Assim que eu acabei meu turno,às três da tarde fui abrir a caixinha.Não que eu fosse ficar com o presente,mas estava curiosa para ver o que era.A caixinha de veludo preto se abriu devagar e sem resistência.

O anel mais incrível que eu já vi brilhou sob a luz fraca do banheiro de funcionários.Coloquei-o no dedo sem perceber.Ele era um pouco pesado,mas em um segundo me acostumei.O azul reluzia tão lindo que eu me encantei.

A parte metálica não parecia ser de prata,era mais escuro que prata,parecia latão desgastado,mas tinha seu charme.Era bonito na minha opinião.A pedra era cercada de diamantes pequenos.Fiquei com raiva depois que a admiração pelo anel passou.

O maldito tentou me comprar com um anel que provavelmente era bijouteria(eu sabia que não era,mas tentei me convencer disso).Atirei o anel com a caixinha no fundo da lata de lixo e sai do banheiro pisando firme.

Chad e Tri estavam me esperando encostados em um poste.Nós três ficávamos andando por ai durante os sábados depois do meu turno.Andávamos até a Brooklyn Bridge,íamos a Manhattan quando podíamos pagar taxis.

Chad discutia com Tri quando me aproximei,um pouco mais calma.Olhei a ponte,observando as águas por baixo dela.Claramente eu não acreditava nessa história de deuses e tal.Até porque eles estariam na Grécia se fossem reais.

Mas ele podia bem ser meu pai.E eu identificava minha mãe na descrição dele.Trianna sacudiu meu ombro,me acordando.

– ELGIN! – Aquilo machucou meu tímpano. – Qual é a versão romana dos olimpianos?

– Quem sabe disso é você,Tri. – Ela olhou pra mim vermelha de raiva e começou a berrar que eu sabia as respostas porque tinha lido sobre isso para trabalhos escolares ou por puro interesse.Chad argumentava com Tri entre um berro e outro.

– Ok,Tri.Me dá uma ordem que eu te falo.Mas para de gritar estamos no meio da rua. – Estávamos quase sozinhos na rua,a não ser por uma pessoa mais a frente.

– Primeiro,e daí?Segundo,ai vai sua ordem. – Ela pensou em uma ordem e disse tudo em um fôlego só – Zeus, Atena, Apolo, Artémis, Afrodite, Hera,Deméter, Hermes, Poseidon, Dionísio,Ares, Hefesto e Hades.

– Pra que isso tudo?

– A gente só quer saber de Deméter,mas você conhece Trianna.

– Cala sua boca,Chad.Responde logo,Elgin.

– Ok,ok. – Respirei fundo e comecei a falar os nomes,que Trianna me relembrando da ordem. – Júpiter, Minerva, Apolo, Diana, Vênus, Juno, CERES,Mercúrio,Netuno,Baco, Marte e Vulcano.

– Haha,viu?Eu te disse que era Ceres. – Trianna deu língua pra Chad que simplesmente rolou os olhos – Você não disse o de Hades.

– Você sabe – ela me encarou – Plutão.

Trianna continuou no tema deuses gregos/romanos durante todo o percurso.Eu estava no meio,entre ela e Chad,e não tinha como não ouvir.Ela se apaixonou por Apolo,como ele era bonitão e não sei mais o que.

– Entendi,Trianna.Troca o disco.

– Ok,vou parar de falar deles se vocês me responderem uma coisa.

– Manda ai – Chad estava tão desesperado quanto eu pra terminar aquele monólogo.

– De que deusa vocês acham que eu seria filha?

– Acho que de Afrodite. – Ela ficou enfurecida,como sempre quando a chamavam de vaidosa,rica bem vestida,essas coisas que geralmente se atribuem à Afrodite.

– Claro que não.Meu pai não é tão fútil assim.

– Não fala assim,garota.Queira você ou não ela é uma deusa.Eu apostaria que ela não está lá só por ser imortal e ser bonita.

– Ok nervosismo,desculpa.

O cara que andava na nossa frente estava me incomodando.Ele se misturava à névoa de início de noite do Brooklyn e era muito vago.Tipo,ele não parecia estar ali,mas eu o via.

Deixamos Tri em casa e fomos caminhando até o portão do prédio de Chad,que ficava a três quarteirões da casa de Tri.O homem caminhava devagar,como se nos esperasse.

– Aquele cara é muito suspeito.Só eu que acho?

– Se você me mostrar de quem você está falando,talvez.

– Ali. – Apontei,mas ele tinha sumido.

– Ok,você está cansada.

Não respondi,nem tinha como.

– Quer entrar?Minha mãe não chegou ainda,eu acho.Você pode ficar olhando minhas costas definidas sem medo de se encrencar.

– Pena que eu não quero ficar olhando suas costas,Narciso. – Ele abriu o portão e saiu do caminho.

– Entra logo.

Comecei a rir e entrei já indo para o corredor com o apartamento 12.