Um ano e oito meses depois

Oscar. A maior premiação da indústria cinematográfica. Apenas os melhores do ramo estavam presentes e Ron era um deles. Seu filme foi um sucesso, mesmo com o orçamento baixo, atores pouco conhecidos e um diretor que até então só trabalhou com pequenos projetos. Ron não acreditou quando anunciaram que era o vencedor da categoria Melhor Diretor, assim que escutou seu nome lembrou que Hermione sempre acreditou que um dia ele ganharia. Esse, sem dúvida, foi um dos melhores momentos da sua vida.

Com o Oscar em mãos, só queria voltar para casa e celebrar com a família. Mas agora Ron entrou para o seleto grupo de grandes diretores e seus deveres aumentaram, deveria ficar mais alguns dias nos Estados Unidos concedendo entrevistas a jornais, participar de programas de televisão e até recebendo ofertas para futuros trabalhos.

Desde que Ron lançou o filme e começou toda essa loucura de divulgação e premiações, Hermione se desdobrava para cuidar da confeitaria que a cada dia crescia mais e da casa.

As crianças demonstravam a falta que o pai fazia de várias maneiras, Ben e Hugo viraram desobedientes e não queriam fazer nada do que lhes era pedido, Rose ficou ainda mais apegada e não desgrudava um minuto de Hermione a quem agora chamava de mãe, e a pequena Sophie de pouco mais de um ano ficou a mistura dos irmãos, não queria dormir e passar a noite brincado ou só queria ficar no colo da mãe.

-Papai não veio nos buscar? Rose perguntou assim que viu Hermione em frente à escola.

-Mas ele falou que voltaria hoje... Hugo disse desapontado.

-Eu sei, crianças. Hermione as consolou na medida do possível. –Ele ainda vai ter que ficar uns dias fora... Mas podemos aproveitar e comprar o presente dele, o que acham?

-Mas o papai não estará aqui para a festa surpresa que planejamos. Ben ficou chateado, pois amanhã fariam uma festa de aniversário surpresa.

Na saída da escola, a professora dos meninos chamou Hermione para uma rápida conversa sobre o comportamento deles nos últimos dias. Ben e Hugo sempre foram garotos educados e comportados, mas apenas nessa semana era a segunda vez que eles participaram de alguma confusão.

-Certo, quero os dois direto para o banho e após o jantar direto para a cama! Hermione ordenou aos meninos assim que chegaram em casa. –E estão de castigo nada de vídeo game, futebol ou qualquer outra coisa que gostem até o pai de vocês voltar!

Antes da hora de dormir, Ron ligou para falar com os filhos. Explicou que teria que ficar mais alguns dias fora e que tentaria de tudo para estar de volta até segunda-feira, mas não foi o suficiente para as quatro crianças. Também pediu que se comportassem, principalmente os meninos, e que obedecessem tudo que Hermione dissesse.

Hermione aproveitou depois que conseguiu fazer a pequena Sophie dormir para relaxar em frente à lareira lendo um bom livro. Com quatro crianças em casa, momentos como esse eram raros e tinha que aproveitar.

-Posso falar com você? Ben interrompeu a leitura e a assustou com a sua chegada repentina. –Desculpe, não queria te assustar.

-Tudo bem. Ela estava quase dormindo com a leitura. –Sobre o que quer falar?

-Sobre a briga hoje na escola... Hum... Ele não sabia como dizer. –Hugo não teve culpa de nada, eu que briguei com o Bill.

-Mas não foi isso que a professora disse. Aconteceu algo que ela ou eu não sabemos?

-Nós estamos fazendo um trabalho sobre a nossa família e Hugo colocou que tinha dois pais, Comarco e meu pai. E Bill disse que estava errado, porque meu pai não era pai dele de verdade. Eu disse que era e Bill falou que eu sou burro por dividir meu pai com uma pessoa que nem é da família... Isso foi a primeira briga. Hoje no meu trabalho, eu coloquei que tinha duas mães, você e minha mãe. Bill começou a fazer piadas sobre isso, então nós brigamos de novo. Hugo apenas tentou me ajudar.

-Ben, você deveria ter contado para a professora. Ela sabe o que fazer e explicar ao Bill que ele está errado ao pensar desse jeito. Hermione explicou emocionada pela atitude do menino. –Mas vocês ainda ficaram de castigo pela briga.

