Jogos Vorazes por Cato escrita por AmndAndrade


Capítulo 6
Capítulo 6 - Volta pro inferno, brasinha!


Notas iniciais do capítulo

HOHOHO, feliz Nata!! AHUEHAUHA vou reunir a família na roça hoje, comprei até umas bexigas de aniversário pra encher de água e estourar na cabeça dos meus primos rss... espero que gostemmm!!



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            Encontro todos sentados à mesa, aparentemente me esperando enquanto conversam. Assim que chego, começam a comer educadamente, conversando sobre o hoje. Contei à eles sobre a carnificina que causei. Ou bonecoficina, não sei se isso existe. Não importa. Quando perguntam à Clove como ela foi ela apenas responde que “foi bem”. Aposto que ela raciona mais palavras do que racionaria água num deserto. “Joguei algumas facas”, ela diz. Sinto vontade de rir diante da colocação, mas concentro-me no peru colocado à minha frente e em escolher um molho que combine. Jocelie me indica com a cabeça o da esquerda e pisca. Sorrio. São pessoas com as quais eu poderia conviver por muito tempo.

            Depois do jantar vamos até a sala de televisão, sentando no sofá de couro num tom de chumbo, que forma uma meia-lua em torno da sala. É bem mais confortável que qualquer um que já havia me sentado. Sento numa extremidade do sofá e Clove na outra, com Jocelie e Edwin entre nós. Ouço a voz de Claudius Templesmith fazer certo drama antes de começar a falar sobre os Jogos, seguido por Caesar Flickerman. A foto de Marvel aparece e fazem comentários de como ele é rápido. Oito. Não parece ruim. Glimmer consegue um nove, e vejo quando Clove ergue as sobrancelhas para a nota. Posso quase ouvi-la dizendo que Glimmer tiraria um dois se houvessem alguns minutos de conversa entre elas e os Idealizadores.

Estou sorrindo disso quando minha foto aparece na tela. Ameaçador, forte, assim sou descrito. Gosto da idéia de parecer um matador e minha nota me alegra. Um dez faz com que Edwin dê tapinhas nas minhas costas e que os presentes ali me congratulem. Clove permanece na mesma posição quando a anunciam, dizendo que nunca viram alguém ser tão pequeno, tão hábil e com tamanha concentração e mira. A mesma conclusão que eu tive. Quando um dez começa a piscar, sou obrigado a olhar para ela e sorrir. Sabia que ela conseguiria.

            Continuamos assistindo apenas por assistir, uma vez que nada mais naquela televisão me interessa. Meus aliados tiveram notas boas, mas a minha foi melhor, o que apenas prova que sou o líder. Presto atenção quando ouço o número “oito” e vejo que se refere ao garoto do distrito doze. O que eu sempre aprendi que era o distrito mais pobre. Encaro suas feições. Seus olhos azuis exalam bondade, mas ele tem músculos o suficiente nos braços para quebrar uns pescoços. Obviamente não tem instrução acadêmica como eu ou Clove, ou os colegas do Um. Mas conseguiu um oito, o que me deixa pensativo a respeito dos outros. Enquanto pondero sobre isso, a garota brasinha aparece na tela. Se chama Katniss e eles a descrevem como apenas ousada. O que isso significa? Foco os olhos para ver que nota ela receberá, já desinteressado.

            Desinteressado até que um onze pisca na tela.

            Mas de que inferno esse onze veio? Como ela conseguiu isso? Cerro o maxilar e me levanto, esforçando-me para não chutar ou empurrar nada no caminho. Um onze! Quem ela acha que é? Eu sou mais alto, sou mais forte, sou mais treinado. Isso simplesmente não é justo!

            Mas onde estou, para falar de justiça num país onde jogam vinte e quatro jovens num espaço fechado para que eles se golpeiem até a morte? Entro e bato a porta de um jeito que sei que emperrará a fechadura mais tarde. Entro no chuveiro e espero a água morna atenuar a dor de cabeça que estou sentindo. Jogo-me na cama e reflito sobre isso. Cathy, meus pais, Clove. Tudo está embolado na minha cabeça e aperto os olhos até que pontos brancos se formem em minha visão. Sou interrompido por batidas na porta.

