Antes Que Você Vá escrita por Isabela


Capítulo 19
Capítulo 18


Notas iniciais do capítulo

Oooooi gente! :D está aqui, capítulo novo. Já escrevi o próximo inteiro, e o seguinte ao próximo também. Não conseguirei dormir antes de revisar tudo KKKKKKKKKKK bom, eu demorei onze dias para postar, e isso é um tempo meio longo, então peço desculpas, não vai acontecer de novo, já que os capítulos estão prontos :)
Quero agradecer muito aos comentários no capítulo anterior, e aos leitores que deixaram de ser anônimos e vieram falar comigo - quem está lendo isso sabe de quem estou falando -, e obrigada a quem acompanha desde o começo e comentou também! Enfim, obrigada, obrigada, de coração.
Espero que gostem, fiz com carinho (:
Boa leitura!



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Capítulo Dezoito

O jantar correu bem. Na verdade, mais do que bem. A comida estava ótima, e eu me comportei exatamente da maneira como minha mãe queria – sorria de leve, respondia quando alguém perguntava algo e concordava com tudo o que falavam.

Eu me libertaria daquilo em breve. Eu queria me libertar, mas naquele jantar vi e percebi coisas, e depois fiquei me sentindo estranha. Agindo “normalmente” eu não recebia mais dos pais de Luiza o tipo de olhar que as pessoas distribuíam a garotas como a que eu era por dentro; aqueles olhares desconfiados, transtornados, desconfortáveis. Eles me olhavam agradavelmente, como se eu fosse uma peça de porcelana muito bonita e frágil. Não que eu gostasse que pensassem que eu era uma peça de porcelana bonita e frágil… mas eu gostei da maneira como me trataram de igual para igual. Porque agora eu parecia igual a eles.

Eu não queria ser igual a eles.

A única com quem eu não precisava fingir nada, a única que sabia exatamente que aquela maneira de agir para mim era apenas um jeito de distraí-los enquanto eu me munia de alguma forma, era Luiza.

E ela ia me ajudar. Provou isso no fim do jantar, quando se dirigiu à minha mãe com seu sorriso meigo e delicado – como podia ser tão perfeitinha? Isso às vezes pode ser muito, muito irritante.

– Eu e a Mianah estávamos conversando lá no quarto e pensamos em sair amanhã à tarde. Sabe, é sábado e acho que o Mateus ia adorar conhecê-la mais. Planejamos sair mais vezes – ela me deu uma cutucadinha de brincadeira e eu forcei um sorriso para minha mãe.

– Verdade? – minha mãe parecia ter acabado de realizar um sonho.

– Claro, mãe.

Nossos pais estavam distraídos conversando e comendo a sobremesa enquanto olhávamos para a minha mãe, esperando uma resposta.

– Ah, vocês podem ir a um jantar comigo e com Thales – disse a mãe de Luiza. – A Lu disse que não vai, que já tinha planos com o namorado e tudo o mais, então não vai ter problema se, enquanto estamos no jantar, Mianah sair com Luiza.

– Mas elas querem sair à tarde – disse minha mãe, mas só por educação, eu percebi. Só para não aceitar logo de cara, como ela queria fazer. Aposto que ela queria soltar fogos de artifício, fazer uma festa por finalmente estar se unindo com uma família como a de Luiza.

– À tarde iremos ao salão de beleza, certo? Para nos arrumarmos para o jantar – disse a mãe de Luiza.

Minha mãe então concordou, e as duas começaram a fazer planos para o jantar. Fiquei com vontade de vomitar com aquela conversa. Cabelo, unhas, roupas, sapatos, joias. Sinceramente, minha mãe estava sendo esnobe. Ela não era uma “madame”. Ela era enfermeira. Ela gostava de seu trabalho, ela não ia a jantares, ela fazia plantão até tarde, cuidando de gente pobre e doente, que precisava dela.

Chamei Luiza para irmos à sala de estar, tentando fugir do som da voz das duas conversando. Luiza me seguiu e eu discretamente a agradeci pelo que tinha feito.

