Antes Que Você Vá escrita por Isabela


Capítulo 16
Capítulo 15


Notas iniciais do capítulo

Eu ia postar ontem, sério. Mas não deu, então vim postar agora de madrugada, assim de manhã vocês já terão um novo capítulo! KKKKK
Obrigada a quem está lendo, - nunca vou me cansar de agradecer, acho que isso vocês já perceberam - e espero que gostem deste capítulo :D
Boa leitura!



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Capítulo Quinze


– Você acredita mesmo nisso?

Theo e eu ainda estávamos sentados no deque, silenciosos. Sua frase anterior tinha desencadeado um longo momento de silêncio, mas os pensamentos que giravam em minha mente tornaram impossível engolir minha pergunta.

Finais felizes, contos de fada, histórias de amor e altruísmo. Nada disso existia.

– Bem, sim – Theo respondeu. Os olhos dele perfuravam os meus. Perscrutavam-me, desarmavam-me. E ele parecia tão convicto em sua resposta que fiquei imaginando se realmente tinha certeza de seu final feliz. – Não acredito em uma vida perfeita e sem dificuldades, mas acredito em finais felizes – ele sorriu e tenho certeza de que tinha pintado em sua mente o seu final feliz. – Já você não acredita muito nisso, certo?

Ele continuou me olhando e eu me sentia perturbada demais para ter certeza do que dizer. E, como sempre acontecia quando ele estava por perto, eu dizia sem ter certeza, sem me dar esse direito, sem titubear.

Era estranho, porque não era exatamente assim que eu imaginava que era uma… bom, hum… uma história de amor. Nos livros e filmes, as garotas sempre se sentiam induzidas a dizer tudo o que pensavam. Fora assim com Julieta Capuleto, Isabella Swan, Magdalena Haloway, e todas as outras protagonistas de romances; não importava em qual século tivessem sido inventadas. Elas sempre pareciam se entregar ao amado, de corpo e alma, e pensamento. Eu não queria que acontecesse o mesmo comigo.

Pior que isso. Eu não queria chamar a pequena conversa entre mim e Theo de “história de amor”.

Mas parecia real aquela coisa dos filmes, de sempre dizer o que está pensando.

Não sei quantas vezes eu já disse isso, mas eu só podia estar enlouquecendo.

– Se fosse um final não haveria como haver felicidade – eu murmurei. – Acho que temos de ser felizes enquanto tudo está acontecendo. Quando chega o final… bom, sua chance de ser feliz já se foi. Ou então não se chama final.

– Uau – Theo deu um risinho e me olhou provocativamente. – Essa forma de pensar é muito filosófica, senhorita rebeldinha.

Eu fiz uma careta de brincadeira para ele.

– Rebeldinha, claro. Rebeldinha e filosófica. Essa com certeza não sou eu.

Theo deu de ombros e eu juntei minhas pernas junto ao peito e as abracei.

– Então quem é você? – sussurrou ele, com mais intensidade do que aquela contra a qual eu estava armada.

Era uma pergunta muito difícil. Porque eu não sabia mais bem quem eu era.

Mas aquilo importava? Eu era uma garota com algumas fortes opiniões e personalidade, e talvez por aquele cara na minha frente estivesse agindo como uma submissa e obcecada, doando ao lixo tudo o que eu era para… para quê? Fingir viver uma “história de amor”?

E, de novo, eu fui pateticamente sincera.

– Sei lá – respondi.

Theo me olhou mais severamente.

– Eu não disse “sei lá” a você.

Sim, ele não tinha dito. E, de alguma forma, eu sentia que ele tinha mais motivos para ser “revoltadinho” do que eu. No entanto, ele era apenas mais feliz do que eu.

Respirei fundo pela boca.

– Ok, vamos lá.

Theo esperou. Eu passei os olhos pelo mar e procurei palavras, mas era bem difícil. Não adiantava me desviar dos olhos dele; quando eu olhava ao redor, eles continuavam ali no céu e no mar. E mesmo que eu fechasse os olhos, continuariam ali.

