um curto risinho.

–Pelo menos não é rosa! – Annie riu comigo.

Silena chegou alguns minutos depois com uma xícara em mão; ela observava meu vestido e eu, a fumaça que subia em círculos e se espalhava pelo “chalé”. Sentei na cama e beberiquei o chá. A filha de Afrodite tagarelava sobre o quanto os filhos de Demeter entendiam de ervas e como sabiam misturá-las (acho que ela queria me fazer sentir mais a vontade, mas...). Annabeth escovava meus cabelos sem pressa, calmamente e os secava da mesma forma quando a patricinha foi embora. Annie começou a trançá-los e me senti voltar naquela manhã simples, mas marcante onde passamos juntas como duas irmãs... A manhã em que a loira acordou e viu que não estava só.

–Invertemos os papeis, não? – Annie sorriu pensando o mesmo que eu. A menina pediu que eu descansasse; ela ajeitou as cortinas e o quarto ficou escuro enquanto ela saía. Terminei o chá e deixei a xícara vazia sob a cômoda. Voltei para a grande e confortável cama, descansando a cabeça em travesseiros de plumas. Fechei os olhos e deixei minha mão deslizar sobre as cobertas aveludadas e o lençol de linho... Aquilo era muito mais do que eu esperava ter em vida.

... Antes que me desse conta, já havia me perdido no confuso mundo dos sonhos.

O vasto reino de Morfeu brincava comigo. Nos sonhos, realidades e fantasias, conquistas e desejos, passados e futuros, verdade e mentira, quente e frio, amor e ódio... Tudo se mistura de tal forma que já não conseguimos interpretar direito.

... Mas semideuses interpretam essas confusões e sabem diferenciar o que vêem... Mas será que realmente somos capazes de deixar os sentimentos de lado para não interpretar nossos sonhos errado?

A noite era fresca para mim, mas para qualquer outro o vento era cortante e gélido. A lua brilhava no céu com suas estrelas sempre ao seu lado, mas com o brilho sempre inferior a linda Lua. Aquela rua era sossegada e, no entanto, o som dos automóveis era consideravelmente alto. A brisa de inverno me arrepiou a pele e então deixei de mirar a grande janela aberta e voltei meus olhos para a casa da idosa...

Os cabelos brancos presos em um elegante coque, o sobretudo grosso sobre o vestido mais feminino e seus olhos amendoados evidenciavam a rigidez e severidade de sua alma antiga. Os lábios apertados em uma linha fina e sem muita cor mostravam o desapontamento com minha aparência, principalmente com as roupas. A idosa remexia um pequeno baú com roupas antigas de seus falecidos netos.

–Um belo vestido! – exclamou ela atirando alguns modelos de vestidos sobre a pequena mesa de centro – É exatamente disso o que você precisa, minha querida. – ela voltou a me olhar com reprovação... Seus olhos se voltaram para um ponto ao meu lado que não havia notado no sonho... – E você rapaz? Precisa de roupas novas...

O tom rude de sua voz foi ignorado por mim. Sentados no tapete persa, Luke e eu observávamos as paredes de tons de bege, os quadros em estilo militares e a lareira ao fundo. As chamas escarlates dançavam para mim e pareciam me convidar a adormecer naquele tapete fofíssimo. Beberiquei o chá desprovido de açúcar e manti os olhos focados na velha.

–... Agasalhos militares talvez sirvam em você rapazinho... – dois casacos militares foram jogados na mesinha ao lado dos vestidos horríveis. A velha sumiu em um corredor longo indo buscar mais vestidos. Vi Luke pegar um casaco e jogá-lo nos ombros com frio... Levantei e fui até a mesinha de centro... Rasguei a barra de um vestido e com o tecido em mão fui até as chamas que dançavam belamente... O tecido se incendiou e eu deixei-os sobre os demais vestidos.

Não prestei atenção em Luke ou em sua expressão de surpresa. Peguei o outro casaco militar e, vestindo-o, segui até a janela escondida por cortinas brancas. A janela era do 1º andar, então pulei com facilidade, não me preocupando com meu medo...

Meus passos eram lentos e até despreocupados. Não vi o menino fazer qualquer movimento dentro da casa, mas me forcei a seguir em frente sem me importar se Luke viria ou não... Embora o meu desejo fosse que ele viesse atrás de mim...

