A Propósito, Feliz Natal escrita por Rebecca3


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem...



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"Estava frio naquela manhã, mais frio que todos os outros dias. Além de que estava caindo uma fraca geada e o chão estava coberto de neve. Mas não era por isso que não havia ninguém nas ruas, nas lojas ou nas varias lanchonetes do distrito 2.

Não se ouvia nem um único som, tirando o canto dos pássaros, naquele dia, por que era Natal e todas as pessoas estavam em suas casas, junto de suas famílias.

Não se tinha uma digna comemoração de Natal desde... bem, desde muito tempo, mas, quando nós, os rebeldes, vencemos, essa data voltou a ter todas as suas pomposidades.

Eu estava sentado em uma pedra, no meio da mata que cerca o D2, relendo pela milionésima vez a carta que Katniss e Peeta me enviaram, me convidando para passar o feriado com sua família. Só que eu sabia que o único motivo de eu estar sendo convidado, era por Peeta ser muito educado. Eu não acreditava que Catnip queria mesmo minha companhia, ela ainda estava brava comigo, mesmo depois de seis anos...

Se eu soubesse que aquela armadilha seria usada para isso, eu nunca a teria bolado. E ela sabia disso, só que é teimosa demais, infelizmente, como eu.

_ Não pense nisso, idiota. É Natal. - falei para mim mesmo, procurando consolo.

Eu não tinha ninguém com quem dividir o peru que eu estava capturando naquela manhã: minha mãe e meus irmãos resolveram ir para o distrito 12, mas eu não suportaria voltar para lá e encontrar a feliz família de Katniss.

Estúpido – me xinguei mentalmente, amacei a carta com a cuidadosa letra de Peeta e joguei longe, mas não ouvi a bola de papel cair no chão.

Enterrei meu rosto nas mãos, como se estivesse enterrando todas as minhas frustrações junto.

_ Qual é o seu problema, Hawthorne?

Era aquela voz. Aquela voz que eu tanto amei. Eu achava que a dona dela houvesse morrido. Morrido da pior maneira possível, na minha opinião: queimada.

Mas não. Parada, na minha frente, estava Madge Undersee, usando botas com pelo de carneiro, um casaco de cashmere e um gorro de lã e segurando a minha carta em uma das mãos.

Acho que meus olhos se arregalaram demais, pois a garota foi direto ao ponto:

_ É, eu estou viva. - ela me disse, mas, acho que, mesmo a ouvindo e vendo, ainda não acreditava. - Quando a minha casa veio abaixo, eu já tinha saído de lá. Capturada por soldados da Capital, aliás.

_ Capturada? - só consegui dizer isso.

_ Sim. Era para eu ter virado uma Avox, mas eu consegui escapar.

_ Posso ver. Você continua falando. - ri da minha própria e estúpida fala. Madge com certeza devia estar achando que, durante a rebelião, algo me atingiu com muita força na cabeça.

E me atingiram, várias coisas me atingiram na cabeça. Eu não achava que essas pancadas teriam sido fortes o suficiente para me transformar em um idiota, mas, depois dessa, talvez eu estivesse enganado.

Madge estava me encarando com uma das sobrancelhas arqueadas, esperando que eu me explicasse, de preferência de maneira racional.

_ Desculpe. Estou meio distraído hoje.

_ Por que está aqui? É Natal, você deveria estar com sua família, comendo até se fartar. - Madge se aproximou alguns passos de mim.

_ Eu gostaria, mas eles estão lá no 12.

_ Junto com a família de Katniss. - ela adivinhou rapidamente.

Dei de ombros e fitei o horizonte, tentando evitar seus ternos e belos olhos castanhos claros.

A aparência de Madge estava muito diferente, seus olhos se tornaram ferozes e ela estava mais magra, consequências, provavelmente, dos anos que teve que passar se escondendo dos remanescentes da Capital. Ela exibia um corpo de mulher, esguio, alto e cheio de curvas, e seus cabelos loiros estavam mais dourados.

