Blue Eyes escrita por rairixiz1234


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem e que deixem reviews xingando, elogiando, fazendo críticas construtivas, dando um oi, sei lá '-'



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Aqueles belos olhos azuis... Límpidos, livres de impurezas, curiosos, simplesmente encantadores. Fascinavam qualquer pessoa, hipnotizavam, seduziam de forma inocente. Quem cruzasse com esse olhar, perdia a consciência, derretia, era enfeitiçado.

A dona daqueles olhos já tinha sido tão pura quanto eles, inocente. Mas esses atributos foram tirados dela quando ainda pequena. Foi violada de todas as formas possíveis, por pessoas que diziam todas as manhãs e todas as noites que a amavam. Aquelas pedras preciosas azul-ciano foram as culpadas, não se lembra como, mas foram.

A única sorte que aquela vida miserável lhe deu, foi que todas as vezes que sofrera, não teve coragem de abrir os olhos, e assim, eles se manteram intactos, nunca viram nada, nem sangue, nem violência, nada que pudesse corromper seu azul.

Quando cresceu, percebeu o poder que seus grandes orbes possuíam, fez deles uma arma, de vingança e sedução. Atraiu vários homens, ricos, com grande posição social, que desejavam acima de tudo, aquelas esferas brilhantes.

Lucy ficava a cada dia mais próxima de sua vingança, vingança contra seus pais, irmãos, avós, os vários maridos que teve ao longo de sua vida. Iria se vingar de todos os seres humanos que tiveram o privilégio de ver seus olhos, suas armas, sua alma.

Quando chegou á casa dos 30, começaram a aparecer em sua pele vestígios do tempo. Porém seus olhos continuavam com o mesmo poder, inocentes, límpidos, com um tom de azul tão claro quanto o céu. Passou á usar maquiagens mais fortes, escondendo cicatrizes e até algumas ruguinhas quase imperceptíveis para as outras pessoas, mas para ela, fatais. Deveria estar com a pele perfeita, lisa, como todas as mulheres bem cuidadas de sua idade, mas devido ao cansaço e aos imprevistos que encontrava, fechou os olhos, e deixou mais uma vez que o físico se machucasse.

Não se importava com seu atual marido, um magnata preguiçoso que só pensava em festas de luxo e prostitutas. Sim, ela não tentava satisfazê-lo, nem queria. Que ele gastasse todo o seu dinheiro com bebidas, mulheres e comida, que vire um porco, que morra. Passava a maior parte do tempo deitada em seu quarto, matutando sobre o que iria fazer em seguida, precisava prosseguir com seu plano, não tinha passado 30 anos se dedicando aos seus olhos para agora dar-se ao luxo de descansar e morrer numa mansão.

O próximo da “lista” era um homem, James Phillips, o homem nojento que teve a audácia de violar seu corpo pela primeira vez, estava caçando-o por cinco anos, agora ele já devia estar velho,podre de rico, detestável. Se as informações que recebia não estivessem erradas, ele se encontrava em Falésias de Étretat, Haute-Normandie, na França. Com certeza tinha comprado uma das belas mansões antigas que aquele lugar possuía.

Delineou suas “armas” com perfeição, arrumou suas malas e em uma semana estaria com mais uma felicidade momentânea.


~*~


40 anos, estava comprometida novamente, mas não estava casada com um homem rico ou de grande importância na sociedade. Estava namorando, e ele era um mero colunista de jornal. Essa palavra era estranha para ela. Nunca tinha namorado, mas quando aqueles olhos tão parecidos com os seus a olharam quase em súplica, o não que estava na ponta da língua foi engolido. Sentia-se patética, enquanto seu salto alto preto chocava-se irritantemente contra a calçada em direção ao mesmo café em que se conheceram.

Surpreendemente, não delineou os olhos nem passou nada que pudesse destacá-lo, talvez porque realmente não queria continuar naquele “relacionamento” estúpido que completava um mês. Adentrou o estabelecimento, aquele cheirinho de café invadiu suas narinas, era gostoso senti-lo, até parecia que era uma pessoa normal, que estava ali apenas para tomar um delicioso cafezinho e partir para o trabalho.

Enquanto andava, procurava uma mesa afastada das demais pessoas que ali se encontravam, não gostava de pessoas, para ela, todos eram seres imundos e repugnantes que ostentam um sorriso simpático no rosto e uma carranca no interior. Logo, achou uma mesa com vista para a rua, num cantinho isolado dos olhares indiscretos e das conversas alheias. Pediu um capuccino com creme enquanto aguardava.

Nem um minuto de atraso, a figura dele apareceu na porta pouco depois que o garçom saiu com o pedido anotado. Observou ele andando com aquele ar de alegria. Se acreditasse nas pessoas, poderia dizer que quando ele a encontrou, em seus lábios brotou um sorriso sincero de pura felicidade. Para não ser rude, respondeu com um sorriso simples e calmo, e obviamente falso.


