Victoire Weasley Arranja Um Namorado. escrita por Fernanda Alves


Capítulo 1
Capítulo Único.




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Ao constatar que o banheiro masculino estava vazio, Teddy trancou a porta e se apoiou na pia. Ele simplesmente não conseguia assimilar os sentimentos confusos que lhe embrenhavam as entranhas, então resolveu separar os fatos individuais para tentar organizá-los.

Primeiro: Victoire Weasley arranjara um namorado.

Isso não era surpresa nenhuma para Teddy, já que ela era realmente bonita e desejada entre os garotos, além de ser extremamente interessante e adorável. O problema era que isso o incomodava muito mais do que deveria incomodar, e o enfurecia muito mais do que deveria enfurecer. Claro, pensou ele, era lógico ele sentir-se assim enlouquecido, já que Victoire era como uma irmã para ele. Eles cresceram juntos, são praticamente da mesma família. Certamente ele também se sentiria assim se fosse Lily em seu lugar.

Teddy bufou em escárnio, sabendo que não pode enganar a si mesmo. Se fosse mesmo somente isso ele não estaria se sentindo assim, tão confuso. Pois na verdade o que tanto o perturbava era o fato de que, quando ele vira Victoire e Kyle juntos, tudo o que ele mais desejara era que seus braços estivessem entrelaçados em sua cintura delgada, não os dele, que ele estivesse beijando aqueles lábios doces e fartos, não ele, e que fosse para si que ela estivesse sorrindo, não para ele.

Mas isso simplesmente não faz sentido! Se ela é mesmo como uma irmã para ele, ele não deveria estar sentindo essas coisas... Está errado!  

“Ou será que não?”, uma voz dentro dele questionou, “Será que você sempre a enxergou como uma irmã?”

“Não”, Teddy se surpreendeu com sua própria resposta, pensando nos diversos momentos em que observou Victoire mais do que devia, adorou sua risada mais do que devia e permaneceu mais tempo do que devia abraçado a ela, sentindo seu cheiro doce.

“Nunca”, ele deu por si respondendo, “Mas... Por que?”

Essa também era fácil de responder. Pela forma adorável como as bochechas dela coravam quando ela ria sua risada exageradamente alta. Pelo brilho ofuscante que o dourado dos cabelos dela ostentava enquanto balançavam levemente por suas costas, roçando a base de sua cintura. Pela forma como ela revirava os olhos quando ele dizia alguma coisa estúpida, olhos esses que sempre o faziam perder-se em seu azul profundo e misterioso como o fundo do mar. Pelo seu cheiro doce de lavanda que fica impregnado em suas roupas depois que ela o abraçava. Pela forma como ela parece se encaixar perfeitamente em seus braços como se fosse feita para eles. Pelo seu jeito gracioso e ao mesmo tempo impetuoso, que a leva a conseguir tudo o que quer exatamente como quer, não importa as circunstâncias. Pela sua personalidade forte, mas ao mesmo tempo meiga. Pelo tom agudo que a voz dela atinge enquanto grita com ele, e pela forma com a qual depois ela sempre acaba suspirando e dizendo “Ah, Teddy!”. Pela forma que ela diz o seu nome, não importa a circunstância. Pela forma como seu olhar se abaixa quando está envergonhada ou como ela morde os lábios quando está nervosa ou concentrada...

“É”, Teddy deu-se por vencido, “Eu poderia passar o dia citando os motivos, e nada poderia me convencer mais de que estou perdido”.

Mas a questão é: Como? Quando?

E um sorriso surgiu em seus lábios enquanto a resposta surgia em sua mente.

“Quando a vi pela primeira vez e nunca mais fui capaz de me afastar”.

Suas mãos, inconscientemente, foram parar em seus cabelos para desordená-los em frustração.

“Isso está errado, Teddy Lupin”, ele dizia a si mesmo. Mas por que então o pensamento de ter Victoire em seus braços parecia ser tão certo?

Além do mais, já estava feito. Sem perceber, Teddy Lupin havia se apaixonado irremediavelmente por Victoire Weasley , e agora não havia volta. Não havia nada que pudesse ser feito para mudar isso, ele sabia, por mais que ele tentasse.

Ele suspirou tristemente ao observar seu reflexo no espelho.

“E agora?”

“E agora nada”, ele admitiu. Ele demorara tempo demais para perceber e agora ela estava com outro. E mesmo se não estivesse, será que ela o corresponderia? Será que ela também sentia o mesmo, como ele, e ainda não havia descoberto? Ou será que já havia descoberto e desistira?

Pois bem, ele nunca saberia. A realidade é que é mais provável que ele esteja imaginando impossibilidades e que na verdade Victoire é realmente sensata, ao contrário dele, e o enxerga somente como o irmão que ele sempre fora para ela.

E nunca na sua vida Teddy teve tanta certeza de que a realidade era dura e afiada com o golpe de uma espada.

 Mas afinal, mesmo se estivessem em outra realidade, e Victoire não fosse quase da sua família e não tivesse namorado, será que ela o escolheria?

