As Histórias De Thalia escrita por GiGihh


Capítulo 101
Epílogo


Notas iniciais do capítulo

Antes de deixar que leiam, preciso agradecer a todos os que comentaram, os que acompanharam, os que favoritaram, os anjos que recomendaram... Preciso que saibam que ninguém me passou despercebido em momento algum e que me perdoem caso aja algo a ser perdoado.
Devo agradecimentos especiais para:
Bianca Di Angelo – por ser a primeira a me dar uma recomendação linda no Nyah;
Bianca Grace Everdeen – pelas palavras claras e inspiradoras que me levaram acreditar mais em mim;
Nowhere – pela animação, por me considerar gentil e amável, por perceber meu amor para com a fic e seus leitores;
Zil Rossely Black – por todo o seu romantismo, por enxergar como eu Romeu e Julieta no mundo do tio Rick;
Jheissianny – pelos incentivos, pela sinceridade e atenção;
Lívia Di Angelo – por me deixar sua recomendação e mesmo assim sumir, rsrsrsrs;
Ana Di Angelo – a querida, essa é sua segunda recomendação para mim, me fez sentir que sou mais especial do que de fato sou, muito obrigada;
E Gih =’) seu nome devia ser o bastante pois não conheço pessoa melhor. Minha irmã de alma, percebi depois de muito tempo, que eu não escrevi a fanfic apenas para mim. Você foi um motivo, eu só não tinha percebido ainda a dimensão disso: a fanfic como um todo é tanto sua quanto minha, então... Muito obrigada!



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O tempo não passou rapidamente, mas foi profundamente aproveitado. Durante as férias de inverno do último ano escolar de Thalia, a moça e seu amado descansavam no sofá da sala de May Castellan. A senhora havia melhorado de saúde de modo a estar quase completamente sadia, por breves e raros momentos ela voltava às visões do que já havia passado, por isso, era uma mulher normal na maior parte do tempo. Não era como se a vida fosse perfeita. Os deuses não mudariam a conduta assim tão depressa, os monstros sempre apareceriam. Também não era como se Luke e Thalia não discutissem. Brigavam com frequência e depois acabavam enroscados em um beijo cheio de paixão e remorso. As férias de verão eram passadas no Acampamento; Luke ainda não era completamente aceito, mas não conseguia se importar: tinha o perdão da maioria, amizade dos que importavam e o amor de sua vida, não precisava de mais. Era comum que o casal saísse escondido, era comum Castellan levá-la a paisagens deslumbrantes, era comum treinarem com todas as armas que tinham a disposição e encerrar a tarde bebendo vinho ou champanhe de baixo de uma árvore observando o pôr do sol e sentindo o sabor da bebida nos lábios do consorte.

Naquele instante enquanto uma May plenamente sã preparava chocolate quente o casal conversava sobre os filhos que teriam.

–O jeito como ele protegia a irmã... – Luke não soube bem como continuar, sussurrava para sua Thalia, encolhida em seu colo – Era como se nada no mundo o fizesse desistir dela.

–Com certeza isso veio do pai – ela sorri, traçando mais uma vez a cicatriz no rosto do namorado – O jeito como você protegia a mim e a Annabeth – ela suspirou – Como se nada importasse mais do que nos ver seguras.

–Com toda certeza isso também veio de você – afastou um cacho de cabelos escuro do rosto da moça – Protegeu a tantos. Sacrificou seu bem estar por outros tantas vezes... Muitas vezes acredito não ser digno de você, do seu amor.

–É sim! – apertou seu corpo contra o dele sentindo o coração errar dois batimentos – Não se culpe mais, por favor... Não suporto vê-lo assim – sussurrou e foi agradavelmente silenciada por um selinho – Nunca entendi por que entre tantas meninas você escolheu a mim.

–Você não vê o quanto é especial? – foi uma pergunta retórica; Luke sabia que ela não conseguia enxergar o mundo infinito oculto por suas muralhas que vinham abaixo apenas por suas mãos – Sabe, acho que eu sempre... Acho que minha vida inteira foi traçada para te encontrar. Se não fosse por termos fugido talvez tivesse esbarrado com você num supermercado, ou... Não sei – sorriu para a ela – Confesso que a chuva deixou tudo muito mais romântico.

–Romântico foi você me segurar quando minhas pernas não puderam comigo – riu Thalia. Ele acompanhou-a.

–Eu te amo – sussurrou incapaz de se conter.

