Sangue Quente - O Contágio escrita por Wesley Belmonte, Jaíne Belmonte


Capítulo 22
Capítulo Vinte e Dois


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura. ;)



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Fico sentado na beirada da caçamba, algumas horas se passam. Suponho que são duas horas manhã. Ouço a porta do A3 abrindo, olho pra ela e vejo Misty saindo de lá. Ao chegar perto de mim vejo que ela não está nada feliz. Penso em falar com ela, mas ela se mostra pouco acessível para conversas. Ficamos ali cerca de vinte minutos sem pronunciarmos nenhuma palavra. Vejo que ela usa uma blusa de moletom preta. Mulheres sempre são mais precavidas que os homens nessas circunstâncias.

– Você deve estar cansado. – Ela Interrompe o silencio. – Pode ir deitar se quiser.

Não respondo nada. Mas aceito sua sugestão, pelo que conheço de mim daqui a pouco começaria a dormir. Volto para o Audi, deito-me ao lado de Adrian que parece estar em um sono bom e profundo e em poucos instantes apago.


* * *



Acordo. Vejo uma chuva fina, porém incessante batendo no vidro do carro, o limpador de para-brisas funciona em ritmo acelerado. O carro está em movimento.


– Que horas são? – Pergunto.

– Acredito que seja quase oito horas. – Ele responde. Olho para o banco traseiro e não vejo Misty.

– Cadê a Misty?

– Está na S10. – Ele responde, parece estar aliviado por ela não estar aqui. – Adorei sua blusa, onde você comprou?

– É da minha irmã, ou melhor: sua namorada! – Ele não diz mais nada, apenas engole em seco. – Já faz muito tempo que voltamos pra estrada?

– Decidimos partir no final da madrugada, quando estava começando a chover. Você sabe quanto tempo ainda temos de estrada?

– Não faço idéia, me lembro muito pouco dessas estradas. – Digo, tirando a blusa e jogando no banco traseiro.

Uma hora a mais na estrada, avistamo uma horda de mortos que parece migrar, meu pai que que está na nossa frente para o carro, paramos logo em seguida.

– Você acha que conseguiremos passar por eles? – Pergunta Adrian.

– Podemos tentar, mas eles são muitos, talvez tenham mais deles na flore... – Meu pai é interrompido por alguns mortos que saem de dentro da mata. – Porque eu fui abrir minha boca.

Adrian corre para o lado da caçamba e pega sua foice.

– Não podemos fazer muito barulho, a horda ainda não nos viu. – Ele dispara pro ataque inicial aos mortos. Meu pai, Jenna, Misty e eu, pegamos facas para ajudarmos Adrian. Mas parece que ele não precisa de ajuda. Consigo contar sete canibais indos em direção dele. Como sempre ele é muito rápido nos movimentos. Ataca o primeiro rapidamente cortando seu pescoço, a cabeça cai no chão. Três atacam ele no mesmo momento, ele faz uma sequência rápida de movimentos, ficando atrás dos três inimigos. Ele corta o ar com a foice, cortando as três cabeças de uma vez só. Vejo um zumbi chegar rapidamente nas costas dele, saco a arma e aponto na direção do morto. Mas antes que eu tenha tempo de atirar, com sua mão esquerda ele tira uma faca do cinto e crava no olho do zumbi. Não acredito no que aconteceu esse cara só pode ser de outro planeta, mesmo de costas ele consegue sentir a presença do morto, e sem olhar pra ele consegue acertar com precisão sua cabeça. Tenho que admitir, esse cara é sensacional. Olho para meu pai, ele está com um grande sorriso no rosto. Vejo Adrian correndo para matar os zumbis restantes. Olho em direção das cabeças dos zumbis e percebo que mesmo estando fora de seus corpos elas continuam se mexendo.

– Pai, como vamos passar por esses mortos? – Pergunta Jenna.

– Vamos explodi-los! – Ele vai até a caçamba, pega algumas granadas, Passa duas para Adrian

– Você sabe usá-las? – Meu pai me pergunta.

– Claro!

– Ótimo, tenho uma missão pra vocês dois. – Ele começa a explicar o que devemos fazer, mas mesmo antes de começar a explicação já imagino o que será. – Vocês dois vão à frente, jogam a granada, depois da explosão, vou passar por vocês e destruir todos que sobrarem com o M16. Entramos de volta no carro.

– Rich, vamos fazer o seguinte: Eu levo o carro, você joga a granada. Depois que seu pai passar você pega o volante do carro, que vou usar o AR15 pra ajudar a matar os zumbis. Você consegue?

– Não Adrian. Não posso. Foram menos de dez minutos de aulas que tive. Não sei se consigo.

