P.O.V Charlie

O caminho do hospital até a minha casa foi muito constrangedor. Depois do mico que passei no hospital, falando que Dan é meu herói e ele escutando, eu não sabia onde esconder o rosto. Estava vermelha demais.

Fiquei quieta o tempo inteiro fitando a janela, não queria encara-lo. Com o canto dos olhos eu o vi sorrindo.

–Você não falou nada, achei que fosse me matar por estar usando seu carro.

–Não, eu ainda estou sob os efeitos do remédio. Espere até amanha, ai sim. - Ele riu.

Não falamos mais nada, e logo chegamos em casa. Ele estacionou na garagem e e na hora de descer do carro eu quase cai. Que droga, minha perna estava dormente.

–Acho que o remédio está fazendo efeito - Dan disse.

–Sério? - Falei irônica.

–Olha, eu não sei se você notou, mas nós estamos sozinhos em casa.

Quem você acha que vai te ajudar a subir as escadas? Só tem eu aqui. E depois dessa mal criação, só com uma palavrinha mágica eu te carrego. - E me encarou.

–O que? Não, eu consigo sozinha. - Senti minha perna estremecer.

–Charlie, Charlie. Pra que tanta teimosia? - Ele segurou minha cintura.

Me arrepiei.

–Tá, Tá. Por favor, você pode me ajudar? - Ele sorriu.

–Dan lindo, meu herói - Ele riu.

–Babaca - Dei um tapa em suas costas.

–Que garota mais bruta - E me pegou no colo - Assim fica mais fácil.

Ele subiu calmamente as escadas, e então chegamos no meu quarto.

Ele me deixou em cima da cama e começou a rir.

–Qual é a graça?

–Estava lembrando da primeira vez que entrei no seu quarto.

Não, não. Foi quando ele me viu de sutiã! Fiquei corada na hora.

–Sai daqui, Dan - E joguei uma almofada nele.

–De nada, Chars. - Ele saiu de lá.

Olhei para o meu quarto procurando meu celular. Infelizmente ele se encontrava em cima da mesinha - que ficava do outro lado do quarto - maravilha! Ainda bem que sempre tenho um livro na cabeceira.

Comemorei quando vi que era "Em Chamas". Eu amo Jogos Vorazes, e em chamas é o meu livro preferido da saga. Comecei a ler e quase o devorei inteiro. A indecisão de Katniss é o que me deixa com raiva.

Tudo bem, ela tem Peeta de um lado e Gale do outro, mas o Peeta já não deu provas do seu amor o suficiente para você corresponde-lo? Hein, srta. Everdeen? Ok, ok. Estou sendo injusta, mas fazer o que, meu personagem favorito é o Peeta.

–Filha? - Nem percebi meu pai na porta.

–Oi, Pai. - Ele entrou e se sentou na cama.

–Eu não vou falar nada relacionado a isso, Charlie. Eu estava estranhando você nunca ter sido atropelada antes - Nós rimos - Você é desastrada demais, querida.

–Eu sei, Pai. Desculpa.

–Tudo bem. Bom, eu não estou aqui para falar sobre isso - Ah, ainda bem! - Filha, você tem até a feira para decidir se vai ou não fazer esse curso para faculdade. - Olhei para ele confusa - Olha, tudo bem você decidir ficar, não tem problema. Sei como são os jovens de hoje em dia que só querem se divertir, mas se você quiser ir eu não vou te impedir. A decisão é sua. Não vou cometer o mesmo erro que tive com Luke -

Ele fitou o chão.

–Pai - O abracei - Obrigada, por tudo. - Ele sorriu.

–Bom, vou deixar você descansando. Esse pé vai estar melhor amanhã, com certeza. - Ele beijou minha testa - Boa noite, filha.

–Tchau, Pai. - E ele saiu.

Olhei pela janela e encarei as estrelas. A feira estava se aproximando, o final das aulas também e a decisão ainda não estava feita. É uma boa oportunidade, vai acarretar muitas coisas em meu currículo no futuro, mas eu não sei. Eu queria ficar também, curtir o final desse ciclo escolar. Tem mais um motivo que me prende aqui, o babaca do Dan.

Querendo ou não, esse babaca - retardado, idiota, cabeçudo e bobão - me faz sentir coisas fortes. Eu achei que quando visse Michael novamente, talvez não fosse suportar. Tinha medo de acreditar em suas mentiras e cair de novo como uma pata em sua história para boi dormir.

Quando Michael me beijou, sim, eu senti alguma coisa. Nada como o que eu sinto só de estar perto de Dan, de sentir o olhar dele me fitando. É uma conexão que não sei como explicar.

