Luz Negra I - Oculta escrita por Beatriz Christie


Capítulo 2
Capítulo 2 - Velhos Amores, Novos Lares




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–-Tenho novidades pra você.
Era meu pai, Rick. Meu quarto era no sótão e não tinha porta, era necessário subir um pequeno lance de escadas para chegar nele.
–-Pode subir, pai.-- "Pai" eu ainda não tinha me acostumado a dizer essa palavra com tanta freqüencia. --Já estou quase pronta.
–- Então, esse é seu sótão. Finalmente o conheci.-- disse ele, colocando a mão nos bolsos da calça social que era seu traje costumeiro. --Eu andei pensando e não acho realmente necessário você trocar de colégio...Já basta tudo o que passamos.
Mal pude acreditar, um momento de alegria em meio ao caos. Ficar perto dos meus amigos fora o que me manteve sã nesses tempos difíceis.
–- A casa que comprei para nós é um tanto longe do colégio, mas posso te levar e buscar todos os dias. Não é problema.
–- Agora eu vou ser levada e buscada como uma criança?!-- Rick estava tentando melhorar as coisas, então logo me arrependi dessa frase.
–-É só pelo resto do ano, você já está terminando o colegial. Não vai ser tão terrível assim. Podemos pegar a Abgail e almoçar juntos todos os dias. O que acha?
–- Abby. Ela odeia que a chamem de Abgail...Desculpa. Olha, tudo bem, podemos fazer do seu jeito dessa vez.
–-Obrigado.-- Ele parecia realmente contente por eu ter dado uma trégua.-- Então, vamos? Você vai gostar da nova casa. Ela não tem um sótão. Mas, tem um quarto espaçoso pra você. Lembrei de que sua mãe falava o quanto você gostava de ter praticamente um andar só seu aqui no sótão.
–-Quando ela disse isso? Eu...eu não sabia que vocês conversavam. Ela sempre dizia o quanto você era ocupado com seus negócios.
–-Foi em uma das cartas, em meados de fevereiro do ano passado.
–-Mas ela...a mamãe faleceu em Janeiro, como isso é possível?!
Rick pareceu confuso, mas depois deu de ombros e disse
–- O correio costuma se atrasar. Vou esperar lá embaixo, não demore.