–Eu te amos mais – ela retrucou em um sussurro igualmente envolvente; os lábios se encontraram com lentidão, calmos, não era nada urgente, não precisavam provar aquele amor, era terno e brilhante como o sol que conheciam, ela também sabia que não o amava mais, a paixão que nutriam não tinha limites, começo ou fim, não havia medida e a frase em si era apenas para expor o que nunca faria sentido para olhos ignorantes.

Separaram-se quando ouviram um risinho já conhecido; May não tinha qualquer intenção de interrompê-los, mas era dificílimo não expressar sua felicidade vendo o filho em casa finalmente feliz com uma jovem bela e espirituosa; May havia não apenas recuperado um filho, mas ganhado uma filha. Mal sabia a senhora que logo apareceriam os netos.

–Desculpem-me, não quis interrompê-los.

–Não precisa se desculpar, May – a voz da moça soou tão delicada e suave aos ouvidos da senhora que seus sentimentos por ela se intensificaram mais.

–A senhora nunca atrapalha, mãe – o filho respondeu; ela observou quando ele apertou o corpo de Thalia contra si e beijou-lhe a testa. May sem qualquer duvida amava aqueles dois.

–Então venham tomar chocolate quente para esquentar... Não que vocês precisem disso – e riu das bochechas coradas de ambos.


Perseu embora tenha mudado muito desde o começo de sua história, em sua alma ainda era o mesmo garoto inocente, indiscutivelmente leal aos amigos. Agora não era mais um garoto ou criança, era um homem, no auge dos 18 anos de sua vida. Estava deitado no fundo da piscina aquecida do clube no qual trabalhava como professor; gostava de permanecer na água mesmo ela sendo doce, era ainda mais gratificante ensinar crianças a nadar. Agora compreendia em parte porque a grande maioria dos filhos de Atena era professor.

Gostava da água, pois nela consegui pensar melhor com mais clareza. Revia os melhores momentos daquela batalha, relembrava os amigos mortos, as vidas recuperadas, a amizade fortalecida pelo sangue derramado e o amor. Fazia dois anos que tudo desde o fim e as imagens ainda eram claras, vívidas. Jackson conseguia puxar na memória cada olhar de Luke para Thalia, lembrava a dor nas palavras dela quando lhe confessara seu amor pelo Traidor, lembra a certeza da filha de Zeus diante o Titã quando afirmara que ela jamais conseguiria matá-la estando no corpo de Luke. “Enquanto meu coração bater por ele, Luke vai lutar” as palavras eram fortes, marcantes. Dois anos e Perseu ainda se surpreendia com a dimensão daquele amor atemporal: não era o casal meloso como filhos de Afrodite e Apolo, não eram tão reservados quanto os filhos de Ares e Atena, mas também não era um relacionamento normal. Percy simplesmente se alegrava com a felicidade dos dois antes tão perdidos...

Claro que aquele casal era lindo e até inesperado pela grande maioria, mas não fora o único que saíra do meio da batalha. O reflexo loiro logo acima o fez sorrir. Chegando a superfície nadou até a borda onde ela se encontrava de joelhos. Os cabelos caiam sobre o ombro direito, um pouco bagunçados devido o vento de inverno do lado de fora, mas isso a fazia ter uma imagem mais natural, nada idealizada. Era a sua Annabeth, com todos os seus defeitos... E suas centenas de milhares qualidades.

–Oi – disse a voz baixa refletia o sorriso nos lábios; ela também havia mudado, amadurecido, como ele mantendo suas qualidades joviais que a distinguiam. O sorriso dele foi imediato.

–Como me encontrou aqui?

–Você não é dado a ficar tão longe da água, Perseu – os lábios dela estavam tão perto... – O que você veio fazer aqui? Pensei que o clube já estaria fechado.

–Na teoria ele está. Vim só para pensar.

–Em que?

–Em tudo. Como as coisas se acalmaram desde que Thalia beijou Luke na sala dos tronos, como os deuses têm tentado melhorar, em nós dois... – levou sua mão ao rosto dela absorvendo a reação que provocava naquela linda mulher.

–Ainda me surpreendo com a intensidade dos dois – ela sussurrou pensando nos irmãos de criação.

–Eu também – fechou os olhos e delicadamente esfregou seu nariz no dela fazendo-a sorrir – Entre – disse referindo-se a piscina, tratou de interrompê-la antes que protestasse – Posso mantê-la seca e aquecida depois. – continuou sussurrando incentivos, palavras suaves e sinceras de carinho e amor. Beijou-a e suavemente puxou-a para o fendo em outro beijo embaixo d’água.

