– Até – falei entrando no carro, e minha mãe com o sorriso mais bobo do mundo na cara, parecia até o gato de Alice no Pais das Maravilhas. 
Fechei a porta, e coloquei meu cinto. Ela dirigiu, e eu fiquei em silencio até ela estacionar o carro na garagem.
Desci do carro, e subi as escadas, continuei em silencio. Fui até a cozinha, e abri a geladeira.
– Porque não me chamou pra almoçar? Eu podia ter desmaiado – falei olhando pra minha mãe que estava atrás de mim.
– Come alguma coisa ai, você estava se divertindo tanto – pausa – Pela primeira vez eu vi você junto com gente diferente – Ah tá, até parece que eu não tenho amigos. Ok, não tenho tanto mesmo.

– Ah – sussurrei.
Peguei uma maçã, e coloquei em um prato com uma faca. Sai da cozinha, deixando minha mãe lavando as vasilhas de ontem a noite.
Fui para a sala de TV, e me sentei no sofá. Parti um pedaço de maçã e coloquei na boca, e assim sucessivamente. Até que a minha fome passou, e eu fui colocar o prato na cozinha. Minha mãe ainda estava lavando as vasilhas.
Cheguei mais perto dela, com vontade de dar um susto, mas resolvi que não.
– Mãe,
– Hum – resmungou.
– Toma – falei entregando o prato e me virando em direção á porta.
– Julia, - pausa – sabe...
– O que foi? – perguntei, me virando de volta para ela.
– Estou feliz por você hoje... – ela disse, mordendo o lábio.
– Eu também mãe, - pausa – mãe?
– hum. – minha mãe adora resmungar, credo
– Você não tem medo de que... hum... – pausa – o Emilio de traia?

– O que? – ela se virou para mim.

– Isso mesmo... Porque tipo, ele é um “adolescente” ainda. E você... vamos dizer assim, uma adulta bem formada.

– Não. Ele sabe o que faz.

– Tudo bem então... Só acho que você está confiando DEMAIS nele. Estou indo – me virei em direção a porta novamente. Mas ela segurou em meu ombro e me virou de volta.

– Só uma coisa... por que a pergunta?

– Nada... curiosidade. – me virei de volta, e fui andando, antes que ela começasse a questionar de novo.

Subi as escadas correndo, e entrei em meu quarto trancando a porta.

Fui direto ao banheiro, e comecei tirando minha calça e minha blusa. Me olhei no espelho, tentando reparar o que chamava atenção em mim, no qual, Lucas, Dudu, Felipe, Leonardo e Emílio aparentemente concordavam. Sinceramente, nada.

Terminei de tirar o biquíni da minha bendita mãe, e entrei no chuveiro.

Fiquei pensando, em tudo na verdade, mas principalmente no Emílio. Ele era perfeito, um garoto perfeito, que tem praticamente qualquer uma aos seus pés – até eu se ANTES ele quisesse – e foi logo escolher minha mãe? Por que? Ela é 20 anos, 20 anos mais velha que ele. É, o amor é cego mesmo.

Terminei o banho, e vesti meu roupão. Enrolei meu cabelo na toalha, e sai pro quarto. Eram 19:30. Liguei a TV, e me sentei na cama. Pensei em ligar pro Luiz, pra contar tudo. Mas, é perda de tempo, amanhã falo.

Me recostei no travesseiro, e fechei os olhos, tentando relaxar. De repente, já estava dormindo, sem perceber. Sonhei com o Emílio. Péssimo sonho, vamos dizer assim, quase um pesadelo.

”Estava num lindo jantar a luz de velas com Emílio, meu amor verdadeiro, tomando muito vinho, e comendo macarrão, quando pousa um passarinho em seu ombro. Nos começamos a rir, e o passarinho começa a cantar...

‘BAAAAABY BAAAAAAAAABY BAAAAABY, OH MY, BAAAAAAABY... (8)’ “

Dei um pulo da cama. Olhei para o lado, meu despertador tocando. 6:30, hora de escola, segunda fera, tem como ser pior? Peguei o celular e taquei ele do outro lado do quarto, na poltrona – não posso quebrar, seria um crime – e me levantei, xingando tudo quando é palavrão na minha cabeça.

Fui até o banheiro, ainda meia tonta, e taquei água gelada na minha cara, isso ajuda a acordar.

Percebi que havia dormido de roupão e toalha na cabeça, e com certeza meu cabelo estaria uma merda agora.

Tirei a toalha, fechando os olhos e torcendo para que não estivessem tão ruim – apesar de não me importar com meu cabelo. Soltei tudo, e abri um olho só.

Meu cabelo não estava tão ruim, estava ondulado e a franja estava lisa, um milagre dos céus.

Resolvi deixar ele daquele jeito. Sai do banheiro, e vesti minha blusa de uniforme e uma calça jeans larga. Coloquei meu casaco cinza, e meu all star azul hiper inseparável.

Escovei os dentes rápido, peguei minha mochila branca – que na verdade estava quase preta de sujeira – e sai. Minha mãe estava na cozinha, cantarolando, e Emilio estava com ela, comendo um pedaço de pão, vestindo o uniforme... O QUE? EMILIO? COMO ASSIM? ELE DORMIU AQUI OU É IMPRESSÃO MINHA? MINHA MÃE FAZENDO COISAS ESCONDIDAS DE BAIXO DO MEU NARIZ? MEU DEUS! A NÃO SER QUE ELE ACORDE MUITO CEDO, MAS, [A] NÃO ACREDITO.

– Bom dia mãe!
– Bom dia filha.
– Bom dia Julia. – Emilio falou, dando um sorriso. Calma, Emilio de bom humor? É, isso não tá normal não.
– Emilio? O que tá fazendo aqui? – perguntei na cara dura.