Ele encarou o espelho, observando seu reflexo minuciosamente pela primeira vez em muito tempo. Percebeu que tinha os cabelos e os olhos num tom melancólico de cinza e tratou de fazê-los voltar aos tons de castanho-amendoados normais que herdara do pai. Ele não era feio, ele sabia.

E além do mais, ele tinha uma vantagem que nenhum outro garoto que ele conhecia tinha: Ele podia ser quem quisesse e como quisesse para conquistar Victoire. E ele também sabia que era capaz de fazer tudo, ser tudo, para tê-la.   

Até mesmo ser... Kyle Wood.

Agora Teddy via no reflexo do espelho um garoto ligeiramente mais alto do que ele, mais forte e corpulento, com espessos cabelos castanho-alourados que caíam-lhe sobre a testa, queixo largo, nariz comprido e fino e brilhantes olhos cor de mel, com uma permanente sombra de um sorriso prepotente nos lábios.

É, realmente não era nada mal ser Kyle Wood. Nada mal mesmo.

Teddy suspirou. Era óbvio que nem em outra dimensão Victoire o escolheria, não se tivesse de competir com ele.

O som da porta abrindo subitamente fez Teddy sobressaltar-se, e espantou-se ainda mais ao ver que era Victoire quem entrava por ela.

- Victoire! – Ele exclamou, percebendo que sua voz saiu ligeiramente mais grave também – O que está fazendo aqui?! É o banheiro masculino!

- Ah, por favor, todos sabem que ninguém usa esse banheiro há anos. Não é como se eu estivesse esperando ver alguma coisa... – Victoire finalmente se deu conta de com quem estava falando – Kyle?  O que você está fazendo aqui? Eu achei que você estivesse indo treinar quadribol com o resto do pessoal da Corvinal.

- Uh... – Foi tudo o que Teddy conseguiu soltar. Ele não sabia o que fazer. Se revelasse quem realmente era, não saberia explicar a Victoire porque estava se transformando numa réplica de seu namorado. Mas se permanecesse como está, teria que agir como o verdadeiro namorado de Victoire se não quisesse ser desmascarado. Decidiu que a segunda opção era a mais segura, e a mais curiosa também... – Eu estava somente me preparando psicologicamente, sabe, um treino é sempre uma antecipação de jogo, e se eu quero me sair bem em um jogo, preciso me preparar bem antes de um treino também, certo?

- Uh, certo, claro. – Victoire respondeu meio atordoada – Só não esperava te encontrar aqui.

- Quem você esperava encontrar, então?

Victoire suspirou e olhou para ele daquela forma que o fazia ter vontade de aninhá-la em seus braços e garantir que tudo ficaria bem, não importava o que fosse.

- Teddy... – Ela respondeu cabisbaixa – Eu realmente preciso conversar com ele. Já faz alguns dias que ele anda estranho comigo, e eu não sei o que houve...

E quando Teddy percebeu, estava aninhando Victoire nos braços, e mesmo no corpo de Wood, ela ainda parecia encaixar-se perfeitamente neles. Ela suspirou novamente e enlaçou seus braços em volta de sua nuca, enterrando os dedos finos em seus cabelos, fazendo seu coração acelerar e sua pele arrepiar-se ao toque dela.

- Nós crescemos juntos, Kyle, ele é uma das pessoas mais importantes pra mim no mundo. Eu não gosto da idéia de perdê-lo...

- Você não vai – Ele se ouviu respondendo, com uma vontade desesperada de acalmar a agonia em sua voz.

- E como você sabe?

- Porque só sendo um louco pra te deixar.

Victoire sorriu com a resposta e aproximou seu rosto do dele enquanto fechava seus olhos. Foi ficando mais próximo a cada segundo e Teddy pensou que seu coração poderia pular pra fora de seu peito a qualquer segundo. Não seria certo beijá-la... Mas nada daquilo estava certo mesmo.

E Teddy Lupin não se arrependeu nem um pouco de beijar Victoire Weasley.

Muito pelo contrário, quando seus lábios doces e macios tocaram os seus, ele julgou não ter conhecido a real felicidade até aquele momento, e estava certo de que não podia ser mais feliz. O mundo pareceu se reduzir somente aos dois, e nada mais importava. As sensações confusas dentro dele se agitaram ainda mais, se diversificando de modo que ele se sentia quente e frio ao mesmo tempo, se sentia na terra e nas nuvens, calmo e agitado. E quando Victoire aproximou mais seu corpo ao dele, e apertou seus dedos em seus cabelos para intensificar o beijo, ele soube que nada no mundo poderia ser mais certo. E essa verdade só foi se intensificando ao longo dos minutos em que eles apreciavam da forma mais intensa aquele momento único.

Os lábios de Teddy protestaram quando os dela se afastaram um pouco, arfando em busca de ar.

- Você nunca me beijou assim antes... – Victoire comentou com a voz rouca, ainda de olhos fechados – Não que eu esteja reclamando, é claro – Ela sorriu, sem abrir os olhos – É só que... Parece até outra pessoa.

- E você gostou? – Ele perguntou também com a voz rouca, sentindo uma fisgada de medo na boca do estômago.

