O Canto do Oceano escrita por Nina Cervantes


Capítulo 2
A criança da correnteza - II


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo! Portarei um pouco todos os dias! Reviews são sempre bem vindos para saber se há aprovação ou reprovação (= Espero que gostem. Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/313164/chapter/2

John sabia ao certo o que estava fazendo. Queria que Suzanne fosse a mulher mais feliz do mundo, fazia tudo, dentro de seus limites, para que isso acontecesse realmente.

– Meu pai dera uma vez à minha mãe um colar com a concha mais bela de sua coleção, como pingente. Isso foi alguns anos antes dela morrer. - disse John. Suzan o encarou séria. Seus olhos pareceram mudar de cor. O cinza vívido se transformava em um cinza escuro, quase preto. John parou de falar, encarou-a assustado e perguntou: - Está tudo bem, Suzan?

Assim, os olhos de Suzan voltaram a cor natural, ela apoiou uma das mãos na cabeça e disse:

– Não, não se preocupe. Está tudo bem. - disse ela sorrindo. John ainda confuso sorriu forçadamente e continuou, ignorando o acontecido.

Levou-a até seu quintal muito desarrumado, abriu um armário que, como a maioria dos móveis da casa, caia aos pedaços, por culpa da idade. Procurou entre muitos caixotes, repletos de conchas, um em especial. Tirou de traz de um porta lápis uma caixinha muito pequena e dourada. Entregou à Suzan e disse-lhe que podia escolher qualquer uma delas. Suzan abriu a caixinha, repleta de conchinhas pequenas, umas eram até menores que um grão de feijão. Porém a conchinha cor de púrpura lhe chamou mais a atenção. John não reparara, mas seus olhos voltaram a escurecer, desta vez mais pretos que nunca. Olhava fixamente para a conchinha cor de púrpura e esticou o indicador para pegá-la. John, enquanto isso, alinhava as outras caixas que havia retirado. Suzan ao encostar na concha sentiu a ponta do dedo como se estivesse pegando fogo, mas nada acontecera. Tirou a mão rapidamente, assustada, seus olhos tornaram à cor natural quando John se voltara para ela.

– John, querido, não consigo pegar esta aqui. - apontou para a concha que possuia certa magia dentro de si.

– Engraçado, esta concha era a que meu pai mais apreciava, dizia ele para jamais dá-la para alguém que não fosse da família. Mas você se tornou da família, - disse John orgulhosamente - não vejo problema. - John esticou o polegar e pegou a concha.

Suzan encarando a concha, apreciou o momento em que a ela tocou sua pele sedosa, assim que John lhe deu. Nenhuma sensação de ardência. Não acreditava que aquilo tinha acontecido. Era real! Deu certo!

– Suzan, o que está havendo com você!? - John perguntou aflito ao ver que os olhos de Suzanne estavam pretos, até mesmo preenchendo a parte branca. Sua boca se tornara mais avermelhada, e dela saia um canto, alto e fino. Suzan se aproximava de John, dizendo palavras que nunca ouvira na vida. Ele dava passos para trás, até que tropeçou em algo que estava jogado pelo chão, engatinhava de costas, ao ver sua mulher, com um sorriso no rosto, mas o canto saia ainda de sua boca, ela disse-lhe:

– Você me foi muito útil. - disse Suzanne, que o olhava de cima. John não teve reação, murmurava coisas, tentando falar. Até que:

– Suzan, o que aconteceu com você? - ele dizia assustado.

Suzan colocara o colar com o pingente de concha e disse-lhe:

– Adeus John.

Ela segurara forte a cabeça de John, que sentia seus tímpanos estourarem ao ouvir com nitidez, desta vez, as palavras que Suzanne dizia:

– Guiash, fresnec, fratesc, cecciDON!

***

– Bom dia. - a voz de Michael soou como uma cantiga de ninar para John.

– O que aconteceu comigo? - perguntou.

– Olha, até que enfim palavras que fazem sentido. - disse Michael. - Ninguém sabe ao certo o que houve, mas parece que desmaiou.

– Eu desmaiei? - John via Michael meio embaçado. - Quando?

– Anteontem. Na verdade, uma moça passava pela rua e ouvira um canto bem alto, olhou para a praia e viu uma mulher arrantando-o para o mar. Então ela correu para chamar a polícia, que chegou a tempo. A mulher que o levava escapou, mergulhou no mar, mas os mergulhadores da Marinha não a encontraram... O engraçado é que ninguém sabe como ela realmente é. Nem seu motivo.

