Marca Negra escrita por Pikenna


Capítulo 10
Selwyn


Notas iniciais do capítulo

Gente, depois de 2 anos, eis que resolvo atualizar a fic. Desculpa galera, eu tava sem criatividade e sem tempo. Mas hoje, de férias, com o retorno da criatividade, pude escrever esse capítulo. Espero que gostem. :D



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/312637/chapter/10

Selwyn

No universo há aqueles que optam por seguir o caminho do “bem” e aqueles que escolhem o caminho do “mal”, polos clichês estabelecidos pelos conceitos de “certo” e “errado” que são bem relativos e depende muito do ponto de vista de cada um. As escolhas são feitas com base naquele ideal que se acredita, ou pelo menos é o que se supõe. No entanto, você veio para mostrar que contigo essa teoria é bastante errônea, haja vista os motivos de sua escolha quando decidiu entrar para os Comensais. Você sempre foi diferente dos demais, a típica exceção à regra. E essa história é sobre você, Selwyn.

O seu sobrenome causava medo naqueles que o escutavam, poucos ousavam pronunciá-lo, até mesmo dentro dos Comensais. Você era conhecido por seus feitos, todos encharcados de maldade e crueldade. Não havia espaço para piedade. Era o psicopata do grupo, aquele que tinha prazer em matar e torturar. Você sempre teve um gosto peculiar. Brinca com as vítimas até a exaustão delas, tanto mental quanto física, e então, como uma cobra, dá o bote e devora o resto da presa que diante de tamanha dor sofrida não reage ao ataque, permanece imóvel, morta por dentro, esperando apenas a morte do espírito. Sociopata em potencial, foi o que Voldemort viu em você e por isso tentou recrutá-lo para seu grupo seleto de bruxos das trevas. Você nunca teve interesse em fazer parte dos seguidores daquele que se intitulava o Lorde das Trevas. Não era movido por ideais, mas por interesses pessoais e Voldemort percebeu essa característica em você. Ah, Selwyn, ele era tão inteligente quanto você, apenas não foi designado pelo chapéu seletor para a mesma casa, afinal, Voldemort tinha muito mais ambição que você, além de ser extremamente determinado. Você era somente inteligente, não havia uma gota de ambição e tão pouco determinação dentro de si. Ravenclaw o acolheu então.

Ávido por conhecimento, principalmente no que concerne às pessoas. Sempre buscando saber mais sobre o ser humano. Contudo, não era para o bem da humanidade, era para saciar seu próprio prazer maquiavélico. Saber como um indivíduo funciona é ter poder sobre ele e assim torna-lo vulnerável. Estudou acerca de tudo relacionado ao mundo bruxo também, magias, feitiços, poções, plantas, animais, absolutamente tudo o que sua mente fosse capaz de absorver, ainda mais se o assunto pudesse servir para seus fins vis. Frio e calculista, duas características que o definem bem. Nunca se comoveu com a dor alheia, insensível eram como gostavam de chama-lo aos sussurros pelo corredor. Você nunca se importou. Não teve nenhum amigo. Não teve nenhum amor. Não havia tempo para perder com esses tipos de sentimentos e emoções. Desde cedo fora ensinado a suprimi-los. Precisou de um pai autoritário e abusivo, e da ausência da mãe na sua vida que o negligenciava em prol de suas próprias preocupações fúteis, para se tornar vazio. Não odiava. Não amava. Não sentia nada, nem mesmo dor. Tudo se foi naqueles momentos que fora violentado das diversas maneiras por seu pai. O sofrimento lhe tomou todos os sentimentos. Você ficou vazio.

A primeira pessoa que matou foi a mãe, por quem nunca teve um laço e a quem era indiferente. A matou como experimento, no único intuito de medir seus poderes. Gostou do que fez. Saboreou cada segundo que precedeu a morte dela. Não sorriu e nem gargalhou, você sempre mantinha a mesma face de indiferença. Mas por dentro se regozijou com o processo. Um bruxo violento, macabro e doente. Deveria ter ido para o St. Mungus, embora fosse um caso perdido. Mas ninguém nunca desconfiou do jovem silencioso e solitário. Descobriram que foi você o responsável por tantos assassinatos ao longo de sua vida após você ter confessado quando foi capturado pelos aurores durante a segunda guerra bruxa. Na primeira, você escapou sem deixar rastros e permaneceu em silêncio durante um tempo para que o esquecessem. Então retornou disposto a matar. Nunca deixou pistas. Agia de maneira inteligente, apagando qualquer evidência que pudesse ligar as mortes a você. Continuou a matança até o retorno do Lorde. Quando soube da volta dela, foi compelido a comparecer e seguir suas ordens, das quais já estava farto, não é verdade, Selwyn? Você sempre gostou de agir sozinho e por si próprio.

Seu primeiro erro foi ter cedido às palavras ludibriosas de Voldemort. Você foi ingênuo em cair na lábia dele. Para alguém tão inteligente quanto você, ser pego nesse tipo de armadilha nos faz questionar sua inteligência. Mas tudo bem, é difícil não se deixar enganar por aquela oratória impecável! O Lorde das Trevas sabe como alcançar o que deseja, é só dar a pessoa aquilo que ela mais deseja. E você almejava matar, torturar, destruir. Você queria o caos. Voldemort lhe ofereceu então todos esses desejos se você se tornasse um seguidor fiel, um comensal da morte. Você aceitou, obviamente, ludibriado pela possibilidade de sapatear sobre o fogo e sobre os corpos que fizesse ao longo do caminho. Mas ao fazer o acordo teve que pagar por ele. Com as promessas de Voldemort, vieram as cobranças. Agora você era um subordinado e, como tal, deveria obedecer sem questionar. E assim você o fez, embora a contragosto.