Podia não ser uma paixão imaculada como a de sua prima, mas era tão forte quanto, tão lindo quanto. Afinal, o amor é uma magia. Uma magia que muitas vezes dói e destrói corações, mas também cura e revigora as almas. Toda e qualquer forma de amor é linda... Algumas só precisam de mais ajuda que outras. Era por isso que Afrodite existia, era para isso que havia sido feita.


Um dia depois do solstício de inverno, Thalia Luke caminhavam no bosque perto da casa de May. Thalia olhava para a paisagem branca com admiração, gostava de observar e relembrar as lindas paisagens que conhecera com a caçada, pensava muito em suas irmãs, na deusa em especial quando via a pureza da cor sobre a qual andava. Luke observava-a, amava a intensidade do olhar dela, bebia cada uma de suas reações, seus sorrisos, sua serenidade.

–Eu não sei o que te dar – comentou deixando a decepção encher sua voz. Thalia parou onde estava para olhá-lo.

–Não precisa me dar nada.

–Claro que preciso. Como se não bastasse ser seu aniversario de 18 anos – sorriram os dois pensando que não era exatamente 18 – Também foi...

–O dia em que nos conhecemos – havia qualquer coisa de impactante na voz dela, no modo como pronunciou. Luke sabia que seria uma história para contar aos seus filhos: como conhecera aquela mulher extraordinária quando ambos eram ainda crianças. – Você não precisa me dar nada. Tenho tudo o que quero.

–Tem? – ergueu a sobrancelha; ela compreendeu.

–Tenho – confirmou com as bochechas coradas; ele não sabia se de constrangimento ou frio – Eles são consequências do meu amor por você e virão na melhor hora. Eu tenho você, Luke – disse envolvendo o pescoço dele com os braços – Não posso nem quero pedir nada mais.

–Você merece tudo o que o mundo tem de melhor para oferecer.

–Eu já tenho. – sussurrou os lábios tão próximos – Você é o melhor que o mundo poderia me dar, espero ser o mesmo para você.

–Claro que é! – sussurrou emocionado, quando achou que teria os lábios dela nos seus foi empurrado com força; cambaleou para trás confuso. Thalia tinha um sorriso travesso.

–Se quer um beijo vai ter que me pegar primeiro – e correu em uma velocidade indescritível; Castellan riu e avançou também correndo apoiando-se nas árvores tentando alcançá-la, depois do que pareceram horas segurou-a pela cintura e rolaram sobre a neve as gargalhadas como fizeram há anos atrás numa grama verdinha depois de fugirem de um quarto de hotel destruído.

É inacreditável o modo como a história se repete e ao mesmo tempo toma um rumo diferente. Se eles eram mesmo Romeu e Julieta, Paris e Helena, o pior havia ocorrido com intensidade triplicada ou mais, mas de algum modo tudo se resolvera. Estava tudo em paz.

Quando chegou o tempo de voltar à escola, Luke acompanhou-a como fez durante todos os anos. Ele tinha encontrado um emprego excelente no meio do caminho, entre a mãe e Thalia, e visitava as duas com freqüência, pois sabia não conseguir mais se afastar das duas. Sempre nos portões da escola, onde a diretora e os professores recebiam as meninas, onde os pais deixavam suas meninas, era ali onde os dois se destacavam. Não era a única aluna a ter um namorado ou mesmo a chegar acompanhada do amante, mas era tão intenso o ar ao redor deles que não era necessário nem mesmo olhar para saber do amor ali presente. A diretora fora a primeira a se surpreender quando vira Thalia com um namorado mais velho, mas também se impressionara com o carinho naqueles olhos azuis. Luke beijou-a com serenidade e leveza, um beijo breve e inocente, pois estavam cercados de testemunhas e não seria educado aprofundar aquilo ali, suspirou e prometeu voltar logo para os braços dela. Era assim todo ano: ambos sentiam aquela distância como facas no peito, os olhos umedeciam, mas nenhuma lágrima era derramada. O mesmo ocorria com Annabeth e Perseu.

Nas primeiras semanas da primavera, quando os pequenos botões de flores se abriam para condecorar a cidade acinzentada, Luke mal se aguentava de emoção, ansiedade. Finalmente conseguira um presente que julgava ser digno dela, digno do amor deles. No fim de semana, quando a escola liberaria suas alunas, a surpresa se desenrolou com perfeição. Claro que Castellan recebera ajuda, mas não é bem esse o ponto ao qual queremos chegar. Na frente das muitas alunas que ainda não haviam saído, da diretora, das simpáticas Pâmela e Celine, da querida Annabeth, dos amigos do Acampamento que vinham encontrá-los sempre que podiam como Chris e Clarisse, para o ciúme de Nayla e completo júbilo de Thalia, Luke se pôs de joelhos no gramado, os olhos reluzindo enquanto, não pedia, mas implorava para que a filha de Zeus compartilhasse, não o resto como diziam muitos, mas toda vida e o que viesse além dela com ele.