– Eu venho te buscar aqui – disse Luiza, tentando forjar uma expressão normal, mas com medo de que algum adulto nos ouvisse. – Então posso te deixar aonde precisar e nos encontramos em um lugar combinado depois.

– Certo.

– Deixou tudo lá em cima bem escondido? iPad, celular…

– Sim. Está tudo certo por lá.

– Amanhã vou contar direito a proposta lá no Tumblr.

A menção da suposta proposta me fez ficar ansiosa. Eu não queria nem pensar no que ela podia desencadear – não que eu achasse que isso pudesse ser de alguma forma ruim, é só que eu não queria me iludir.

Quem diria. Alguém como eu, se iludindo.

Loucura.

– Ok – foi tudo o que disse para Luiza.

Trocamos um breve olhar cúmplice e conspirativo, e a noite acabou logo depois disso. Nossos pais se despediram calorosamente, comentando incessantemente sobre o futuro jantar, e nós duas nos abraçamos de forma breve e nem um pouco espalhafatosa. Tudo o que eu conseguia pensar era que dava para ver na nossa cara que estávamos aprontando, e percebi que é assim que a maioria dos criminosos se sente por dentro, embora exteriormente eles sejam muito discretos. Percebi também que eu sempre fazia coisas erradas e nunca me sentia assim.

Subi para o meu quarto e uma sensação ruim tomou conta de mim.

Eu parecia estar perdendo o controle de mim mesma e de toda a situação. Eu nunca me sentira “exposta” quando fazia algo relativamente errado. Eu nunca tivera medo. Eu nunca me apaixonara pelo cara errado. Eu nunca me vestira do modo como minha mãe instruíra.

Eu estava realmente perdendo o controle?

Falei a mim mesma que precisava acreditar em mim. Que conseguiria me livrar de tudo aquilo e dar a volta por cima rapidamente, antes que todos os controles estivessem longe do meu alcance e eu nunca mais conseguisse me sentar novamente no banco do comandante.

Senti medo. Senti medo de me imaginar como uma adulta amarga casada com um cara chato e esnobe de bigode, com dois filhos frescos para criar, uma casa e um jardim. Senti medo de não conseguir realizar o meus sonhos, senti medo de tudo o que essa “perda de controle” pudesse acarretar.

Eu não podia perder o controle.

~

Na manhã seguinte meus ânimos estavam mais ou menos renovados. Eu sabia que veria Theo, sabia que estaria livre de meus pais por algumas longas e maravilhosas horas. Sabia que, de alguma forma, eu daria um jeito naquela bagunça.

Minha mãe não tinha me incomodado na noite anterior depois que subi ao meu quarto. Ela estava visivelmente satisfeita com meu desempenho como boa filha na frente de seus amigos, e eu tinha de admitir que era bom agir da forma que ela queria, se aquela fosse a recompensa.

Claro que isso jamais bastaria para me refrear para sempre.

Desci as escadas tentando conter minha animação. Eu tinha acordado tarde, e logo seria hora do almoço, e logo depois minha mãe sairia para o salão de beleza com a mãe de Luiza. Assim, eu esperava vê-la novamente só quando voltasse do jantar, bem tarde da noite. De madrugada, se possível.

Eu não sabia se ela confiaria tanto em mim a ponto de me soltar assim, mas talvez, se eu agisse direitinho, quem sabe. E além de tudo isso, havia Theo. Eu o veria naquela tarde.

E tudo estaria muito bem.

– Bom dia, querida – minha mãe estava na sala, sentada no sofá aparentemente me esperando. Havia uma revista ao seu lado.

– Oi – eu murmurei.

Olhei para a mesa de café da manhã; estava limpa.

– Cadê a comida?

– Você acordou muito tarde, a hora do café já foi. Deixei você dormir hoje porque imaginei que estivesse cansada, mas acho melhor você começar a se mexer.

Eu olhei ceticamente para ela. Hum. Nem tão fácil assim, pensei.

Me arrastei para a cozinha – eu vestia o pijama mais horroroso de todos os tempos, com estampa de cerejinhas rosadinhas por todo lado – e avistei meu pai pela janela. Ele estava no meio do quintal dos fundos fazendo algum tipo de alongamento.