Mordi os lábios e sacudi a cabeça com o pensamento. Eu era mesmo uma idiota.

– Odeio me sentir uma idiota – eu falei em voz alta, aos meus próprios pensamentos.

Mas Theo estava prestando atenção em mim, e ouviu.

– O quê? –, perguntou.

– Eu disse que odeio me sentir uma idiota. E quando estou perto de você é exatamente assim que eu me sinto.

Theo sorriu.

– Posso te garantir que você não parece uma idiota. Só estava fazendo uma pergunta, já que respondi as suas.

Eu meneei a cabeça.

– Parece justo.

– Claro que é.

Ele ergueu as sobrancelhas para mim.

– Bom, eu sou incrivelmente chata, como pode perceber… gosto de pichar muros, o que é popularmente conhecido como “vandalizar” – esperei alguma reação diferente de Theo, mas ele só me escutava, assim como fiz com ele. – Eu costumava ter amigas, mas por algum motivo assim que conheci você as coisas se tornaram… uma imensa baderna.

A verdade pura novamente. E é claro que Theo expressou reação. O queixo dele caiu um pouco.

Mas ele não falou, e assim que a vontade de me jogar no mar passou, continuei.

– Minhas amigas acham que estou estranha, principalmente a Lena. A Lena é como eu, senão mais radical. Ela nunca aprovaria que eu andasse com um cara como você. Eu me sinto mal por isso. E este é mais um problema; antes de te conhecer eu não ligava para o que as pessoas iam pensar. Eu quase morri duas vezes no dia em que te conheci. Eu raramente me machucava quando estava fazendo algo radical. E na noite em que me afoguei, desobedeci meus pais, que me mandaram ficar em casa. Pelo menos, uma ação normal – eu sorri de leve. – Pichei o muro da casa da Luiza, e os vizinhos dela foram quem viram e chamaram a polícia. Eu fui presa, pela milionésima vez. Só que agora não posso mais fazer isso, aparentemente, já que se fizer, vou para o tribunal, e daí em diante tudo tende a piorar. De alguma forma, depois de anos sem falar nada sobre cada noite na cadeia, cada muro pichado, cada moto arrebentada, cada conta altíssima… de alguma forma, depois disso tudo, meus pais simplesmente resolveram que estava na hora de acabar com o resto, e cortaram minhas relações com todo mundo que eu conhecia. Me tiraram moto, celular, computador, e me mudaram de escola justamente agora, em outubro. – minha voz se tornou indignada ao mencionar o fato. – Sei que vou reprovar de novo, e não me importo. E… bom, no dia em que Luiza me disse sobre você, eu mal pensei duas vezes em como faria para escapar e te ver… e tudo acabaria dando certo depois, mas não deu. Eu realmente fugi da escola nova logo no primeiro dia e fui correndo para a casa da Lena, que estava decidida em me apresentar um cara. – eu me surpreendi quando notei que estava falando sobre Arthur, e por alguma razão, não me detive. – Fiquei brava com ela por isso, e acabamos discutindo na praia. Ela foi embora, e eu fui com ele andar de jet-squi. Foi perfeito, foi tudo perfeito… Mas então minha mãe apareceu do nada e me levou embora, escorraçando o cara. Eu sei que foi Lena quem dedurou, e isso me faz querer matá-la. Assim, de volta à escola, fui levada para a diretora, em frente aos meus pais furiosos, e passei os últimos três dias em castigo na escola, organizando livros da biblioteca e limpando as mesas na lanchonete. E hoje… – eu planejava não falar sobre a visita de Luiza na escola, mas todas as verdades saíam num fluxo interminável e interrompível. – Hoje Luiza foi ao colégio quando eu estava saindo e contou que você ainda ia ao Pão de Açúcar; que ainda esperava que eu viesse. A parte mais louca disso tudo é que contei à minha mãe que precisava ver um cara. Ela estabeleceu condições, e uma delas era esta aqui – eu apontei para os meus cabelos, minhas unhas, toda a minha tenebrosa mudança.