Quando ela jogou-se em seus braços ele rodou no ar com facilidade e emoção. Luke quase não ouvira o sim embargado de sua noiva devido ao escândalo provocado pelos presentes, mas não se importava, os olhos dela respondiam novamente e confirmavam o que ele já sabia desde anos atrás. A emoção, a felicidade também vinha do céu, lá no alto onde todo o Olimpo assistia ao pedido com exclusividade devido às façanhas de Hefesto. Annabeth comandava junto a Sophia e Clarisse uma chuva de pétalas de rosa que nem mesmo Luke esperava. Quando a pôs no chão tirou do bolso a caixinha com o anel. Thalia não era dada as jóias, mas não podia negar a beleza daquela. O círculo era de ouro branco, não liso e imaculado, mas traçado, cravejado de símbolos, desenhos: via ali raios, um pinheiro, via uma lua e um camafeu via dois corações atravessados por uma espada, tudo no lado interno: era a vida dos dois em brilhantes. No lado exterior, poucas palavras em grego que a fizeram chorar: completamente, inegavelmente, eternamente. E só então notou a delicada pedra azul clara; aquele tom de azul... Ela suspirou.

–Quando olhar para este anel – sussurrou Luke – Quando olhar para essa pedrinha quero que se lembre de mim, dos meus olhos, do brilho deles quando vejo você – e delicadamente, com carinho absoluto, colocou o anel no dedo anelar direito. Noiva. Agora ela era sua noiva. Thalia ainda emocionada tirou o segundo anel da caixa, aquele com os mesmos desenhos e palavras que os dela, mas sem qualquer pedra e o colocou no dedo dele... Os aplausos e os gritos chamavam a atenção dos passantes, dos motoristas e de qualquer um naquele bairro, quando ele beijou-a o barulho aumentou.

Quando conseguiram se afastar da multidão que fazia questão de parabenizá-los pessoalmente, a intensidade dos beijos cresceu. Thalia suspirava constantemente enquanto Luke tocava a pele descoberta de suas coxas.

–Você não pode se vestir desse jeito e esperar que eu não me excite – ele resmungou ainda entre o beijo faminto. Thalia estava com suas roupas típicas, o vestido preto leve e solto muito curto, as meias acima do joelho e coturnos.

–Quem disse que eu não te quero excitado – sorriu ela. – Organizou tudo isso quando? – perguntou ainda muito emocionada, os olhos ainda marejados.

–Tive muita ajuda de todos os lados – sussurrou igualmente tremulo – Você nem imagina o quanto estive ansioso para isso, para pedir que fosse minha...

– Eu sempre fui sua – ele sabia disso.

–Assim como eu sempre fui seu. Isso não muda o fato de eu querer deixar isso ainda mais oficial – ele beijou-a mais uma vez – Vamos, ainda não acabei por hoje.

–Como assim?

–Vou te dar bem mais que um anel. – o sorriso dele deixou-a com pernas trêmulas; Luke puxou-a pela mão enquanto corriam por NY até pegarem um táxi; desceram num bairro bonito, em frente a um sobrado de cor creme, Luke jogou um molho de chaves para a noiva que pegou sem dificuldade. O olhar dele era ansioso, animado, amoroso. Indicou para ela o portão da casa linda; devagar ela abriu o portão, passaram os dois pela porta e entraram numa casa, nem grande demais, nem pequena demais, ela já estava devidamente mobiliada, a eletricidade em ordem, tudo pronto para o convívio nela. Subiu as escadas cobertas por um carpete marrom, segurando no corrimão de madeira. Luke seguia-a admirado com o sorriso que não se apagava daquele rosto de porcelana. Havia apenas uma porta no lado esquerdo e duas no esquerdo, ela compreendeu rápido. O quarto dos dois era grande, espaçoso, lindo. Ela logo notou duas portas nos extremos do quarto, uma era suíte, a outra, para a qual seguiu, era o closet abarrotado de roupas. Thalia gargalhou identificando uma das ajudantes de seu noivo.

–Gostou? – ele perguntou nervoso. Thalia abriu a boca e fechou-a diversas vezes sem conseguir verbalizar nada; decidiu abraçá-lo e beijá-lo no pescoço, rindo quando ele gemeu em aprovação.

