Pov Katniss

Fox e eu já estávamos com as chaves dos depósitos que milagrosamente Clove conseguiu pegar sem ser pega. O plano estava sendo seguido como o planejado. Quase todos os alunos foram para essa famosa trilha, que é uma das principais atrações do acampamento. Dizem que a vista do final é linda. Espero conseguir alcançar o grupo assim que resolvermos essa operação cupido.

Como planejado, Fox foi atrair o professor Finnick para o depósito de materiais enquanto eu fazia o mesmo com a professora Annie. O problema era que eu e ainda não havia encontrado ela. Mas não vou desistir! Tenho certeza que eles estão sentindo algo um pelo outro, não duvido que só com essa nossa ajudinha eles decidam assumir o que sentem.

Finalmente a encontro terminando de arrumar uns coletes, provavelmente do jogo dos meninos mais tarde. O problema agora é que ocupada em achá-la não pensei na mentira que iria contar para convencer ela a ir ao tal depósito, e improviso não é o meu forte. É quando uma ideia passa por minha cabeça, porque mentir se posso falar a verdade?

- Professora Annie! Rápido, a senhora tem que me ajudar! – digo fingindo um falso desespero.

- Calma Katniss. O que está acontecendo? – pergunta ela deixando de lado o que estava fazendo e me dando atenção. Ótimo.

- Tem um casal trancado em um dos depósitos. – digo, pode não ser a mais pura verdade, já que não tem nenhum casal trancado. Ainda não...

- Que casal é esse?

- Não posso falar, mas, por favor, vem comigo! – digo e acho que nunca fingi tão bem.

- Tudo bem, vamos lá.

Começo a ir em direção ao depósito mais afastado que Fox e eu conseguimos encontrar com Annie bem atrás de mim. Com certeza não conseguiriam escutar caso eles sejam teimosos e insistam em tentar pedir ajuda sem antes se resolverem.

Mas como Fox tem juízo, escolhemos um depósito que tem duas portas sendo que a segunda porta está um pouco escondida em meio a tantas coisas, mas a porta está destrancada. Assim eles podem se resolver e depois voltar sem que tenhamos que nos dar mal.

Quando estou quase chegando ao depósito sinto meu celular vibrar no meu bolso e discretamente vejo q era uma mensagem de Fox. Esse era o sinal de que o professor Finnick já estava trancado. Apresso o passo e Annie me segue.

- É esse. Eles estão aí dentro, trancados e não duvido que estejam... Dando uns amassos! – digo segurando o riso.

- Mas não podem estar fazendo isso! Vou fazer-los abrirem essa porta!- diz ela decidida indo com uma velocidade até a porta.

Assim que ela girou a maçaneta a porta, que após Finnick ter desistido de sair Fox destrancou, a porta abriu com tudo e em um movimento rápido e nada delicado a empurro para dentro e fecho a porta, e pego a chave que Fox deixou escondida perto da porta e tranco os dois ali dentro.

Posso ouvir as reclamações de Annie, mas creio que fui a única, já que as poucas pessoas que não haviam ido para a trilha,não estavam nenhum pouco perto do depósito. Agora tenho que ir me encontrar com Foxface e dizer que o plano já está feito. Tudo que podemos fazer agora é esperar que esses dois se entendam!

Pov Annie

Não acredito no que acabou de acontecer. Katniss acabou de me enganar e me trancar em um depósito! Como pude me iludir pela carinha de boa menina! Ah mas ela vai ver como é ruim ficar de recuperação em química!

Mas até ai tudo bem, o problema ficou milhões de vezes maior quando me recuperei do quase tombo causado pelo empurrão que Katniss me deu. Assim que corro meus olhos pelo depósito onde fui trancada percebo que não estou sozinha. E o pior, quem está comigo é nada mais nada menos que Finnick Odair, o homem pelo qual sempre tive um precipício desde a faculdade, mas que nunca esteve no meu meio social.

Falando assim parece até aquelas histórias do garoto popular e da garotinha nerd. Mas esse não é o caso, acho que a única razão de não termos sido sequer apresentados antes de trabalhamos juntos, foi porque como em qualquer faculdade, a turma de educação física  não se misturava com a de química, assim como a de geografia não se misturava com a de física e por aí vai...

Agora ali estava eu, trancada em um depósito junto com o dono dos olhos verdes-mar mais lindos que já vi. Olhos esses que agora estavam me encarando como se também não acreditasse que estava ali comigo.

- Será que elas vão fazer isso com todos e tentar... Sei lá... Fazer um motim? – perguntou Finnick aproximando-se de mim.

- Não sei, mas não acredito que deixei que Katniss me enganasse!

- Katniss? O que ela falou para você?

- Ela me falou que tinha um casal trancado nesse depósito.