– Demorei? – perguntou alegremente enquanto se sentava.

– Não.

– Ah que bom, o trânsito estava um pouco difícil hoje, fiquei com medo de deixá-la esperando.

– Não se preocupe com isso.

– Bom e então, o que pediu?

– Capuccino com creme.

– Ótimo, vou pedir isso também!


E assim a manhã se passou, Christopher fazia perguntas alegremente e puxava assuntos, enquanto Lucy respondia normalmente sem nenhum interesse. A presença dele lhe fazia bem, tinha apanhado tanto nessa vida, que qualquer tipo de simpatia a surpreendia, mas ela nunca deixava transparecer, sempre com uma expressão indecifrável, não era possível saber se estava realmente feliz, triste, ou com raiva, parecia uma boneca.

Apenas aqueles que conseguiam ver através de seus olhos de vidro saberiam suas verdadeiras emoções, e felizmente, ou infelizmente, ninguém nunca foi capaz disso.


~*~


Isso não estava em seus planos. Nunca tinha passado isso por sua cabeça. Não queria. Amaldiçoava-se milhões de vezes por dia, por ter se deixado levar. Agora a barriga já era bem visível, pudera, já estava no oitavo mês de gestação, tinha que estar visível!

Descobriu que era uma menina fazia algum tempo, como iria prosseguir com uma criança nos braços? Claro, Christopher, o pai, estava dando todo o apoio, cuidando dela dia e noite sem descanso, trabalhava mais fazendo horas extras, apesar de não precisar, já que conseguira muito dinheiro de seus passados maridos. Mas já conhecia um pouco aquela cabeça loura para saber que mesmo se ela fosse multimilionária, ele iria querer sustentar a criança.

Não podia fazer nada, iria ter um bebê. Conhecia pessoas que fizeram aborto, mas isso nunca passou pela sua cabeça, não era cruel assim, afinal era uma parte dela, uma vida. Sabia que a criança poderia crescer e virar mais um dos humanos repugnantes que ela tanto desprezava, mas não tinha coragem de cometer tal crime. Tinha pena de sua filha, nascer de uma pessoa assim, que enganava, matava, seduzia, que cometeu vários crimes apenas por vingança. Era assim que sua pequenina iria pensar daqui alguns anos.

Pela primeira vez, seus olhos demonstraram tristeza, sentia que estava se tornando “humana” novamente.


~*~


Gritos de dor eram ouvidos no hospital, os olhos azuis estavam fechados, Lucy os apertava com força. A dor era imensa, seus ouvidos zumbiam loucamente, não conseguia ouvir nada, nem os médicos, nem seu “namorado” que estava do seu lado apertando sua mão com força. Os dentes trincados, o suor escorrendo pela testa, era tudo muito confuso. Aquela dor era várias vezes mais forte do que quando foi violada pela primeira vez. Quando se lembrou disso, as memórias começaram a correr pela sua mente numa velocidade irreal

Logo a dor dissipou-se, um choro agudo e irritante atingiu seus tímpanos,pela primeira vez abriu os olhos no meio do desespero. Lá estava um projeto de gente cheio de sangue, chorando com a boca arreganhada. Seu “amado” sorria, os médicos sorriam, e ela retribuiu com um sorriso largo, sincero. Puseram a criança na sua frente. E pela primeira vez também, lágrimas escorreram livremente dos orbes azulados, tinha se tornado "humana".

Inexplicavelmente, a criança parou de chorar, e abriu os olhos.

Iguais. Azul-ciano, como o céu. Límpidos. Puros. Inocentes. Curiosos. Encantadores.

Lucy arregalou os olhos, via seu reflexo ali. Eram seus olhos, idênticos.

O ar faltou-lhe, os médicos afastaram o bebê. Não conseguia respirar, a cena rodava, novamente aquelas memórias horripilantes voltaram a lhe assombrar. Mas desta vez, em todas as memórias, seus olhos estavam abertos, ela via tudo, com seus grandes orbes arregalados.

Novamente aquele zumbido, viu por um milésimo de segundo um borrão onde todos gritavam desesperados, Christopher tinha os olhos azuis marejados, tão parecidos com os meus...

Fechou os olhos novamente, o brilho de inocência deles se dispersava lentamente, eles escureciam cada vez mais, os sons altos foram diminuindo, a dor insuportável também, pelo menos tinha certeza que as pessoas iam continuar a encantar-se com seus belos olhos, que agora pertenciam à pequena Blue, Blue Skyler.




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Notas finais do capítulo

E é isso, essa ideia me surgiu numa noite de insônia e eu resolvi postá-la aqui... Reviews para me deixar feliz?