Acordei com o despertador. Tomei meu banho e comi umas bolachas que eu encontrei no armário. Nota mental: comprar comida.

Arrumei as coisas na mochila e sai. O anel não formigava mais. O dia estava ensolarado, mas uma ou outra nuvem passava no céu.Tri ainda estava no hospital, Chad ia aproveitar o atestado e Dante já não estudava estando bem, imagina depois de um acidente.

Entrei naquele inferno junto com um grupo de garotas escandalosas. Fui direto pro meu armário e peguei meus livros. Fechei o armário e fui para o segundo andar, aula de inglês. Paciência.

Cumprimentei Scirus, o garoto esquisito que senta atrás de mim. Não que eu seja normal ou legal ,mas é o jeito dele de andar que é estranho, meio desengonçado.

Me sentei e fiquei jogando Tetris enquanto esperava a sra. League. Foi um longo tempo, a aula parecia não ter fim. Mas o fim chegou, para minha grande alegria.

Enquanto ia de uma sala pra outra uma ou outra pessoa veio me perguntar como eu estava depois do acidente. Respondi a mesma coisa pra todo mundo.

Fiquei naquilo o dia inteiro.No último horário, história,o professor me deu uma boa notícia. Uma excursão até o Museu de História Mitológica, em Melville.

Até que enfim eu tinha alguma coisa pra fazer. Scirus também ficou empolgado e rasgou um pedaço do caderno. Eu acho que ele ia comer o papel, mas desistiu. De novo,esquisito.

O sinal tocou e eu fui direto pra casa de Chad, a mãe dele é que tinha que assinar minha autorização.

Horas assistindo tv e tendo que aturar o egocentrismo de Chad e Dante juntos.Eu quase colapsei. A mãe deles chegou,cansada como sempre. Me ajeitei no sofá e disse sobre a excursão.

Ela assinou a autorização e foi tomar banho. Eu ainda teria 2 dias de aula normal, mas na sexta eu teria uma quebra de rotina, enfim.

A semana demorou a passar. Chad decidiu de última hora que ia na excursão. Sentamos no último banco, dividindo-o com Scirus . Ele usava um gorro que caia no rosto toda hora.

– Você me parece bem animado, Scirus.

– Ah, eu adoro mitologia. Principalmente a grega.

– Eu também,cara. Aliás,todo mundo curte mitologia grega.

Scirus concordou pouco antes do ônibus parar. O guia do museu nos passou as regras básicas de cuidado e segurança, todo mundo prestava atenção.

Meu anel começou a formigar na minha mão,e a sensação aumentava quanto mais o guia ia caminhando na minha direção. Ele se afastou quando olhou meu anel e saiu do ônibus.

O professor ia explicando os mitos e tudo mais por cada peça de exposição.

– Chad, pode me dizer o que está escrito naquela placa de identificação atrás de você? – Chad se virou e encarou a plaquinha por um tempo.

– Ele não consegue. – Os garotos do time de futebol começaram a encher o saco. – Fugiu das aulas da sra. League?

– Não,só tenho uma coisinha chamada dislexia. Ah, eu esqueci. Você não sabe o que significa,é muito difícil pro seu cérebro.

– Chega vocês dois. Elgin, poderia então?

– Representação em bronze do sequestro de Perséfone por Hades.

– E alguém saberia me dizer por que Perséfone não pode mais retornar para sua mãe?

– Ela não poderia partir se tivesse se alimentado no mundo inferior, mas ela coemu um romã. – Falei baixo, mas o professor ouviu.

– Sim. Obrigada,Elgin.

Continuamos a olhar as peças por mais uma hora antes de irmos para o pátio dos fundos do museu lanchar. Eu não levei nada então comi metade de um sanduíche que Chad levou.

O guia ficava me encarando,da forma mais estranha possível. O anel forgmigava muito no meu dedo.Scirus também estava desconfortável com o olhar do guia.

Voltamos pra escola,o guia de companhia e falando sobre a história do museu, só de curiosidade. Aquele cara parecia que estava me perseguindo.

Chegamos no fim da tarde. Chad e eu estávamos caminhando, indo pra casa. Scirus nos acompanhava. Ele disse que morava ali perto. Meu anel formigava loucamente.

Scirus morava em um barraco no fim de um beco. Me deu dó dele,ter que morar naquele lugar,com as pernas bambas e o gorro muito grande. Nosso maior erro foi acompanhá-lo até o fim do beco extenso.

O guia parou,bloqueando a saída do beco. E então ele veio correndo de na nossa direção.Aquele cara era um leão com cara de um homem e com espinhos na cauda. Legal.

Scirus se levantou rápido,com uma flauta. Sério,era aquilo que ele ia usar?Uma flauta de madeira. Desviamos da investida do bicho.Ele sacudiu aquele rabo espinhento dele, os espinhos sairam voando na nossa direção.

Scirus tinha começado a tocar alguma coisa na flauta,mas um dos espinhos acertou o instrumento de madeira.

– Esmaga esse cabeção dele. – Scirus estava nervoso e...balindo?Como assim?

De qualquer maneira,meu cérebro entendeu a frase. Quando aquela coisa se virou pra mim de novo eu o atirei. Um martelo de guerra, com alguns quilinhos, era pra acertar o nariz,mas pegou na altura das costelas.

Não surtiu muito efeito, a pele do bicho era como uma armadura.E de onde eu tirei aquele martelo?

– Não foi sua melhor escolha. – Scirus tinha recuperado a flauta e arrancou as calças,exibindo suas pernas de bode. O que?

– Não me diga – Gritei a resposta. O anel ressurgiu no meu dedo. Então é pra isso que ele serve?Útil.

Será que ele virava outra coisa? O manticore atacou de novo com os espinhos.

Chad puxou um prego industrial, daqueles de 10 centímetros do barraco de Scirus e cravou o prego por baixo da pele,como uma agulha.

– Então você ainda sente dor,grandão? – A adorável criatura se contorcia como um touro de rodeio,Chad se prendendo nas suas costas.

A hora de testar meu anel era aquela ali.Pensei e me vi segurando uma faca no mesmo instante. Ataquei o rosto,finquei o olho dele,fugindo das mordidas.

A música de Scirus fazia plantas quebrarem o concreto e amarrarem aquela coisa ao chão.Assim que eu puxei a faca e a finquei em uma falha na armadura dourada,aonde seria a nuca, aquele troço virou um monte de poeira.