POV’ Sophie

Chegando na área que iríamos começar a montar o acampamento, Leo foi pegar as nossas bagagens – que fofo, ele é cavalheiro – e fiquei esperando perto do ônibus. Até me ofereci para pegar minhas próprias coisas, mas ele disse que faria isso.

- Porque você tá me evitando? – Josh chegou quase gritando.

- Porque você me traiu e me humilhou na frente de todo mundo? Porque fingiu não lembrar quem eu era, e ainda por cima, pegar a piranha da Ally? Muitas perguntas sem respostas, não é?

- Eu fiz isso com você?! – ele parecia realmente surpreso.

- Ainda finge que não lembra o que aconteceu... Não sei como eu fui burra de acreditar no seu papinho de me amar.

- Mas eu te amo! – ele segurou meus ombros com firmeza.

- Você só pode ser bipolar!

- Eu não sei do quê você está falando!

- Josh, eu não caio mais nas suas mentiras. Agora com licença – eu saí das mãos dele e comecei a andar para o acampamento.

- Aonde vai?

- Não te devo explicações.

- Claro que me deve! Você é minha namorada! – essas palavras doeram. Comecei a me dar conta de que ele me tratava como um brinquedinho: use e jogue fora quando quiser, talvez você possa usar de novo.

- Atualize as mensagens do seu celular, e depois pense se somos mesmo namorados.

Ele veio até mim e segurou meu pulso. Meus olhos estavam começando a se encher de água. Cara, eu não sou de pedra.

- Vai sair assim? Não vai nem tentar me explicar tudo?

- Olha a mensagem, Josh – as lágrimas já rolavam pelo meu rosto.

E saí para o acampamento. Droga, droga, droga! Ele é tão idiota, estúpido, falso, mas eu choro por ele. Qual é o meu problema?, eu pensava enquanto andava para onde as minhas colegas de quarto estavam. Sequei minhas lágrimas e fui conversar com elas.

- Oi garotas...

- Oi – disseram as três em coro.

- Eu quero saber duas coisas: ontem, depois do desastre da festa, eu acabei beijando o Leo. Eu cochilei no colo dele e acordei no nosso quarto; foi ele que me colocou na cama?

- Ai... foi tão fofinho! – disse Sarah. - Você estava no sono mais profundo, aí ele bateu na porta do quarto com você nos braços e te deitou na cama. Antes dele sair, ajeitou o seu cobertor e te deu um beijinho na testa.

- Ele é uma graçinha mesmo... – eu sorri.

- Vocês estão ficando? – Samantha disse toda alegrinha.

- Acho que sim, talvez. A outra coisa superimportante que eu queria saber: vocês sabem quem mandou aquela mensagem do inferno?

- Não, veio com número desconhecido – Megan discordou com a cabeça. - Desculpa.

- Tudo bem, agora, mudando de assunto, o Leo não é incrível? – eu disse dando pulinhos de alegria.

- Muito incrível.

- Quem é o ser incrível que vocês estão falando? – Leo me abraçou por trás e deu vários beijos em meu rosto e pescoço.

- Ninguém, Leo. É coisa de garota, nem tente entender... – eu dei uma piscadinha para as garotas.

- Vamos passear um pouco?

- Claro! Tchau garotas. Até daqui a pouco – ele me puxava para uma parte afastada.

Enquanto andávamos de mãos dadas, passamos por Josh e ele nos lançou um olhar fuzilador. Nunca imaginei que inveja era tão bom de vez em quando, eu pensei.

Fomos para uma parte onde tinha uma piscina natural – aquelas que têm água do rio de verdade –, e Leo tirou o relógio, o tênis e as meias e pulou nela. O tempo estava meio nublado e a água parecia bem gelada.

- Você é louco? – eu disse me aproximando.

- Não sou louco, só gosto de me divertir. Entra aqui!

- Não! Parece que a água está gelada, e se algum monitor te ver aí, você vai ter que voltar para o acampamento.

- Minha namorada é certinha!

- Eu não sou certinha.

- Então prove!

Eu odeio que pessoas me chamem de certinha ou qualquer coisa do gênero. Tirei meus tênis e meu casaco do moletom e pulei. A água estava muito gelada. Aquele mentiroso ainda ia se ver comigo.

- Agora eu pareço certinha?

- Não. Mas parece que está com frio – ele me abraçou e me deu um beijo.

- Sim, estou com frio senhor Só Gosto De Me Divertir.

- O.k. vamos sair daqui – ele me tirou da água e coloquei o meu casaco do moletom.

Fomos para o acampamento e peguei uma toalha para me secar e troquei de roupa na minha barraca. Saindo de lá, peguei minha mochila e saí para encontrar o pessoal. Estavam começando uma fogueira e alguns cantavam alguma canção desconhecida, enquanto Peter – nosso professor de música e teatro – tocava violão. Comemos marshmallows e contamos histórias de terror.

Também percebi que Ally tentava conversar com Josh, mas ele olhava diretamente para o fogo e não falava uma palavra. Sim, também acho que eles brigaram. Depois de conversar – e rir – sobre as histórias de terror, os monitores mandaram todo mundo dormir.

Minha barraca é o seguinte: ela tem tipo uma “janelinha” que dava direto para onde a fogueira estava. Josh estava lá. Ainda sentado no mesmo tronco, mas olhando para mim, mesmo com um frio de congelar os ossos.

Era agonizante olhar para aquela imagem, mas mesmo se eu virasse, eu podia sentir os olhos dele sobre mim. Resolvi que teria que fazer alguma coisa.

Peguei um cobertor reserva que eu tinha e coloquei sobre os ombros dele. Também estava enrolada no meu e me sentei ao seu lado.

- Acho que você quer conversar comigo.

- Por que você acha isso?

- Você está aí faz mais de uma hora e fica olhando para mim de um jeito vidrado. Com certeza você tem alguma coisa pra me dizer.

- Eu vi a mensagem que você falou. O estranho é que... eu não lembro de nada.

- Conta outra, Josh.

- É sério. A única coisa que eu me lembro é que eu acordei na minha cama e Ally estava comigo.

Eu lancei um olhar de indignação e nojo ao mesmo tempo.

- Ela estava de roupa, pequena.

Droga! Para de chamar de pequena! Eu não sou mais a sua pequena, eu pensei, mas deixei ele continuar.

- Eu briguei muito com ela, mas eu não me lembro de absolutamente nada.

- Acho que... acho que vou dormir – eu me levantei.

- Eu também – ele se levantou e me deu um beijo na bochecha. - Pensa em me perdoar, o.k?

- Vou pensar.

Eu voltei para a minha barraca e não consegui dormir de jeito nenhum.