O caminho para a casa foi em sua grande maioria silencioso. Eu e Davin caminhávamos um ao lado do outro, e ele segurava minha mão como fazia quando éramos pequenos, era estranho imaginar que eu teria que casar com ele. Mas realmente, eu tinha que tirar certas dúvidas, e via que nem mesmo Davin poderia explicar tudo para mim. Fernando tinha as respostas, mas será que ele falaria toda a verdade para mim? Só restava aguardar pensando positivamente.

- Lucy... – Davin falou baixo. Olhei para cima, onde seu rosto se encontrava, o sol batia em sua cabeça, deixando-o mais loiro que o normal.  – Eu te assustei? – Mexi a cabeça um pouco em dúvida, foi então quando a imagem dele me pedindo em casamento surgiu de novo em minha mente. Era sério o que ele dizia, lembro-me bem de seu rosto. Ele estava vermelho. Forcei-me então a sorrir e concordando assenti:

- Não... Tudo bem. – Disse sem conseguir pensar em nada melhor para falar. Quem sabe algum dia eu conte como realmente me senti. – Vamos entrar? – Perguntei vendo o portão de casa surgir em meu capo de visão.

- Ah, papai não está aqui. – Ele assentiu olhando para baixo. – Vamos para o consulado. São só mais cinco quarteirões. – Ele assentiu novamente me encarando. Seus olhos hesitavam, e ele estava em dúvida do que fazer.

- Ok! Vamos. – Tentei parecer forte, mas meus olhos marejavam. Ele riu um pouco, tentando disfarçar. – O que foi? – Teimei ficando brava.

- Você não precisa se esforçar tanto. – Ele riu novamente. Eu concordei deixando algumas lágrimas caírem de meus olhos. – Espera! Não! Não chora você... – Ele não sabia o que fazer. – Por favor. Vamos... Pare de chorar. – Eu não resisti, e corri para o ombro dele, pulando. Ele me segurou, deixando que eu chorasse. Ficamos assim por alguns minutos, mas ele continuou andando, como se eu fosse um bebê gigante, ele me carregava no colo. Quando eu parei de chorar ele bateu de leve em minha cabeça e me colocou no chão. Minhas pernas tremularam e eu cai.

- Desculpe! – Ele praticamente gritou, entrando um pouco em desespero. Eu dei uma leve risada, e ele me pegou pela mão. Colocou-me em suas costas e me carregou. – Desculpe... – Ele disse de novo.

- Pelo quê? – Perguntei sentindo o calor de suas costas passando para o meu colo.

- Por colocar todo este peso nas suas costas. – Ele assentiu.

- Mas quem está me carregando é você! – Tentei quebrar o clima, ele riu, mas logo parou, estávamos na frente de uma casa enorme, com um portão. É aqui? Eu pensava em minha mente, tentando esconder o nervosismo.

- Chegamos... – Ele disse desanimado.

- Tá, tudo bem. – Eu repeti em voz alta, para me certificar de que ainda tinha voz.

- Vamos... – Ele riu pedindo para que abrissem o portão.

Mas e minhas dúvidas? Seriam respondidas?

- Seja bem-vindo. Príncipe Davin. – Assentiu um guarda logo na entrada.

Mas o quê? – Pensei analisando seu rosto, ele parecia irritado.

- Meu pai está? – Perguntou para o mesmo. Este agora apenas concordou com a cabeça. Seguimos em silêncio até uma sala um tanto reclusa do resto da casa. Entramos, estava tudo iluminado e bem organizado, vi Fernando sentado na ponta de uma mesa, falando em um telefone enquanto lia alguns papéis. Seu papel devia ser difícil.

Interrompi seu discurso gritando. – Conte-me! Conte-me já! – Vi o olhar arregalado de Davin, seus olhos azuis queimavam meu lado, mas eu não aguentava mais. Os problemas da França esperariam, meu coração não!

- Lucy... – Davin sussurrou.

- Cale a boca! – Gritei para ele também, eu estava desmoronando. – Conte-me agora Fernando! – Alguns guardas surgiram para me parar, mas Fernando apenas levantou uma mão e eles pararam.

- Você tem garra. – Ele riu. – Sabia que tinha escolhido bem! – Ele se vangloriou.

Senti que estava ficando com um rosto que nem mesmo eu entendia. O rosto de Davin se iluminou enquanto me encarava, acho que minha feição era nova para ele. – Tudo bem, o que quer saber? – Fernando me perguntou, encarando meu rosto cerrado.

Não respondi a sua pergunta, apenas fiquei a fitá-lo. Já havia pedido o que desejava.

- Pois bem. – Ele olhou para nós dois. – Sim. Vocês tem que se casar. Você terá que cumprir com seu papel. – Fernando assentiu. Eu então concordei, olhando Davin. Ele era meu irmão, mas se isso fosse por outras pessoas, nós conseguiríamos. – Além disso, você jamais poderia casar com quem acha que ama. Richard, não é apropriado... – Ele foi interrompido pelo escancaro da porta atrás de nós.

- O que pai? Como pode? – Richard entrou.

- Richard! Pare! – Uma jovem, atrás dele gritou, ela lembrava muito alguém. Quando vi seu rosto nítido na luz, gritei.

- Natty? – Olhei para o rosto de tal jovem, alta, e tão bela, era minha amiga! Era ela mesmo!

- Oi Lucy! – Ela assentiu com a mão, como se fosse super normal eu a ver vestida de tal forma, como ela estava lá? Quem era ela?

- Espera! Expliquem-se. – Disse ficando atordoada.

- Meu nome é Natalia Brie Sparth – Ela assentiu observando meu olhar tonto. – Sou a noiva de Richard. – Ela olhou para mim preocupada.

O quê? O quê? Meu cérebro gritava. – Você sabia disso?!? – Esbravejei para Richard, ele apenas me olhou, como se estivesse pedindo perdão. Aquilo era em vão, eu não o perdoaria.

- Pai! – Gritou Richard um segundo depois, tentando desfazer o que já tinha feito. – Quero me casar com Lucy. – Seu pai já levantava a mão para vetar o desejo do filho, mas antes que ele pudesse dizer, eu o interrompi.

- Esqueça, eu já vetei. Não me casarei com você. Se o desejo de nosso pai é este para conosco, tenho mais que aceitar. – Agi como achava que seria certo, usando toda a minha raiva e censo crítico para formar uma resposta coerente. – Ele é mais sábio que nós. Apenas aceite. – Não olhei em seu rosto, apenas fitei Davin, que me observava preocupado com o que eu sentia. Sorri triste para ele, e me dirigindo a todos, assenti baixo. – Com licença. – Corri por aquela casa enorme, em busca de um lugar aberto. Eu tinha que respirar, estava sendo sufocada.

- Eu vou tirá-la de você. - Richard assentiu para Davin, logo após eu correr.

- Não percebe que já a feriu demais? - Davin respondeu, correndo atrás de mim no segundo seguinte.