Original escrita por Caroline Tarquinio


Capítulo 2
Maybe not everything suck.




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SOPHIE

Acordei com o som do despertador, 5 horas da manhã e eu já estava vestindo meu pavoroso uniforme do Mc Donald’s e aquele ridículo boné. Desci as escadas o mais silenciosamente que pude agradecendo a Deus por Katie ter o sono pesado, nada seria pior do que aquela insuportável voz grasnando todos os meus defeitos e inventando novos.

–- Bom dia! – ouvi uma voz falar e me virei ainda nervosa. Me surpreendi ao ver que era Nathan, apesar de que não havia outra pessoa que poderia estar acordada em sua... “nossa” casa.

–- Ah, oi, bom dia – eu disse desconcertada.

–- Porque você tá acordada tão cedo? – olhei para mim mesma me perguntando se não era obvio considerando um “M” gigante de Mc Donald’s no meu boné e ainda me perguntando o porquê de ele estar conversando comigo se depois de três meses juntos falando apenas trivialidades.

–- Ahn... Eu estou indo trabalhar... Pensei que soubesse.

–- Eu sei, o que eu não sei é o porquê de você estar trabalhando em uma lanchonete. – Disse ele, mas pronunciou as palavras em tom acusador.

–- E porquê eu não trabalharia? – respondi desafiando.

–- Porque você é casada comigo – ele falou casada como se fosse um palavrão – e qualquer “garota” casada comigo no seu lugar não trabalharia. – o que me frustrava era que ele me culpava.

–- Olha, eu não quero falar sobre isso.

–- Vai chorar de novo? – ele disse e me perguntei se ele teria bebido.

–- Não, não vou chorar e respondendo à sua pergunta eu trabalho porque não sou sua esposa e nem nunca quis ser, ao contrario do que você pensa e do que a sua “namoradinha” anda espalhando por aí eu não quero seu dinheiro, não quero holofotes e não quero nada que venha de você.

–- Por favor, me poupe. – ele disse e senti todo o ódio e frustração dos últimos meses subindo pela minha garganta. Eu não iria conseguir ter essa conversa por muito tempo sem desmoronar.

–- Eu não quero nada de você, apenas que me deixe em paz – eu disse quase sussurrando.

–- Não vou deixar em paz a garota que arruinou minha vida e continua querendo arruinar, como se você não soubesse que todos comentam que você trabalha em uma lanchonete vagabunda e que eu não dou dinheiro a ela.

Aquilo foi o estopim.

–- Você acha que eu arruinei a sua vida? – perguntei gritando – Você arruinou a minha vida! A única coisa que mudou em sua vida foi que eu estou morando aqui e você nem fala comigo! Você mora com a sua família mas não fala com ela, você tem seu emprego e milhões de pessoas que te amam e imaginam que você é uma pessoa boa e você nem liga pra elas! Você ainda trai a sua patética namorada com essas descerebradas de Hollywood. Você atropelou uma pessoa e tirou a capacidade de ela andar e não tá nem aí! Eu não arruinei a sua vida, ela já era arruinada, você a arruinou, você só não tinha alguém pra culpar. Eu era feliz, eu tinha uma família, amigos, um namorado e uma possibilidade de ter uma família. Agora eu não tenho nada, nenhuma perspectiva, nenhuma amigo, nenhuma família, nenhuma vida, NADA! Tudo que eu posso fazer é ficar aqui e ver toda a possibilidade de uma vida feliz acabada e tudo porque a sua vida era um lixo, porque você não tinha uma razão pra viver e apesar de todo o dinheiro que você tem e beleza e carros e casas e tudo você não tem nada e eu tenho pena de você! – Parei e me senti aliviada, até ver o rosto dele, ele tinha lágrimas nos olhos e estava lutando pra não deixá-las escorrer. Me senti horrível por dizer todas aquelas coisas horríveis, mas me senti pior ao ouvir o que veio a seguir:

–- Você me... trai? – era a voz de Katie, me senti a pior das criaturas mas não pude deixar de me surpreender ao perceber que ela tinha sentimentos.

–- E-eu preciso ir, estou atrasada – saí e tentei evitar pensar nisso o dia todo mas não consegui.

Depois de trabalhar como uma escrava o dia todo fui pra casa pensando em todas as coisas horríveis que eu havia dito e todas as coisas horríveis que com certeza iria ouvir.

Quando cheguei em casa esperava ser recebida com horrores mas o que encontrei foi bem diferente do que imaginava: Nathan estava sentado no sofá de frente para a lareira em uma espécie de transe, segurando as duas mãos como se estivesse guardando algo.

–- Oi, - eu disse baixinho e no tom mais amistoso e doce que eu pude falar.

–- Oi, - ele disse mais calmo do que eu jamais esperei.

–- Eu queria pedir desculpas, por tudo, todos os horrores que eu disse. Você não deveria ter escutado aquilo daquele jeito.

–- Mas eu deveria ter escutado do mesmo jeito. – Não era uma pergunta.

–- Deveria – eu assumi – mas não cabia a mim dizê-lo.

–- Cabia sim, é verdade, tudo o que você disse, já era hora de eu ouvir aquilo.

–- Desculpe mesmo assim, e a Katie?

–- Acabou. Ela terminou comigo – ele confessou.

–- Ai meu Deus, eu sinto muito mesmo – eu disse culpada.

–- Você a odiava – ele olhou pra mim e não desmenti e isso o fez rir – tudo bem, eu a odiava também. Ela era uma grande vadia.

–- Ela realmente era, mas não era a minha intenção acabar com o seu namoro.

–- Aquilo não era um namoro – ele disse – era uma mentira, assim como toda a minha vida.

–- Não toda a sua vida, você tem uma família, procure-os, conserte, destrua as mentiras e busque as verdades, não sente aí e lamente que errou, todos cometemos erros, o que importa é o que fazemos para consertá-los e sermos pessoas melhores.

Ele olhou pra mim e se levantou:

–- Eu preciso ir dormir, boa noite.

Droga! Eu estraguei tudo de novo, a minha chance de pedir desculpas e manter a relação mais amigável com o meu “marido” possível e eu não consegui controlar o meu impulso de justiceira.

–- Boa noite – eu disse tirando o meu boné e indo em direção às escadas.

–- Ei, - ele disse e me virei – obrigada.

–- Pelo quê? – eu perguntei confusa.

–- Por me lembrar o que é uma verdade.

–- Ah, de nada! Sempre que precisar – eu disse e ele riu.

Talvez não seja tudo uma droga afinal, pensei comigo mesma.



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