Sangue Quente - O Contágio escrita por Wesley Belmonte, Jaíne Belmonte
Jogo a bicicleta no chão e corro pra dentro da casa, estou ofegante.
Chego até a suíte no andar térreo onde estão meus pais.
– Acordem. – Abro a porta com muita violência, fazendo um grande estrondo ao chocar-se com a parede. – Tem dois carros chegando aqui.
– Como assim? – Meu pai, assustado levanta-se e começa e colocar sua calça e uma camiseta.
– Tem certeza Richard? – Questiona minha mãe.
– Tenho mãe. O Ben estava lá comigo, ele está monitorando. – Respondo imediatamente saindo do quarto e indo em direção das escadas para avisar os outros.
Subindo os primeiro degraus, vejo Adrian descendo as escadas, com uma cara de assustado e com os cabelos bagunçados.
– O que está acontecendo? – Ele pergunta.
– Pegue as armas, que te explico no caminho.
Voltamos em direção ao mirante, usamos a S10 - com os faróis desligados - para nos locomovermos mais rápido. Apesar da fazenda não ter muitos alqueires, são mais de dois quilômetros de distância, entre a casa e o mirante.
Chegando lá, vemos Ben descendo as escadas.
– Onde eles estão? – Pergunta meu pai.
– Voltaram. – Explica. – Não sei o que aconteceu. Eles vieram até aqui perto, e voltaram.
– Como assim? Não entendi. – Indaga Adrian, levantando uma de suas sobrancelhas.
– Eu também não. Preparei o fuzil para qualquer eventualidade. Mas eles chegaram perto daqui, ficaram uns dois minutos e voltaram de onde vieram.
Não estou entendendo mesmo. Estou começando a imaginar que seja nossa imaginação, talvez essa barreira que estamos fazendo com o mundo exterior esteja afetando nossoa sanidade.
– Cara, isso pode ser um aviso – sugere Adrian. – Acho melhor aumentar nossa vigilância.
– Desculpa – lamenta Ben. – Depois que vocês chegaram, deixei de lado o rádio transmissor.
– Tudo bem. Mas de agora em diante vamos deixar um com alguém na casa e outro com quem estiver aqui.
* * *
Acordo às seis da manhã. Inacreditavelmente não tive nenhum pesadelo essa noite, talvez tenha sido o curto período de sono que tive, mas não estou cansado. Vou até o banheiro lavo o rosto, escovo os dentes. Passo pelo corredor e olho para o quarto da Jenna, que ela está se levantando agora, vejo dois travesseiros em sua cama, acho estranho, mas não digo nada.
Vejo que meu avô está terminando de preparar o café matinal.
– Bom dia! – Vejo um sorriso maravilhoso no seu rosto, que desde a morte da vovó ele não tinha.
– Bom dia vô. Vejo que o senhor está feliz.
– É verdade. Tenho dois ótimos motivos. – Ele confirma, pegando duas xícaras e trazendo o bule para a mesa. Ele nos serve e senta-se a mesa.
– O primeiro é que estou feliz por ter todos vocês aqui comigo, estava me sentido solitário há muito tempo.
– Que isso vô, o prazer é todo nosso. Nós que agradecemos por você estar vivo e podermos ficar em um lugar “seguro”. – Verdade, e acho que está na hora de perguntar pra ele, o motivo da fazenda estar murada e com câmeras, será que ele sabia do que iria acontecer e montou tudo isso?
– E o outro motivo, é que sonhei com a Laura. – Vejo seus olhos brilharem. – Normalmente eu ficaria triste se sonhasse com sua avó, mas dessa vez ela me disse muitas coisas lindas, de como é sua vida no paraíso, e que vê que estou em ótima companhia. Para dar valor em cada momento que tiver, pois o mundo está em seus últimos momentos.
Uma lágrima rola em meu rosto, isso é realmente uma coisa que a vovó diria.
– Vô, porque o senhor construiu o muro em volta da fazenda, e colocou câmeras? – Pergunto. – O senhor já sabia que esses monstros dominariam a terra?
– Quem dera filho, seu avô aqui, construiu esses muros para me livrar dos assaltos que estavam acontecendo.
– Não entendo. Pelo que sei, assaltos são problemas de cidades grandes.
– O mundo mudou muito nos últimos anos, muitos bandidos acham melhor assaltar fazendas exatamente por esse motivo: são longe das cidades. Quando somos atacados, não temos nenhuma defesa. Minha alternativa foi construir muros com cercas elétricas e ainda assim colocar câmeras de vigilância.
