Luz Negra I - Oculta escrita por Beatriz Christie


Capítulo 25
Capítulo 25 - Desalmada




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Luna que assim que minha avó veio em nossa direção, partira para os fundos antes de mim, foi a primeira pessoa a fazer alvoroço quando me viu. Apesar de termos nos arrumado juntas, ela agiu como se não tivesse me visto antes e deu-me um abraço, seguida por Daniel.
–- Olha ela, a dama da noite! - Daniel disse, ao abraçar-me. - Quando for abrir os presentes, saiba que o da caixa maior é meu.
–- Para com isso, que feio! - Luna repreendeu-o.
Não consegui segurar a risada, estar com eles era sinônimo de gargalhadas.
–- Oi. - uma voz timida fez minha risada cessar. Era Andrew, ele estava parado ao meu lado. Encarei-o, eu nunca o vira tão arrumado. Não que ele não se vestisse bem, mas naquela noite ele não parecia o garoto que eu sempre conheci. Uma barba rala crescia em seu rosto, camisa social meio aberta... Ele já não era um garoto, talvez há muito tempo.
Daniel e Luna entreolharam-se.
–- Vamos mostrar pra esses caras como é que se faz o gingado! - Daniel pegou Luna pelo braço e eles seguiram para a pista de dança.
Sem dizer nada, eu e Andrew ficamos olhando a dança maluca que Daniel começava a encenar no meio da pista, enquanto Luna gargalhava e dançava ao seu redor. Demos risada também, em sincronia.
–- Desculpe pela forma como eu agi. - sua voz ainda era a mesma.
–- Quer dizer seu "chilique"? - brinquei.
Ele deu um sorriso largo e olhou para o chão, sem graça.
–- Eu estava nervoso de verdade.
–- Está tudo bem, a culpa foi minha.
O ambiente era iluminado principalmente pelas luzes piscantes. A parte mais iluminada era a pista de dança, onde refletores giravam fazendo luzes coloridas dançarem, iluminando as pessoas que se agitavam. Pude reconhecer a maioria, eram colegas ou conhecidos do colégio.
–- Não... Eu devia ter confiado em você. - ele disse, em tom de desculpas - Ainda fiz você cho...
O interrompi, dando-lhe um selinho. Na hora, Andy fechou seus olhos e só os abriu quando me afastei. Então, ele puxou-me de volta pela cintura e deu-me um abraço apertado. Sorri para ele enquanto estávamos tão próximos.
–- Eu sabia, sabia que você viria hoje. - nos soltamos e ficamos somente de mãos dadas.
Ele sorriu também, não havia respostas para o que eu havia dito. Ambos sabíamos que não poderíamos ficar separados, aqueles dias haviam sido tempo demais.
–- Então quer dizer que agora você é uma princesa-fada? - Olhei-o confusa. Então, Andy tocou a tiara de flores que estava em minha cabeça.
Que bobo! Andrew poderia estar parecido com um homem, mas nunca deixaria de ter seu humor de garoto.
–- Você está muito lindo hoje, não pode! Assim todas vão ficar te olhando. - fingi uma careta de reprovação. Andrew respondeu-me algo que não consegui escutar, pois a música estava em seus segundos finais e havia ficado mais alta. -- O que?! - gritei.
–- Você também. Acho que nunca senti tanta vontade de te agarrar. - Andrew gritou, mais alto ainda.

Bem nessa hora, a música acabou fazendo com que todos ouvissem o que ele havia dito. Todos pararam para nos olhar, então começaram a rir. Também rimos sem graça. Andrew abraçou-me enquanto eu escondia meu rosto em seu peito. A próxima música começou a tocar e todos voltaram a dançar. Era uma das minhas favoritas, "Called Out In The Dark", do Snow Patrol. Juntamos-nos á eles e dançamos por alguns minutos, ás vezes parávamos para conversar com alguém que se aproximava para me dar os parabéns. Era a primeira vez em muito tempo onde eu me divertia de verdade, então, dancei de olhos fechados somente ouvindo a música. Eu não sabia realmente dançar, então na maior parte do tempo eu só me movimentava tirando os pés do chão e balançando os cabelos. Pareço ridícula, eu sei, mas quem nunca fez isso?