- Ela não mentiu. Agora tem um casal trancado nesse deposito. – diz ele me lançando um sorriso.

- Não somos um casal! – digo rápido demais, o que faz com que ele dê uma risadinha.

- Eu sou um homem e você é uma mulher, então acho que somos um casal sim. – diz com seu tom de voz brincalhão.

- É... Pode ser. – tento me concertar – Mas quem prendeu você aqui?

- A Foxface, que por sinal é amiga da Katniss.

- Mas o que ela disse para você?

- Ela...

- O que? Fala!

- Ela disse que você estava presa aqui e que tinha claustrofobia e que tinha desmaiado.

- Nossa!

- É... Ai eu vim correndo e praticamente arrombei a porta, mas ela estava aberta, foi quando ela me trancou.

- Mas por que você iria arrombar a porta? Por que não foi pegar uma chave?

- Porque... Era você e te imaginar trancada, desmaiada e indefesa fez com que eu não parasse para pensar direito no melhor a fazer. Eu só... Queria te ver bem.

Aquilo me pegou totalmente desprevenida. Finnick havia quase arrombado uma porta para me salvar? Isso estava mesmo acontecendo?

- Obrigada, eu acho... – sinceramente eu não sabia o que fizer. Foi quando em meio aos diversos materiais e a poeira do depósito vi um envelope. – O que é aquilo?

- O que?

- Aquele envelope ali. – digo indo para onde o envelope estava.

- Eu nem havia o visto.  Vamos ver do que se trata.

Assim que estamos lado a lado de frente para o envelope podemos ver claramente no papel “Para Annie e Finnick”. Troco um olhar rápido com Finnick e volto minha atenção ao envelope. Sem esperar que ele falasse qualquer coisa, abri o envelope e coloquei o papel que tinha dentro onde ambos pudéssemos ler.

“Queridos professor e professora,

Nós sabemos que está acontecendo algo entre vocês. Sabemos que existe um sentimento, mas pelo que parece ainda não resolveram ser sinceros um com o outro. Por isso estamos lhes dando essa oportunidade. Não se preocupem, pois ninguém vai atrapalhar vocês. Aproveitem!

De suas alunas que não são cegas.

P.s: Sempre existe mais de uma saída para nossos problemas, só cabe a nós enxergá-las”

É isso mesmo que está acontecendo? Minhas alunas me trancaram em um depósito com o meu colega de trabalho por achar que sentimos algo um pelo outro?

Mesmo sabendo que da minha parte é verdade, não poderia deixar transparecer e muito menos permitir que minhas alunas percebessem isso. Agora o meu emprego está perdido! Isso tudo só por acusa de uma paixãozinha de faculdade... Não acredito!

- Bem... Acho que fui descoberto... – diz Finnick como se estivesse rendendo-se.

- Descoberto? – estava ficando confusa.

- Não consegui disfarçar meus sentimentos tão bem como esperava... – disse dando de ombros.

- Do que você está falando Finnick? Estou ficando confusa.

- Annie, não é possível que você não tenha visto. Até nossas alunas perceberam!

- Visto o que?

- Que eu sou apaixonado por você!

- Finnick... Por que você está falando isso agora?

- Porque as meninas não estavam erradas em nos dar essa chance. Porque eu mesmo não estava aguentando mais ter de fingir... Você não sabe o quanto é difícil Annie.

- Como você pode dizer isso com tanta certeza?

- Estou errado? Por acaso você sabe o que é gostar de alguém e não poder demonstrar? Ter de viver fingindo... – ele dizia enquanto se aproximava de mim, aquilo estava fazendo meu coração disparar – Ter essa pessoa tão perto e não poder nem tocá-la – ao dizer isso ele tocou meu rosto com sua mão e não pude resistir em fechar um pouco meus olhos aproveitando o carinho tão inesperado e novo.

- Finn... Você sabe que não podemos... - tentei argumentar - Nos trabalhamos juntos... Nós não... – não pude falar mais nada, já que Finnick havia calado meus lábios com os seus.

Até tentei resistir, mas tê-lo assim, tão perto, estando em seus braços. Era quase impossível algum feito de carne e osso não desistir de resistir e se entregar. Deixando de lado o depois, deixando de lado as consequências, de lado todos os meus pensamentos, me entrego totalmente ao beijo.

Entrelaço meus dedos em meio aos cabelos cor de cobre de Finnick e o puxo para mais perto, isso fez com que ele me tomasse pela cintura com seus braços fortes.

Não sei quanto tempo se passou, mas infelizmente quando o ar se faz necessário nos separamos, mas ele manteve nossas testas coladas. Como o ar volta aos meus pulmões, a razão volta a minha mente e afasto-me de Finnick que me encara incrédulo.

- O que foi? Você não gostou? Você não queria? – ele tenta se aproximar novamente.