Theo parecia cada vez mais pasmo.

– Ela levou tudo o que tinha restado de mim mesma; minhas velhas e amadas roupas, meus cabelos, minha maquiagem, meus sapatos… isso não muda quem sou por dentro, mas me faz odiar-me por fora. Eu cheguei à praia e passou pela minha cabeça o pensamento de que não valia à pena tudo isso que deixei acontecer. Mas agora, honestamente, acho que vale.

Eu olhei para Theo. Engoli em seco. Engoli em seco novamente.

Ele mexeu nos cabelos de uma forma bastante atraente. Parecia totalmente impressionado, mas feliz… como se tivesse sido bom ouvir aquelas palavras de mim.

– Você mudou só para que sua mãe te deixasse vir?

Eu confirmei com a cabeça.

– Mas logo tenho que voltar – acrescentei.

Theo sorriu.

– Lamento por seu cabelo, mas nunca vou lamentar por você estar aqui por tê-lo mudado.

Suas palavras aqueceram meus ossos e pele, e tudo o mais dentro de mim.

– Você me faz mudar demais, e não gosto disso.

Theo estava nitidamente mais próximo de mim, o que me desconcertou.

– Eu nunca pedi para que mudasse – ele sussurrou.

– Eu sei, mas por algum motivo o destino é mau comigo e me faz. Como no dia em que aceitei desistir da escalada, no dia em que passei a me importar com o que Lena dizia, e quando eu me sentia constrangida com os olhares das pessoas na escola. – eu comprimi os lábios e olhei para baixo timidamente.

– E quando você age de modo tímido – continuou Theo por mim, sussurrando. Ele falava baixo, e eu conseguia ouvir cada palavra. – E quando você simplesmente diz tudo para mim do seu jeito apressado. A garota que conheci há menos de uma semana some e se torna essa intensa e linda garota, com todos os traços acentuados, com cada vírgula de você mesma mais forte. – ele suspirou. – Como se eu pudesse resistir a qualquer uma das versões de você.

Senti quando a mão de Theo segurou a minha, e apertei os dedos dele com firmeza. Coloquei o cabelo atrás da orelha e os olhos dele estavam perto o suficiente para que eu visse os pequenos tons de verde dentro daquela hipnotizante imensidão azul.

Suspirei baixinho e senti o cheiro dele. Era um cheiro marcante, mas nada enjoativo ou amadeirado demais. Era o tipo de cheiro que te faz imaginar que está em qualquer lugar, mas depois perceber que está apenas nos braços de alguém que pode te levar, sem sair do lugar, aonde você desejar.

Fiquei completamente tentada a beijá-lo, mas queria que ele fizesse isso. E eu sabia que ele faria, mas não tinha certeza se…

Eu sacudi a cabeça e me afastei antes que algo mais pudesse acontecer.

Não era uma atitude inteligente. Aquilo deixou Theo constrangido e desconfortável, assim como a mim. Além disso, eu queria o beijo. E provavelmente outras dezenas – ou centenas – de garotas também queriam. E eu só dispensara a chance porque queria que ele soubesse exatamente o tipo de pessoa que eu era.

O tipo que não esperaria por ele. O tipo impulsiva, idiota, malcriada; que costumava ser indiferente e despreocupada.

– Eu não terminei de falar sobre mim – resmunguei, enquanto Theo lentamente soltava minha mão. – Eu nem sempre fui assim, mas sou impulsiva, sou idiota, malcriada – enumerei minha lista mental de defeitos para ele. – E eu terei um futuro completamente diferente do seu.

– Quais são seus planos para o futuro? – Theo perguntou simplesmente.

– Não sei, não os tenho. Mas posso apostar que não vai ser algo comum.

– E o que gostaria de ter feito hoje? Se não estivesse aqui ou não tivesse ido à escola esta manhã?