            – Está aberta – cuspo as palavras, ainda com os dedos nos olhos.

            Clove abre com certa dificuldade – a batida – e em seguida para na porta. Levo um segundo para desembaçar a visão e perceber que ela está de pijama. Não sei por quanto tempo fiquei na cama e o cheiro de morango que ela exala apenas me desconcerta mais. Ela me olha com uma expressão vazia e eu me sento na cama.

            – Como você está? – diz. Talvez seja a oportunidade para ouvir um pouco mais de meia dúzia de palavras de Clove. Decido me abrir.

            – Não sei bem. – Suspiro. – Acho que estou em crise – digo com um meio sorriso.

            – Quer conversar? – Ela troca o peso de uma perna para a outra. Faço que sim com a cabeça, me lembrando de como Cathy usava as mesmas palavras.

            Ela toma liberdade de sentar na ponta da cama, sobre uma das pernas de modo que agora está olhando para mim.

            – Jocelie está preocupada com você.

Ergo as sobrancelhas quando algo me ocorre:

            – Ela te mandou aqui?

            – Não. – Clove sorri brevemente. – Cato, alguém ter tirado um ponto a mais que você num teste idiota não significa que a pessoa é melhor que você.

            Tenho pensado nisso. Minha reação foi exagerada, eu não devia ligar tanto para isso.

            – Não sei se é bem isso que está me incomodando. Você já percebeu o quanto isso tudo é errado? Todo o país me vê como uma grande aposta. Como uma máquina de matar, um vencedor em potencial. Isso não me incomodar é o que me incomoda, sabe? Eu sempre quis isso, e agora não sei se é o certo. Sempre confiei e olhei para frente, mas parece que faz setenta e quatro anos que todos só olham para frente.

            – Os que olharam para os lados foram destruídos – ela diz, baixo e quase involuntariamente. Sei que está se referindo ao Distrito 13.

            – Talvez fossem os únicos sensatos. E agora é tarde. Você já quis muito duas coisas opostas ao mesmo tempo?

            – Como levar uma vida tranqüila como muitos anos atrás havia e ao mesmo tempo querer vencer essa droga de Jogo, matando todo mundo? – Ela sorri. A interpretação é perfeita.

            Limito-me a assentir e baixar os olhos, desgostoso. Vejo que ela está se movendo para mais perto de mim, sentando do meu lado com as pernas para fora da cama.

            – Você sabe que pode. O que você tem em vantagem ninguém pode tirar. Não deixe os outros tirarem o que você tem de bom, Cato.

            Bagunço o cabelo dela com a mão esquerda, para que ela entenda que já estou bem.

            – Por que você não dorme agora? – ela diz suavemente.

            Não sei bem se consigo dormir. Agora tenho plena consciência de que a nota de Katniss não me irrita nem um pouco.

            – Vou te buscar um copo d’água primeiro – digo, erguendo as sobrancelhas enquanto ela estreita os olhos.

            Quando retorno, ela está sentada na minha cama, enrolada numa manta vermelha que ressalta todas as cores nela. O rosto, o cabelo, os olhos.

            – Te espero dormir – ela diz, e eu me deito depois de colocar o copo intocado na cômoda de metal. Com as costas apoiadas na cabeceira, ela espera um tempo. Estou deitado no meio exato da cama, mas sou grande, de modo que sua mão direita consegue afagar meu cabelo.

            – Obrigado.

            – Chega de conversa – diz, sem tirar a mão. Continuo ali, sentindo a mão quente remexendo devagar no meu cabelo, e para, minha surpresa, desejando que ela pegue no sono ali mesmo.


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Notas finais do capítulo

Sa Clove, sei não heimmmm! Se fosse eu... HAUEHAUHEAUHUH