Eu sai correndo. Não pude evitar. O que eu faria se não correr, ele era maluco? Ele me viu beijando o irmão dele, eu o considerava meu irmão! O que ele estava querendo dizer com tudo aquilo? Casar? Parei um momento para colocar meus pensamentos no lugar, vi que estava próxima dos armários, onde havia também o memorial de alunos. Olhei para as fotos, na de três anos atrás estava Davin, com seus olhos e cabelos claros, destoando completamente do resto da turma. Aquela cena me fez rir de leve... Eu teria que conversar com ele cedo ou tarde. E eu ainda possuía consideração por ele... Escutei alguns passos vindos de trás de mim, olhei para trás, e trotei, começando a me distanciar, ainda tentando formular uma resposta para ele que estava me seguindo. Infelizmente ele andava mais rápido do que eu pensava. Senti suas mãos segurando meu ombro. Pronto, presumi, ele não me dará nem cinco minutos para pensar.

- Você não pode recusar. – Ele teimou ainda me olhando preocupado. Se ele se importava comigo, porque iria me obrigar?

- O quê? Você vai me forçar?!? – Eu não estava mais pensando, tudo o que eu falava estava vindo do meu coração.

- Não! Mas... Bem, sim! Eu só quero que se case comigo! – Ele disse meio confuso, ainda sem me soltar com medo de que eu correria novamente.

- Mesmo me forçando? – Eu perguntei esperando que ele fosse mais sensato na resposta.

- Sim! – Ele disse meio sem pensar, alguns alunos que passavam pelo corredor olhavam para nós. Eu não me importava mais, só queria entender o que havia na cabeça de Davin.

- Então você vai me forçar? – Perguntei novamente, sem conseguir pensar em uma resposta melhor, meu cérebro tinha parado de funcionar.

- Eu... – Ele hesitou. – Eu te amo! – Ele gritou sendo possível que a escola inteira tivesse escutado! Meus ouvidos pareceram ensurdecer após ouvir isso, o que ele estava falando?– Então, case-se comigo! – Ele disse novamente com as bochechas queimando. Eu queria tocá-las para sentir sua temperatura, parecia que iam queimar tudo que as tocasse.

- Do que é que você tá falando? Que tipo de relação à gente sempre teve? – Perguntei ainda tentando digerir tudo, lembrando de que eu era sua irmãzinha... E ele estava louco!

- Você é minha irmã, mas você é minha amiga também... – Ele disse sem hesitar, porém calmamente e baixo. Pensando nas palavras.

- Está vendo? – Eu disse mais nervosa que ele. – Somos irmãos, e amigos... Forçando-me a casar com você... O que isso faria conosco? E não podemos! Você sabe disso mais do que eu! – Eu estava tentando me acalmar, acalmar minha mente e meu coração. Embora eu estivesse negando, meu coração nunca havia batido daquele jeito. Nem mesmo por Richard!

- Eu só... só quero cuidar de você! Eu me importo com você! Não quero ver você ferida! Não quero que se machuque! Então se case comigo! Por favor... – Seus olhos marejaram, e pude jurar que vi uma lágrima escorrer por seu rosto! De novo esse papo de me machucar! Eu não sabia alguma parte de toda essa história. Foi ai que percebi que deveria usar o lado sensato também.

- Machucar? Tudo bem! Eu cansei de tudo isso! – Gritei para ele. Seu olhar mudou novamente, mas não consegui entender o que queria dizer. – Explique-me o que está acontecendo! Eu não posso tomar decisões se não sei nem mesmo a situação atual! – Talvez eu estivesse teimando um pouco demais, mas não suportava mais não saber o que estava acontecendo. Eu sabia que Davin me contaria, se éramos amigos assim. E por pelo menos algum tempo eu poderia digerir toda essa discussão.

- Venha cá. – Davin me puxou gentilmente para uma das salas de aula vazia. – Se quer saber toda história é melhor se sentar. – Ele sorria para mim, com o olhar ainda preocupado... Era engraçado vê-lo daquele jeito. Por incrível que pareça, eu gostava de vê-lo demonstrando novas feições.

- Tá. – Ele já havia me surpreendido uma vez, e acho que não acabou por aí.

- O que quer saber primeiro? – Ele perguntou parecendo não saber por onde começar.

- O começo. – Eu disse intrigada para saber a história, já aliviada pela história do casamento. Meu coração não estava mais palpitando tanto.

- Eu e Richard, não somos bem pessoas normais... – Ele assentiu ainda em duvida. – nós somos Delfims, ou seja, os primeiros na linha de sucessão da coroa francesa. – Como? Eu queria perguntar. Mas prometi para mim mesma que ficaria quieta até o fim de sua explicação. Respirei fundo e ele continuou. – Nosso pai demarcou com que deveríamos casar desde que éramos pequenos. – Ele assentiu. – Minha noiva, eu a detestava, e meu pai também concordava comigo, mas ela era a melhor opção para mim.  Minha mãe a havia escolhido. Infelizmente, em um dia chuvoso, ela sofreu um acidente. Junto com minha mãe, enquanto elas faziam compras, um carro às atropelou. Minha mãe faleceu na hora, e minha noiva entrou em coma. Um mês depois ela havia falecido. – Quando ele terminou de falar, percebi que ele também havia sentado em uma das cadeiras vazias que a sala nos dava. Que história triste. Por que eu nunca soube disso? – Então meu pai se casou novamente, mas logo que meu irmão nasceu essa mulher se divorciou dele, e casou com outro. Dizem que ela teve outro filho... mas nunca me contaram se era verdade ou não. Quando meu pai procurou uma nova esposa para mim, ele se casou novamente por apenas um motivo, você. – Ele terminou me encarando.

- Eu? – Perguntei estática. – Como assim eu?

- Quando ele se casou, se casou para que eu e você nos conhecêssemos. Para que eu me casasse com você um dia. Mas... você se apaixonou pelo cara errado.

Eu permaneci em silêncio, esperando que ele falasse algo. Qual seria a minha resposta, eu não podia controlar meus gostos, podia?

- Não sei por que tem que ser assim. – Ele completou. – Mas tem. Então por favor, perdoe-me.

- Então Richard tem uma noiva? – Perguntei tentando assimilar tudo que ele disse. Davin apenas concordou com a cabeça. - E queria também... – Davin me impediu colocando uma mão na minha frente, nunca tinha reparado como ele era maior que eu!

- Vamos conversar com o... – Ele hesitou, vi suas bochechas rosadas, e senti meu coração se apertando. – papai. – Ele terminou. Eu concordei, respirei fundo e me levantei. Davin logo atrás de mim, sorriu e me seguiu, mantendo distância. Como ele e Richard podiam ser tão diferentes?