-Já desconfiava que você não deixaria passar! Ben sorriu divertido. –Mas não conte nada a ninguém que eu te disse isso, tudo bem mãe?

Assim que Ron e Hermione se casaram e tornaram-se uma família, Rose perguntou se poderia chamar Hermione de mãe. Logo depois que Sophie nasceu, Hugo começou a chamar Ron de pai. Ron e Hermione não se importaram, sempre diziam que tinham quatro filhos e a escolha partiu das crianças, sentiam que era uma demonstração de carinho. Mas deixaram claro que Ron não iria suprir a ausência de Comarco ou Hermione substituir Lilá.

-Tudo bem, mãe? Ele repetiu a pergunta depois que ela ficou calada o olhando emocionada.

-Tudo. Hermione ficou emocionada ao escutar Ben a chama-la de mãe pela primeira vez. –Fiquei feliz por você ter me chamado de mãe, apenas isso.

-Por quê? Ben achou que havia agido errado. –Te chamei assim, porque como Rose diz a todo mundo, nós temos duas mães...

-Não tem problema algum, você pode me chamar assim quando quiser. Ela o abraçou. –Apenas fiquei emocionada, mães ficam assim o tempo todo!

Eles ficaram conversando por um tempo, Ben contava animado sobre o trabalho que estavam fazendo na escola e sobre o campeonato infantil que estava disputando pelo Chelsea. Hermione apenas escutava, Ben tinha um jeito agitado e humorado, mas dificilmente se abria e parava para conversar.

Hermione percebeu que de repente Ben ficou calado, ele havia dormido enquanto falava. Ela o deixou dormindo no sofá do seu lado, queria companhia enquanto terminava de ler. A campainha tocou interrompendo a sua leitura e o sono de Ben. Quem estaria na sua porta às onze horas da noite de uma sexta-feira gelada?

-Oi! Espero que não tenha te acordado...

-Ron! Hermione o interrompeu e o abraçou forte. –É você mesmo ou estou sonhando?

-Eu voltei! Ele a beijou. –Será que posso entrar? Sabe, está frio aqui fora.

Hermione soltou-se dele e puxou as malas para dentro. Ben despertou ao escutar a voz do pai e foi correndo ao seu encontro.

-Senti sua falta. O garoto murmurou enquanto abraçava o pai.

-Também senti sua falta, filho. Ron o colocou no chão de frente para ele. –Cuidou dos seus irmãos e da Hermione como eu te pedi?

-Sim! Cuidei dos meus irmãos e da mamãe. Ele respondeu orgulhoso. –Sou o irmão mais velho!

-Obrigado, filho mais velho! Ron sorriu orgulhoso para o filho. –Sabia que você cuidaria de tudo. E eu falei com a sua mãe, ela virá semana que vem vê-los!

-Estou com saudades dela. Vou avisar Rose que a mamãe irá vir nos ver e a ela, Hugo e Sophie que você voltou!

-Não acorde a Sophie! Hermione pediu, mas foi tarde demais ele já havia subido as escadas em direção aos quartos. –Eu demorei a fazê-la dormir...

Logo as quatro crianças estavam na sala rodeando o pai. Ben trouxe a pequena Sophie no colo para participar da festa. A festa seguiu por noite adentro, foi difícil colocar as crianças novamente na cama.

O sábado amanheceu agitado na casa da família Granger-Weasley. As crianças acordaram cedo querendo aproveitar cada minuto com o pai e contar tudo que fizeram nas últimas semanas.

-O café está na mesa! Hermione chamou da cozinha.

-Estamos indo! Ron respondeu do andar debaixo onde brincava com os filhos na sala de brinquedos.

Antes de sentarem a mesa, Hermione fez todos lavarem as mãos.

-Estou com fome! Ben se serviu de torradas e leite.

-Novidade. Ron sentou-se ao lado da cadeirinha da Sophie e começou a alimenta-la. –Coma tudo, Sophie.

-Pai, o que iremos fazer hoje? Rose perguntou enquanto comia seu cereal.

-Nós temos jogo. Hugo comentou, mas depois lembrou que ele e o irmão estavam de castigo. –Nós tínhamos jogo.

