Quando cheguei lá, suspirei aliviada, por sorte os alunos e os professores daqui não eram muito de chegar na hora. O único que eu vi ali foi um garoto de cabelos platinados com as pontas tingidas de preto: o que me chamou atenção foi ver que ele era heterocromático, além de parecer que ele vivia em uma época diferente não só pelas roupas vitorianas e sua postura digna de um Lord inglês mas também pelo seu olhar, que tinha um quê de serenidade que nem o Nathaniel possuía - ele parecia voar em pelo mundo calmo e pacato do século dezenove. Tão lindo, tão calmo, suspirava lentamente, olhava para a janela e depois para um bloquinho de anotações. Por fim, percebi que ele compunha algo, seus lábios se mexiam de um jeito extremamente monótono, era difícil encontrar palavras para aquela beleza, um personagem dos livros de Shakespeare talvez? Enfim, era lindo. Depois de sair do meu transe, me dei conta de que havia uma garota ali. Senti meu rosto esquentar de tanta vergonha, abaixei a cabeça e sentei numa das últimas cadeiras, agradecendo a Deus por ele não ter percebido também, ainda que seria difícil ele perceber, pois, ele estava tão distante do mundo real...

A garota chegou perto de mim com um sorriso, não era malicioso ou com ar de superior, e sim bastante simpático. Ela era muito fofa parecia até aquela Pullip Merl*, seus cabelos eram castanhos e enormes, seus olhos eram azul-escuros, sua boca bem rosadinha, só faltava aquele vestidinho e aquele laço na cabeça. Ela se aproximou, sentou numa cadeira ao meu lado e falou:

–Oi, eu sou Elizabeth. Você é...?

–Izumo, prazer! - sorri pra ela, quis muito conhecê-la melhor, a achava tão meiga.-

–Eu notei que v-você achou o Lysandre bonito, parecia estar em uma hipnose.

–Aaaah, viagem sua, viagem sua! Só o achei... diferente, até por que suas roupas, seus cabelos, a heterocromia...

–É verdade, você tem razão, ele é realmente peculiar haha’- ela me interrompeu me deixando meio aliviada, não teria mais palavras como desculpa. -Mas, então... Já conheceu Sweet Amoris inteira?

–Não, não tive tempo, eu acho até meio difícil conseguir ver a escola toda hoje, você não acha, não?

– É, você tem razão, mas, e aí, quer que eu te mostre o resto da escola? Você me parece bem legal, uma das poucas aqui na sala, sabe?

– Claro, claro, eu adoraria dar uma volta por aí contigo. Como assim uma das poucas? Tem muita “Paty” aqui, é? - ela assentiu e nós rimos.

Ela foi pegar seu material pra sentar ao meu lado. Quando voltou, me dei conta que quase todos os alunos já haviam entrado na sala, e uns poucos ainda estavam chegando.

– Já, já a aula começa, enquanto isso eu vou te apresentando os alunos que eu conheço ou sobre os quais sei informações - ela riu e começou suas análises. - Aquela é Violette, ela é bem fofa e legal, mas você tem que ir puxar assunto porque ela é extremamente tímida - a garota que ela mostrou era a mesma que eu havia encontrado em um dos corredores, era pra ela que eu ia pedir informações antes de cometer uma das minhas proezas, já que era normal pra mim me atrapalhar, derrubar ou quebrar algo. - Aquele é o Nath, você já deve conhecê-lo, ele é irmão mais velho da chata da Ambre, ela ainda não chegou porque deve estar batendo papo com as amigas, enfim, ela tem mais três amigas não tão insuportáveis como ela, mas muito chatas também, se chamam Bia: a clone dela, tipo, é sério, ela faz tudo que a Ambre faz ou pede; Charlotte: a mau-humorada e arrogante, e Li: o tipo de garota que prefere pagar pra não trabalhar ou estudar. Todas elas são extremamente arrogantes e superficiais... Por falar no capeta e seus demoninhos... - ela se calou e ficou olhando em direção a um grupo de garotas que entraram cheias de pose. - Ambre é a loira do corpão, Bia a de cabelo curto que anda do lado de Ambre, Li é a Japonesa que tá parecendo o coringa de tanto baton e Charlotte é a de cabelo preso com cara de debochada; cuidado com elas, porque elas fazem de tudo para ter o que querem - vi tudo o que Elizabeth tinha falado sobre as meninas estampado nas suas feições, via arrogância, desprezo, chatice, nojo, deboche... Tudo! Elas eram o tipo de garota que jurava que era a rainha do mundo, pronta para derrubar suas próprias amigas para conseguir o que queria, que não se importava com nada além dela mesma. Que repulsa eu senti na hora, meu estômago embrulhava de tanto nojo que tinha daquele tipo de gente.