–Eu adorei. – sussurrou quando ele a deitou na cama e deitou a seu lado. – Tudo. Absolutamente tudo. – seus dedos corriam pelo rosto do amado com leveza.

–Fico muito feliz por isso. Ainda tem muito mais para você ver na casa, mas... – sorriu com malícia – podemos explorar depois.

[...]

No verão, duas semanas depois do fim das aulas, o Acampamento Meio-Sangue nunca estivera mais bonito, mais arrumado. Todos os novos chalés estavam prontos e havia milhares de novos campistas. Estava ainda mais cheio devido à presença das divindades e alguns mortais. O casal em si não queria nem se importava com a cerimônia ou a festa, mas muitos faziam questão, os deuses principalmente.

Um Luke nervoso segurava as mãos nas costas para impedi-las de tremerem enquanto Hermes e sua mãe tentavam acalmá-lo falhamente. Logo chegavam Percy, Grover e os gêmeos para caçoarem de sua condição de “amarrado”. Faziam com que ele risse, divertiam-no e honestamente acalmavam-no. No fundo de si, a única que poderia acalmá-lo, a única pessoa que ele realmente queria ao seu lado era Thalia.

Thalia estava rodeada de deusas, semideuses e duas mortais. Todas discutindo como deveriam deixar seus cabelos; insistiu que não prenderia mais que duas mechas: seus cabelos foram feitos para dançarem com a brisa e não resistir a ela. Conseguiu o que queria, não sem esforço. O vestido era lindo: as mangas “caiam” justas no braço, o busto firme cravejado de pequenas e lindas safiras e alguns poucos diamantes para contrastar. A saia do vestido longa e rodada em camadas de um tecido muito belo. Não era preciso muito para deixá-la impecável.

–Como está minha filha? – perguntou uma voz forte e profunda se aproximando a passos lentos. Thalia virou-se para encontrar o olhar do pai.

–Me diz você.

Pediu ela passando a mão nos cabelos jogando alguns cachos sobre o ombro esquerdo. Ártemis e Afrodite deram espaço aos dois, indo ajeitar as outras.

–Está linda, minha querida – aproximou-se e tirou das costas um arquinho; de início ela pensou ser o mesmo que usara na Caçada, mas não era: era uma coroa pequena de ouro branco, tão delicadamente feito quanto o anel que ela levava no dedo. Não era chamativo ao extremo, era quase singelo, embora não fosse, e muito amável. – Você sabe que é minha única filha não sabe? – ela assentiu – Tantos filhos homens e nenhum nunca se casou, talvez tenham amado, mas eram feito para a guerra. Nunca imaginei ter uma menina, uma princesa. Sequer sonhei com o trabalho que você poderia dar – os olhos de ambos marejaram enquanto sorriam – Jamais pensei em entregá-la a outro homem. Sei que o ama, sei que ele a ama, por isso não tenho qualquer duvida sobre minha presença aqui nesse dia.

Thalia abraçou o pai com cuidado devido o vestido cuidadosamente feito por Afrodite.

–Eu sempre vou amar você, papai. Sempre vou ser sua filha e você sempre será meu pai – sussurrou ela.

É possível imaginar aquela cerimônia como algo sublime sem erros. O pôr do sol com toda a sua magnitude refletindo na praia não longe deles, Luke esperando-a na frente de seus pais, os padrinhos (Perseu, Grover, Nico e Chris) e as madrinhas (Annabeth, Júniper, Gabriela e Clarisse) ao lado, a pequena Sophia em seu imaculado vestido branco como dama de honra e então Zeus entregou a filha aos braços de Luke para uma Hera realizar a cerimônia. Claro que era uma surpresa para todos, mesmo assim era necessário, afinal era um casamento.

–... Acho que não precisamos perguntar se aceitam um ao outro – e todos riram inclusive a deusa. Os noivos olhavam-se com tamanha devoção que não havia nada mais que fazer: Luke segurando as mãos de sua Thalia trocou o anel da mão direita para a esquerda, logo Thalia fez o mesmo. Na hora do beijo não houve um só que não aplaudiu; Dionísio tentou negar que se emocionara, mas Quíron entregava-o sempre que negava. Cada um dos deuses então desejou felicidades e a festa em si começou. Dança, música, risadas, beijos e abraços, eram tempos felizes, momentos inacreditáveis rendendo uma briga entre dois bêbados e risadas da parte dos noivos. Foi especial, pois até as caçadoras esqueceram-se da hostilidade e conversavam com rapazes.

[...]