-Conversem com seu pai, pois hoje vocês irão ficar com ele. Hermione respondeu bebendo seu chá. –Tenho que ir a confeitaria.

-Como assim? Ron não entendeu. –Depois de semanas fora, você vai me trocar por bolos?

-Não posso deixar a noiva sem o bolo do seu casamento, desculpe. Ela sentou no colo dele e disse sussurrando no ouvido. –Depois te recompenso por isso.

-Certo, irei esperar. Ele a beijou esperançoso pela promessa. –Vamos crianças! Vocês vão brincar bastante e a noite estarão bem cansadas!

Hermione arrumou as crianças antes de sair para ajudar o marido. Ron não lembrava o quanto era trabalhoso sair com os filhos, o carro estava carregado de coisas. O carrinho e a bolsa de roupas de Sophie, a bicicleta que Rose insistiu em levar, as mochilas que os garotos levavam aos jogos. E apenas Ron para carregar e cuidar de tudo isso.

Ben e Hugo iriam jogar em um campo no parque perto de casa. Desde que se mudaram iam a este parque todos os finais de semana, Rose adorava andar de bicicleta com as amigas, Ben e Hugo jogavam bola com o time, Ron empurrava a pequena Sophie no balanço e Hermione adorava ler sentada na grama.

-Certo, aqui estamos. Ron disse cansado após tirar tudo do carro e se estabelecer nos pequenos degraus de madeira ao lado do campo que serviam como arquibancada.

-Posso brincar no parquinho? Rose perguntou ansiosa.

-Daqui a pouco. Ele respondeu colocando Sophie no carinho. –Pode cuidar da sua irmã por enquanto?

Mesmo que os meninos não pedissem ajuda, Ron adorava ajuda-los a se preparar para os jogos. Ajudava a amarrar a chuteira para não desamarrar durante o jogo, verificava se a caneleira estava no lugar certo para proteger das pancadas. Eram pequenos gestos que para Ron vão fazer diferença quando os filhos ficassem mais velhos e lembrarem da infância.

Após o jogo, Ron foi até um quiosque ali perto e buscou alguns sanduiches e batata frita. Estenderam uma toalha na grama e fizeram um piquenique na grama do parque. Hermione ligou e avisou que teria que ficar até mais tarde na confeitaria.

-Posso voltar para o parquinho? Rose terminou seu suco e queria brincar novamente.

-Claro, querida. Ron segurava Sophie no colo. –Hugo! Ben! Acompanhe Rose no parquinho!

Nada deixava Ron mais feliz do que ver os filhos felizes. Ben lembrava muito o pai, tinha o mesmo jeito carinhoso ao cuidar dos irmãos e de fazer as pessoas rirem com suas piadas, também aprendeu com Hermione a gostar de estudar e desde que entrou para o time do Chelsea dedicava-se ao máximo para realizar o sonho de ser jogador de futebol. Hugo era o garoto mais responsável da sua idade, com o tempo superou a perda do pai e voltou a ser alegre como antes, assim como a mãe adorava ler, mas também gostava muito de futebol. Rose contagiava todos com seu sorriso, principalmente agora que estava trocando os dentes e sempre aparecia uma nova “janela”, adorava quando ela e a mãe Hermione cozinhavam juntas e brincar com a irmãzinha. Quando descobriram que o bebê que esperavam era menina, Ron logo pensou chama-la de Sophie, seria uma homenagem a enfermeira que tanto lhes ajudaram e que tornou-se grande amiga e parte da família. A pequena Sophie, os meninos a chamavam carinhosamente desse modo, era a mistura perfeita de Hermione e Ron. Era tranquila e esfomeada como o pai e esperta e determinada como a mãe.

-Vamos para casa? Ron perguntou enquanto emburrava Sophie e Rosie no balanço. –Está ficando tarde e Hermione logo deve estar em casa.

-Só mais um pouco, por favor! Hugo pediu todo lambuzado de sorvete.

-Cinco minutos enquanto eu guardo as coisas no carro.

-Acho que vai levar mais que cinco minutos para guardar tudo isso no carro. Ben sorriu sarcasticamente. –Podemos brincar mais!

-Engraçado, Ben, muito engraçado! Ron tentava desmontar o carrinho. –Pare de tirar sarro do seu pai e ajude.

