Marca Negra escrita por Pikenna


Capítulo 5
Nathaniel Yaxley


Notas iniciais do capítulo

Desculpe a demora para postar, esqueci dessa fic x_x



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Marca Negra

Por Rebeca/Pikenna

Nathaniel Yaxley

Yaxley. Você sempre preferiu que as pessoas o chamassem assim e nem era por causa do impacto que seu sobrenome causava, mas sim devido a ser mais fácil e prático que pronunciar seu nome, o qual você considerava grande em demasia, custava aos outros falarem. No fim, lhe chamar de Yaxley também se tornou um cumprimento de respeito pelos comensais mais novos. Você era grande tal qual seus amigos com quem dividiu os momentos felizes e tristes, seja em Hogwarts ou fora do castelo. Um Comensal renomado e digno de se sentar à mesa de reuniões com o Lord das Trevas para discutir estratégias e o andamento dos planos de seu mestre. Não pertencera à casa do grande Salazar Slytherin como a maioria. Honrara Rowena Ravenclaw com sua brilhante e invejável inteligência. Era um prodígio. Destacava-se dentre os demais. Não era um mero aluno inteligente, você era também talentoso. Manuseava a varinha nos duelos, enquanto pronunciava os feitiços corretamente, com uma maestria invejável. Muitos o admiravam e o respeitavam, inclusive seus inimigos e oponentes.

Ser destaque em tudo o ludibriou, não foi? Você tornou-se mais arrogante do que era, sempre querendo vencer e demonstrar que era imbatível. Entretanto, não conseguia superar seu melhor amigo, Antonin Dolohov, o qual possuía um romance com sua irmã gêmea, Genevieve Yaxley. Vocês sempre empatavam nos duelos, a arte que melhor dominava. Também não era capaz de ganhar daquela menina petulante: Ella Bardfield, sua colega de casa, exímia com feitiços e em transfiguração, matéria esta que você era péssimo. Viviam fazendo disputas, ambos querendo vencer um ao outro a qualquer custo. Quando você descobriu que ela era uma anima irregular, transformando-se em uma gata, o sorriso que se abriu em seu rosto foi medonho, o brilho de vingança pungente em seus olhos refulgia a luz das chamas que ardiam nos candelabros. Você usaria aquilo contra ela, ameaçando-a para conseguir com que ela se submetesse as suas ordens e vontades. Entretanto, você fracassou nisso, não foi? Ela nunca lhe dera ouvidos e, ao fim do sétimo ano, você cedeu aos sentimentos que possuía por aquela garota respondona e arredia, dotada de um raciocínio rápido jamais visto e verdadeira destreza com a varinha, beijando-a. Criou laços de amor com ela sem que quisesse, não foi?

Você tentou se afastar dela por um momento, pois Ella era sua rival, não poderia se apaixonar por ela. Mas quem disse que a gente tem o direito de escolher aquele ou aquela que preencherá o vazio em nosso coração? Demorou a aceitar isso, porém, no fim, acabou cedendo aos seus sentimentos que reviravam dentro de si, pedindo em namoro a belíssima jovem Bardfield, cujos olhos claros repletos de atitude tanto o fascinaram. E os cabelos louros que brilhavam sob a luz do sol? Ah, você os amava! Amava o modo como eles balançavam em sincronia com o vento. Amava o cheio de flores que ele continha. Amava a maciez dele, o contato que fazia ao roçar em sua pele enquanto trocava beijos, ardentes ou simplórios, com a menina que pertencia à embaixada bruxa de origem francesa. Você amava o corpo dela, esguio e curvilíneo, sempre enfeitado por roupas de alto requinte. Amava os lábios carmins sempre convidativos a um beijo. Amava sua pele alva que parecia extremamente frágil a um primeiro olhar inocente. Amava todo o conjunto chamado Ella Bardfield, que ia desde o seu exterior ao seu interior. Amava além de suas qualidades, seus defeitos também.