Eu cruzei os braços e pensei por um segundo.

– Tenho uma lista grande de coisas que ocuparia dias e dias – respondi. – Apertar o alarme de incêndio de algum lugar lotado – eu ri. – Escalar o Everest, caminhar nos Andes, ir a um rodeio na Espanha – Theo franziu o cenho quando mencionei o rodeio, e eu ri de novo. Idiota nível máster. – Tudo bem, talvez eu esteja inventando coisas – confessei. – Esqueça o rodeio. Mas seria realmente legal conhecer lugares exóticos… nadar com golfinhos e entrar na jaula de um leão. Eu queria descer de submarino aos destroços do Titanic, queria…

Eu me detive, e Theo se inclinou brevemente para mim.

– Queria…? – instou.

– Mais nada – eu respirei fundo. – É isso. O resto eu apaguei.

– O que é o resto?

– O resto são planos frágeis e bobos – eu dei um meio sorriso.

– Como imaginar um final feliz – murmurou Theo.

Eu tombei a cabeça de lado.

– Como me apaixonar por alguém que terá o poder de me quebrar inteira por dentro, e não fará isso. Como brincar de pega-pega na chuva com ele, na praia, ficar ensopada e depois dar um mergulho na água gelada. Como voltar para casa tarde e beijar na frente do portão. Como subir as escadas com ele nas pontas dos pés e sussurrar. Como fazer piquenique na grama e dançar em um baile. Como falar ao telefone de madrugada. Como acordar nos braços dele depois de uma linda e longa noite.

Eu tinha enumerado toda a minha velha lista, e sabia que Theo tinha percebido isso. Sacudi a cabeça.

– Esse é o tipo de coisa que essa Mianah nunca faria, sequer diria.

– Na verdade – disse Theo –, é uma lista bem mais empolgante do que a primeira. Muito mais simples e humana, sincera… como o amor deve ser.

– Isso não é importante – eu disse mais por teimosia do que por qualquer outra coisa.

Houve um momento de silêncio.

– Por que você os apagou? – Theo cortou o barulho do vento. – Por que apagou esses itens?

– Em um momento, não sei dizer exatamente quando – respondi –; talvez a tempo de não me enganar profundamente… eu percebi que histórias de amor verdadeiro não são realmente capazes de existir. Não acho que alguém completamente humano possa amar da maneira como todos imaginam que possa, como eu imaginava… amar de forma profunda, com total entrega, dando tudo de si e fazendo tudo o que está ao seu alcance… e tudo o que não está… só para ver o outro feliz. Abrir mão de coisas que realmente importam. O homem só dá valor ao dinheiro, ao poder, à satisfação de seus desejos podres, e nenhum tipo de amor resiste a isso.

Theo assentiu com a cabeça, não como se concordasse comigo, mas apenas para mostrar que entendera meu ponto de vista.

– Eu continuo acreditando em amor verdadeiro e finais felizes – murmurou. – Porque, se você não notou, está fazendo exatamente o que o amor verdadeiro faz. “Abrir mão de coisas que realmente importam”. Foi o que você fez hoje por minha causa.


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Notas finais do capítulo

Se a conversa do Theo e da Mianah estiver ficando muito cansativa e/ou artificial, me falem nos reviews, ok? E prometo que no próximo capítulo acontecerão coisinhas diferentes ;) espero que tenham gostado... o clímax da história se aproxima, e, como sabem, depois do clímax o desfecho é quase imediato. Vou tentar não terminar a história de forma muito repentina, mas confesso que já tenho um final na minha cabeça - e isso não acontece sempre, o que só significa que a história está me levando rápido demais KKKKK isso é bom, mas pensar muito à frente me desespera, não quero que a fic acabe logo! D:
Bom, não vamos sofrer por antecipação, certo? hahahahaha digam ABSOLUTAMENTE TUDO o que acharam, por favor!
Reviews!!! Beijão e até o próximo capítulo!