Hermione abrira os olhos lentamente, tentando prolongar ao máximo o tempo que tinha antes de levantar. Havia um barulhinho irritante de algo batendo em algum vidro que já estava tirando a garota do sério, fazendo com que ela finalmente despertasse. A noite anterior havia sido longa. Depois que Draco caíra inconsciente no chão ela chamara um taxi e os levara para um hotel no centro de Londres. Por sorte tinha 150 libras em sua bolsa de precaução, dinheiro que Malfoy teria que devolver para ela. Foi cansativo explicar a mesma história para o taxista, a recepcionista do hotel e para a camareira, mas no fim a castanha alugou um quarto e deitou o loiro no carpete aveludado, colocando um travesseiro debaixo de sua cabeça e o cobrindo com um dos edredons. Não é porque ele havia desmaiado que ela dormiria no chão. Deitou na cama Queen Size, sem nem trocar sua roupa, pois sua mala estava em seu quarto, e adormeceu quase que instantaneamente.

Já muito irritada com o insistente barulho, a garota resolveu finalmente levantar da cama e averiguar o que estava a incomodando tanto. Obviamente, pensou ver Draco esparramado no chão, do mesmo jeito que o havia deixado, mas pelo visto o loiro havia acordado no meio da noite, pois agora estava esparramado do outro lado da cama. A cama na qual ela estava deitada. Tinha dormido com Malfoy? Por um instante a castanha ficou sem reação, pensando apenas no que Rony acharia disso, mas logo depois percebeu que o rapaz aproveitou de sua bondade e o derrubou da cama com um empurrão, fazendo com que as costas do garoto estalassem ao entrar em contato com o chão.

- Ai! O que deu em você? – perguntou o loiro, arregalando os olhos para a castanha. Hermione não deixou de perceber que ele repetira a pergunta que ela havia feito na noite anterior, mas logo se lembrou de que estava com raiva e fechou a cara.

- O que deu em mim? Eu venho toda bondosa, te trago até aqui, e você se aproveita de mim deitando do meu lado? Eu poderia ter te deixado no meio daquela praça! – ela respondeu apontando o dedo na cara do garoto.

- Granger, mas do que..? Ah não! Pelas calças de Merlin, Hermione, eu apenas deitei do seu lado! – ele respondeu calmamente, se controlando para não gargalhar.

 - Apenas deitou do meu lado?! Você tem noção de que eu estou comprometida com o Rony? O que ele vai pensar? Você é realmente uma doninha quicante. – ela rebateu, já muito irritada com a calma de Malfoy.

Agora era absolutamente impossível não rir com a irritação da garota, algo que o loiro fez por longos minutos. Quando se controlou um pouco, Draco se aproximou da castanha e com uma voz rouca e sedutora sussurrou em seu ouvido:

- Shiu, Granger, você fala demais. – Hermione provavelmente repararia que é a segunda vez que o Draco diz isso, mas antes que pudesse pensar sua boca foi tomada pelo do garoto. Estava relutante no inicio, pois tinha consciencia que aquilo não era certo e tentava sair dos braços do loiro, mas a sincronia era tão boa e ele beijava tão bem que depois se entregou ao beijo, pousando sua mão no pescoço do garoto, que deslizou suas mãos firmando-as na cintura da garota. Finalmente se distanciaram quando não havia mais folego, e Malfoy observou as orbes castanhas o fitar com uma pontada de confusão. Eles estavam em uma espécie de transe, e provavelmente ficariam lá por mais um tempo se aquele mesmo barulhinho irritante não voltasse.

Hermione corou fortemente e rapidamente retirou a mão que ainda estava pousada no pescoço de Draco. Olhou para a janela e conseguiu ver a sombra de algo pequeno contra o Sol, carregando um papel.

- Pichitinho! – exclamou abrindo o vidro e pegando a carta entre seu bico. Aquela caligrafia desajeitada cuja qual já havia se acostumado, escreveu um recado curto:

“Mione, onde você está? Fiquei te esperando ontem até muito tarde. Está tudo bem? Estamos te aguardando. Com amor, Rony.”

Ah, só de se lembrar do namorado sentia seu coração se apertar. Ela havia o traído... Ela, Hermione Granger, acabara de beijar outro quando já estava comprometida. Lágrimas brotaram no canto de seus olhos, que logo foram limpadas rapidamente com a ponta dos dedos, impedindo-as de transbordar, mas não rápido o bastante para que o gesto passasse despercebido por Malfoy.

- Hermione? Você está... chorando? – perguntou se aproximando e puxando delicadamente seu queixo com o polegar, obrigando-a a fita-lo nos olhos. – O que foi? Foi algo que eu fiz? Foi... o beijo? – ela afastou o braço do rapaz com um tapa, indo em sua direção, cada vez com mais raiva.

- Primeiro – falou mostrando apenas um dedo. – é Granger pra você! Não é Hermione, nem Mione, nem Mi, apenas Granger! Segundo – gritou levantando mais um dedo. – não me lembro de que eu devo alguma satisfação para você! E só para constar, está me devendo 150 libras! – a castanha pegou sua bolsa na poltrona e ia decidida em direção à porta, mas Malfoy segurou seu braço com delicadeza, obrigando-a a parar. Ela lhe lançou um olhar confuso, até porque “Draco Malfoy” e “delicadeza” não eram duas coisas que ficavam juntas em uma frase afirmativa.

- Dsscupme – ele disse rapidamente. Pigarreou novamente, dizendo um pouco mais alto e claro desta vez. – Desculpe-me. Eu não tive a intenção... enfim. Gostaria que me deixasse pelo menos aparatar com você em sua casa, ficaria mais aliviado... Quero dizer, só lhe trouxe problemas e creio que está alterada demais para aparatar, quem garante que não estruncharia? Por... por favor.

Era doloroso para o loiro se submeter assim, e Hermione definitivamente não entendia... Malfoy provavelmente ainda estava bêbado. Essa era a única explicação plausível para o loiro estar sendo gentil com ela. Por fim suspirou cansada. Aquilo era ridículo, então se aceitasse, poderia acabar mais rápido. Tomara.

- Ok, Malfoy, você venceu. Mas só até minha casa. E você ainda está me devendo 150 libras.

Draco esticou seu braço, mas, um segundo antes de Hermione agarrá-lo, mudou de posição pousando suas mãos na cintura da garota. Aparataram dentro do quarto de Hermione, algo surpreendente, já que o garoto nunca estivera ali. Ou será que estivera? Ela não sabia, e como já foi mencionado, não saber de algo era uma das coisas que mais deixava a castanha irritada. As mãos do rapaz ainda estavam pousadas em sua cintura de modo que foi necessário dar um passo pra trás para desgruda-las.

- Obrigada, Malfoy, foi realmente uma gentileza sua. Agora pode ir. – disse tentando soar friamente.

- Draco. Me chame de Draco. – aproximou seu rosto do dela e deu um selinho em seus lábios, desaparecendo logo em seguida com um estalo.

Hermione permaneceu pregada em seu mesmo lugar por cinco segundo, logo sentando-se em sua cama, já chorando de uma maneira mais controlada, com as mãos no rosto.

Sua vida não seria a mesma daqui em diante. Não mesmo.