Marca Negra escrita por Pikenna


Capítulo 8
Peter Pettigrew


Notas iniciais do capítulo

Não gostei desse capítulo, apesar de saber exatamente o que eu queria escrever sobre o Peter. Enfim.



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Peter Pettigrew

Peter Pettigrew, é sua vez de ser julgado, enquanto conto sua história. Nascido em berço de bronze, apenas criado pelo pai bêbado e desprovido de quaisquer escrúpulos que sempre lhe culpava pela morte de sua amada esposa que falecera ao dar à luz. E você carregou consigo essa culpa não foi? Era apenas a primeira de muitas outras que viriam. Apanhava daquele bêbado imundo que perdera o emprego e vivia de migalhas. Os meninos da vizinhança zombavam de você, e você somente se encolhia, com medo deles. Apanhava deles também, em silêncio, se segurando para não chorar, porque seu pai havia lhe dito que chorar era coisa de mulherzinha. Homem não chora. Você não choraria então. E não chorou. Nunca chorava quando lhe batiam.

Então vieram os dias de glória e felicidade que nunca julgou que um dia teria. Aos onze anos entrou para Hogwarts, a escola de magia e bruxaria que já conhecia pelo diário de sua mãe, nascida bruxa, que escrevera sobre a época em que estudara a maior arte do universo: magia. Nunca mais apanhara de seu pai, pois já com varinha em mãos, ameaçara o moribundo com ela, e ele, apesar de bruxo, decidia não se arriscar a enfrentar o filho e vê-lo cumprir com suas ameaças. Não sabia que você era meio tapado com feitiços, caso contrário, teria continuado a espanca-lo diariamente.

Ah Peter! Se tivesse escolhido o caminho que o chapéu lhe mostrara, talvez as coisas tivessem sido totalmente diferentes. Mas não! Você optou por meios vis para alcançar o poder, alimentando a ganância que possuía dentro de si. Teria sido melhor mesmo ir para Slytherin, lá era a casa perfeita para você, porém, o chapéu, em sua demora para decidir, optou por coloca-lo em Gryffindor, pois lá julgou que faria amizades boas, as quais o trariam para a luz, preenchendo o vazio do seu coração. Além disso, era dono de uma coragem que nunca julgou ter, afinal, a coragem tem múltiplas faces. Você foi um hatstall, algo raro no mundo bruxo. Mas você era uma raridade não é verdade? Alguém covarde, porém dotado de coragem estúpidas. Um verdadeiro paradoxo ambulante.

De fato, o chapéu estava certo em alguns pontos. Você fizera amizades. Potter, Black, Lupin se tornaram seus amigos, acolheram-no no grupo e o protegeram daqueles que zombavam de você e do seu peso a mais. Mas você sentia-se inferior a eles não é verdade? Eram bonitos, sempre risonhos, populares, extrovertidos, dentre outras qualidades que você julgava não possuir. Percebe que você próprio se vitimizava? Você se colocava num patamar abaixo deles, devido a sua baixa autoestima. Eles não eram culpados por serem quem eram, mas você os culpava em silêncio. Continuava no grupo deles, os Marauders, apenas por conveniência, afinal, ninguém o perturbava com medo de uma represália por parte de James e Sirius, ou estou mentindo?

Ajudou-os a criar o Marauder’s Map, ganhando o apelido de Wormtail. Aprendeu com James a se tornar um animago, um ratinho, que refletia sua personalidade covarde, sempre fugindo dos seus problemas, dos seus inimigos, nunca enfrentando-os sozinho. Escondia-se atrás dos seus amigos, porque ali era seguro e aquela segurança lhe era aprazível. Tinha medo de sair do conforto. Tinha medo da realidade. Realmente, não passava de um rato medroso.

Quando Lupin sofria os problemas da transformação de um Lobisomen, você não estava lá para auxiliá-lo quando mais precisava, enfrentando-o como seus amigos faziam, ou mantendo longe os olhares curiosos. Você fugia, covardemente fugia. E ainda assim os meninos o mantinham no grupo porque gostavam de você. Viam em você qualidades que jamais foi capaz de enxergar em si mesmo. Achavam-no divertido e bondoso, pois o viram por diversas vezes cuidar de pássaros que quebraram as asas. Sabiam também que era gentil, afinal, tratava Bertha Jorkins com toda gentileza. Nunca amou tanto uma garota quanto ela, não é verdade? Foi o único amor de sua vida, e ainda assim a entregou para seu Lorde quando teve a chance, tal qual fizera com seus amigos. O chapéu tentou retirar a influência do meio sobre si ao não enviá-lo para Slytherin, casa que possuía pessoas inescrupulosas e gananciosas, entretanto, você se deixou influenciar por seus próprios desejos obscuros, que alimentou em segredo.

