Demigoddess escrita por Pacheca


Capítulo 44
Decisions


Notas iniciais do capítulo

Mais um



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POV Elgin

Parei, paralisada no lugar com a imagem de Dante antes de cair. Yamamoto parou a caminhonete ao meu lado, buzinando. Consegui me forçar a entrar no carro, deixando o touro mecânico pra trás.

– Qual o problema daquele cara? – O japonês olhava para trás pelo retrovisor, checando se estávamos sendo seguidos. – Ei.

– Temos que voltar. Agora. – Olhei para trás, passando a língua nervosamente pelos lábios.

– Você enlouqueceu, né? – Ele falou num tom de voz baixo, mas era visível que ele realmente considerava se eu estava sã.

– Não, eu não enlouqueci. – Respondi. Tinha algo muito errado naquilo tudo. – Japa, eu ainda o sinto.

– Dá pra explicar? Como assim você o sente?

– Eu sou filha de Hades, ok? E eu consigo sentir quando as pessoas morrem, e eu não senti.

– Oi? – Ele fez uma curva de uma vez só, quase me fazendo cair sobre seu colo. – O garoto caiu de um penhasco, é claro que ele morreu.

– Eu sei, é o que eu esperava, mas não senti nada. – Olhei para trás de novo. – Temos que dar um jeito de ir até lá embaixo.

Ele continuou dirigindo, engolindo em seco. Eu quase podia ver seu cérebro trabalhando, pensando se devia concordar ou não. Ele grunhiu alguma coisa.

– Tá bem, ok. – Ele respirou fundo. – Mas depois disso, você vai ficar me devendo.

– Pode ser. – Concordei no automático. – Mas como vamos descer?

– Vamos voltar lá. Derrubar aquela coisa se ela continuar ligada. – Ele deu meia volta, me encarando. – E vamos fazer como ele.

POV Dante

Eu me sentia muito leve. Mais do que eu imaginava que seria quando eu morresse. Aquilo era a morte? Esperava mais de você, querida. Tudo que eu sentia era a leveza inexplicável e uma dor de cabeça horrível. Além do escuro absoluto.

Meus olhos se abriram sem que eu comandasse. Estava escuro. Onde eu estava? Parecia um buraco, uma caverna. Era estranho. Eu tinha ido parar no submundo, então?

Fui me mexendo aos poucos. Meu peso voltou, me deixando um pouco desconfortável. Me forcei a me sentar, olhando onde eu estava. Me parecia um corredor, com uma luz fraca lá no fim.

– Eu morri mesmo? Cara, imaginei alguma coisa muito mais dolorosa. – Fiquei de pé. Fui andando pelo corredor, sentindo a dor de cabeça piorar com cada passo meu.

Apertei meus olhos com a luz quando cheguei ao fim do corredor. Eu estava num campo infinito. Olhei para os lados, mas a imagem era meio monótona.

Num canto eu via um senhor meio fantasmagórico, andando sem destino, com os olhos vazios. Um rapaz de uns 20 anos estava deitado perto de mim, encarando o alto. Olhei na direção que ele olhava. Era um teto rochoso.

Os campos de Asfódelos. Almas vagavam eternamente, sem nada para fazer, sem suas memórias, sem nada. Só ocupavam espaço, mais nada. Então vi um rosto familiar.

– Tri? Trianna? – Tinha algo de diferente nela. Seus olhos não me pareciam tão vazios quanto os dos outro. – Tri!

Nunca pensei se Trianna tinha ou não sido julgada. Aliás, nunca considerei ir até o submundo um dia. Ela parou ao me ouvir chamar seu nome, reconhecendo-o.

– Tri. – Parei em sua frente, encarando-a. Ela me fitava também. Não era o olhar cheio de sentimentos de normalmente, mas com certeza tinha alguma coisa que ainda vivia com ela. – Ei, sou eu. Dante.

– Eu... – Ela falou. Aquilo já era um choque por si só. – Não sei.

– Não se lembra, imagino. Elgin, se lembra dela.

– El. – Ela concordou, pensativa. – Dante. Você.

– Isso. Se lembrou de mim? – Era tão desconcertante vê-la naquele estado. – Como faço pra ser julgado? Acho que não vim pro lugar certo.