Antes de sair, dei uma última olhada para a casa. Ela era cor de laranja. Não era um laranja queimado, opaco ou claro. Era laranja puro. "Para o sol se sentir confortável de entrar em nossa casa", dizia minha mãe. De repente fui envolvida por um abraço quente e acolhedor. Aquele abraço inconfundível que só meu Andrew sabia dar.
–-Bom dia Princesa Any! -- Virei-me e o beijei o mais intensamente que pude. Era boa a sensação de segurança que ele me transmitia. Andrew e eu nos conheciamos desde criança. Ele costumava me irritar no primário, mas desde os meus 15 anos as coisas entre nós mudaram. --Vim ver se caibo na sua mala, sei que vai ser difícil viver sem mim...
–- Bobão! Nem me fale, vai ser horrivel.-- Eu disse, abraçando ele mais forte. E era verdade, quem me olharia com aqueles olhos castanhos e quentes? Ninguém tinha um sorriso mais bonito do que o dele. Acho que o amor faz isso com a gente. -- Quero dizer, você é meu melhor amigo desde que eu me lembre. Ninguém me conhece como você...
–- É, quem vai perder pra mim no video-game agora? Quem?! E quem vai controlar sua tara por doces? Quer dizer, eu gosto de esportes, mas não precisa virar uma bolinha pra eu te achar mais atraente.-- Era impossível não rir com o Andrew, como seria possível viver longe dele?
Hum Hum... Era meu pai.
–- Erm... Bom dia, Ricardo. Senhor...-- Disse o Andy sem graça com a aparição do meu pai. Ele soltou minha cintura e me pegou pela mão. -- Eu sou o namorado da Any...Mellany.
–- Andy e Any... Bem sonoro. -- Brincou meu pai, nos deixando vermelhos. -- Bem, é bom conhecer você.-- Meu pai apertou a mão de Andy. -- Sei que vocês já namoram a muito tempo, mas gostaria de ter uma conversa com você, assim que possível.
–-Claro, vai ser ótimo. Eu sempre quis ter um sogro, antes tarde do que nunca, não é?!-- Estava claro que o Andy estava tentando deixar as coisas mais descontraídas, mas aquela última frase era mais profunda do que ele imaginava.
–- Eu vim pra ficar e vou fazer tudo que estiver ao meu alcance pelas minhas filhas.-- Meu pai estava tentando ser uma autoridade, um pouco tarde por sinal. -- Você sabe, hoje em dia... Os jovens precisam de orientação, toda ação tem uma consequência...
–- Pai!-- Eu disse, não acreditei que ele estava entrando naquele assunto! -- Você não pode estar falando a sério!
–- Sim, nós nem se quer...- Dei um puxão na mão de Andy, era um sinal claro de que deveria parar de falar o que provavelmente ele estava a ponto de dizer. -- Nós nem se quer pensamos em ir contra qualquer coisa que o Senhor diga...--
Ele olhou pra mim, como se perguntasse se havia conseguido consertar sua frase.
–- Bem, ótimo. Depois conversamos mais detalhadamente. Quero marcar um jantar com a sua família.-- Perfeito, agora ele ia bancar o pai presente e cuidadoso. -- Vamos Mellany?Suspirei... Era obvio que eu queria dizer "NÃO, NÃO VAMOS!" Mas, não existia essa opção. Então...
–- O Andrew vai me levar. -- Meu pai não pareceu adorar a idéia, mas mesmo assim continuei -- Depois vamos almoçar com uns amigos.

Durante o percurso eu e Andrew não conversamos muito. Ele sabia o que aquele momento significava pra mim. Observando as pessoas na calçada, vi uma menina. Ela parecia tão feliz, mesmo amontoada em casacos grossos. Correu chutando as poças na calçada, o que lhe fez levar uma repreensão da mãe, que a pegou pela mão e continuou caminhando enquanto falava ao celular. Percebi que eu sentia falta, não só dos momentos bons, mas até da voz que minha mãe fazia quando ficava brava. Simplesmente não combinava com ela.

Chegamos antes de Rick, Abby e tia Amanda; que vinham no outro carro. Antes de descer do Voyage* azul de Andrew, parei para observar. A nova casa era mais distante do centro. Era moderna, dois andares e quatro quartos. Grande, sem jardins... era cinza demais. Ela era tudo que a antiga casa não era.
–- Nossa, essa é "A" casa! -- Disse o Andy, enquanto passavamos pela porta de entrada. -- O-l-h-a i-s-s-o Any! Você tem uma lareira no quarto agora!
–- Esse não deve ser o meu quarto...
–- Sim, é. -- Disse meu pai. Como ele conseguia surgir sempre desse jeito? -- Esse é o seu, ao lado é o da Abby, e o da frente é da Amanda. O meu fica no fim do corredor. O que achou?
Parei para admirar o quarto. Ele tinha um formado irregular, encostada na parede e virada na diagonal estava a cama; Ao lado dela estava a tal da lareira que contava com pequenos objetos "modernos" de decoração em tom terroso .
–-Legal, né?-- disse Andy pegando um vaso todo torto e o admirando. Para mim parecia mais um dos vasos que eu tentava fazer, incentivada por minha mãe e nunca davam certo. Como alguém pagava caro em algo assim?
–- É, parece aquelas casas de revista de decoração.-- respondi. Foi o melhor elogio que consegui fazer. Ao menos foi o bastante para fazer o meu pai sair satisfeito do cômodo.
–- Larga isso, que coisa medonha.-- eu disse, rindo e arrastando o Andy pela mão. -- Vamos comer, a Luna e o Daniel já devem estar lá.




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Notas finais do capítulo

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