Depois de sua irmã enferma, que a qualquer momento poderia vir a falecer devido a sua doença incurável, Ella era a pessoa que mais amava no mundo e ela passou a ser sua base após a morte de Genevieve. Quando viu sua preciosa irmã, cujos cabelos louros foram tingidos propositalmente de vermelho quando ainda era uma adolescente – um nítido sinal de rebeldia, desfalecida nos braços de Antonin, o brilho sapeca e jovial que sempre fazia questão de manter em seus olhos esverdeados apagado, os lábios semi abertos, você enlouqueceu totalmente, não acreditando naquilo que via. Genevieve, sua gêmea, irmã, seu maior tesouro, a pessoa que mais amava na vida havia falecido e a culpa era sua não era? Com toda sua arrogância, você se divertiu à custa de alguns trouxas, demonstrando ser dotado de grande poder do qual eles jamais poderiam usufruir. Eles então decidiram se vingar de você Nathaniel Yaxley. Aqueles trouxas que você julgava inferiores e fracos raptaram sua irmã, jogando-a em um casebre obsoleto, onde ela permaneceu por um tempo muito longo. Tempo esse em que ela ficou sem tomar as poções que atrasavam o avanço da doença, o que culminou na morte dela. Debilitada, ela se entregou ao anjo de asas negras, deixando-o sozinho no mundo com a dor da culpa o sufocando. Você ajudou Antonin a matar cada sangue ruim que indiretamente assassinou Genevieve. E, desde esse dia, seu ódio por eles aumentou. Você alimentava, dia após dia, esse sentimento aterrador, tornando-se alguém mais distante e frio, prometendo a si mesmo que se vingaria, expurgando desse mundo essa raça maldita.

A culpa sempre o assolava e com ela vinha a imagem ilusória de sua irmã lhe atormentando o juízo, dizendo-lhe impropérios e o culpando mais do que você já costumava a se fazer constantemente. Enlouquecera de vez, vendo o fantasma de Genevieve quase todos os dias. Ella era sua única fuga. Quando estava com ela, não via nada e não sentia o sabor amargo do arrependimento, eram momentos de pequena felicidade e esquecimento do passado. E por isso casou-se com ela após anos enrolando-a, uma vez que subir ao altar não estava exatamente nos seus planos. Entretanto, não podia mais continuar a segurar Ella consigo sem desposá-la como as regras da sociedade bruxa – pelo menos a parte nobre – mandavam. Sua atiradora oficial de pratos – pois toda vez que a provocava ou a deixava irritada com algo, ela arremessava pratos, abajures e objetos do gênero – tornou-se finalmente a Senhora Yaxley. E dessa forma você parou de visitar cabarés bruxos para saciar suas necessidades masculinas, afinal, agora podia ter o corpo de sua esposa quando quisesse. Enquanto era um singelo namorado, Ella não o permitia tocá-la de uma forma mais íntima, não é verdade? Ela apenas o provocava, procurando enlouquecê-lo de tesão de modo a pressioná-lo a se casar. Contudo, aquele plano não deu muito certo, pois ao contrário de seu amigo Thorfinn Rowle que tratou logo de colocar um anel de ouro no dedo anelar de Elena, a irmã caçula de Ella, você continuou a enrolar a gatinha da noite – apelido que dera a jovem Bardfield por sua forma animaga – o máximo que conseguia. Até que um belo dia, você simplesmente decidiu que era hora de pedi-la em casamento e juntar as contas no gringotes.

Tudo parecia estar indo bem entre vocês dois. Não demoraram muito para terem um filho também. Nicholas era o seu nome. Um bebê lindo dos olhos verdes iguais os da mãe. A felicidade que sentia ao lado deles era descomunal, o que o fez se esquecer por um curto período de tempo da realidade que o cercava e suas obrigações, principalmente como Comensal da Morte. Entretanto, a guerra logo aparecera e você teve que se dedicar ao campo de batalha, formulando estratégias e duelando sempre que preciso fosse. Ardiloso e talentoso, uma excelente combinação. Raramente falhava em sua missão. O Lord o reconhecia. Você era um dos poucos comensais em quem ele confiava, tal qual Rodolphus Lestrange, Antonin Dolohov e novato do Augustus Rookwood – um Comensal infiltrado no ministério. Muitos queriam estar em sua posição, mas você não se importava com isso, só queria se vingar. Nunca lhe disseram que vingança é um sentimento pesado demais para se carregar dentro do coração? Ela um dia o levaria a ruína, Yaxley. Assim como a guerra chegou rápida, devastando tudo o que via pela frente, ela se findou com a suposta morte de seu mestre que se vergou perante o amor de uma mãe para com seu filho, perdendo para ele. Um grande estrategista como você nunca cogitou esta possibilidade. Foi derrotado por um bebê protegido por um sentimento que você não sabia que poderia ser tão poderoso. Sua única chance de sobrevivência era a fuga. Diferente de alguns comensais que foram fieis ao Lord, crendo que ele retornaria, você deu um jeito de fugir e se esconder. Não acreditava na volta de Voldemort.