Ora essa! Não reclame, Selwyn! Ao menos você conseguiu alcançar seus desejos, fez o que quis, matou, torturou, implantou o caos. Isso não foi capaz de preenche-lo, foi? Não, não foi. Continuou vazio. E isso o incomodava, não é verdade? Você queria um motivo para sua existência, esse era seu real desejo. Apesar de se felicitar com a desgraça alheia e de não sentir nada, você buscava entender a si próprio, dar uma razão para ser. Mas para ser, Selwyn, é preciso sentir, não basta só existir, é necessário viver. E você nunca viveu, sempre esteve morto por dentro, apenas não percebeu. Não havia ninguém que pudesse salvá-lo e mesmo que tivesse existido essa pessoa, bom, você nunca a notaria, focado em sua própria solidão, em sua necessidade vigorosa por conhecimento e por sanar seus desejos animais. Você foi um boneco quebrado, Selwyn, que quando não teve mais utilidade foi descartado. O seu fim não foi a benção da morte, tão pouco a cela de Azkaban. Você terminou numa camisa de força no St. Mungus, que deveria ter sido seu lugar desde o início quando mataram você por dentro. Uma pena que uma mente tão brilhante trabalhou para o “mal” e cometeu tanta atrocidade.

Se quiser culpar alguém, culpe seu pai, que teve o mesmo destino de sua mãe, morto por suas próprias mãos. Sentiu algo quando fez isso? Ainda que fosse um pequeno alívio? Ou uma sensação de vingança cumprida? Não! Você não sentiu nada além do prazer. Não sentiu felicidade. Tão pouco remorso. Mas apreciou cada segundo do processo daquela morte, ainda que não esboçasse um minúsculo sorriso. Entretanto, apesar de tudo isso, ainda continuava vazio, completamente morto. O questionamento permaneceu: por que existo? Também não sei essa resposta, mas você existiu por alguma razão, você apenas não a encontrou. Quem sabe não a encontra no St. Mungus, sentado, enquanto observa o mundo através do vidro da janela, preso por uma camisa de forças? Talvez seus amigos imaginários, com os quais conversa o tempo todo, podem responder essa sua pergunta eterna. Quem diria, não é mesmo? Que você iria parar no St. Mungus! Que um louco como você ficaria ainda mais louco. Você perdeu a sua mente para a sua própria mente, Selwyn. Foi consumido por seu próprio vazio e por si mesmo.

Ao fim da segunda guerra foi capturado e não encontrando a razão para existir você se perdeu no meio da tempestade de pensamentos que circulavam pela sua mente. Ela o devorou impiedosamente e você se perdeu por completo. O pouco de lucidez que tinha se esvaiu. Você deu as mãos para a loucura e a aceitou como um igual. Passou a ver sombras, cenários inexistentes e macabros, pessoas invisíveis aos olhos dos outros com as quais conversava. Tiveram piedade de você, lhe dando como sentença uma sala branca no St. Mungus. O caos que trouxera ao mundo agora estava instalado dentro de você. Você era caos puro. Perturbado pela ausência de emoções e sentimentos. Você continuava vazio e era isso que te enlouquecia aos poucos. Pensara que seria preenchido com a segunda guerra, que Voldemort lhe traria o motivo para você ter existido, mas se enganou. Você não passava de um recipiente oco que nem por sombras era preenchido. Mas quem pode lhe culpar, não é verdade? Você foi fruto do meio, vítima da sociedade bruxa arcaica, patriarcal e conservadora. Não passou de vítima fazendo vítima por onde percorria.

Ainda que sua história seja triste, Selwyn, você deve assumir seus atos e pagar por eles! Aceite as consequências e continue sobrevivendo, já que a morte não pode embalá-lo nos braços. Não chegou sua hora de partir desse mundo e ter sua existência apagada. Dumbledore lhe disse que você tinha a liberdade de escolher e ele foi o único que viu potencial em você além das sombras. Ele apostou que você seria capaz de optar por um outro caminho que não aquele envolto por crueldades. No entanto, você seguiu pela trilha que julgou ser a correta para achar a razão da sua existência. Seu maior erro. Por que não tentou seguir o conselho de Dumbledore? Porque você simplesmente não quis. Não acreditou nas palavras daquele velho tolo que usava um ridículo óculos de meia-lua. Você era mais inteligente que ele. Novamente, outro erro. Não é porque você é mais inteligente que seja necessariamente mais sábio, Selwyn. Dumbledore era sábio e ele o avisou, mas você preferiu não ouvir e agora o que lhe restou? Apenas uma cadeira numa sala branca onde você se senta o dia inteiro, enquanto seus olhos observam o mundo lá fora através da janela, preso em uma camisa de força. Dumbledore é seu único visitante, porém, você nem o reconhece mais, não é verdade, Selwyn? Provavelmente nem se quer sabe quem é.

O seu maior problema foi que você se perdeu tentando se encontrar.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Marca Negra" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.