Queria ser grande, ser reconhecido, ser popular como seus amigos. Queria ter poder. E essa ambição inexorável que o levou a ruína, a um caminho sem volta, imperdoável. Você optou por escolher a pior face da coragem, a coragem covarde, em troca de poder. Sabe que essa troca nunca existiu não sabe? Nunca deixou de ser aquele rato covarde que fugia com medo de tudo e todos. Nunca deixou de ser humilhado, de ser pisado, de apanhar, ainda mais depois do que fizera. Deu a informação sobre a localização dos Potter de bom grado para Lorde Voldemort, o qual lhe prometera poder e nunca lhe dera, transmutando-o em seu escravo, porque sim, Peter, você foi um mero escravo de Voldemort, sempre escondendo às sombras dele para se proteger, assim como fazia em seus tempos de Hogwarts quando um dia possuiu amigos de verdade. Voldemort nunca foi seu amigo. Nunca teve piedade de você. Sempre o considerou como um verme.

E você sempre se arrependeu de ter dado aquele passo, cedendo aos desejos mais escuros de seu coração para satisfazer sua ambição incomensurável. Tornou-se ali um comensal da morte, título que julgou que lhe traria poder, que faria os outros o temerem, mas você não esperava pelo contrário. Peter, Peter, quem teria medo de um ratinho inofensivo? Você tinha medo de usar as maldições proibidas, sabia apenas os singelos feitiços, como queria causar medo com isso nos outros? Fora um tolo, nada mais.

Ter entregado os Potter foi a segunda culpa que carregou. E quando Sirius o procurou para tirar satisfações, e até mata-lo, não pensou duas vezes em forjar a própria morte, deixando um dedinho para trás e se transformando em rato. Foi preciso coragem para tomar tal atitude desesperada. E desde então você vem fugindo de tudo e todos. Ficara longos anos em forma de rato, nunca se transformando em humano com medo de ser pego. Fora parar na família Weasley, rato do Percy, rato do Ronald, até que Sirius Black conseguiu captura-lo após milagrosamente fugir de Azkaban e ir parar em Hogwarts.

Pensou que iria fugir para sempre, Peter? Não, Peter! Todos precisam pagar por seus atos, colher aquilo que plantou. E você só plantou coisas ruins, como dor, sofrimento, escuridão, ódio. O menino Potter o odiava por ter entregado seus pais para o Voldemort. E você compreendia o ódio dele, mas o pedia perdão para que ele lhe poupasse a vida, pois tinha medo da morte. Aliás, do que é você não tinha medo, não é mesmo Peter? Até da própria sombra você possuía pavor. O arrependimento por tudo aquilo que fizera e causara era seu maior algoz e iria te acompanhar aonde quer que você fosse, jamais poderia se livrar dos fantasmas que o assolam, que o perturbam a noite ao invadir seus sonhos mais profundos. Ele era parecido com James, e tinha os olhos de Lily, aqueles que um dia chamou de amigos e que matou, ainda que indiretamente.

Não é preciso pegar em uma varinha e dizer “avada kedavra” para matar alguém Peter! Basta contar o segredo, expor aqueles que não deveriam ser expostos e que você deveria ter protegido, mas não o fez. Um covarde corajoso. Totalmente paradoxal. Totalmente você. Sirius queria realizar o serviço pelo qual foi condenado. Lupin desejava o mesmo que Black. Harry queria que você apodrecesse em Azkaban, cada pedacinho de sua felicidade sendo sugada pelos dementadores, porque afinal, você merecia, Peter. Merecia por ser um traidor. E tudo o que você apenas conseguia fazer era implorar por sua vida miserável, que não tinha sentido, não passava de um moribundo. Seu pedido fora atendido pelo menino Potter que lhe poupou a vida, e você seria eternamente grato a ele por isso, devendo-lhe. Por que quis viver Peter? Não era melhor a morte? Ah é, me esqueci, você tem medo da morte. Como foi capaz de encarar cotidianamente a maldição Cruciatus que Voldemort lhe lançava para castiga-lo por seus constantes fracassos? É preciso ter coragem para suportar. Você nunca desmaiava. Gritava, guinchava como um rato sendo morto, mas permanecia de olhos bem abertos. Pensou que era seu castigo por todos os crimes que cometera? Não Peter. Seu castigo viria logo a seguir.

Em um momento de distração, você conseguiu fugir, covardemente fugir para longe de seus inimigos e daqueles que um dia considerou amigos, num tempo que jamais voltaria. Se transformou em rato e fugiu, correu para longe para ninguém o encontrar. Mas Voldemort o encontrou, porque ele sempre o acharia, onde quer que você fosse. Era leal a ele e assim deveria permanecer. E então vieram mais ordens, as quais você cumpriu, e foi preciso muita coragem na hora de cortar a própria mão para dá-la de bom grado ao seu Lorde quando ele decidiu renascer. Por sua causa ele voltou. Por sua coragem estúpida. Por seu desejo ainda vivente dentro do peito de conquistar o mundo, de ter poder, de se fazer visível, de ser temido e se vingar daqueles que um dia pisaram em você.

