POV Dante

Por mais que abraçar Elgin me agradasse eu a ajudei a se levantar depois de desprendê-la de mim. Só me arrependi porque tenho certeza de que aquilo não se repetiria, nunca mais.

Ela continuou na trilha, dessa vez ao lado denso da floresta. A névoa ficava cada vez mais densa e estranha. Segui-a, evitando me afastar dela, tanto para protegê-la quanto para não cair.

– Cade aquela sua faca? – Tentei amenizar um pouco o clima, pensando aonde ela tinha guardado a faca. Ela levantou a mão com o anel, me deixando bem confuso.

– É só eu pensar na arma que eu quero e ele se transforma. – Ela explicou. – Por exemplo, pensa em alguma coisa.

– Sei lá,hummm, um machado.

– Não tinha nada mais fácil, não? – Ela deu uma risada fraca e então como se meia fração de segundo tivesse sumido dos meus olhos ela segurava um machado, daqueles ao estilo Gimli de LOTR.

– Wow, isso é incrível! Como conseguiu isso mesmo?

– Presente. – Voltou a caminhar tentando se localizar, olhando o sol fraco sobre a névoa a todo instante.

– Eu realmente gostaria de um desses. Sério. Mas, você não pode pensar em armas de arremesso, não é?

– Posso, ele volta pro meu dedo poucos segundos depois de eu atirá-lo. – E ela atirou o anel no abismo ao nosso lado. E, realmente, ele estava no dedo dela logo em seguida.

– Bizarro.

Galhos se partindo chamaram minha atenção, o anel dela se transformou em duas espadas, sabe-se lá como. Simplesmente cerrei meus pulsos, rezando pra conseguir socar fosse lá o que fosse.

E então o amiguinho das pernas esquisitas entrou e, ai como eu tive que me segurar para realmente não socá-lo. Elgin se apressou em abraçá-lo assim que o viu. Sério isso?

– Aonde você estava? Eu vi que Dante tinha sumido, mas não te achei depois.

– Acredite, era um bom lugar, mas a hora era horrível. Mas agora não é uma boa hora pra explicar.

– Por quê? Está ocupado tentando matar mais alguém sufocado, sua peste?

O maldito teve coragem de fazer uma cara de sonso e encarar Elgin, se fazendo de desentendido. Ah, mas ele estava implorando para eu descer a mão na cara dele, né?

– O que foi, Scirus?

– Chad e Trianna. Eles estavam correndo comigo, mas acho que ficaram para trás.

– Correndo do que, Scirus?

– Acho que se lembra do guia-manticore, não é? – Ela assentiu alarmada e pálida.

– Guia o quê? – Estava perdido no assunto, boiando legal.

– Manticore, foi quando descobrimos sobre Scirus, eu e seu irmão.

– Vamos logo. – O cara estava impaciente ainda por cima. Elgin começou a seguí-lo , mas eu fiquei estático. Elgin me encarou.

– Não é nenhuma armadilha, Dante. Eu confio nele, mas se não quiser vir não venha. – Se virou e começou a correr entre as árvores seguindo o garoto-bode. Respirei bem fundo antes de começar a correr atrás deles.

POV Trianna

Eu não sabia o que estava sentindo. Não sei se era dor, ou ardência, ou os dois, mas eu tinha plena consciência de que morreria. Porque eu duvido que alguém sobreviva àquilo.

Eu via o vulto de Chad se mover, escapando daqueles espinhos horrendos, mas tudo que eu conseguia fazer era me encolher a cada vez que um desses passava perto de mim.

Ah, como eu era inútil. Três amigos desaparecidos, um lutando contra uma besta que atira espinhos venenosos e eu ali, tremendo, deitada no chão. Fechei meus olhos, tentando ignorar aquela culpa que me dominava.

Alguém me pegou no chão e me carreogu, correndo. “Para onde?”, eu pensava. E quem era?

– Vamos dar um jeito em você, garota. – Dante. O tom irritado constante na voz dele deixou aquilo bem claro. – Vai ficar bem. – Como? Não faço ideia.

Só sei que depois de alguns segundos correndo eu não conseguia mais abrir meus olhos. Não sei se eu dormia ou se tinha desmaiado, só sei que Dante respirava de forma pesada, mas não parava.

POV Elgin

Não me demorei encarando Dante carregando Trianna para longe, logo que virei o rosto, um espinho passou voando do meu lado. Me agachei, pensando num escudo.

Assim que me levantei de novo, corri para o lado de Chad. Scirus já pegara sua flauta e começaria a tocá-la logo.

– Está bem? – Ele concordou. Como ele lutaria sem uma arma,deuses?

– Só preciso de algo afiado e uma distração. – Pensei em uma lança, com uma ponta chata e a entreguei para Chad. Ela não voltou para mim, me supreendendo.

E Scirus começou. As ervas dessa vez eram bem mais grossas e fortes, realmente parecidas com as que prendiam Dante. Me concentrei, pensando numa distração.

A questão era que, eu não tinha um plano. Então simplesmente corri na direção do manticore, atraindo sua atenção. Para minha sorte, Chad não se demorou em contorná-lo e correr para ele também.

Mas o guia se virou para ele. Chad não tinha mais como frear, e eu não tinha o que fazer. Talvez.

Pensei na lança comigo e nem me certifiquei de que a segurava. Chad só desviou um pouco, tentando correr dos espinhos. Pulei nele depois de três passos e acertei o mesmo ponto que Chad tinha acertado antes. Cai me apoiando em um dos joelhos sobre o monte de poeira, que espalhei soprando grandes porções.

Olhei Scirus, que tinha parado de tocar no mesmo instante. Ele tinha um olhar de preocupação e de euforia ao mesmo tempo. Chad se sacudia de uma lado pro outro.

– Vamos, temos que ajudar Trianna. – Os dois não falaram nada, só me seguiram. Já tínhamos perdido muito tempo ali, mas não perderíamos Trianna. Eu não perderia.