– Tudo bem. Deixa de ser frouxo, Não sei você percebeu, mas quem vai dirigir enquanto seu pai atira nos zumbis é a Misty.

Olho para a S10 e vejo Misty se posicionando ao volante do carro, enquanto meu pai se ajeita na carroceria da S10.

Partimos em direção a horda, conforme vamos chegando mais perto eles começam a perceber nossa presença. Adrian para o carro a dez metros dos primeiro mortos se levanta e começa a atirar neles.

– O que você está esperando? Atira logo essa merda!

Puxo o pino da granada e atiro o mais longe que consigo, nos abaixamos e escutamos o estrondo que vêm a seguir. Vejo pedaços deles voando por todos os lados, alguns caem em cima de nós e dentro do carro. Vejo a S10 passando rapidamente ao nosso lado, e uma rajada de tiros destruindo os zumbis que temos no caminho. Pego o volante e Adrian vai atrás da S10.

Ao passar por onde foi o centro da explosão tenho que contornar o buraco que se formou no chão. Até que não estou dirigindo tão mal; demoro a trocar as marchas, mas consigo manter o carro em ritmo acelerado. Passamos por cima de muitos mortos, a pista está cada vez mais escorregadia, a chuva combinada com a gosma que soltam os cadáveres deixa tudo mais difícil.

Vejo meu pai na caçamba atirando incessantemente. De repente a S10 pula e joga meu pai pra cima, ele voa e cai no chão. Misty parece não perceber que meu pai caiu e continua o trajeto.

Vejo os mortos começarem a cercar meu pai.

– Pare! – Grita Adrian. Paro no mesmo instante e ele desce do carro. Ainda tem muitos zumbis aqui perto. Pego a Beretta da minha cintura e levanto para dar cobertura pra ele. O ritmo dele está bem abaixo do normal, deve ser por ele estar carregando a AR15. Vejo um zumbi chegando ao lado do meu pai, me concentro e atiro, acerto o pescoço do zumbi, atiro novamente, acerto o peito dele. Respiro fundo e tento mais uma vez, consigo acertar a cabeça.

Olho ao meu redor e posso ver alguns zumbis chegando perto do carro. Atiro. Derrubo dois que estavam ao lado direito e um que estava na parte traseira do carro. Olho em direção de onde Adrian está e vejo que muito estão começando a cercá-los, mesmo ele os estraçalhando, são muitos. Acelero o carro, e atropelo os zumbis até conseguir chegar perto deles.

– Mate ele enquanto eu ajudo meu pai. – Adrian continua a atirar nos zumbis que se aproximam.

Vejo que meu pai está semi-inconsciente. Pego seu M16 e jogo dentro do carro. Ajudo meu pai a se levantar, ao pegar em seu braço direito e urra de dor. Ele deve ter quebrado na queda. Tomo cuidado, coloco meu pai no banco traseiro e fecho a porta. Sinto uma mão puxando minha camiseta e me jogando no chão. Posso ver os dentes sujos do morto vindo em direção da minha garganta. Ele solta uma baba preta que pinga na minha bochecha. De repente ele cai inerte em cima de mim, jogo ele de lado.

– Vamos rápido! As balas estão acabando. – Ordena Adrian. Entro de volta no carro, Adrian assume o volante. Ele fecha o teto e acelera o carro. Ele é Hábil também no volante. Consegue desviar facilmente dos mortos que apareciam, mas também atropelava muitos que ficavam no caminho.

Depois de alguns metros os mortos começaram a ficar pra trás. Mais a frente, vejo Misty e Jenna do lado de fora. Ambas parecem desesperadas por não verem meu pai.

Chegamos até elas, Jenna está chorando incontrolavelmente, enquanto Misty tenta acalmar ela. Olho para o banco dianteiro e vejo que mamãe também chora.

Desço e corro até ela.

– Mãe. – Grito. – O papai está conosco, ele caiu no meio da estrada. E ele precisa de você. Adrian vem ao meu lado.

– Ele está com o braço quebrado. – Explica. – Ele caiu quando o carro pulou. Você precisa ajudar ele.

Adrian ajuda minha mãe descer, peço para Misty e Jenna levarem a cadeira de rodas para mamãe, enquanto eu pego os kits de primeiros socorros.

Estamos todos atentos enquanto mamãe olha o que aconteceu com o braço dele.

