Linger escrita por SheCares


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

eu escrevi essa one-shot já faz uns dois anos, porém só tive coragem de posta-la agora. Espero que gostem.



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Linger

"You know I'm such a fool for you (...) Do you have to let it linger? Do you have to, do you have to, do you have to let it linger?"

–Linger (The Cranberries)

O cheiro de livros antigos e novos misturados em um mesmo ambiente é quase inebriante para mim... E era na ampla biblioteca da universidade eu podia aproveitar ainda mais essa incrível sensação.

Por isso eu estava lá. E não no laboratório de informática.

Já passavam das sete horas da noite e apenas eu e alguns poucos alunos que permaneciam na biblioteca. O livro de biofísica encontrava-se aberto na página 78 e havia muitos papeis espalhados, meu notebook estava no site do meu professor com a janela de exercícios aberta.

Já estava ficando cansativa essa brincadeirinha de fugir para a biblioteca.

Eu já estava ficando cansada.

Literalmente.

—Por hoje chega né, Testuda?

Virei-me para encontrar o rosto bonito da Ino, minha melhor amiga.

— Ah, pode ir sem mim hoje, Ino. Ainda faltam alguns exercícios. — disse apontando apara a bagunça que minha mesa estava

—É sexta à noite Sakura, quem você acha que engana? — Ino começou rir — Quer dizer, larga de bancar a fracassada e junte-se ao resto dos seus amigos em uma saída totalmente extraordinária.

—Heh, extraordinária? Tente não exagerar, Porca.

Ela bufou e revirou os olhos

— Ok, continue presa nessa biblioteca feia enquanto eu saio para aproveitar a minha esplêndida juventude... Mas me diga, você vai voltar para casa como?

­— De ônibus... ou a pé, não é tão perigoso assim. Não se preocupe não vou ir embora tarde — sorri

Ino resmungou algumas coisas enquanto caminhava para a saída, mas não tardou de me enviar olhares estratégicos antes de me deixar voltar para os estudos.

Na verdade, os exercícios eram para serem entregues apenas na próxima semana, porém, eu precisava me distrair com algo e sair com os amigos não melhoraria minha situação. Ver casais em minha volta era o mesmo que relembrar o ridículo incidente de algumas semanas atrás.

Há alguns meses minhas aulas de Biologia Celular começaram. Eu estava exageradamente entusiasmada com o inicio destas aulas desde meu ingresso na faculdade de Medicina, entretanto todo meu entusiasmo dissolveu-se quando conheci meu professor. Uchiha Sasuke era um homem ligeiramente mais velho com uma arrogância desoladora, entretanto, não posso negar, indiscutivelmente e infelizmente, interessante.

No começo nossa relação era terrível. Sasuke era muito rigoroso, talvez porque eu era questionadora, e simplesmente porque não suportava a arrogância patética dele. Todavia, quanto mais rígido ele ficava, maior era a minha cede de lhe provar meu potencial. E isso gerou inúmeras discussões dentro e fora de sala de aula. Contudo, conforme nossa convivência se estreitava fora possível perceber que ambos de nós nutríamos um irrevogável desejo reprimido.

Vergonhoso, eu sei.

E não demorou muito para que um de nós dois cedêssemos a tal.

Foram meses audaciosos, de fato foram. Com fugas aos lugares mais afastados do campus para desfrutarmos de momentos mais íntimos, ocorreu-me até a ideia de estar, possivelmente, apaixonada por ele.

Apaixonar-me por ele não foi fácil. Eu ainda estou tentando.

Mas o ultimo fulgor de nossa relação chegou ao seu ápice há algumas semanas. Eu sabia desde o início que me relacionar com alguém como o professor Uchiha ­—Chamado assim por seus alunos e seus superiores — seria danoso, porém meus supostos sentimentos por ele falaram mais alto, em uma intensidade tão grande que eu resolvi ignorar os riscos, porque eu sou, obviamente, uma idiota. Sasuke é atraente de uma maneira quase absurda, logo, chamar a atenção de outras estudantes não era nenhum espanto, menos ainda receber investidas destas.

Era uma quarta-feira comum e rotineira e a aula de Anatomia Humana estava cansativa, eu estava prestes a dormir em pé quando meu nome foi pronunciado.

Sakura-san procure o professor Uchiha e diga a ele que precisarei tomar 20 minutos de sua aula para terminar esta explicação

Sai da classe e caminhei calmamente em direção à sala dele e quando dei por mim já estava abrindo a porta e me prestando a ver uma cena incômoda para meus olhos; Era ele sentado de forma casual enquanto uma garota se debruçava em sua mesa e lhe tocava os ombros.

De forma genuína, eu posso dizer que não senti raiva da aluna em questão. Ninguém sabia do meu envolvimento com Sasuke, ela só estava tentando alguma coisa. Mas ele... Ao contrário dela, sabia de tudo e mesmo assim a deixou o tocar de forma íntima e... Espere, ele estava sorrindo?