Peguei no sono e sonhei de novo com meu herói.

Acordei com meu celular tocando. Tentei chegar até lá para desliga-lo. Manquei, mas consegui. Era Hanna.

–Alo? - Falei com uma voz sonolenta.

–Você não sabe o que aconteceu. - Falou empolgada.

–Sim, Hanna. Eu vou bem, e você?

–Sua azeda, volta a dormir e acorda de novo. Tchau! - E desligou na minha cara.

–Hanna? - Falei para o nada.

Ótimo. Pra começar o dia bem! Não podia ficar pior. Olhei para o relógio e notei que já passava do meio dia. Que fome. E como eu iria comer? Em nenhuma hipótese eu conseguiria descer as escadas em busca de uma refeição. O jeito era ir até o quarto de Dan.

Fui mancando até lá, mas não entrei. Parei quando escutei um som vindo de lá. Era o violão. Uma lembrança de Luke me atingiu. Ele sempre tocava no quarto e não gostava de ser interrompido. Eu ficava na porta, só escutando ele tocando. Que saudade.

Bati na porta.

–Olá - Dan atendeu atrás dela - Só um minuto. - Ele fechou a porta por alguns segundos. - Deu. - E abriu a porta.

Fazia um bom tempo que eu não entrava ali. Tudo continuava igual, minha mãe deixou o quarto intacto. Fiquei encarando o quarto. Virei para o lado e vi que Dan me encarava.

–Desculpa, faz tempo que eu não venho aqui. - Ele assentiu - Eu to com fome, não consigo descer as escadas. Me leva? - Ele ficou parado

– Por favor?

Ele me colocou nas costas e me levou. Escutei um barulho na porta e fui até a janela olhar. Não, não posso acreditar.

–Olha, parece que seu amiguinho veio ver como você está. - Dan falou ao meu lado.

–Eu não quero falar com o Michael. - Falei indo até a cozinha.

"Charlie, eu não vou sair daqui até você não falar comigo!" Michael gritou.

–Bosta! - Falei e Dan riu - Quer saber, ele que se dane. Dan, vamos sair.

Peguei meu casaco que estava perto da porta da entrada e Dan apenas me seguiu. Vi ele mexendo no celular. Pegou a chave do Land Rover e nós embarcamos.

–Já sei aonde vamos. - Entendi o recado pela cara que ele fez.

Mandei uma mensagem para Hanna.

"Estamos indo na Vovó, vai também. Isso é uma ordem, bjs"

Quando sai da garagem, vi Michael com cara de besta. Dan abaixou o vidro e com o óculos do meu irmão, fez pose.

–Sua criança.

– Olha quem fala, não sou eu que estou fugindo do ex.

–Sem graça.

Em pouco tempos chegamos na Don'anna.

–Charlie! -Vovó se aproximou e me abraçou - O que diabos aconteceu com você? Ah, olá Dan - E deu um abraço nele.

–Um pequeno acidente, nada demais. - Ela me olhou desconfiada.

–Hum, sei. Agora vão sentar!

Achamos uma mesa vazia e nos sentamos. Fiquei brincando com o vidrinho de sal e sentia Dan me fuzilando.

–Charlie, eu queria falar uma coisa com você. Eu...

–Oi, gente - Ele foi interrompido por Hanna - Opa, desculpa.

–Não, tudo bem. - Dan falou fazendo sinal para o garçom.

"Desculpa" Hanna sussurrou.

Notei que Ethan estava na porta. Ele pareceu nos achar e foi em nossa direção.

–Oi, Charlie - Ele me abraçou.

–Oi, Ethan.

Ele cumprimentou todos e ainda trocou olhares com Hanna. Quando.Isso.Aconteceu?

Nós pedimos nossos lanches.

–Então, Quando chegou na cidade? - Perguntei para Ethan.

–Ontem, na verdade.

–Você não foi visitar o Dan.

–Eu sei, tinha coisas melhores para fazer - E piscou para Hanna.

–Ei - Dan falou se fingindo de ofendido.

–Calma, to brincando. Eu te amo, primo. - E abraçou Dan.

–Me larga, to chateado agora - E começou a rir.

Ethan parou e cutucou Dan. Notei que os dois olharam para a porta. Uma guria ruiva estava parada na porta.

–Clarice? - Dan falou estático.

Ethan sussurrou alguma coisa para Dan.

–Com licença - Dan se levantou e foi até a garota.

Ela notou a presença dele e ficou o encarando. Ele a puxou pelo braço e eles saíram de lá.

Espera, quem é essa garota?

É o dia conseguiu ficar pior, e sim, acho que não sou a unica que está fugindo do ex.