– V-você.. Sam - Nico parecia não encontrar as palavras certas para dizer. - A fúria... pó.. A espada, como?

Como eu ia explicar para ele? "Isso? não foi nada.. Apenas um velho truque de fazer aparecer uma espada medieval para atacar uma das servidoras de Hades, para que ele me incinere antes que eu possa falar paçoca."

– Eu não sei - consegui dizer enquanto recuperava o fôlego. - Mas acho.. bem, que seu pai não vai gostar nada disso - apontei para a pilha de areia que se dissipava lentamente.

Com muito esforço fiquei de pé e Nico me ajudou. Eu tinha a impressão de que seu eu comesse mais Ambrosia em um só dia eu nem precisaria da ajuda do deus para explodir em chamas. Nico pareceu pensar o mesmo que eu, porque começou a colocar ataduras nos meus ombros.

O machucado que a fúria fez em mim não se comparava em nada com o espinho do Manticore (que por sua vez continha veneno fatal que causava uma fortíssima dor, mesmo que o ferimento não fosse muito profundo, diga-se de passagem).

Em cada ombro haviam três grandes fendas, como se alguém tivesse resolvido furar meu osso com a maior furadeira que pode-se usar. Eu realmente achava que, se eu resolvesse olhar para cada corte, veria meu lindo osso ali.

A dor era insuportável e com Nico tentando fazer os curativos, doía ainda mais.

Minha calça jeans estava inteira, milagrosamente, eu havia tirado o moletom para que ele verificasse os machucados.Minha blusa estava cheia de sangue em volta do ferimento, logo ela não era mais como antes, e sim uma mistura nada sutil de um branco surrado com um vermelho vívido.

Ele terminou de colocar as ataduras, mas o frio que fazia ali me obrigou a colocar novamente o moletom, mesmo correndo o risco de manchá-lo de sangue, como ele era preto, ficaria melhor do que a visão que eu tinha agora.

Nico parecia ter descoberto algo realmente interessante no chão, pois o encarava com cara culpada.

– Nico - falei -, está tudo bem, eu estou bem. Vamos sair daqui em breve e vai ficar tudo certo, não é?

Ele parecia ocupado demais chutando uma pedrinha, que acabou por se perder de seu caminho. Então ele parou. Como se tomasse coragem, levantou a cabeça e pude ver seus olhos cheios de preocupação.

– Não - ele conseguiu dizer. - Não está tudo bem Sam. Eu prometi para a sua mãe. Prometi pelo Rio Estige que eu cuidaria de você, que a manteia a salvo! E agora sinto como se tivesse mentido. Meus deuses! Não faz nem duas horas que saímos da sua casa e você já foi atacada por um monstro. Isso não podia acontecer, é tudo culpa minha.

Ele abaixou novamente a cabeça.

– Nico - falei. Ergui sua cabeça com a minha mão e reprimi um suspiro de dor que o ferimento ainda me causava. Agora eu olhava diretamente em seus olhos (para isso eu tinha de levantar um pouco minha cabeça, porque ele era alto) e pude sentir sua dor. - Vamos ficar bem. Vamos chegar ao acampamento em segurança e então entraremos em contato com a minha mãe e contaremos como foi. - Ele tentou desviar o olhar mas não conseguiu. - Nico, entramos juntos nessa, e vamos acabar com esses monstros bobocas que se meterem com a gente - eu falava como uma criancinha de cinco anos que está brincando de super-herói, o que deve ter sido muito engraçado, pois ele riu e pude sentir a tensão saindo de seus ombros. Mas logo a expressão sombria de tristeza voltou à sua cara; eu ainda segurava seu queixo, o que o obrigava a olhar para mim. Ele elevou sua mão e segurou a minha (o que fez um choque frio percorrer meu braço até o ferimento, o que quase me causou mais dor). E por um instante ainda olhou em meus olhos, como se tentasse descobrir algo que ainda não sabia sobre mim. Então abaixou a minha mão, a tirando de seu rosto.

Eu não sabia mais o que fazer, mas me sentia na obrigação de ajudá-lo. Ele não podia se sentir culpado por algo que não havia sido sua culpa.

Nem mesmo me fazer de idiota havia conseguido o animar, não por muito tempo. Mas então algo mais aterrorizante que a fúria e o Manticore juntos resolveu aparecer como um grande presente de boas-vindas.