Não demorou tanto para que percebessem a minha presença no local.

Não fiz nenhum escândalo vergonhoso, apenas dei o recado que minha professora me mandara transmitir e parti para longe daquele local. E desde então venho evitado solenemente qualquer contato que seja fora de sala com ele, venho também ocupando minha mente com os estudos. É tudo tão frustrante, eu sou tão frustrante.

— A biblioteca vai fechar daqui a 10 minutos, Haruno. E se não me engano o ultimo ônibus que a levaria para casa já passou. — Uma voz firme e rouca com um hálito quente invadiu meus ouvidos me tirando das pesadas lembranças. Era ele.

Olhei para o relógio: Quase 11 horas da noite. (Eu realmente devia parar de me perder nas minhas próprias lembranças)

— O que está fazendo aqui? — perguntei sem me virar

­— Procurando por você.

Soltei uma risada sem ânimo.

— Quero falar com você — ele prosseguiu

— Acho não temos mais nada para conversar — disse enquanto guardava meu material

—Não seja tão ríspida, Sakura.

— E você quer que eu o trate como? ­­Me diga professor. — levantei e me virei em sua direção, já com meu material devidamente guardado.

Sasuke abrira sua boca para falar algo, porém foi impedido pelo estrondoso som de um trovão. Não pude evitar o susto.

— Qualquer coisa que você queira me dizer terá que adiar, preciso ir antes que comece a chover. — lhe disse já indo em direção à saída da biblioteca, mas fui detida por sua mão segurando meu braço.

­— É perigoso. Eu te levo — ele disse olhando diretamente para os meus olhos.

­— Não precisa — desvencilhei meu braço de sua mão. —Vou a pé.

E sai.

(...)

Eu consegui caminhar metade do trajeto para casa sem correr o risco de tomar chuva, mas depois de determinado tempo, começou a chover e o que começara normal tornou-se torrencial e a marquise na qual eu estava em pé desde então era pequena e um pouco escura. Eu estava sozinha, parcialmente molhada e com um pequeno, porém, crescente, medo.

Droga, eu deveria ter aceitado aquela maldita carona.

De longe vi uma silhueta vinda em minha direção, foi gradativamente aumentando até alcançar meu tamanho, e apesar da escuridão eu pude enxergar, graças às luzes dos postes, quem estava comigo. Era um rapaz, aparentava ter mais ou menos a minha idade. Ele estava todo molhado e seus cabelos castanhos caíam em sua face, mas era possível perceber que ele me encarava. Seus olhos percorreram meu corpo todo.

Merda.

— Procurando algo? — perguntei tentado esconder meu medo.

— Talvez sim — sua voz não era tão firme, o hálito era forte e olhando mais atentamente percebi que seus olhos estavam avermelhados.

Dei um passo para trás, ele deu um para frente.

— Por que você não vem comigo para longe dessa chuva? — ele disse se aproximando cada vez mais.

—Eu já estou longe da chuva. ­—respondi com certa brutalidade

Ele se aproximou definitivamente e com ferocidade segurou meus dois braços, tentei em vão me soltar dele.

— Me larga! — dessa vez consegui atingir o tom que queria, porém ele não parou, começou a mover sua cabeça e corpo em minha direção, encurralando-me. Eu estava pronta para ataca-lo, chuta-lo talvez. Me daria tempo para correr, mas então ele parou. Ouvimos um barulho de carro.

— Você é surdo por acaso? Deixe-a em paz.

Que ótimo, o príncipe encantado veio me salvar.

O rapaz não disse nada, apenas soltou meus braços e andou vertiginosamente para perto de Sasuke.

— E você vai fazer o que? Pega a porra do seu carrinho e dá o fora daqui porque eu e ela temos assuntos para tratar

Eu vi Sasuke saindo do carro pronto para atacar, mas eu fui mais rápida.

­— Não temos nenhum assunto para tratar.

E quando ele se virou para me encarar eu o soquei bem no meio dos olhos, e depois o chutei.

­—Arhg, filha da puta.

(Oh, que os céus abençoem as aulas de defesa pessoal).

Então eu corri para o único lugar seguro de fácil acesso, o carro do Sasuke.

— Entra no carro! ­— o chamei e seu olhar mudou bruscamente, eu podia dizer que ele estava um genuinamente estupefato.

— Não sabia que podia fazer isso. ­— Sasuke disse enquanto dava ignição ao carro e deixava aquele completo babaca para trás.

— Você ainda precisa aprender muito sobre mim, Sasuke-kun.

Olhei para Sasuke, seus braços estavam rígidos e suas mãos tensas presas ao volante. O carro começou a se movimentar mais rápido e lá fora a chuva continuava rigorosa.

O trajeto ate a minha casa foi silencioso e calmo, como uma manhã de inverno, e não pude deixar de notar os olhares de canto que Sasuke me lançava, infelizmente eu não era capaz de correspondê-los. O carro parou e percebi que já estávamos em frente ao meu prédio, olhei finalmente para Sasuke, era necessário agradecer a ele.