Contou sua localização apenas para sua esposa Ella e, dessa forma, passou a trocar cartas com a mesma. Você queria saber o que se passava com ela e Nicholas, não o culpo, afinal, você era pai e eles também eram os únicos motivos para permanecer vivo como foragido do ministério. Longe deles, você passou a ver Genevieve todos os dias, não foi? Ela aparecia para zombar de sua condição e fazê-lo se lembrar de que a culpa dela ter falecido tão jovem era sua. E como se isso não bastasse para castigá-lo, ela também começara a lembrá-lo que Nicholas possuía a mesma doença que ela. Era genético. E a enfermidade dele só se agravou com o tempo. Você se crucificava dia após dia por não poder estar ao lado do garoto. Segurava as lágrimas que almejavam cair de seus olhos castanhos, porque homens não choram, certo? Errado! Homens choram sim! Contou isso a Ella e ela se sentiu penalizada, decidindo assim lhe ensinar a arte da animagia, uma demonstração pura de um grande amor. Deveria ser grato a ela por possuir tamanho sentimento para contigo.

Com muita dificuldade conseguiu finalmente se transformar em um falcão e dessa forma pode visitar seu filho doente, tornando-se seu companheiro fiel e amigo. Ele lhe contava segredos guardados dentro seu coração e você, com o barulho de um falcão, respondia, ainda que ele não pudesse entende-lo. Só de estar perto de seu filho era o suficiente não era Nathaniel? Aquela felicidade momentânea lhe preenchia de sentimentos nobres que nunca pensou que um dia sentiria em sua vida. Genevieve nem se quer aparecia mais para você. Mas então, como tudo o que é bom dura pouco, seus pequenos momentos de alegria se esvaíram por suas mãos como areia. Nicholas morreu, abrindo um vão em seu peito, o que lhe causou uma dor insuportável. A morte de seu filho lhe doeu mais do que a morte de sua irmã. Foi como se alguém tivesse arrancado um pedaço de você, não foi Yaxley? Ah, então veio a loucura! A doce loucura. O bom filho a casa retorna. E você nem se quer se opôs ao retorno dela, deixando a porta aberta para ela entrar com facilidade, dando-lhe as boas vindas. Nicholas morreu diante de seus braços, um último sorriso no rosto por ter finalmente conhecido o pai, ainda que no leito de morte. Aquele sorriso. Ah aquele sorriso! Tão parecido com o seu, não é verdade, Nathaniel? Mas o sorriso se foi. Levado com o último sopro de vida de seu único filho.

A imagem de Genevieve ria em escárnio para você, zombando-o. Ela o levou. Ela levou seu filho para o lado dela. Para a outra linha do véu da morte. E como se isso não bastasse, Voldemort retornou e você foi obrigado a encontra-lo. Ah ele não havia gostado de saber que um de seus melhores seguidores não acreditava em seu retorno! Pensou em castiga-lo, oh sim! Você nem ligaria se ele o tivesse feito, não é? Porque a dor talvez afastasse-o da realidade por alguns minutos, lhe fazendo esquecer o sabor amargo da morte e o doce da loucura. A dor física lhe retiraria a dor emocional, a pior das piores. Ver Ella perdida com a morte de Nicholas, os olhos claros transformados em fosco, o sorriso apagado do rosto era pior que receber um Cruciatus como castigo por ter abandonado o Lorde das Trevas quando ele mais necessitou de seus seguidores. Contudo, o destino parecia que lhe dava as costas, afinal de contas, Voldemort não o torturou como você esperava que ele o fizesse, pois você não se acovardou diante dele, implorando por seu perdão. Foi sincero, não foi? Admitiu sua descrença em relação ao retorno de seu Lorde. Achou que com isso provaria o grande bruxo das trevas, mas no fim, você acabou sendo só mais um patético louco. Nathaniel, nunca lhe disseram que tentar prever o movimento alheio é um erro tolo? As pessoas podem simplesmente te surpreender, como foi o caso. Ou talvez você não conhecesse tão bem assim o bruxo que seguia cegamente. Voldemort prezava mais a sinceridade que a mentira covarde para salvar a pele de um iminente castigo. Talvez obtivesse a Cruciatus que tanto almejava se tivesse se ajoelhado ao Lorde pedindo-lhe o seu perdão.

