POV Justin

A festa do Daniel está bem legal. Mas ainda não consigo tirar a morte de Rick da minha cabeça. Nem que eu tente, eu vou conseguir esquecer. Eu nunca vou me esquecer disso. Com o apoio de James e Carol, eles tem me confortado muito. Está ajudando, e eu os agradeço muito. Mas nada vai ser o bastante. Tenho sonhado com Rick todos os dias. Alguns dos sonhos éramos nós em encontros, em outros, estávamos apenas conversando, e em um deles, foi o que teria acontecido se aqueles caras não tivessem aparecido. Nós continuamos andando pela praça, e depois ele me levou pra casa. Se isso fosse o que teria acontecido mesmo, preferia que eles não tivessem aparecido.

Tenho ido à praça todos os dias. Todos os dias eu sento no mesmo banco que eu e Rick sentamos quando fomos lá pela primeira vez, e penso em nós dois. Fico olhando as plantas, a fonte, o lugar onde Rick foi espancado... Se James ou Carol não vierem me buscar, sou capaz de passar a tarde inteira na praça. Sempre choro quando estou lá, mas esse é o jeito que eu encontro de ficar mais perto do Rick. Eu me sinto tão culpado... James já me disse que era inevitável, e que se eu tivesse ficado lá, teria morrido também. Isso eu acho que possa ser verdade, mas eu pelo menos teria feito algo. Eu sou tão grato ao Rick... Ele arriscou sua própria vida pra me salvar. Ninguém nunca fez isso por mim. E é isso que me deixa tão mal. Ele ter morrido por minha causa.

Quando cantamos parabéns, eu como um pedaço do bolo. Não está muito bom, mas eu continuo comendo sem reclamar. Uns minutos se passam e eu começo a ficar tonto e enjoado.

- Carol... – A chamo e ela olha pra mim.

- Justin, você tá pálido! Tá tudo bem? – Ela coloca as mãos nos meus ombros.

- Não. Eu to passando mal. Vem comigo até o mar – me levanto devagar com medo de cair e Carol me ajuda a ficar de pé.

Ela avisa ao James que estamos indo, e me segura enquanto andamos.

- O que você está sentindo?

- Enjoo, tontura... E me sinto fraco – Começo a perder as forças pra andar, e Carol me segura mais forte.

Chegamos ao mar, eu me curvo e vomito.

- Justin, eu vou pedir que te levem pro hospital. Você já vomitou três vezes.

- Não. Eu não quero voltar ao hospital. Não tenho lembranças boas daquele lugar – me levanto – Já estou me sentindo melhor.

- É, deve estar mesmo. Sua cor já está voltando – ela encosta as mãos nas minhas bochechas, testa e pescoço – Com febre você não está. É melhor voltarmos pra você comer alguma coisa. Você vomitou tanto que seu estômago deve estar vazio.

- Pra eu comer aquele bolo de novo? Foi aquilo que me fez passar mal, tenho certeza.

- A gente arranja outra coisa pra você. Nem que seja só água. Vem – ela segura minha mão e voltamos pra perto do pessoal.

Olho pro lado e vejo James gritando com Kate, e ela chorando. O que está acontecendo? Ele está gritando, mas não o suficiente pra conseguirem ouvir. Franzo a testa e solto a mão da Carol.

- Fique aqui – a aviso.

Kate sai embora correndo, e eu encaro James espantado.

- O que foi? – pergunto.

Ele está muito vermelho. Suas veias podem saltar do corpo a qualquer momento.

- Você sabe o que Kate acabou de me dizer?! – ele berra – Que está grávida! Então eu dei os parabéns e perguntei quem é o pai. E sabe o que ela me respondeu?! Que eu sou o pai! EU! – Ele grita desesperado. – Eu disse que ela só podia estar maluca, porque eu me lembro de ter usado camisinha! Então ela começou com a história de que a camisinha rompeu! Eu estou com tanta raiva! Eu tenho certeza que ela está fingindo gravidez só porque descobriu que eu fiquei milionário da noite pro dia! Ela está fingindo estar grávida, eu sei disso! – Ele passa as mãos pelo cabelo desesperado.

- Grávida? – Não sei o que responder. Essa é a única coisa que eu consigo dizer.

- Foi! Foi o que ela disse! Muita coincidência eu ter ficado rico e ela grávida, não acha? – ele ri ironicamente.

- Espera um tempo pra ver se é verdade ou não.

- Eu nunca mais quero ver essa piranha na minha frente!

- E se ela estiver mesmo grávida? E se o filho for seu? – pergunto.

- Quer parar de falar merda? – ele grita comigo.

- E se eu não estiver falando? James, as coisas acontecem! – Por mais que ele não queira ouvir isso, acontecem mesmo. E pelo pior que possa ser... Pode ser verdade.

- Eu tenho certeza de que ela não está. É tudo farsa, Justin. É tudo mentira! – ele fica com raiva, se ajoelha e soca o chão – Que filha da puta!

Voltamos pra casa e eu passo o resto da noite tentando acalmá-lo. Confesso que fiquei morrendo de medo enquanto estávamos no carro. Um James furioso no volante não é muito legal. O que vai acontecer se Kate estiver mesmo grávida? James vai ter que assumir esse filho, se for mesmo dele. E ele sabe disso. Carol ainda não sabe de nada. James disse pra não contar nada a ela. Disse pra manter isso em segredo, porque tem certeza de que é mentira. Eu acho que ele vai acabar enlouquecendo.