- Eu definitivamente prefiro assim – Ela intensificou o sorriso e abriu os olhos.

Mas quando o fez, ela se sobressaltou e se afastou dele no mesmo instante.

- Teddy?! – Ela exclamou, com a voz esganiçada.

Ele olhou para ela, assustado, sem saber o que responder, e depois olhou para o espelho, a procura do que o denunciou, e o fôlego lhe escapou ao ver que o beijo com Victoire tirou-lhe todas as máscaras. Lá estava ele, o velho e original Teddy Lupin.

- Victoire, eu...

- Teddy! – Ela gritou, interrompendo-o – Você estava fingindo ser o Kyle?! Por que você fez isso?!

- Porque... – Ele olhou para o chão, sem forças para responder.

- Porque...? – Ela indagou, querendo uma resposta.

- Porque eu te amo.

Foi o sussurro mais baixo que ele foi capaz de produzir, mas não escapou aos ouvidos de Victoire, que arregalou os olhos, estupefata.

- Você o que?

Teddy suspirou e encarou-a. “Chega de mentiras e omissões”, ele pensou, “Victoire merece saber a verdade, e eu mereço sofrer as conseqüências, por mais complicadas e dolorosas que devam ser”.

- Eu te amo, Victoire.

Ela ofegou em espanto e levou as mãos aos lábios, sem saber como agir.

Teddy Lupin a amava... Isso não podia ser verdade. Mas ele estava ali, dizendo isso pra ela enquanto a olhava nos olhos. Teddy Lupin a amava...

- Como? Quando? – As perguntas fluíram de sua boca sem que ela as controlasse.

- Como eu percebi? Quando eu te vi com o Kyle e tudo o que eu consegui pensar foi em como eu queria que eu fosse sortudo o bastante para estar no lugar dele. Já como aconteceu, eu não sei... Eu acho que te amei desde o primeiro momento em que te vi, e isso só foi se intensificando ao longo dos anos.

Um longo silêncio se instalou entre os dois, o que fez Teddy ficar desesperado. Victoire não olhava para ele, devia não querer olhar, devia desprezá-lo, repugná-lo. E o pior de tudo é que ele sabia que estava errado. Ele já esperava essa reação.

- Olha, Victoire, eu... Eu não queria que as coisas fossem assim, mas esse não é um sentimento que eu possa controlar, por mais que eu quisesse. Simplesmente aconteceu e... Quando eu percebi... Já estava perdido. Agora sobre essa cena toda, eu realmente sinto muito, foi culpa minha. Eu me transformei no Kyle para tentar entender o que você via nele e... Acontece que é muita coisa, é muito mais do que eu. E aí você entrou e eu não soube o que fazer. Eu não podia deixar você descobrir que era eu, pois você questionaria o porquê de eu estar assim e... Eu achei que não poderia explicar esse assunto sem admitir meus sentimentos por você. Eu não previ que você iria me beijar, mas quando eu vi já estava te beijando e eu... Sinto muito, ok? Eu sei que errei e sei o quanto você deve me desprezar agora, e com toda razão. Então... Eu não vou mais te incomodar, se você não quiser.

Ele encarou-a, esperando que ela respondesse, mas Victoire simplesmente continuou fitando o chão, inexpressivamente.

- Bem, eu... Vou te deixar em paz – Falou Teddy depois de mais algum tempo, se dirigindo para a porta – Me perdoe de novo. Adeus.  

 - Eu deveria ter desconfiado.

Ele parou ao lado da porta ao ouvir o som da sua voz.

- Aqui é o seu esconderijo secreto, ninguém mais vem aqui, por que Kyle viria? – Ela se questionou, fitando o chão – Realmente foi errado o que você fez.

Teddy suspirou e começou a girar a maçaneta, mas parou ao ouvi-la novamente.

- Não vá. Isso foi completamente diferente do que eu sempre imaginei que seria, mas... – Um leve sorriso surgiu no canto dos lábios de Victoire quando ela se virou para Teddy – Essa é uma das coisas que eu mais amo em você. A sua imprevisibilidade.

- O Q-Que? – Teddy ofegou, e Victoire abriu um verdadeiro sorriso.

- Eu disse que preferia você.

Teddy parecia petrificado. Aquilo estava realmente acontecendo?

- Vai ficar parado aí me encarando como se eu fosse um fantasma enquanto eu estou aqui dizendo que te amo de volta? – Ela arqueou as sobrancelhas.

- V-Você ama?

- Mais do que eu poderia admitir.

- E o Kyle?

Victoire riu e quebrou a distância entre eles.

- Você está ficando mesmo surdo, Teddy Lupin. Eu já disse que eu prefiro você, e sempre vou preferir, se você quer saber.

E quando Teddy tomou-a nos braços de novo e a beijou como deveria ter feito da primeira vez, ele soube que era ali aonde ele pertencia. Nos seus braços. E que o mundo poderia acabar lá fora, contanto que eles estivessem juntos, só os dois, na sua dimensão particular, enquanto vivessem... E talvez até depois disso.


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