– Que é isso? – murmurei com o cenho franzido enquanto despejava leite numa tigela e misturava cereal.

– Seu pai e Thales planejam fazer corrida juntos, então seu pai está se alongando.

Virei-me para minha mãe, mantendo a expressão cética.

– O que vocês estão tentando fazer? – meu tom logo irritado não beneficiava muito a mim mesma, mas não pude me conter. – Estão tentando se misturar com eles?

– Mianah, sempre fomos amigos. Só estamos tentando colocar você em um bom meio de convívio. E eles gostam de nós.

Por favor, mãe – eu revirei os olhos. – Você precisa trabalhar. E o pai também. Vai inventar o quê depois do salão toda semana? Pilates?

Minha mãe saiu do sofá e por um minuto pensei que ela fosse gritar comigo.

– Não –, ela disse apenas.

– Você é enfermeira. Se ontem teve folga, hoje devia ter plantão.

– Cancelei.

Eu soltei a colher do cereal.

– Cancelou? E desde quando se pode cancelar trabalho?

– Olha aqui, Mianah, não precisa começar – ela ergueu um dedo, e vi que a tinha irritado. – Você está sendo até boazinha ultimamente. Continue assim. Eu sou uma boa funcionaria e não devo satisfações a você, mas simplesmente disse no hospital que fiquei doente e que não posso ir hoje. Vou trocar meu plantão com alguém. Fim de papo.

Eu empurrei a tigela de cereal para dentro da pia, fazendo uma grande sujeira. Olhei para minha mãe com evidente exasperação, atravessei a sala e a cozinha e subi as escadas correndo.

Cancelou o trabalho. Céus, aonde esse mundo ia parar?

Eu não queria que meus pais se tornassem as pessoas que estavam se tornando. Eu não conseguiria conviver com eles daquela maneira. Eu não poderia.

Parecia que meu cerco estava se fechando, e enquanto eu tomava um banho gelado no lugar que já foi o meu banheiro, fiz um pequeno levantamento de minha vida – coisa que eu não costumava fazer e que andava fazendo muito ultimamente.

Ok. Eu estava apaixonada por Theo – lamentavelmente.

Eu tinha beijado Arthur – lamentavelmente.

Minha mãe tinha me obrigado a mudar de cabelo e roupa e tudo o mais – lamentavelmente.

Luiza poderia me ajudar com o que eu precisasse – um ponto a favor, finalmente.

Meus pais estavam saindo da própria linha e se tornando dois metidos à besta como os pais de Luiza – voltamos à estaca zero.

Minhas amigas não eram mais minha amigas e minha nova escola era uma droga – estamos abaixo de zero agora.

Havia algo estranho no que Lena tinha dito no dia anterior na praia – eu precisava saber o quê.

Alguém tinha gostado do meu trabalho de pintura – um ponto só para ser perdido, finalmente.

Eu não conseguia me mexer e fazer nada produtivo – estaca zero, zero, zero, zero novamente.

Para não cair numa crise de desespero – o que era meio frequente nos últimos tempos –, desliguei o chuveiro e escolhi de olhos fechados uma “roupa” – aquilo não podia ser chamado de roupa – no guarda-roupa.

Era uma blusa vermelha e uma calça skinning preta muito girlies, que vesti e fiquei parecendo uma versão muito caída e ridícula da Miley Cyrus. Aliás, bem pior do que isso.

Enfim. Comecei a fingir que daquele minuto até a hora em que eu veria Theo se passariam dez segundos. Eu fazia cada coisa como se um segundo dos dez tivesse passado, e assim, às três da tarde, depois de Luiza me deixar perto do deque, eu o olhei de costas.

Luiza e eu não conversamos sobre a pessoa interessada em minhas pinturas – eu pedi a ela para falarmos disso depois. Na verdade, além de eu estar muito estressada com as coisas em casa – meu pai e Thales correndo, minha mãe folheando revistas como se não houvesse um hospital precisando dela – havia o fato de que Mateus estava no carro, e ele e Luiza eram um casal, e eu sentia que estava atrapalhando.