Escutamos o som do rádio transmissor que está na sala, ele apita e logo em seguida vem uma estática que dura poucos segundos. Meu coração pula, deve ser os carros novamente.
– Carlos... – A voz soa fraca e não parece ser a voz de ninguém conhecido. Meu avô corre em direção do rádio, derrubando a cadeira no chão.
– Pode falar Moisés. O que está acontecendo? – Não ouvimos mais nada, meu avô dá um soco forte na mesinha.
– O que está acontecendo vô? E quem é Moisés?
– Não sei o que acontece Richard, e Moisés é um fazendeiro amigo meu que mora há poucos quilômetros daqui.
– Moisés? – A voz é de meu pai entrando na sala.
– Sim Charles, ele mesmo. Precisamos verificar o que está acontecendo na fazenda dele.
* * *
Uma hora depois, estamos no portão de saída da fazenda.
– Você acha uma boa ideia ir até lá? – Indaga Ben.
– Não, mas eu prometi para ele que se acontecesse alguma coisa era pra ele me avisar no rádio que eu o ajudaria. – Responde meu avô.
Vemos alguns mortos vindos em direção do portão. Abrimos com o controle remoto e eles começam a entrar, atropelamos alguns com a caminhonete. E Fechamos em seguida. Olho para trás e vejo que restaram alguns dentro da fazenda, mas são todos eliminados facilmente por Adrian e Ben.
– Eu disse pra ele vir pra minha fazenda. – Meu avô está com um tom de voz triste. – Mas ele sempre foi teimoso. Disse que não podia abandonar seu gado. E que se sua fazenda fosse destruída ele morreria junto com ela.
– Mas você tinha falado com ele nos últimos dias? – Pergunta meu pai.
– Não. A última vez que falei com ele foi quando todos abandonaram minha fazenda, ofereci ajuda pra ele, mas ele não aceitou. Então deixei um rádio com ele e pedi que me avisasse se algum ruim acontecesse ou mudasse de ideia.
Alguns minutos depois pegamos uma entrada, que nos leva até a fazenda dele. Chegando lá podemos ver um caos no local.
– Não me diga que essa é a...
– Infelizmente. – Meu pai interrompe. – Não posso acreditar. A última vez que vim aqui, ela era maravilhosa, bem cuidada.
Ele está com as mãos na cabeça. Não é pra menos, a fazenda tem cerca de arame farpado, mas está destruída. Vejo muito sangue pelo chão, corpos mutilados. Adentramos, e vejo alguns zumbis perambulando por ali, Muitos bois estão andando na fazenda. Estão magros, parecem estar com fome. Mas não consigo entender, os mortos andam perto deles, mas não atacam, é como se eles só comessem carne humana.
Chegando perto da casa, vejo vidros quebrados. A porta está deslocada, saímos do carro e ficamos parados em frente a casa.
– Tem certeza que quer entrar? – Pergunto, não sei se vou ter coragem de entrar.
– Tenho que achar ele. - Meu pai entra na frente, ele empunha a Desert Eagle com silenciador, o sigo levando minha faca de açougueiro, e meu avô vêm atrás de nós com um martelo e uma faca.
Ouço um grito, e um vulto rápido vindo em nossa direção. Rapidamente, meu pai acerta a cabeça dele, mas um zumbi repentino entra correndo pela porta agarrando meu avô e jogando ele no chão. Chuto e acerto a faca na cabeça dele, que abre facilmente espirrando um liquido preto.
– Obrigado. – Agradece meu avô, tentando se levantar, mas ele geme. Ajudo-o a se recompor. – Acho que deu um mau jeito na minha coluna essa queda, estou muito velho para essas aventuras.
– Richard, fique aqui em baixo com seu avô, vigie a porta. Eu verifico a casa.
Dois minutos depois, meu pai volta, vejo que ele está chorando.
– O que aconteceu? – Pergunto assustado.
– Melhor irmos embora, agora! - Ele responde com uma voz falha.
– Explique o que você viu lá? – Questiona meu avô. Mas meu pai desaba no chão, está chorando como nunca tinha visto antes.
Meu avô entra para ver o motivo, o sigo.