–LUKE! – o grito de Thalia o fez correr escadas acima da casa dos dois quase em desespero, abriu a porta com força e parou ofegante a expressão de alerta desaparecendo vendo o sorriso da linda mulher.

–Você... Você está bem? – perguntou em dúvida tinha a espada em mãos e deixou os olhos revistarem seu quarto sem pressa; Thalia riu. Estava pálida, mas mesmo assim havia algo que... Ela ergueu uma caixinha alaranjada e sorriu.

–Estou bem.

–Mesmo? – havia duvida em seu tom de voz, mesmo assim soltou a espada e sentou-se na cama de frente para ela.

–Estou ótima – e ofereceu a caixinha – Apareceu de repente no meu colo.

Quando Luke abriu encontrou um par de minúsculos sapatinhos azuis e um bilhete simples parabenizando o casal. Luke olhava dos sapatinhos para sua Thalia.

–Você...? – ela assentiu. A felicidade não cabia nos dois. Naquela noite e nas próximas ficaram decidindo nomes de menino, pois sabiam para a surpresa de todos que era um menininho. Logo abriram o quarto da direita o primeiro mais próximo da escada; pintaram e mobiliaram deixando o quarto com os tons de azul do céu no verão. Luke conseguia deixar qualquer mulher morrendo de ciúmes, pois todos no bairro, na vizinhança como um todo viam o cuidado que ele tinha com a esposa e com o filho que ainda nem nascera; claro que a principio um casal achou impróprio uma mulher no auge dos 20 anos engravidar. A alimentação de Thalia era ainda mais balanceada do que antes, Luke fazia com que risse constantemente, dizia sempre que a amava, conversava com o filho, pois sabia que ele ouvia e assim foi por nove meses.

O pequeno Alexandre nasceu no templo de Ártemis, no Olimpo. A própria deusa fizera o parto de Thalia enquanto um Luke extremamente nervoso espera no salão dos deuses junto a Hermes e Zeus. “Como vocês passaram por isso todas as milhares de vezes?” “Aprendemos a não demonstrar, não quer dizer que não nos estressamos” respondeu seu pai. Zeus estava igualmente inquieto. Normalmente a deusa da lua não permitia a entrada de homens em seu templo, mas aquele era uma ocasião especial. Luke chorou emocionado ao pegar o filho nos braços pela primeira vez: sólido, firme, real. Thalia também chorou vendo seu filho nos braços do pai. Zeus beijou-a na testa e Hermes apertou-lhe a mão com carinho; durante os dois dias em que permaneceram no Olimpo para a recuperação de Thalia, o neto de Zeus era um sucesso entre as mulheres. Luke chegou primeiro e sozinho no Acampamento cumprimentando a todos e espairecendo com seus irmãos, teve que deixar Thalia e o pequeno Xande para que Apolo cuidasse da saúde da nova mamãe. Quando ouviu as exclamações de meninas olhou para a colina interrompendo sua conversa; lá ele via sua amada caminhar com o filho nos braços e uma bolsa nos ombros. Gargalhou da cara de tacho dos gêmeos e foi auxiliar a esposa tirando a bolsa de seus ombros, beijou-lhe a testa e observou o filho adormecido. Não tardou aos escândalos, os milhares de parabéns e a cena comovente e desajeitada do centauro com o bebê nos braços.

Já com dois anos Alexandre arrasava corações no bairro onde morava, no Olimpo, no Acampamento. Aparentemente nunca havia sido relatado um filho entre meio-sangues, ele era o primeiro. O pequeno provara ter também suas habilidades como o pai e mãe.

–Sabe, acho que eu não aguento mais esperar – Luke sussurrou no ouvido de Thalia fazendo-a estremecer – Quero minha menininha já! – Thalia riu agarrando-se ao pescoço de Luke.

Não passou muito tempo até a gravidez ser confirmada. Mais uma vez abriram o último quarto e nele as cores predominantes foram as do nascer e pôr do sol: amarelo, laranja e alguns tons de rosa. Rayssa nasceu sete meses depois também no templo de Ártemis, dessa vez foi indescritivelmente mimada pelos homens. Uma hora depois de seu nascimento Luke levava Alexandre para conhecer a irmãzinha. Apolo via nos olhos da criança a mesma proteção que Luke oferecia a Thalia e a Annabeth quando meninas.

A vida nem sempre foi assim fácil: com moradia fixa e com as crianças, a família era dura e constantemente atacada por monstros; Zeus não podia interferir diretamente, mas fazia o possível para diminuir o número de ataques. Houve momentos angustiantes no quais Kelli, o demônio que fora morto por Annabeth no labirinto, aquele mesmo demônio que tentara de todas as formas matar Thalia, segurava Alexandre nos braços.