– Eu quase fui vítima de um assassinato? Que mulher era essa? - John Gogh, sentia falta de ar ao falar.

– Descanse, tem muito tempo para saber o que aconteceu. - aconselhou Michael.

John Gogh permaneceu no hospital por mais uma tarde, assim que saiu, as pessoas o encaravam incrédulas com o acontecido. Michael havia lhe falado que a polícia estava investigando quem era a tal mulher. Ninguém a conhecia.

Entrou em casa e a cadelinha Maria se via mais feliz que nunca, acompanhou John em cada passo que dava, aparentava preocupada com seu dono.

– O que foi, Maria? Quer atenção, é? - dizia ele fazendo carinho em sua barriga.

Como qualquer outro dia comum, John se dirigira à sua duna favorita da praia de Butterfly e vislumbrava o mar. Desta vez, não estava pescando, queria apenas organizar seus pensamentos. Porque alguém o arrastaria até o mar? Será que pretendiam mesmo o matar? E quem seria aquela mulher e o que teria feito para ela? John nem ao menos conseguia se lembrar do que havia feito na noite anterior a esse episódio, lembrava-se apenas de ir ao mar para pescar durante a noite, pois no dia seguinte a famosa feira da cidade iria acontecer. Não se lembrava de mais nada.

Fora chamado para depôr, inclusive a moça que o vira e de certa forma o salvara ao chamar a guarda policial. Era muito simpática, possuia cabelos castanhos cacheados até os ombros e olhos incrivelmente pretos. John encarava de vez em vez seus olhos, tendo um leve déjà vu. O qual lhe assustava.

Passaram-se dois meses desde que John saíra do hospital. Suas vendas estavam dando-lhe prejuízo e passou a trabalhar como garçom no quiosque próximo à praia. Após seus espediente, sentava em sua duna favorita com sua cadela e assistia o pôr do sol. Sentia-se sozinho, as poucas vezes que parava para conversar era com Michael, que se ocupava muito com o hospital. Raramente trocavam palavras que durassem mais de cinco minutos.

Hoje o mar estava agitado, a maré estava tão alta que pairava em média à 3 metros da porta da frente da casa de John Gogh, este estáva na janela da sala, que dava de frente para o mar. Maria, desajeitada, se espreguiçava, as vezes tremia com os relâmpagos que fazia. John, como nos últimos dias, ficava pensativo. A luz já fraca de sua humilde casinha piscava. Então, ele resolveu apagá-la e deitar. Maria, com medo, ajeitou-se em seu lado na cama e dormiram, com os trovões assustando-a a cada minuto. A tempestade estava forte.

John tinha dificuldades para dormir, levantou-se e fora até a cozinha para tomar um copo de chá de ervas, que sempre lhe acalmara. Sem sucesso. Com insônia, John voltara-se novamente para a janela da frente e, observando o temporal lá fora, entre o mar e o brilho da lua, observou algo se movimentando nas águas, agora escuras. Aparentava uma mulher, que carregava algo com ela. John apertou os olhos a fim de enxergar melhor, porém desaparecera, apenas via um pontinho preto, flutuando sobre o mar. Abriu a porta, Maria acordou com o barulho, e começou a latir alto quando John pusera os pés descalços para fora e seguira em direção ao mar. Enfrentando o medo, Maria correu até seu dono e agarrou suas calças, fazendo força para que voltasse. Já encharcado, John ordenou que Maria lhe soltasse. A qual não o obedeceu até ver o que a maré trouxe para perto da casa... Uma cesta. Havia um bebê com olhos exprecivos cor de âmbar dentro dela. Tinha pouco cabelo e chorava agoniado e assustado com a tempestade, além de tremer de frio, por se encontrar sem vestes. Aflito e sem saber o que fazer e a quem socorrer, John fora obrigado a apanhá-lo e trazê-lo para dentro de casa, ninguém estaria pelas ruas essas horas da madrugada, muito menos acordados, por culpa da falta de luz.

John o colocara em cima do sofá, arrancara seu coberdor peludo e quente da sua cama e o enrolara com cuidado no corpinho frágil do bebê. Este parou de chorar quando Maria sentara ao seu lado no sofá o observando atentamente.

– De onde veio esta criança? - perguntava John à si mesmo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Canto do Oceano" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.