Ah Peter! Se você soubesse que toda a sua ambição jamais se realizaria... Mas você não sabia. Tentou. Percebeu que era uma ilusão, e mesmo assim continuou tentando. Determinado. Voldemort retornou com sua ajuda e por causa disso a guerra se instalara novamente, trazendo caos e perturbando a paz no mundo bruxo. E mais ordens lhe eram ditas. E mais castigos lhe eram impostos. E você cumpria todas. E você sofria as consequências consciente. Então veio a culpa final, a mais dolorosa de todas, a culpa por entregar o seu grande amor nas mãos de Lorde Voldemort, a culpa por assistir aquele monstro tortura-la na sua frente, e depois mata-la, dando-a de comer a Nagini. Bertha Jorkins, que sempre confiara em você, que correspondeu aos seus sentimentos, que lhe devotou o amor mais puro, fora sentenciada a morte por você. Peter, até onde vai sua ambição? Pelo visto nunca tivera escrúpulos. Nunca amara ninguém...

Ah sim, eu sei, desculpe-me. Você a amou de fato, mas profanou esse amor ao dá-la de bom grado para seu Lorde. Como teve tamanha coragem de fazer isso? Sim, era mais uma face da coragem, a fria e cruel. Você chorou em silêncio quando ela gritou, quando ela lhe pediu socorro, quando ela lhe chamou pelo nome, quando ela lhe disse que um dia realmente o amara. Você matou todos aqueles que amou. Que tipo de psicopata sádico é você, Peter? É o comensal mais difícil de entender, de se ler, porém, o mais fácil de se julgar. Não adianta se lamentar. Não adianta pedir desculpas por seus atos. Não adianta se arrepender. Os mortos não escutam. Os mortos não retornam. Os mortos estão mortos.

Mas a guerra estava viva, graças a você, que trouxe Voldemort de volta a vida. Feriu Harry para conseguir realizar tal façanha, matou friamente Cedric Diggory que nada tinha a ver com seus planos, tudo em prol dos seus próprios desejos, que além de envolver ambições desmedidas, envolvia secretamente um anseio absurdamente irrisório de paz. Paz Peter? Sério? Em que mundo imaginou ter paz se aliando a Voldemort? Paz foi a última coisa que teve desde o dia que recebeu a marca ao entregar os Potter. Foi uma atitude estúpida. Se tornou mais vulnerável ainda que outrora, quando pertencera a Ordem da Fênix e vivia com medo de ser morto pelos Comensais.

Aliado a Voldemort, sofrendo torturas, não tendo outro lugar para ir, com medo de fugir e ser pego pelos aurores ou pelos integrantes da Ordem, continuou ao lado de seu Lorde, sendo completamente devoto a ele. Matara por ele. Torturara por ele. Conhecera as dores mais intensas por causa dele, conhecera o sofrimento a fundo por causa dele, entrara na escuridão sem retorno por causa de si próprio. E quando sua lealdade ao seu senhor foi colocada mais uma vez à prova, você falhou. Mas dessa vez não seria castigado por ele com uma Cruciatus, porque Voldemort estava cansado de suas falhas. Potter estava em sua frente, tentando fugir, e você foi obrigado a ataca-lo para captura-lo para seu mestre, contudo, você não o fez, não o fez porque devia sua vida a ele. Então o deixara ir para saudar aquela dívida que possuía com ele, recusando-se a ataca-lo. Falhou naquela ordem. E a falha levou-o a morte.

A mão que ganhara de seu mestre o enforcara, estrangulando-o até que o ar não fosse mais capaz de entrar e sair de seus pulmões. Uma morte um tanto quanto horrível. Uma morte demorada. Eu sei que nos últimos segundos de sua vida, preferiu que Sirius o tivesse matado com uma Avada, seria rápido e indolor. Mas o destino quis assim Peter. Porque afinal, você precisava pagar por seus pecados. Precisava colher o que plantara. E aquela morte ainda saiu barata por toda dor e sofrimento que causara. A morte dos pais do Harry, a prisão de Sirius, a morte de Cedric, o retorno de Voldemort, a morte de Bertha, a morte de todos os inocentes que Voldemort matou estariam nas suas costas. Os fantasmas vão persegui-lo por toda a eternidade. Você foi a causa das guerras bruxas. Você foi a chave para a ascensão de Voldemort. Você foi o culpado pela guerra ter se instaurado.

Você acha que um dia será lembrado pelos seus feitos, mesmo que seja conhecido como traidor? Que um dia contarão a sua história, ainda que ela envolva mortes, dor e sofrimento? Não Peter. Você se engana. Jamais falarão seu nome. Jamais saberão quem um dia foi. Você continuará invisível como sempre foi. Ninguém se recordará de quem um dia fora Peter Pettigrew, talvez Wormtail ainda permaneça na boca de alguns, pois não há como apagar do mapa um de seus criadores. Entretanto, Peter que não era ninguém, continuará sendo um ninguém. Contarão histórias de Voldemort, não de seu servo que se transmutava em rato. Nenhum bruxo deseja ouvir contos sobre servos, eles querem ouvir sobre os grandes, sejam eles vilões ou heróis. Como nunca foi alguém de importância, nem temível e nem amado, jamais teria seu nome na boca do povo.

E esse era seu maior castigo, permanecer invisível no mundo que desejou profundamente se fazer visível.


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