Era noite, e ao ouvir o choro do filho Thalia correu escada acima encontrando cena já descrita. Kelli parecia ainda mais demoníaca naquela noite. Xande chorava, graças a Zeus, pelo menos Rayssa ainda dormia em seu quarto.

–Não achou que fosse ser feliz para sempre, não? – ela riu e apertou mais a criança já assustada – Essa criança não deveria existir! Era para Luke ser meu!

–Ele nunca foi seu. – disse sem emoções – Solte-o. Ele não tem nada ligado a você!

–Ele é a prova viva da minha desgraça! Vou matá-lo lentamente para que você sofra o infinito...

Naquele instante no qual ela enterrou uma das unhas no braço da criança, Alexandre gritou e Luke apareceu com a espada em mãos. Thalia tomou o filho nos braços saindo do quarto azul e entrando no quarto da filha de poucos meses: Rayssa pelo menos estava segura, ainda entorpecida. Sentando-se na poltrona ao lado do berço acalmou o filho depois de colocar um curativo no pequeno ferimento; em silencio o menininho olhava para a mãe com os olhos úmidos e um biquinho; Thalia apertou a criança contra seu peito respirando aliviada por ele estar bem, por Luke ter chegado a tempo. Luke entrou vinte minutos depois, suado e com a expressão entre o assustado e o aliviado, ficaram os três abraçados durante um tempo olhando para o berço onde a pequenina descansava. Dormiram todos juntos naquela noite.

Outros momentos de profundo terror ocorrem anos depois quando a inocente Rayssa de apenas seis anos brincava na calçada, seu irmão havia entrado para pegar mais algum brinquedo e num instante no qual bastou fechar os olhos, passado e presente colidiram. Sua filha gritava pedindo, clamando por ele: Luke encontrou os brinquedos dos filhos esquecidos sobre a calçada, via Alexandre correndo pela rua atrás de um homem que levava sua Rayssa nos braços. Encontrara com ele apenas uma única vez e ao olhar para trás onde Thalia vinha se aproximando o olhar dela confirmou: aquele era Hugo, o padrasto abusivo de Thalia. Jamais Luke esqueceria as coisas que sua esposa contara sobre aquele homem de cabelos já muito grisalhos, naquela época era um problema ao qual ela tinha que superar sozinha, como de fato superou, mesmo Luke querendo de todas as formas possíveis torturar aquele homem Thalia resolveu sozinha, mas naquele instante no qual a filha gritava, no qual seu filho corria para ajudar a irmã e os vizinhos apareciam nas portas igualmente prontos para ajudar, no milésimo de segundo em que seus olhos encontraram com os de Thalia ele compreendeu: ele não devia se conter, devia vingar sua amada e sua filha e foi o que fez.

Thalia voltou para casa com Rayssa encolhida em seu colo e Alexandre parado protetoramente ao lado das duas. Uma hora depois que a policia e o resgate chegaram, Luke retornou as mãos sujas de sangue, entrando pela porta dos fundos indo se limpar rapidamente no banheiro para que os filhos não tivessem que ver tamanha cena. Depois que adormeceram os dois, Rayssa fazendo questão de dormir no quarto do irmão, Luke contou que Hugo fora devidamente agredido, que ficara irreconhecível, mas que infelizmente não conseguira matá-lo. Disse que não esteve sozinho, que seus vizinhos e já até amigos, auxiliaram a espancá-lo, pensando nas outras crianças do bairro. Naquela noite Thalia beijou Luke com infinita gratidão; por ela e pela filha. Não foi contado a aquela família, mas Zeus e Hermes decidiram por quebrar as regras: naquela madrugada Hugo sofreu o infinito por judiar de três mulheres: a amante de Zeus, a única filha e a primeira neta. Nunca mais se ouviria falar naquele homem, pois, no mundo dos mortos, finalmente a mãe de Thalia reagia vingando as duas por anos de sofrimento.

Mas a vida também tinha seus momentos de carinho, de muito amor. Como os fins de semana que as crianças passavam na casa da amável avó, das brincadeiras no jardim, das visitas ao Acampamento onde foram lentamente instruídos na arte de guerrear, as visitas raras de Zeus e Hermes... Ainda era desconcertante para muitos ver o carinho, o amor daquela família, como no fim de um passeio escolar quando os homens e as mulheres na casa dos trinta, quase quarenta olhavam para aquele homem forte, bonito e jovial parado no mesmo lugar que eles esperando o filho sair do ônibus.