Depois de muito esforço, finalmente conseguiram guardar tudo no carro, Ron sempre tinha sensação que na volta as coisas aumentavam de tamanho e não cabiam no porta-malas.

-Acho que algum vizinho deve estar dando uma festa. Ele comentou quando entrou na rua em que moravam e vários carros estavam estacionados.

-Provavelmente... Ben sorriu, o plano estava caminhando para o sucesso.

Ficou com preguiça só de lembrar que deveria tirar tudo do porta-malas, a cansaço venceu e preferiu deixar lá, afinal se fossem sair amanhã não teria todo o trabalho de novo. A casa estava toda apagada, Hermione ainda não deveria ter chego da confeitaria, pensou Ron.

Quando Ron entrou em casa levou um susto, as luzes foram acessas e várias pessoas surgiram gritando “surpresa!”. Depois do susto conseguiu ver que toda a sua família estava na sua casa para uma festa surpresa.

-Gostou, pai? Ben perguntou curioso.

-Muito, eu gostei da surpresa. Ron o abraçou. –Nem lembrava do meu aniversário.

-Mas nós não esquecemos, irmãozinho! Gina o abraçou. –Quarenta anos merece uma festa surpresa!

-Parabéns, amigo! Harry o cumprimentou. –Parabéns pelo Oscar e pelo aniversário!

-Obrigado. Ron agradeceu feliz. –De quem foi a ideia disso tudo?

-Hermione e as crianças tiveram a ideia. Molly contou. –Só que você ligou dizendo que ficaria mais uns dias e cancelamos a festa, mas hoje de manhã Hermione nos avisou que você havia voltado e retomamos o plano!

-Então você inventou toda a história do bolo de casamento para eu ficar com as crianças enquanto você arrumava a festa? Ele perguntou a esposa. –E como vocês sabiam que eu estava chegando?

-Na verdade tinha um bolo para eu fazer, o seu bolo. Depois eu, minha mãe, Molly e Gina ficamos aqui em casa arrumando tudo. Hermione explicou. –Isso era a tarefa do Ben...

-Com o celular que vocês me deram de aniversário, eu mandei uma mensagem para a mãe avisando que estávamos chegando. O garoto contou orgulhoso sobre a sua participação.

-Obrigado a todos pela festa, nada melhor do que voltar para casa e encontrar as pessoas que você mais ama reunidas para comemorar seu aniversário. Ron agradeceu emocionado.

Durante a festa todos foram cumprimentar o pelo aniversário e pelo último prêmio recebido. A festa era para comemorar o aniversário, mas também foi para Ron rever a família e amigos. Sophie e o filho Robert também estavam entre os convidados, Robert comentou que já estava com novos planos, Ron agradeceu, mas disse que precisava de algum tempo para descansar e ficar com a família.

-Agora que eu percebi. Ron comentou enquanto ele e Hermione se arrumavam para dormir. –Meu aniversário é amanhã!

-Eu sei, mas não se preocupe. Hermione deitou ao lado dele na cama. –Amanhã no almoço na casa dos seus pais pode ter certeza que terá outra comemoração!

-Quarenta anos merece duas festas! Estou ficando velho, parece que foi ontem que éramos jovens e morávamos naquele apartamento apertado no centro...

-Ainda podemos ser aqueles jovens, apenas estamos cansados demais com quatro crianças, trabalho e casa para cuidar. Ela o beijou. –Boa noite, senhor de quarenta anos!

-Não, não, não! Ele a puxou e a virou fazendo com que ela olhasse para ele. –Se me lembro bem de manhã você disse que iria me recompensar por passar o dia com as crianças... Estou esperando a recompensa! Ele fechou os olhos e ficou esperando que ela o beijasse.

-Querido, a recompensa que me referia era a festa. Hermione riu dele esperando algo mais. –Preparar a festa me deixou muito cansada...

-E você acha que cuidar de quatro crianças que não param um minuto, não é cansativo? Ron a puxou para perto e a beijou. –Você está muito enganada, senhora Weasley!

Às vezes a vida tem planos maiores para nós e só enxergamos isso com o tempo. Hermione e Ron eram a prova disso, precisaram ficar anos separados, tentassem construir uma vida com outras pessoas para perceberem que foram feitos para estarem juntos.