Mas algo nela não mudou. Em seus olhos, havia o mesmo brilho que eu via sempre quando estávamos próximos, antes da rebelião. Um brilho que conseguia captar a nossa atenção e nos confortar até que acabássemos vidrados em seu rosto.

Era isso que ela estava fazendo comigo, me viciando nela.

_ Tome. - Madge tirou do bolso um pequeno embrulho e o estendeu para mim.

Desembrulhei-o vacilante e me deparei com um pequenino espelho, que só conseguia refletir um de meus olhos cinzentos. Gravado na parte de trás do objeto estava escrito: Lembre-se que você é melhor do que pensa. Você é bom.

Aquilo fez com que eu quase derramasse lagrimas. Fazia muito tempo que ninguém me dizia que eu era bom. Faziam, na verdade, seis anos.

Quando ia agradecer, percebi que Madge já estava caminhado para fora da floresta.

_ Ei! - atrai sua atenção. - Obrigado.

_ Tudo bem, Hawthorne. - ela se voltou para mim. - Ah! A propósito, feliz Natal.

Então, Madge sorriu para mim. E aquele sorriso me fez ver a vida toda que eu teria pela frente.

Ou melhor, a vida que nós dois teríamos pela frente."



_ Que história incrível, papai! - minha filha de quatro anos aplaude. Acaricio seus cabelos cheios de cachos louros, como os de sua mãe. - Conta de novo?

_ Talvez mais tarde, Maysilee. - sorrio docemente, mas vejo minha garotinha emburrar, pior que chamá-la pelo nome completo, só negando alguma coisa. - May, hoje é Natal esqueceu? Se não levantar logo, seus irmãos vão abrir seus presentes.

May pula da cama rapidamente, esquecendo logo da minha história e correndo para a sala.

Suspiro e me viro para a porta. Então, vejo um par de olhos brilhantes me encarando.

Minha mulher estava escondida no corredor, me escutando conversar com May. Seu sorriso, depois de tantos anos juntos, continua o mesmo: ele aquece meu coração todos os dias.

Debaixo da árvore de Natal, já não há mais presentes, só papel de embrulhos.

É duro ser pai, principalmente ser pai de cinco filhos. Mas esse sempre foi o meu maior desejo: ter minhas próprias crianças correndo pela casa na manhã de Natal.

Minha filha mais velha, Hazel, está desfilando suas roupas novas para May, que brinca alegremente com sua boneca nova, sem prestar muita atenção.

Os gêmeos, Beete e Haymitch, um ano mais novos que Hazel, estão testando seus novos skates no jardim. Minha mulher está com Katniss, nossa filha de dois meses, no colo, dando-lhe seu novo chocalho.

Tudo está bem.

Quer dizer, falta uma única coisa.

Pego Kat do colo dela e a coloco no berço. Tomo as mãos da mulher que vem me acompanhando a vinte anos, que há 17 anos deu a luz a nossa primeira filha e que vai ficar comigo até a velhice.

_ Isso é para você. - entrego-lhe um pequeno embrulho.

Ela rasga o papel e um sorriso brota em seus lábios.

_ Gale... - ela se atira em meus braços, me abraçando forte. - é perfeito.

Um pequeno espelho prateado com detalhes de ouro e cobre, esse material veio diretamente de nosso distrito natal, está em sua mão. Gravado no verso está a frase: Você é a razão de eu ser bom.

Sorrio, aliviado por sua reação ter sido até melhor do que eu esperava.

_ Você é a razão de tudo isso também. - aponto em volta: nossos filhos, nosso Natal.

Ela me abraça com mais força.

_ Eu te amo.

_ Eu também te amo. - sussurro em seu ouvido. - E, a propósito, feliz Natal, Madge.


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Notas finais do capítulo

FELIZ NATAL E UM PRÓSPERO ANO NOVO