****
Eu já estava na pista há cerca de 2 horas, quando me virei e avistei Enzo de longe, parado encostado em uma árvore que ficava além da propriedade de minha casa, que dava de cara para uma floresta. Seu olhar era explicito, ele queria falar comigo. Disfarçadamente, enquanto dançava, balancei a cabeça dizendo que não. Ele ergueu uma sobrancelha. Virei-me de costas para ele e voltei a dançar com Andrew, que havia percebido nossa discussão silenciosa.
–- O que esse cara quer agora? - ele me perguntou enquanto dançávamos.
Simplesmente dei de ombros. Aquela era a festa onde estavam as pessoas que gostavam de mim, elas estavam ali por mim, eu havia feito as pazes com Andrew e estava me divertindo. Não queria pensar em nada de ruim que havia acontecido nos últimos dias, muito menos sobrenaturais. Eu queria um aniversário normal e feliz, mas na mesma hora, Enzo desviou seu olhar de mim e mirou-o em outro lugar. Segui seu olhar e dei de cara com uma garota que estava com um copo de drink em sua mão, dentro dele havia uma azeitona. A garota virou o copo em sua boca em um movimento rápido e incontrolável. Ela ficou paralisada, encarando de olhos arregalados a amiga que estava á sua frente. A outra garota começou a gritar algo, que graças a música e a distância eu não consegui ouvir, mas todos próximos a elas foram a seu encontro. Um rapaz pegou a garota engasgada por trás e, em um abraço, comprimiu seu estômago. Lágrimas saíam dos olhos da garota, enquanto seu rosto ficava vermelho. Ela estava sufocando.
Todos que estavam na pista ficaram envoltos enquanto o garoto tentava desengasgá-la. Fiquei desesperada, aquilo era claramente uma punição á mim. Olhei de volta para a árvore, Enzo não estava mais lá. No fim conseguiram a fazer cuspir a azeitona que ficara entalada, prendendo sua respiração. As pessoas em volta pareciam assustadas, porém, aliviadas por aquele acidente ter terminado bem. Mas eu sabia que não era um acidente, sabia que ele quem havia feito aquilo. Aproximei-me da garota, era Jullie, uma colega de classe nas aulas de história. Conversávamos pouco, mas nos conhecíamos há muito tempo. Senti pena dela e culpei a mim mesma. Fora graças á mim que aquilo acontecera com ela.
–- Você está melhor? - perguntei, abaixando-me para ficar na altura de seu rosto. Ela estava sentada em uma cadeira.
Luna chegara com um copo d'água, que Jullie bebeu rapidamente. Lágrimas ainda saíam de seus olhos.
–- Fiquei tão assustada! - ela passou a mão nos olhos - Sinto muito ter estragado a sua festa, Mel.
Senti mais remorso ainda, ela parecia realmente envergonhada.
–- Imagine. Você não estragou nada! Tem certeza de que está bem? Se quiser pode descansar lá dentro, ou alguém te leva pra casa.
–- Não, estou bem. Foi só um susto. - Tentei acreditar nas palavras dela, ao menos para me acalmar também. Jullie olhou para o copo em sua mão. - Na verdade, você pode me trazer mais água?
Olha olhava para Luna, que assentiu prontamente, dando um sorriso.
–- Claro. Volto já.
Assim que Luna e todos os outros começaram a dispersar-se novamente na pista, Jullie pegou-me pelo braço.
–- Acho melhor eu ir andar um pouco, sair de perto desse barulho... - ela disse, colocando uma mão na tempora.
–- Claro, quer ir lá pra dentro? - perguntei, segurando-a por sua mão que estava em meu braço, enquanto Jullie levantava-se da cadeira.
–- Não... Vamos caminhar entre as árvores... Preciso de ar puro. - ela lançou-me um olhar abatido.
Senti-me mal novamente, pobre garota, ela não tinha nada a ver com o que me cercava ultimamente.
–- Tudo bem...
Andamos para longe da pista, enquanto Andy nos seguia.
–- Você precisa de algo? - ele perguntou á Jullie.
Mas, antes de ela responder, eu intercedi.
–- Não, tudo bem amor. Só vou levá-la para tomar um ar... Pode voltar a dançar, quem sabe assim todos voltem também e a festa de acalme. Andy assentiu e voltou para a pista de dança, enquanto eu Jullie nos afastávamos de todos. Olhei em volta, não havia nenhum sinal de Enzo. – Tem certeza que quer caminhar por aqui? Está muito escuro...
–- Tudo bem, o ar é melhor. Lá há muita fumaça e gente falando...
Assenti e continuamos entrando mais e mais para dentro da floresta.
–- Jullie acho melhor voltarmos. – a floresta não era realmente grande. Era na verdade o parque florestal Krahan, mas ele fora desativado há muito tempo. No lugar havia muitas árvores e mata fechada, a que fizera com que todos chamassem ali de “pequena floresta”.
–- Aqui já está bom. – ela disse, afastando-se e mim e ficando de costas.
–- Podemos voltar? – perguntei.
–- Do que você tem medo Mellany? – ela me perguntou, ainda de costas.
–- Não sei. No momento estou com medo de ficarmos perdidas. Eu não conheço muito bem aqui, sabe... Venha, vamos voltar. - Aproximei-me dela para tocar seu braço, mas percebi que sob a pele fina de seu braço, as veias de Jullie estavam aparentes e escuras. – Jullie...
Dei alguns passos para trás lentamente, no mesmo ritmo com qual ela se virava. Veias negras saltavam também em seu rosto e pescoço. Seus olhos não tinham cor. Jullie abriu lentamente seus lábios um líquido negro e consistente como o sangue escorreu de sua boca. Em uma velocidade sobre-humana ela aproximou-se de mim e agarrou minha face, obrigando-me a encará-la nos olhos.
–- Do que você tem medo? – ela pronunciou as silabas lentamente, com um olhar perdido. Enquanto segurava-me pelo maxilar.
Meus lábios tremiam, enquanto um nó se formava em meu estômago. Seria o fim? Jullie abriu a boca novamente, bem próxima a minha e então algo aconteceu. Lentamente, senti minha vida perdendo-se de mim. Meus braços caíram moles ao lado de meu corpo, não senti mais minhas pernas. Fiquei erguida somente pela força de Jullie que me segurava pelo queixo. Ela estava me levando. Estava levando embora minha alma. “Ele tentou me avisar”. Lágrimas formaram-se em meus olhos. Antes de fechá-los tentei gritar, mas gastei meu último sopro em um sussurro.
–- Enzo...


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Notas finais do capítulo

Vou responder os reviews jajá, prometo.
Meu aniversário foi legal. Nunca imaginei que comer MC de madru, em frente ao mar, com o namorado, enquanto uma familia de ratos passeia do seu lado fosse ser bom. Mas com o amor do lado sempre é bom, né? xD aiai
Beijos!