Entramos na cozinha e vejo algo assustador. Dois corpos estirados no chão, duas mulheres, uma mais nova e outra mais velha, estão ambas estão com a cabeça estourada, e os miolos pra fora, tem indicios de mordidas em algumas partes do corpo de ambas, mas algo a mais chama minha atenção e a de meu avô também. Um corpo estirado no chão, Uma grande mancha de sangue está na parede, com pedaços de cérebro por todos os lados. Ao lado dele vejo o rádio transmissor, e em cima dele uma espingarda calibre 12. Ela fez um grande estrago, não sobrou praticamente nada de sua cabeça. Mas tem algo estranho: Se ele morreu sem virar zumbi e tinha zumbis por aqui, por que ele não foi comido, já que zumbi come carne humana. Será que os zumbis só comem carne de pessoas enquanto elas estão vivas? Essa é somente mais uma das questões que não tenho resposta.
Meu avô sai da casa, seguido por mim e meu pai.
– Não me diga que aquela era a família do...
– Sim. – Responde meu avô, antes mesmo de meu pai terminar a pergunta.
– Acha melhor enterra-los? – Pergunto.
– Não. – Meu avô também está com lágrimas nos olhos. – Ele gostaria mais se cuidarmos do gado dele. Preciso leva-los.
– Como vamos leva-los? – Pergunto.
– Vamos montar um cercado de arame na caminhonete, e depois vamos usar o berrante pra colocar eles dentro.
Meu pai fica nos ajudando somente matando zumbis, mas mesmo com o silenciador, eles começam a aparecer. A parte mais pesada fica comigo, busco as cercas de arame e as madeira para prendermos na carroceria. De vinte em vinte minutos passamos um rádio pra avisar Adrian que estamos bem. Terminamos de arrumar o caminhão em três horas, estou com o corpo encharcado de suor, ajudo meu avô a colocar a plataforma na entrada da caçamba para os gados subirem. Estou pegando um belo bronze na pele, o sol parece estar em uns 40° Celsius. Agora vem a parte mais difícil da missão, o barulho do berrante vai atrair todos os zumbis que estiverem a quilômetros de distancia e não podemos atirar para não espantar o gado, Pelo que contei tem cerca de dez bois, e duas vacas. Meu avô começa a tocar, e de pouco em pouco o gado começa a se reunir, vejo um que está mais sadio que os outros andando na frente. Meu avô está em cima de um cavalo branco, com um pelo fosco, e bastante sujo. Imagino que a raça dele seja camarguês. Vejo dezenas de mortos entrando na fazenda, olho para meu pai e ele balança a cabeça em sinal positivo. É agora, preciso mostrar que sou bom também. Meu pai me da cobertura com sua arma. Espero os zumbis chegarem mais perto e começo a ataca-los com o facão. Três zumbis estão a minha frente, mantendo certa distancia acabo com os três, outros cinco chegam perto de mim, três deles são eliminados por meu pai, que acerta a cabeça deles com uma precisão de cirurgião.
Continuo destroçando todos, com a ajuda do meu pai. Em relances verifico como está o progresso com o gado. Vejo que meu avô está com um pouco de dificuldade em locomover-vos. Talvez estejam com receio por não ser o dono deles. Estão aparecendo cada vez mais zumbis.
– Volta Richard! Vamos ter que ir embora, a fazenda está sendo cercada! – Ordena meu pai, recarregando a arma. Corro até o carro com alguns canibais atrás de mim.
Chegando perto da caminhonete, vejo que o gado começou a entrar e subir na caçamba.
– Pai, temos que continuar, ele está quase terminando.
Meu pai consente, entrega a arma pra mim e pega o Sniper rifle - como o lider dos bois entrou, todos irão entrar, agora podemos atirar com outras armas -. ele deita no chão para apoiar o rifle, já que não está com o braço tão bom.
Destruímos os zumbis que estão mais perto, e começamos a liberar o caminho. Meu avô desce da caminhonete.
– Vamos embora, ou vamos acabar fazendo companhia para o Moisés. – Diz meu pai.
Meu avô vê que estamos totalmente cercados, entra na caminhonete. Entramos logo em seguida. Vejo que meu avô está satisfeito por ter salvado o gado e o cavalo de seu amigo, mas apesar da boa ação está com um ar triste.
– Parece que Moisés não conseguiu suportar o peso da situação. - Diz meu avô, num misto de emoções. - Pelo que vimos lá, ele deve ter surtado, saiu quebrando várias coisas pela casa, matou a família e depois se suicidou.
– Será mesmo que ele faria uma coisa dessas? - Indago.
– Não há outra explicação, além do mais Richard, em tempos como esses, tirar a própria vida, não é uma alternativa tão má assim.
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