Jantamos, e eu sugiro que ele vá se deitar. Ele não parou por um segundo. Ou está andando por todos os cantos da casa, ou está tentando arrancar os fios de cabelo um por um.

Me sento no sofá, e Carol aparece preocupada.

- O que houve com James?

- Não foi nada. Ele só está um pouco nervoso sobre... – penso – O que vai fazer com todo aquele dinheiro.

- Se fosse isso mesmo, ele teria ficado assim quando o cara falou sobre todo o dinheiro com ele. Justin, eu não sou idiota. Não tente me enganar. O que está acontecendo? – ela insiste.

- Não é nada, Carol. Já disse – minto de novo.

- Justin, por que está escondendo as coisas de mim?

Me encolho no sofá e não falo mais nada. Ela bufa de irritação, sobe as escadas com passos fortes e bate a porta com força.

Desde que vi Carol e James se beijando, sinto que eles têm alguma coisa... Não gostaria de saber que eles estão juntos, mas se eles fazem um ao outro felizes, eu não posso atrapalhar. Como vou imaginar meu melhor amigo de 18 anos e minha irmã de 15, juntos? O que eu vou pensar? Eu nem sei mesmo o que eu estou pensando... E se eles estiverem mesmo juntos? O que vai acontecer se Kate estiver grávida? Carol vai ficar desesperada... Todos vão.

Não quero nem continuar a pensar nessas coisas. Espero que Kate não esteja grávida. Que James esteja certo sobre isso. Se ela estiver realmente grávida... Fudeu. James vai ter que pagar pensão a ela, vai ficar ocupado cuidando do bebê quando ela quiser que ele cuide... Vai ser uma confusão. E como eu sei que ele não é nem um pouco responsável, eu e Carol vamos acabar tendo que nos metermos nisso também. Vai afetar a vida de todos. Mas é melhor que eu pare de pensar nisso. Já estou ficando com dor de cabeça.

Vou até a cozinha e bebo um copo d’água. A minha tontura volta, e eu deixo o copo na pia e me apoio no balcão. O que será que está me deixando enjoado? Eu não posso vomitar de novo. Queria saber o que está acontecendo comigo. Fico curvado na frente da pia, e abro a boca. Por mais que eu esteja com ânsia de vômito, eu não consigo. Encho o copo com mais água e bebo até não aguentar mais. Meu enjoo passou, mas agora eu estou com uma vontade imensa de ir ao banheiro. Vou pro banheiro e demoro um tempão mijando. Assim que termino, lavo as mãos e vou pro meu quarto. Acabo batendo o pé na cadeira, fazendo barulho. James abre os olhos e olha pra mim.

- Te acordei? Desculpa.

- Não tem por que pedir desculpa – ele se senta – Não estava dormindo. Só... Pensando. E se Kate estiver mesmo grávida? O que eu vou fazer? Não sei nem cuidar de mim mesmo, como vou cuidar de uma criança?

- Não se desespere... – tento acalmá-lo. – Foi como você mesmo disse. Pode ser mentira.

- E foi como você disse também. Pode ser verdade! E se for, Justin? – ele suspira forte.

- Estava chorando? – sento ao seu lado.

- Fiquei com vontade, mas não chorei. Justin... – ele olha pra mim atordoado – Eu estou com medo.

- Não fique assim. Ainda temos bastante tempo pra saber da verdade, não é? – digo, e ele assente – Agora vem cá – o puxo e abraço-o.

Ele me abraça forte e sinto um suspiro no meu ombro. Acho que ele vai chorar. Ele me solta e vejo seus olhos marejados.

- Obrigado, cara. Por tudo. Você sabe que é meu melhor amigo.

- Não precisa me agradecer. Eu faço isso porque eu gosto de você. Você também é meu melhor amigo. Agora, por favor, tente se acalmar. É melhor você dormir. Já é quase 3h.

- Tudo bem. Vou tentar. Boa noite – ele me abraça de novo.

- Boa noite – me levanto.

Ele tira a roupa ficando só de cueca e se cobre. Eu troco minha roupa pela minha calça de moletom e me deito na minha cama.

Sou dominado por um sono repentino, e durmo.

Acordo morrendo de frio. Olho pro James. Ele está tremendo. Me levanto na cama e troco a temperatura do ar-condicionado. Agora vai ficar melhor. Volto a me deitar e olho no relógio. São 9h45 e já não sinto mais sono. Ouço um barulho lá embaixo, e levanto da cama correndo. Desço as escadas e vejo Caroline pegando os cacos do prato no chão.

- Deixou cair? – vou correndo ajudá-la.

- Não. Ele estava praticando bungee jumping, a corda arrebentou e ele se despedaçou todo no chão – ela responde irônica.

- Por que toda essa ignorância? – pergunto ofendido.

- Porque você não me conta o que aconteceu! – ela diz irritada – James contou... Alguma coisa pra você?

- Referente à que?

- Não sei. Você que sabe. – Carol joga os cacos no lixo. Ela suspira fundo e olha pra mim – Ele contou alguma coisa sobre nós?

- Sobre nós dois?

- Não. Sobre eu e ele. – Ela cora.

- Q-que estão... Namorando?

- É. – ela abaixa a cabeça.

- James me disse, e eu fiquei um pouco irritado, então ele também se irritou comigo. Por isso está assim – minto.

- Não precisa ficar irritado, maninho. James me faz feliz – ela me abraça.

Abraço-a sem vontade.

Então é isso. Eles estão mesmo namorando.