­— Obrigada, se você não tivesse aparecido naquele momento eu teria tido mais trabalho para me livrar dele. — me virei e abri a porta do carro porque não queria prolongar o assunto, porém Sasuke foi mais rápido e passou seu longo braço e fechou-a novamente.

— Eu preciso falar com você — Dessa vez não relutei mexi minha cabeça em sinal para que ele prosseguisse. — Aquilo que você viu... Entenda Sakura, não foi o que pareceu.

—Então você vai culpabilizar a garota? É isso? ­— Disse olhando diretamente para ele.

—... Não. Eu vou explicar a história.

—Explicar a história? Sasuke, eu não preciso de um contexto. Aquela moça estava dando em cima de você e você por sua vez não a censurou. Quer dizer, se não tivéssemos nada eu não ligaria, seria problema seu. Mas caramba, eu pensei que tínhamos algo!

—Mas nós temos. Ou tínhamos?

—Eu não sei... —minha voz saiu fraca.

— Eu não a afastei porque eu um miserável, um pedaço de lixo humano. Me desculpe.

Não consegui prender a minha risada. Ele era muito arrogante, devia estar sendo difícil falar aquilo.

—Você é.

— Porém não pense que eu prolongaria o flerte dela.

Como se isso amenizasse, mesmo minimamente, seus atos, eu pensei.

O silencio se instalou entre nós. Eu queria quebra-lo, mas eu ainda tinha meu orgulho. E ele ainda estava ferido.

Mas algo precisava ser feito.

Foi Sasuke quem se aproximou primeiro. Suas mãos tocaram o meu rosto gentilmente e lá seus dedos acariciaram as maçãs de minhas bochechas. Em troca resolvi tocar seu pescoço e me prender a fazer movimentos dóceis no local, fomos nos aproximando lentamente até nossos lábios estarem a centímetros uns dos outros. Isso não era bom.

—Eu pensei que tínhamos terminado essa fase — sussurrei

Ele estalou a língua

— Estamos só esta começando.

Mas havia tantas coisas não ditas, tantos atos calados, sufocados. Eles clamavam por liberdade.

Entendemos isso. E então iniciamos o nosso beijo singelo. Sasuke decidiu aprofunda-lo, pedindo passagem para a língua e eu já entorpecida pelas emoções concedi. Logo o beijo se tornou mais forte e urgente e a mãos de Sasuke desceram para a minha cintura e a apertou de leve, gerando um pequeno tremor de minha parte. Paramos para respirar, então Sasuke retomou seus beijos, agora em meu pescoço enquanto tudo que eu pensava era em “Merda, isso não devia estar acontecendo”. Ele parou de repente e com apenas dois movimentos passou seus braços por minhas pernas e me trouxe para cima de seu colo. Encaramo-nos por alguns segundos.

Tomei por começar a beijar seu rosto todo ate chegar novamente em sua boca onde retornamos o que tínhamos parado, as mãos dele percorriam meu corpo ate repousarem em meus ombros. Começou a tirar meu casaco, resolvi imita-lo e desabotoei os primeiros botões de sua camisa negra. Os beijos de Sasuke estavam agora estavam indo do pescoço para a descida da minha clavícula e droga, isso era muito bom.

Um trovão.

Paramos abruptamente, fomos levados pelo susto. Mas logo voltamos a nossa atividade. As mãos dele pressionavam com força minhas costas e quadril e os empurravam para mais perto de si, eu me limitava a rebolar em seu colo enquanto distribuía beijos rápidos em toda a extensão de seu pescoço.

—Droga, Sakura. Assim não é justo — Ele me afastou um pouco, e sorrindo continuou — Você quer realmente que eu perca o bom senso e lhe tome dentro de um carro, em um local público?

Na verdade, sim. Você merece. Mas ele estava sorrindo e eu não consegui responde-lo da forma que eu queria

— É a primeira vez que te vejo sorrir assim.

— Não se acostume. — Ele descansou suas mãos em minhas coxas — Não está desconfortável para você? — se referiu a minha posição.

— Um pouco. ­— ocorreu-me uma ideia — Você não quer entrar comigo? Esperar essa chuva passar...

— É muito convidativo.

Abri a porta, fui a primeira a descer e ele me acompanhou. Caíam pingos de chuva, grossos e esparsos, com um bater sonoro. Corremos até a entrada do prédio com sucesso de não nos molharmos muito.

Eu não sabia se iria perdoa-lo pelo ocorrido. Eu nem sei se eu queria tal. Mas este não era o momento para isso, tudo que eu queria era aproveitar o que ele estava disposto a me oferecer em troca de uma reconciliação permanente. E isso bastava no momento.

Resolvemos prolongar noite.


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Notas finais do capítulo

A ideia não é passar uma imagem de um casal forte e romantico, mas sim expressar da melhor maneira possivel como muitos casos reais se assemelham a este.

Para quem leu, obrigada.



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