Pisquei uma vez e a luz forte invadiu meus olhos. Queimava. 

- Sam? - ouvi uma voz chamar meu nome. Não consegui decifrar a quem pertencia.

Pisquei novamente tentando focar a vista. Tinha alguém na minha frente, por isso não consegui ver muito do lugar. Onde diabos eu estava?

- Hum... - murmurei sem conseguir formar palavras.

Coloquei uma das mãos na cabeça e senti um fio acompanhar meus movimentos e um bipe muito chato acelerar.

- O que eu...

- Sam! - suspirou alguém muito aliviado e me abraçou. - Graças a Deus você acordou. Eu... oh, eu fui um idiota, me perdoe, por favor.

Me afastei da pessoa e a medida que minha mente começava a funcionar direito, reconheci Josh.

- Josh. - sussurrei, - O que aconteceu? Onde estou?

Ele engoliu em seco e segurou minhas mãos.

- O teste. - sussurrou ele de volta. - Você pulou... A água estava muito fria. Você começou a ter hipotermia, e bateu a cabeça em uma pedra. Eu sinto tanto, Sam...

Passei a mão por seus cabelos revoltados.

- Tudo bem. - murmurei. - Tudo bem. Há quanto tempo estou assim?

- Duas horas. Conheço o médico que te atendeu. Convenci ele a não chamar sua mãe. Disse que ela não precisava se preocupar com isso. Ele me disse que se você ficasse desacordada por mais de cinco horas ele teria que chamá-la.

- Como eu estou? - perguntei, atordoada, observando minhas mãos e a camisola horrível do hospital.

Josh sorriu.

- Você vai ficar bem. Teve um corte fundo na testa, mas a hemorragia e a hipotermia já passaram. E... - ele beijou a ponta do meu nariz. - Você está linda.

Eu bufei.

- Certo. Vamos embora daqui.

O médico me deu alta quase imediatamente. No final, não havia nada com o que se preocupar. Josh me deixou em casa. Para a minha sorte eram 22:43. O que significava que eu ainda tinha exatamente 17 minutos para chegar em casa.

Josh me disse para ligar para ele se eu precisasse de qualquer coisa. Ele me abraçou e murmurou um pedido de desculpas.

Eu não estava brava com ele. Eu tinha aceito o desafio. E nada de horrível havia acontecido. Qual é, eu podia aguentar uma pancada na cabeça e uma hipotermia de nada.

Entrei em casa escondendo o curativo na testa. Minha mãe estava na sala assistindo TV.

- Oi, mãe. - murmurei. - Cheguei.

Ela suspirou e olhou o relógio na parede.

- E na hora certa. - ela sorriu. - Olá, querida. Se divertiu?

Eu sorri amarelo.

- Sim. Mas estou cansada. Vou dormir, mãe. Boa noite.

Subi para o meu quarto, onde deitei e dormir tranquilamente, sem qualquer arrependimento.

- Me dê um. - pedi, na hora de recreio.

Era terça - feira. As garotas, Jake e John estavam surpresos de me verem viva.

Josh me entregou um cigarro.

- Vai com calma. - disse ele. - Não quero que vire uma viciada.

Eu ri e soprei a fumaça.

- Só de vez em quando...

Eu estava na aula de matemática. Estava sem paciência alguma, por isso me deitei na carteira. 

Foi quando vi Nick. Ele estava... dormindo? No meio da aula? Cara, achei que eu fosse a rebelde aqui.

Joguei uma pequena bolinha de papel nele.

Ele abriu os olhos solento e me encarou.

- O que? - ele mexeu a boca.

Apenas lancei a ele um olhar reprovador. Ele revirou os olhos. O que diabos esse garoto...

O sinal bateu e antes que eu pudesse tirar mais conclusões, Nick correu da sala.

Em todas as outras aulas eu o observei. Não que houvesse algo de interessante para observar. Ele dormiu em todas elas!

No final da aula, encontrei Toby e Mia no corredor.

- O que está acontecendo com Nick? - perguntei.

- Charlotte o traiu. - disse Toby.

Revirei os olhos.

- Eu sei. Mas não estão vendo como ele anda...?

- Rebelde? Estranho? Sem noção? - Lara se juntou a nós. - É. Percebi.

- Ele está reagindo mal a... tudo isso.

- Tudo isso o que? O rompimento? Por mim ele devia deixar de ser um idiota e superar. A Charlotte nem é grandes coisas. Além disso...

Vimos a própria vadia se agarrando com Eric perto dos armários. Eles não tinham vergonha? A mão dele estava agarrando os seios dela, bem ali, em público!

- ... ela parece ter superado.

No estacionamento, beijei Josh e o convidei para ir na minha casa. Minha mãe ia sair hoje o que nos deixaria com a casa só para nós. O que? É, pensamentos pervertidos.

- Traga algumas coisas. - sussurrei em seu ouvido.

Ele pareceu entender por que arregalou os olhos. Mesmo assim, seu sorriso entregou que ele queria o mesmo que eu.

- Tem certeza?

- Aham. Até mais tarde, amor.

Sim, o apelido tinha pegado, e ele nem me irritava mais.

Encontrei Nick encostado no meu carro.

Tossi.

- Posso ajudar?

Ele me encarou e então percebi como ele estava mal. Seu rosto estava cansado, meio amassado. Ele tinha olheiras muito roxas e profundas e o cabelo estava bagunçado demais.

- Pode me dar uma carona?

Engoli.

- Claro. Entra aí.

Liguei o carro e comecei a dirigir. Estava um clima tenso. Ele bocejou.

- Você está horrível. - Oops. As palavras pularam da minha boca.

Ele ergueu as sobrancelhas.

- Uhum. Não tenho dormido bem ultimamente.

- Pensando em Charlotte?

Eu tive a leve impressão de que estava passando dos limites.

- É. E sobre outra garota também. Elas estão me deixando louco.

Outra garota?

- É? - murmurei encomodada. -  O que elas tem feito?

- Quando você acha que pode confiar em alguém... - ele suspirou. - A pessoa te decepciona.

- Como assim 'decepciona'?

Ele não respondeu até que estivessemos estacionando em frente a minha casa.

- Amigos em quem você confiava e amava. E que quando você mais precisa te deixam. Pior ainda quando você descobre que talvez... talvez não fosse apenas amizade. Pelo menos não pra você. Mas a pessoa não corresponde. E te deixa. Pra mim, amigos são para a vida toda. Mesmo que outras pessoas venham, a amizade verdadeira continua. Mas aparentemente, nem todos pensam assim.Bom, é uma lição de vida boa pra gente deixar de ser idiota, não?

E saiu do carro.

Senti uma indireta muito direta ali.