Assim, conversaríamos depois. Naquele momento, duas coisas estavam em minha cabeça, martelando. A segunda: Arthur. Eu precisava falar com ele e deixar as coisas claras, eu precisava decidir o que fazer. E, em primeiro plano… Theo.

Eu tinha a sensação, ao caminhar para ele, que estava me movendo de uma órbita diferente e distante e alcançando o sol sem me queimar. Ele era como uma força sublime que me puxava, e eu percebi o quanto, em pouco menos de um dia, sentira saudade dele.

– Cheguei – sussurrei, me posicionado alguns centímetros atrás dele.

A atmosfera no deque era a mesma da do dia anterior. Eu me sentia sozinha no mundo com Theo, e imaginei por um instante como seria ter o mundo todo para nós dois, sozinhos. Eu e ele. O que faríamos? Como viveríamos?

Era algo muito bobo de se imaginar, mas percebi que estava sorrindo quando ele me olhou como se eu estivesse louca.

– Que foi? – perguntou.

Seus olhos continuavam os mesmos, e, de alguma forma, diferentes. Perguntei-me o que ele tinha visto e feito no tempo e que eu estava longe dele, e desejei poder ter estado ao lado dele, poder tê-lo abraçado sem precisar soltar.

– Nada – estava claro que ele estava impressionado com o meu sorriso, mas nada disse depois que eu respondi.

Um cachorro começou a latir e correr em nossa direção pelo deque.

Ele era grande e um pouco desengonçado, parecia bem alimentado e muito empolgado, com a língua de fora. Era uma visão engraçada.

– Anakin – Theo disse com autoridade, e o cão ficou quieto. Ele se inclinou e acariciou as orelhas do animal, e eu fiz o mesmo, simplesmente porque não havia outra forma de agir.

– Anakin? – indaguei. – Como Anakin Skywalker?

– Sim – estava claro que o cachorro era dele. – É um labrador retriever. Eu gostava de Guerra nas Estrelas.

– Os nerds norte-americanos também gostam.

– Claro – Theo sorriu e deixou o cachorro brincar no deque. – Ele está com sede. Tive de trazê-lo; é meu dia de passear com ele.

– Sei. Sabia que é proibido trazer cachorros à praia?

A perspectiva de mim mesma chamando atenção a regras como aquela era hilária. Eu não estava nem aí para as regras, mas aquele foi um jeito engraçado de provocar Theo.

– Ué, cadê a minha garota marrenta?

De uma forma muito liberal, ele passou um braço pelos meus ombros. Meu corpo estremeceu de leve.

– Não sou sua garota – murmurei, olhando nos olhos dele sem querer. Aquilo pareceu mentira.

– Ah, aí está. Voltou – ele revirou os olhos para o meu comentário.

Eu dei de ombros e olhei Anakin brincar ao longe. Sem perceber, meus braços estavam envoltos na cintura de Theo, e aquela era de longe a melhor sensação do mundo.

O movimento da respiração dele estava sob o meu corpo, e suas costas musculosas ficaram tensas de uma maneira boa ao meu toque. Ele também estava estremecido.

– Podemos levar ele para a minha casa e depois sair para comer alguma coisa – sugeriu Theo. – Você tem até que horas hoje?

Tentei não me ater ao fato de que ele estava supostamente me chamando para ir à casa dele e depois sair.

– Tenho o dia todo – falei sem me soltar dele, simplesmente por não conseguir.

Senti mais do que vi Theo sorrir. Ele beijou o topo da minha cabeça e assobiou para chamar Anakin.

– Vem, Anakin!


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Notas finais do capítulo

Tive de colocar o nome do cachorro do Theo de Anakin. Sempre quis ter um cachorro chamado Anakin, mesmo não gostando muito de cachorros KKKKKK acho que esse é meu primeiro personagem que tem um cachorro, e isso é tão estranho, porque já tenho muitos personagens KKKK espero que tenham gostado, no próximo capítulo as coisas vão esquentar :P
Reviews?
Espero que vocês venham falar comigo, deixem sua preciosa opinião, e, só para avisar, aos leitores que não gostam de deixar comentários, a MP está aí para vocês :D beijão e até o próximo!