–Papai! – grita Alexandre se jogando nos braços do seu eterno protetor; riam os dois como se tivessem passado semanas longe um do outro e não apenas um dia – Cadê a mamãe e a Ray?

–Estamos aqui! – disse a vozinha fina da criança. Rayssa segurava a mão da mãe e balançava o vestido lilás com inocência, Thalia andava com elegância e mais uma vez atraiam olhares enciumados. Alguns chagavam a dizer que não duraria nem mais um ano aquele casamento, mas isso nunca importou, pois não era verdade.

–Se divertiu, meu querido? – Thalia perguntou depois de beijá-lo na testa; ele foi a única criança a não rejeitar o carinho dos pais em publico.

–Muito! Nós podemos tomar sorvete? Eu to com fome! – e foi para o chão segurar na mão da irmã – Mamãe, papai! Aquele ali é o Nick, a gente jogou bola hoje – disse apontando para um menininho cujos pais encaravam abertamente a família; se cumprimentaram e se afastaram indo comprar o sorvete.

Não importa quanto tempo passe, todos crescem. Alguns mais rápido do que outros, por motivos diversos, mas crescem. Os medos, os bobos e os horripilantes, serão superados, por aqueles fortes de espíritos. Aquelas promessas que foram feitas no passado, aquelas importantes e aquelas que mal recordamos serão cobrados. Pois o destino foi traçado, mas foi traçado por nossas mãos.

As portas abertas, os caminhos escolhidos, os amores roubados, nada é imposto sem nossa própria interferência. Somos donos de nosso destino, de nossa história. Somos os guardiões do futuro e nos cabe lutar por ele.

Então aquele beijo singelo na colina não foi o último, a profecia não foi de um só, os medos foram aos poucos esquecidos. As mudanças levam tempo, deixam marcas e cicatrizes, doem em alguns, mas o resultado...

–Papai – sussurrou Rayssa; Luke olhou para baixo onde os filhos brincavam no tapete – a mamãe dormiu – continuou ela; Xande apontou para o outro sofá onde uma Thalia dormia serenamente.

Luke sorriu levantando-se. Ajoelhou-se ao lado de Thalia absorvendo sua expressão tranquila, acariciou-lhe o rosto, a expressão indescritivelmente amorosa, e tomou-a nos braços subindo vagarosamente a escada. Tinha o mesmo cuidado de quando a encontrara no fundo do navio toda machucada. Como naquele dia concentrou-se em seu coração batendo em ritmo regular e sorriu ainda mais quando ela se aconchegou em seu peito. Deitou-a na cama e ficou ali admirando seu lindo corpo, seu maravilhoso perfume, sua singularidade.

–Muito obrigado, Thalia. Muito obrigado por me ensinar a viver – sussurrou beijando-lhe os cabelos.

No alto da escada, escondidos para que o pai não os visse, as crianças falavam encantadas:

–Ray – sussurrou o menino – Você acha que algum dia alguém vai amar como eles?

Rayssa tendia a ser mais sensível, era tão parecida com a mãe que chegava assustar. Ela ouviu a frase do pai trazida pela brisa da janela aberta e sorriu para o irmão:

–Não, Xande. Jamais existira um amor igual ao deles.

O resultado esperado sempre será a rosa: certas imagens e sensações, palavras e gestos, ficarão guardadas em nossos corações pela eternidade.

Então comece já! Arranque os espinhos de sua rosa, não tenha medo de se ferir no caminho, não dê limites ao tempo, aprenda a viver com leveza sem se importar com o momento no qual a tesoura cortará o fio.

Viva para enfrentar seus demônios.

Acredite que pode vencê-los!

Viva para quebrar correntes.

Acredite que se quebrarão diante sua força!

Viva pelos sonhos.

Acredite que logo serão realidade!

Viva para amar.

Porque nada, nem deus nem titã, nem maldição ou profecia, nem vida nem morte, nada, definitivamente nada é mais forte do que o amor!

No quarto do casal, pela janela aberta mais uma vez a brisa entrou ao comando de Zeus, circulou o quarto e durante dois segundos rodeou a encantada rosa vermelha sobre a cômoda em frente à cama, logo se aproximou de Thalia em um afago, permitindo que ela inalasse o doce perfume. A mulher que iniciou esta história a encerra de olhos fechados, com a mão sobre o camafeu e um sorriso no rosto.

Sim. Muito obrigado, Thalia... Muito obrigado por ensinar a todos nós como viver!


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Notas finais do capítulo

=''')
Bye!