Ouvi passos apresados em minha direção, mas não movi um músculo mais rápido do que já estava indo. Os passos desaceleraram e o individuo caminhava ao meu lado... Levantei os olhos e sorri.

–Pensei que ficaria lá.

–Depois do estrago que você fez com aqueles vestidos? – Luke sorriu – Acho difícil aturar aquela velha...

–Ela já não é lá muito sociável... – comentei e por um mero instante nossas vozes sumiram.

–Você sabe que agora tudo vai ser mais difícil, não sabe? – ele perguntou

–Sei... Mas nunca foi fácil pra mim. – confessei.

Senti os olhos de Luke sobre mim e logo em seguida, seu braço sobre meus ombros. Parei de andar e fitei seus olhos azuis claros... Seu braço desceu pelo meu até nossas mãos se encontrarem e os dedos se entrelaçarem. Um sentimento estranho se apossou de mim... Não soube o que era na hora, mas dias depois fizeram a diferença...

–Agora vai ser, Thalia.

–Vai? – algo nele me fazia sentir segurança, mas um alerta de perigo também vinha junto.

–Vamos estar juntos de agora em diante. – ele sorriu de lado e um leve sorriso começou a crescer em meus lábios...

–Por que quer vir comigo? Por favor, seja sincero! – pedi sentindo uma súbita vontade de chorar.

–Tem algo em você que me acalma e que, ao mesmo tempo, desperta o melhor e o pior de mim.

Sorri-lhe verdadeiramente como estava me acostumando...

– Moleques ingratos!Venham aqui já! – a velha gritava pela janela.

Nossas mãos se soltaram com o susto e eu senti meu rosto esquentar em pleno inverno... Corremos pela rua enquanto riamos dos gritos inúteis da velha...

Levantei da cama suando, arfando e tendo a sensação de perseguição. Olhei para os lados do quarto e tudo o que vi foram chamas... As chamas se espalhavam pelo meu quarto novo, consumindo tudo e não deixando nada. Tudo ao meu redor queimava em uma dança linda e maravilhosamente mortífera e destrutiva.

O fogo começou a me mostrar imagens... Tudo naquilo era assustadoramente verdadeiro.

...Um menino caiu no chão de lama e segurou uma menina prestes a cair...

Éramos Luke e eu!

...A casa da velha estava tranquila... O rosto do menino foi destacado pelo fogo... Os dias nos parques e florestas... Luke me perseguia em corpo e mente... Um Luke rolava campina abaixo enquanto eu dava minha vida por ele...

Lágrimas queimavam meus olhos e o fogo se aproximava de mim a cada instante...

...Um Luke despejava veneno entre meus seios...

As lágrimas já caiam, mas eram piores do que o fogo que ardia ao meu redor e me tirava o ar dos pulmões...

Abri os olhos e vi a claridade que adentrava o quarto... Um vento particularmente forte havia levantado a cortina. Ergui as costas e reparei em minha respiração fraca e totalmente irregular.

Levantei e caminhei pelo quarto até parar de frente ao espelho. Analisei minha imagem e não soube dizer o que, mas sabia que algo me faltava... Senti um peso confortável em volta do pescoço e mãos hábeis prenderam o colar...

Um camafeu... O camafeu que eu roubei da minha mãe! Ele pendia do meu pescoço, mas... Quem o colocou...?

Virei meu corpo rapidamente para trás e o vi... Os cabelos eram loiros e seus olhos azuis, não como os meus, mas como os dele! As roupas de esportista e uma bolsa de carteiro ao lado do corpo... Eu já havia visto ele antes.

–Pensei que gostaria de tê-lo de volta. – sua voz foi um sussurro triste como se ele soubesse da minha dor e sentisse algo parecido...

–Obrigada! – minha voz soou tão grata e baixa que senti as lágrimas me subindo aos olhos. Em passos rápidos e certeiros caminhei até o deus e, na ponta dos pés, lhe marquei a bochecha com um beijo.

Baixei os olhos para o camafeu e o abri... A imagem de Luke sorrindo marcada na minha memória e no pingente me trouxe de volta o passado... Mas só as boas lembranças... Voltei a levantar os olhos.

... Mas o deus já havia ido embora... Mas a saudade não iria com a mesma facilidade!


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Notas finais do capítulo

e?????
vou tentar não demorar com o proximo, ok???
amores, se manifestem e por favor desculpem a minha demora e qualquer erro!
Bjssss