– Richard, pegue algum pedaço de madeira! – Adrian prontamente tira a sua camiseta, para a felicidade das garotas. Misty suspira ao olhar as definições dos músculos dele, enquanto Jenna nem se importa, continua preocupada com o estado de nosso pai, que geme muito de dor. Olho pela estrada e não vejo nada que possa ajudar, vou até o perto das árvores, e vejo um pedaço médio de madeira. Corro de volta para o carro e entrego-a pra minha mãe. Adrian está fazendo tiras com a sua camiseta. Minha mãe pede auxilio pra ele e coloca o braço do meu pai no lugar; ele grita muito de dor. Adrian segura o braço dele esticado e coloca o pedaço de madeira embaixo, minha mãe começa a enrolar as tiras no braço dele. Após enfaixar o braço dele minha mãe dá alguns comprimidos para dor e inflamação. Alguns instantes depois ele adormece no banco traseiro do A3.

Vejo que temos companhia aparecendo na estrada.

– É melhor irmos logo. Qual de vocês sabe como chegar lá? – Pergunta Adrian.

– Posso ir junto com você. Eu sei o caminho. – Minha mãe sugere. – Deixe o Richard levar o carro. Vamos mais devagar até ele pegar um ritmo bom.

Então sento ao volante do A3, e Jenna senta ao meu lado. Papai está dormindo no banco atrás. Misty, Mamãe e Adrian estão na S10.

Nos primeiros quilômetros eu tento ir devagar, pego mais confiança, conforme progredimos percebo que tenho que diminuir a velocidade nas curvas, que a troca de marchas se torna automática. Não é tão difícil como havia pensado.

* * *

Alguma horas depois chegamos à estrada de chão que nos leva a fazenda. Paramos e fazemos um pequeno almoço, meu pai parece estar ficando com febre. Minha mãe dá mais alguns remédios pra ele que volta a dormir.

Olho em volta, está muito diferente da ultima vez que viemos aqui, em questão de três ou quatro anos tudo aqui parece diferente. Vejo ao longe alguns prédios, estrada recém asfaltada.

Entramos na estrada, que parece estar instável pela chuva que houve durante a manhã.

Adrian vai à frente com a S10, o A3 tem muita dificuldade em passar por poças de lama, enquanto a pick-up segue confortavelmente. Se não me engano falta pelo menos 70 quilômetros para chegarmos até a fazenda.

Passo por uma poça onde o carro atola, acelero e voa lama para trás.

Vejo Adrian voltando em direção do carro.

– Vamos embora. Depois eu volto pra buscar o carro. – Descemos do carro, ajudo Adrian a levar meu pai para a S10, enquanto Jenna leva as armas. Fico na caçamba da S10 com Misty.

Chegamos à entrada da fazenda do nosso avô, e vejo que muita coisa mudou mesmo desde a última vez que viemos aqui. Antes a fazenda era cercada apenas por arames. Agora tem um muro alto que envolve toda a entrada. Na verdade pelo que estou vendo esse muro deve estar cercando a fazenda inteira. Chegamos ao portão, não consigo ver ninguém. Buzinamos, e ninguém aparece. Procuramos alguma campainha, mas não tem nada. Posso ver um mirante mais a frente da fazenda.

– Será que podemos pular? Acho que ninguém vai escutar a buzina, a fazenda é grande demais. – Sugere Adrian.

– Acho melhor não, meu sogro atiraria em você.

– Talvez ele nem esteja mais aí Clarisse. – Opina Misty.

– Melhor esperarmos mais um pouco, alguém pula se ninguém aparecer.

Esperamos cerca de uma hora, e ouço um barulho de moto vindo de dentro da fazenda em nossa direção. Desce um homem que nunca vi na vida, com roupas de segurança.

– O que querem aqui? – Ele pergunta.

– Vim visitar meu sogro. Carlos. – Minha mãe responde.

– Só um minuto. – Ele tira um rádio de frequência do cinto.

– Carlos, na escuta? – O rádio chia um pouco e sai uma voz.

– Na escuta, prossiga.

– Qual o seu nome? – Ele pergunta para minha mãe.

– Clarisse. Pode falar pra ele que o filho dele Charles está aqui também.

– Charles? Cadê ele? Por que não falou logo. – Ele fala novamente no rádio. – Carlos, é sua nora que está aqui no portão. Charles veio junto.

– Os deixe entrar agora mesmo. – Responde a voz no outro lado da linha.

Ele abre o portão manualmente, entramos. Subo na garupa da moto, e vamos em direção a casa de nosso avô. Chegando lá vejo que não é somente do lado de fora que teve mudanças.

A casa do nosso avô está reformada, agora são dois andares, e perto dela temos uma casa menor.

– E essa outra casa, é de quem? – Pergunto.

– Era dos seguranças e empregados de seu avô. Depois que todos foram embora ficou só pra mim.

Tenho muitas perguntas, mas decido não fazê-las. Nesse momento quero mais é ver meu avô e agradecer a Deus por estar tudo bem por aqui.


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Notas finais do capítulo

O maior cap. até o momento.
:))