– Não precisa de julgamento. – Ela falou, olhando pra mim. Seus olhos não eram mais os mesmos. Senti uma parte de mim doer. – Vai vir pra cá.

– É, legal, parece divertido. – Falei, dando aquele sorriso fraco. – Acho que, ainda assim, preciso ser mandado pra cá, entende?

– Dante? – Era como se Trianna estivesse lutando contra suas memórias, que pareciam querer fugir. – Dante.

– Tri, anda logo.

– O que faz aqui? – Ela tinha voltado. Era como se uma Tri muito mais pálida falasse comigo. – Como veio parar aqui?

– Eu pulei de um penhasco e cai aqui, longa história. Aquilo de julgamento?

– Você não entende? – Franzi o cenho.

– O que?

– Dante, você está vivo. – Ela falou, começando a perder sua guerra interna. Seus olhos começavam a escurecer de novo.

– Que história é essa de estar vivo? – Não podia ser. – Então como saio daqui?

Mas ela já tinha voltado a ser só mais um daqueles fantasmas pálidos. Tentei pegá-la pelos ombros, mas não consegui. Fiquei desesperado. Acho que por um momento, imaginei que pudesse levá-la de volta.

Voltei a tentar sair daquele lugar infinito. Não sei como não morri, mas já que estava vivo, era melhor voltar e achar meu irmão. E acalmar Elgin também.

POV Yamamoto

– Eu sou retardado, só pode. – Olhei mais uma vez para o penhasco. Elgin avaliou a situação comigo. – Não vou pular ai.

– A ideia foi sua. – Ela falou. – Anda logo.

– Por isso falei que sou retardado. Não vou. Nem você. – A puxei pelo braço, fazendo ela tropeçar nos próprios pés. – Talvez você não tenha deixado de senti-lo por causa da distância.

– Você vem ou não? – Ela tentou se soltar, mas segurei firme. – Japa, por favor.

– Não. As chances de dar errado são maiores do que as de funcionar. – Olhei o buraco mais uma vez. – E afinal, a gente não ia atrás do seu namorado?

– Não posso deixar um morrer pra salvar o outro.

– Fofa, se você diz que ele ainda está vivo, não precisa se preocupar. Alguém vai achá-lo. Já o outro está no topo de uma montanha, segurando o céu.

Ela pensou por alguns instantes, olhando pro buraco à nossa frente. Não a soltei, com medo de que ela corresse e pulasse.

– Tem razão. Mas...

– É hora de fazer sua escolha, meu bem. – Dei aquele sorriso sarcástico. – Qual dos irmãos você prefere? Ou quer salvar primeiro?

– Isso não é engraçado, Japa.

– Eu sei, sorri, mas falei sério. Acho que devia ir atrás do irmão mais novo. Eu com certeza faria isso.

– Você tem medo de altura, não conta.

– Não é medo de altura, é de conhecer seu pai. – Ela me olhou de um jeito cortante. – Não vou contar pra ninguém, se prefere assim.

– É, prefiro. – Ela olhou o buraco de novo. – Acha que Dante vai me odiar muito?

– Eu acho que ele já tá muito afim de você pra te odiar. – Ela se moveu desconfortável com o que eu disse. – Sério, eu iria atrás do outro pelo simples motivo do céu.

– Atlas.

– Fez seu namorado de escravo. Aliás, é bem provável que ele já tenha sido substituído. Mas ainda assim, ele deve estar um pouco pior que o amante.

Ela finalmente se soltou. Parecia raivosa com o que eu disse, apesar de saber que era verdade. Voltamos para a caminhonete, tentando não olhar para o penhasco.

Voltei para a estrada, ligando o rádio. Ela não disse nada, só olhou para mim. Estava tocando Avicii. Já não suportava mais aquela música, mas não mudei de estação quando vi que ela cantarolava junto.

Elgin nunca me perdoaria se eu estivesse errado e quem precisasse dela fosse Dante. Eu também não me perdoaria. Sabia que parte da minha escolha era racional. A outra parte era puramente emocional, no entanto. Se chamava ciúme.


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Notas finais do capítulo

O que acham do Dante? Meio estranho, né? Vou esclarecer tudo, acalmem-se .q



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