E com o sabor doce da loucura na boca, você lutou a segunda guerra, criando as mais diversas estratégias em sua mente. Aquele dom de pensar friamente e de modo calculista nunca o abandonara, mas a facilidade com a qual trabalhou durante toda a primeira guerra havia desaparecido na segunda. Você precisava lutar contra a própria loucura para conseguir pensar, tarefa que a cada dia se tornava impossível. Via Genevieve o tempo todo, aquele sorriso de escárnio brincando nos lábios fantasmagóricos. Ela criava-lhe cenários turbulentos e torturantes em sua mente. Via Nicholas morto, Ella enlouquecida se auto flagelando, seus melhores amigos tombando um a um e então viu a própria morte. Como lutar contra aquela tortura psicológica? Simplesmente impossível. Talvez fosse melhor tê-la abraçado como amiga, Nathaniel, poupando assim tamanho esforço desnecessário para contê-la.

Você matou e torturou a maior quantidade de trouxas possíveis, vingando-se. Lutou contra seu grande ex-professor: Filius Flitwick, por quem tinha uma enorme admiração. Dominou Pius Thicknesse – um bruxo importante e de grandes habilidades – com a Imperius, maldição que você dominava bem, certo? Contudo, no fim, o que lhe restou foi uma cela fria e cinzenta, pois tão logo a segunda guerra viera, tão logo ela se fora e dessa vez você não conseguiu escapar, sendo capturado e levado para Azkaban. Jogado em uma cela fétida e gélida, que trágico fim, não? Não! O pior ainda estava por vir! Os pecadores serão punidos um dia. Thorfinn Rowle, o guardião de seu segredo, revelou a Antonin quem fora o culpado pela morte de Genevieve. Sim! Você, Nathaniel! Você matou sua irmã com sua arrogância e presunção. Antonin Dolohov que até segundos atrás fora seu melhor amigo se transformou no seu pior inimigo. Com os olhos repletos de um brilho assassino que refulgia no rosto desfigurado tomado por um sorriso assombroso, arrancou do próprio pescoço a corrente com um crucifixo dourado que ganhara de Gen, a esposa falecida dele.

Você não recuou, tão pouco demonstrou medo, afinal, você não possuía medo de nada, certo? Errado! Julgou de maneira errônea que não temesse a nada, pois nunca ficara cara a cara com a verdadeira fonte de seu medo. Quando Antonin veio para cima de você, tentando esmurra-lo, você apenas desviou, porém, não lutava bem corpo a corpo como lutava em um duelo. Era um duelista, não um trasgo. E por causa disso, você não demorou a ser nocauteado por Antonin que logo o capturou e, sem pensar duas vezes, enfiou em sua jugular o crucifixo dourado, puxando-o puxou para baixo de modo a rasgar sua garganta. Sua vida fora sugada de modo brutal, tornando seus olhos um dia castanhos em foscos. Como eu disse, nenhum pecador sai impune diante de seu julgamento, a justiça sempre é feita. Isso não foi diferente para você, Nathaniel. Você teve o que mereceu no fim, a morte era sua sentença final. Morto por seu melhor amigo, marido de sua irmã gêmea, alguém que um dia fizera parte da família Yaxley. O líquido viscoso de coloração vermelho escarlate não parava de jorrar de seu pescoço, formando uma poça ao redor de seu corpo inerte. Veja! Seu sangue é vermelho, Yaxley! Semelhante ao de qualquer outro trouxa que você assassinou. Agora percebe que não há diferença entre você e trouxa? Ambos humanos, feitos de carne e osso, com sangue vermelho e mortais.

Você matou sua irmã indiretamente e, como vingança, ela o liquidou indiretamente também, afinal, aquele crucifixo utilizado em seu assassinato era dela antes de dá-lo ao Antonin. Os irmãos gêmeos mataram um ao outro. Que história de vida trágica! Quase Shakeasperiana. Então apareceu seu maior medo. Ninguém é livre do medo Yaxley, ninguém! A morte o saudou com um enorme sorriso e você, que não passava de um simples espectro imaterial, pela primeira vez, gritou de pavor. A morte era seu medo. Pena que descobriu tarde demais, Nathaniel! Não se pode retornar ao mundo dos vivos quem morreu. Devia ter aceitado seu destino e partido em paz! Mas não! Queria fugir para longe daquele ser negro. Correr o máximo que suas pernas fossem capazes e vagar pelo mundo dos vivos sem poder ser visto. Todavia, querer não é poder. A mulher de capuz e asas negras não permitiu que escapasse, silenciando-o de uma vez com o verdadeiro beijo da morte.


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