- Não é isso Finn... O problema é que nós não podemos. Você sabe disso tanto quanto eu. Se descobrissem iríamos perder os nossos empregos.

- É só por isso que você não fica comigo? – perguntou ele e acho que pude ouvir certa esperança na voz dele.

- Sim... – digo em um fio de voz me rendendo totalmente. Não conseguindo manter o olhar na direção dele desvio e fito meus tênis.

- Ann... Olha para mim. – pede ele levantando meu queixo com sua mão obrigando-me a olhá-lo. – Eu gosto de você de verdade. Só precisava saber... Se o sentimento é recíproco. E então?

- Você quer mesmo que eu fale Finnick? – pergunto o encarando e ele assente – Tudo bem... A resposta é sim, o sentimento é recíproco. – vejo um lindo sorriso abrir-se no seu rosto e não consigo e abro um também, feliz por finalmente falar aquilo que guardava a tanto tempo só para mim.

Ele se aproximou, mas diferente do que pensei, ele não me beijou, não na boca. Finnick depositou um beijo em minha testa e fez carinho com o polegar na minha bochecha enquanto me olhava com os olhos brilhantes. Posso dizer que aquele gesto significou mais que qualquer beijo arrebatador que ele poderia ter me dado. Foi um gesto puro e sincero e não me lembro de ter visto mais lindo do que naquele momento.

- Annie, me escuta. Eu sei que é arriscado pelos nossos empregos e te entendo. Mas... Será que nós não poderíamos tentar? Para ver se dar certo... Tenho fé de que sim, pois o que eu sinto por você eu não me lembro ter sentido por ninguém. Acho que até poderíamos falar com a diretora Coin, quem sabe ela não cria problema com isso e...

Impeço-o de continuar falando o dando um beijo. Não um beijo de tirar o fôlego, mas também não um selinho. Deixo nossos lábios colados até que percebi que Finnick mesmo que retribuísse o beijo, ainda precisava de uma resposta. Devagar desgrudo nossos lábios e não reprimo o riso ao ver sua cara de bobo.

- Sim, minha resposta é sim! Eu aceito tentar, mesmo com os riscos acho que podemos fazer dar certo! – digo e alegro-me mais ao ver seus olhos brilharem mais. Ele subitamente me abraça e começa a me rodar no meio do depósito enquanto eu simplesmente ria.

Enquanto ele me girava no ar uma coisa chamou minha atenção em meio às coisas amontoadas ali. Outra porta. Havia outra porta ali. Acho que entendi o duplo sentido da mensagem das meninas.

- As meninas estavam certas. – digo quando ele me coloca no chão.

- Em nos dar essa oportunidade?

- Também. Mas estou me referindo de quando elas disseram que existe mais de uma saída para os nossos problemas. – digo indicando a segunda porta.

- Muito espertas elas não? Acho que elas tem bons professores, principalmente uma de química sabe..? – pergunta ele brincalhão me abraçando por trás e beijando meu pescoço.

- Sei sim... Mas o de educação física delas não fica atrás! – digo entrando na brincadeira.

Não sei quanto tempo mais ficamos no depósito aproveitando aquele momento que certamente seria raro de ficarmos a sós e podermos demonstrar o que sentimos um pelo outro. Depois desse tempo saímos pela segunda porta, que como previ estava destrancada. Despedimos-nos com um rápido selinho e ele foi cuidar das coisas para o jogo dos meninos no fim da tarde, enquanto que fui para o refeitório ajudar com o almoço. Acho que Katniss não está mais de recuperação...

Pov Foxface

Já estava esperando a algum tempo no lugar que marquei de me encontrar com Katniss. Facilmente consegui trancar o professor Finnick no depósito, mas claro que colocando previamente o envelope que as meninas e eu arrumamos para deixar um o nosso recadinho para eles. Logo Katniss chegou com um sorriso cúmplice no rosto.

- E aí? Trancou eles? – pergunto ansiosa.

- Sim! – disse com um sorriso pendulando as chaves no indicador. – Agora vamos. Ainda temos que guardar essas chaves no nosso chalé para a Clove devolver depois e alcançarmos o pessoal na trilha.

- Verdade. Vamos sim.

Estávamos andando em silêncio pelo acampamento que estava praticamente vazio. Foi quando uma dúvida antiga voltou a minha cabeça e já que estava ali com a Kat poderia falar ali.

- Kat, posso te fazer uma pergunta?

- E desde quando precisa pedir para fazer alguma pergunta? – ela me olha sorrindo.

- É que o assunto é meio delicado, não sei se você está muito afim de falar disso agora.

- Pode falar Fox, não tem problema.

- Tudo bem então... – tomo coragem para falar esse assunto que sei que é meio difícil para ela, mesmo estando no meio do nosso acampamento de férias. – Você já conseguiu esquecer o Peeta?